História Game of Thrones: O Legado de Frey - Non ego

Já estava na estrada há semanas, viajando região por região, vendo as mais diversas paisagens e como o começo do inverno já fazia vítimas dentre os inúmeros lugares pelos quais eu me atrevia a atravessar. O senhor que havia me contrabandeado para fora de Correrio nem se deu ao trabalho de perguntar meu nome, chutou-me para fora de sua diligência e desapareceu, ademais roubar um cavalo foi tarefa fácil, especialmente sendo uma mulher, uma vez que nas tavernas homens só vêem como possíveis ladrões outros indivíduos que compartilhem consigo o adereço de honraria entre as pernas. A marcha sozinha foi de deleito interior, estar sozinha e em silêncio me fazia segura de meu verdadeiro intuito: encontrar a garota Targaryen e recomeçar minha casa. 

Histórias chegaram aos meus ouvidos nas pernoites que passei em companhia de bêbados e meretrizes, Cersei presenteou a porção da casa Greyjoy que apoiava Euron com o castelo que estava em possessão de minha família há centenas de anos, homens do mar, homens sem escrúpulos ou apreço, homens que tomam esposas de sal quando estão cansados de suas mulheres, homens que estupram dezenas de garotas depois de saquearem cidades inteiras, homens que me davam repulsa. Prontamente, não era pelo legado de meu nome, não era por uma glória supérflua, não era pela inquietação de meus mortos, agora era pelos vivos, agora era por todos aqueles que morreriam nas mãos de seus novos senhores, agora era pelo futuro de toda uma região, agora também era pela minha integridade pessoal e compromisso genuíno com as Terras Fluviais.

O anoitecer se punha frio e eu me aproximava de Pedra do Dragão, a Mãe dos Dragões fez do lugar onde se dava a sede de sua casa também o lugar de sua retomada. Daenerys ancorou nas Terras da Coroa, a região foi sua primeira conquista em Westeros, seguido por Dorne, a Campina e as Terras da Tempestade. O Norte por sua vez se mantinha fiel ao Rei do Norte, Jon Snow, que havia forjado uma forte aliança com a Rainha Targaryen e o Vale de Arryn se declarava neutro na guerra, logo, os únicos lugares que se mantinham sob o domínio da Rainha Cersei eram as Terras Ocidentais, as Terras Fluviais e as Ilhas de Ferro. 

Os arredores do lugar com o qual eu vinha sonhando pelas últimas semanas parecia anormal, era onde eu iria conhecer a mulher que me ajudaria a tomar de volta minha casa mas tal desolamento avultado entregava que a situação ali não era das melhores. Os guerreiros pareciam com fome e estressados, as mulheres abatidas e cansadas, além das crianças que choramingavam por todos os lados afim de receber comida ou apenas um pouco de afetos, percebi então que o inverno arrebatou aquela região de forma estrondosa. Me conduzi em cima de meu alazão pela cidade feita de cinzas, reparava nos prédios escuros e úmidos, no ar pesado e mal cheiroso, o castelo enfim fez jus ao volumoso número de histórias acerca de seus mistérios, o lugar me dava calafrios.

Conversar com uma rainha em tempos de guerra pode ser tão difícil quanto domar um lobo, quem era atendido tinha uma breve conversa e pouca solução, pus-me então a esperar na fila, esperançosa na possibilidade de finalmente alcançar meu objetivo. Um homem vestido de cinza e segurando uma lança nos dividiu em três filas e então me tornei a segunda da terceira fila.

- A divisão é para variar os requerimentos já que muitos de vocês vem em bando com o intuito de clamar a mesma coisa mais de uma vez, bobos o suficiente para pensar que assim seu problema será resolvido mais rápido. - O homem lecionava o sermão de forma áspera. - Se mais algum de vocês veio pedir por mais comida no acampamento podem voltar ao trabalho, a reclamação já foi ouvida e será solucionada assim que possível. - Mais da metade das pessoas que estavam nas filas foi embora incluindo o homem que estava em minha frente,  agora só tinha que esperar os dois homens que encabeçavam as outras filas e então eu poderia entrar

- Entre garota. - Disse o homem que segurava a lança enquanto me apontava o caminho.

Daenerys estava sentada em um trono feito de uma madeira escura, quase tão escura quanto os olhos do homem que estava ao seu lado. Um anão, aquele deveria ser Tyrion Lannister, uma garota negra de feição incrivelmente calma, um homem careca vestindo uma bata e um dos soldados da rainha, aquelas eram as pessoas que formavam o grupo naquela sala. O cabelo dos Targaryen era inconfundível, branco como a neve e posto em duas tranças laterias que se encontravam em sua nuca, Daenerys não era muito mais velha que eu porém já se parecia como uma verdadeira mulher, ou melhor, uma verdadeira rainha. 

- Vossa Graça. - Disse enquanto dobrava meus joelhos em vênia. 

- Se aproxime. - Respondeu ela enquanto utilizava um gesto de mão. - Qual o seu nome?

- VIda... Vida Frey. - O homem de cabelos escuros pareceu se contorcer na cadeira.

- O que você deseja Vida Frey? - Sua voz parecia cautelosa.

- Cersei Lannister tomou o castelo de minha família, as Gêmeas, matou todos os meus irmãos e presenteou os Greyjoy com nosso lar. - Me ajoelhei. - Eu venho pedir para que me deixe tomar lugar ao seu lado, pedir que quando derrotar a Rainha Louca me dê de volta minha casa, venho pedir misericórdia... - Fui interrompida pelo homem de cabelos negros.

- Sua família matou meu irmão, Robb Stark, matou sua esposa que tinha seu filho dentro de sua barriga, matou a senhora Catelyn Stark, tudo isso enquanto eles eram seus hóspedes, onde estava sua misericórdia naquela noite? - Eu sabia quem era, Jon Snow.

- Eu não posso pagar pelos pecados de meu pai. - O desespero travava minha garganta.

- Você não está pagando por nada. Você está viva, livre, inteira, o mesmo não pode ser dito sobre os nortenhos que seu pai assassinou. - Disse Jon Snow de forma concisa.

- Acalmem seus ânimos. - Daenerys exclamava parecendo preocupada com o rumo da discussão. - Como você mesma disse nós não podemos pagar pelos erros de nossos pais, eu certamente não posso, mas não compactuarei com uma casa que só trouxe sofrimento, injustiça, derramamento de sangue e traição para Westeros. Todos os senhores de terra que não usaram de sua privilegiada posição com dignidade e nobreza serão depostos de seus cargos e substituídos por homens justos. A casa Frey não será mais uma das casas nobres das Terras Fluviais. - Eu estava sem chão. - Eu não a punirei Vida, não irei responsabilizá-la por crimes os quais você não cometeu, no entanto você deve ir embora, deve começar sua vida em outro lugar.

O único pensamento que passava por minha cabeça era o quão boba eu fui. Uma garota inocente pensando que uma mulher que nunca havia me visto antes iria ajudar de bom grado, que algum dia eu conseguiria retomar as Gêmeas, que eu era capaz. Eu não era. Eu falhei comigo, eu falhei com minha família, eu falhei com meu lar, eu falhei...