-Imaginem isso. -Disse o homem loiro enquanto andava pela sala. - Seu cliente é um maníaco, um psicopata sem coração que matou mais de trinta pessoas. Ele claramente é culpado. Se perder o caso toda a sua carreira vai para o lixo. Qual a solução?
Sua fala ecoava na grande sala universitária, onde mais de cinquenta alunos se reuniam, somente para ouvir aquele advogado criminal de sucesso os ensinar menos da metade das coisas que sabe. Muitos se perguntavam o que faziam ali, por quê ainda escutavam aquele cara e muito mais importante, qual era o sentido, se todos sabiam que a maior parte de seu sucesso vinha de apelos ilegais que salvaram seus casos.
Na terceira fileira, uma jovem baixa e de cabelos claramente tingidos na cor preta ergueu sua mão. Tinha a pele morena clara e um nariz levemente grande, mas que não interferia em nada na sua beleza.
-Se deve convencer o júri que seu cliente tem algum distúrbio mental. Assim ele não é condenado, mas sim mandado a um hospício. É uma ferramenta básica no tribunal. - Sorriu levemente para seu professor, olhando em seus olhos enquanto o mesmo não conseguia tirar sua expressão de surpresa.
Marlee bateu na porta da sala três vezes, atraindo toda a atenção dos alunos.
-Correto, senhorita Swan. Agora, se me dão licença, devo ir falar com minha esposa.
Eric caminhou até a mulher, já imaginando o que deveria ter acontecido, infelizmente, seus palpites estavam certos.
-Dan foi para o hospital de novo. Ele estava andando para o colégio e bem... Ele caiu. Mal consegue controlar o próprio corpo! Sua filha ligou para avisar, mas como estava em aula ela só conseguiu falar comigo. Ele precisa de você. -Tudo em sua voz era doce, como se falasse se sua própria criança.
-Obrigado. -Beijou - lhe o topo da cabeça. -Eu vou logo então, tem como você avisar meus alunos enquanto eu pego o carro.
Concordou com a cabeça, lhe dando um último beijo, antes de entrar na sala, com seus olhos vidrados na aluna que respondera anteriormente.
-O professor Grayson teve que sair para cuidar do filho. Classe dispensada.- Esperou alguns alunos saírem para interceptar a garota. -Eu tomaria cuidado se fosse você, Anne. Diferente da última mulher dele eu não irei abrir mão tão facilmente. Chegue perto do meu homem e eu juro que a próxima morta nessa cidade será você. Entendido?
Anne sorriu de canto, mexendo em seus fios negros de forma quase debochada da mais velha.
-Entendido. Só peça para ele se controlar. A turma toda consegue ver aquelas ereções na aula.
Pegou sua bolsa e partiu, deixando Marlee estática. Não poderia mentir a si mesma e pensar que não haveria chance de ser trocada, afinal, ela mesma um dia fora só um caso.
Era um ambiente deprimente. Claro demais, branco demais. Cheirava a álcool gel e lençóis recém lavados, deixando a garota desconfortável. Parecia que havia sido feito para isso, para incomodar qualquer paciente, mas em Angel isso era multiplicado. Tudo ali a lembrava do acontecido, não por semelhança alguma, mas por ser o motivo que a levou para lá. Deveria ficar naquele quarto até receber os resultados dos exames, o que só a fazia pensar mais na dor entre suas pernas, enquanto observava a janela aberta.
Greg estava sentado na poltrona ao lado, olhando para sua amiga. Estava em dúvida sobre o que sentir. Quando ela o ligara, teve todo o ódio que um ser humano pode ter, mas naquele momento, estava dividido entre a pena, a raiva e a tristeza. Via Angel como uma irmã, então só de saber o que houve com ela, já sentia como se houvessem machucado alguém de sua própria família.
A porta se abriu e uma garota loira entrou rápida como um furacão. Parecia preocupada e chocada, assimilando a informação em sua cabeça ainda sem poder acreditar. Janice estava aos prantos.
-Você realmente tem coragem de aparecer aqui? -Disse Greg, se levantando. Havia um ódio profundo em seus olhos, um ódio que ninguém nunca havia visto.
-Por quê eu não viria? Eu estou preocupada com ela, pode não parecer mas realmente estou.
-Foi o seu bilhete que a deixou assim! Não finja que o que te trouxe aqui não foi a conciência pesada. Isso é sua culpa.
-Que bilhete? Eu não escrevi nada.-Se virou para Angel e se abaixou ao lado da cama. -Juro que não fui eu! Eu vou encontrar quem fez isso é provar que não causei isso. Só me dê alguns dias, eu prometo resolver isso. -Vendo que a mesma não iria se virar e muito menos olhar em seus olhos, se levantou cabisbaixa, caminhando até a porta.
-Janice... Ele fugiu. Eu acertei a cabeça dele com uma pedra e fugi para casa, mas quando a polícia foi procurar por ele... Já tinha sumido. Se você realmente não fez isso, então por favor... -Todo o ar medroso de sua fala sumiu nas últimas palavras, trazendo frieza ao ambiente. -Me traga a cabeça do desgraçado.
A garota concordou com a cabeça, saindo e correndo até o lado de fora, para poder pensar longe do hospital. Se sentia imensamente , culpada, em sua cabeça era a causadora disso. E a idéia estava a matando. Mal começou a se desesperar quando recebeu uma mensagem em seu celular.
"Número Desconhecido:
-Se você tivesse o denunciado, nada disso teria acontecido. Aprenda a levar minhas ameaças à sério, pois dá próxima vez, posso acabar de vez com seu romancinho de araque. Cuidado, sempre terá uma vítima para seus segredos."
Apertou o telefone contra o peito. Era a segunda vez que recebia algo assim
-Eu desejo ver meu filho! -Disse Eric irritado.
-Mas já tem uma outra visita com ele!
Ele insistiu em só uma por vez, me desculpe mas são as regras.
Toda a sala de espera o encarava, como era possível um homem nutrir tanta raiva em um momento tão delicado? A maior parte das pessoas ali já havia ouvido um de seus faniquitos e conhecia a condição de seu filho.
Não conseguiam entender sua reação sendo que seu próprio primogênito estava naquele estado.
-Está tudo bem. Eu já terminei, o quarto está livre para outra pessoa.
Da porta de número 203 saiu uma menina de altura mediana, claramente uma jovem adulta. Evitava olhar na face do próprio pai, pois já não nutria afeto algum após tudo que ele já havia feito com sua própria família.
-Obrigado, filha.
-Para você é só Daisy.
Os dois estavam acostumados com isso.
Nunca foram uma família unida. Não se despediram, nunca o faziam. Simplesmente passaram em direções opostas, ignorando um ao outro.
No quarto, Dan encarava suas mãos, vendo seu leve tremor e desejando que parasse. Estava assim desde seus dezesseis anos, quando descobriu que possuía um caso raro de Parkinson precoce. Não conseguia andar sem se desequilibrar, não poderia controlar o próprio corpo. Isso o preocupava, lidava bem com os remédios e com sempre ter de ir ao médico, só não se acostumava com sua incapacidade.
-Ei, garotão. -Falou Eric, entrando e sentando ao seu lado. - Eu trouxe um pouco de café, sei que gosta.
-Realmente acha que pode me comprar com café? -Tentou focar sua atenção a janela, mas desistiu em alguns segundos, pegando o copo para si. -Ok, você pode.
Os dois riram. Sempre se deram bem, mas a traição de Eric complicou a relação e fez sua antiga esposa, e mãe de Dan tentar virar o menino contra o próprio pai.
-Sua irmã ainda está com raiva de mim. Acha que ela pode esquecer isso?
-Não, ela não é compravel como eu. Mas falando sério, eu não tenho mais esperanças que ela te perdoe. Já se passou muito tempo e ela ainda guarda rancor.
-Filho, aceita um conselho meu? Se você gosta de alguém, assuma isso. Não deixe os outros descobrirem sozinhos, nunca acaba bem... Promete fazer isso?
-Prometo
Mary corria pelos corredores gargalhando alto, sua voz poderia ser ouvida por toda a casa. Atrás dela o garoto a seguia, derrubando algumas coisas pelo caminho.
-Você nunca vai me alcançar, senhor Lewis.
-Então veja - me tentar, senhora Lewis.
Ao virar um corredor, a menina foi derrubada no chão, rindo junto de seu amigo.
-Vocês dois são as pessoas mais idiotas que eu já conheci. -Kyle estava sentada no sofá, comendo pipoca e rindo deles.
Os dois se olharam, antes de partir para cima da outra e começar a fazer cócegas . Enquanto as pipocas caiam no chão nenhum deles parava com seus risos, até a de baixo conseguir empurrar os outros para longe.
-Isso foi desnecessário. E vocês são meio idiotas sim. Só por que tem o mesmo sobrenome não significa que devem agir como marido e mulher.
-Pelo amor de deus, eu sou gay e ela lésbica, a gente não se casa nem se só existir eu, ela e duas cabras.
-Mais respeito comigo! Vamos só dizer que eu gosto de laranjas e você de bananas. E... -Ao olhar para a escada, percebeu uma porta entreaberta. -Fui eu que abri aquilo?
Todos negaram com a cabeça.
Seguiram, um por um, até o quarto. A escada rangia por ser velha, criando um eco mórbido pelo local. Kyle foi a primeira a entrar, com um candelabro na mão ela empurrou a porta, se deparando com uma frase escrita em sangue na parede.
"Eu sou a morte, sou o teu fim. Trago - lhe a verdade. Tenhas medo de mim."
Antes mesmo de tentarem entender o que estava acontecendo,um vulto saiu das sombras, enfiando uma faca no estômago de Austin. O mesmo sujeito, que usava uma máscara branca com um sorriso vermelho, atirou o corpo em cima de Kyle e pulou a janela. Não foi mais visto, e não havia nada mais importante ali que o garoto sangrando no chão.
Desesperada, Mary desceu até a cozinha, procurando seu telefone, que deixará carregando. Tudo que conseguia pensar era em ligar para a polícia. Mas o entrar no cômodo escorregou em sangue, caindo no chão e se deparando com a cabeça de Josh Tchaikovsky, do terceiro ano, em uma bandeja acima do micro ondas, com uma frase escrita em sangue na parede descascada.
"Tenhas medo de mim."
Amber estava em seu quarto, com a agulha na mão, costurando uma máscara em seu boneco. Uma figura negra, de aproximadamente vinte centímetros. Passava a linha vermelha dentro do pano retirando-a cuidadosamente. Enquanto prendia o tecido branco, cantarolava uma música. Não gostava dela, mas era o que havia ouvido aquela pessoa escutar, enquanto carregava Allisson pelas ruas.
"A salvo longe do mundo
Em um sonho, domínio infinito
Uma criança, de olhos sonhadores,
Espelho da mãe, orgulho do pai.
Eu desejo poder voltar a você
Mais uma vez sentir a chuva
A cair dentro de mim
Limpando tudo que eu virei
Meu lar é longe mas o resto permanece tão perto
Com meu amor perdido a muito sob a rosa negra
Você me disse que eu tinha os olhos de um lobo
Procure por eles e ache a beleza na fera."
Para finalizar sua obra, passou a agulha desenhando um sorriso em seu boneco. Finalmente tinha uma risada vermelha perfeita.
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