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História Gardênia - Capítulo único


Escrita por: taeyankz

Notas do Autor


obrigada à ~yogun por me incentivar a fazer outra versão dessa história

Capítulo 1 - Capítulo único


Suas idas à minha casa eram costumeiras. Eram tão religiosamente medidas e respeitadas, que se assemelhavam a quando meus pais me arrastavam para à igreja nos dias de domingo. Vivíamos em uma casa com piso de linóleo, o qual era meu passatempo preferido escorregar em. Paredes cinzas claras, as quais eu vivia escorado, dentre os meus moletons e xícaras incontáveis de café. Contando as estrelas como um sonhador através das janelas de madeira, usando as pernas para afastar as cortinas de cetim. Tudo ali era branco, mas eu podia enxergar vida em cada singelo detalhe daquele lugar.

Quando eu ouvi a porta se abrindo pela primeira vez, não pude me segurar em espionar como se aquele fosse o segredo mais confidencial que poderiam ter me confiado. E, depois de um tempo, soube que o verdadeiro segredo estava entranhado nas carnes daquele garoto tão proibido, e que eu não era honrado o suficiente pra desbravá-lo. Da mesma forma que as notas do piano ecoavam por todos os cômodos, a sua voz preenchia toda a sala de entrada. Era como um Lá na primeira oitava. Uma nota das notas mais graves. 

Seus olhos eram de um castanho inigualável. Eles brilhavam quando a luz do sol refletia, e brilhavam quando os rolava por todo o cômodo, curiosamente explorando cada detalhe dali. Continuavam no mesmo tom de castanho assim que os pousou sobre mim, e nada na sua expressão parecia mudar.

Ele se sentava no banco acolchoado e administrava muito bem todas as críticas feitas pelo meu pai. Seu trabalho se aperfeiçoava a cada tentativa, por sucessivos dias, sucessivas semanas. Por meses, suas melodias eram a única coisa que me preenchia. Elas preenchiam meus dias vazios, minhas tardes de tédio, e minhas noites de sono, assim que ficavam marcadas como uma tatuagem a ferro em todos os lugares da minha mente. Eu novamente me deitava no chão de linóleo, deixando que todas as notas entrassem agradavelmente em meus ouvidos, apoiando os pés nas paredes brancas, atento às sucessivas gritarias de mamãe, chamando a atenção para que eu não manchasse a parede de gesso com meus pés sujos. "Eles não estão sujos", eu respondia como uma criança birrenta, com um sorriso que bailava em minha face no ritmo daquela sinfonia.

Sentava no outro banco acolchoado, um banco acolchoado semelhante ao seu, com a xícara de porcelana dentre os meus dedos frágeis, bebericando o líquido fumegante que fazia com que vapor atingisse à frente dos meus olhos. Vapor aquele que disfarçava todos os olhares fixos que eu tinha coragem de o lançar, novamente escorado contra a parede. 

Eu achava que ele nunca me notaria. Todo o seu profissionalismo e concentração em frente a aquele majestoso piano dentro de uma sala absolutamente vazia, ela uma cena quase cômica. Passou a olhar em minha direção, e a sorrir discretamente. Da primeira vez que o fez, era como se o meu coração tivesse se contorcido. Mas esses olhares e sorrisos de canto pareciam ser mais frequentes, e mais intensos quando eu fazia piruetas em frente à porta aberta daquela mesma sala. Eu dançava ao som de sua melodia, de forma engraçada, para que ele pudesse sorrir mais uma vez. Num ato egoísta, admito. Eu me sentia o pior dos egocêntricos ao vê-lo sorrir.

Deitava no mesmo chão. Não, não o chão de linóleo. O de azulejos. Azulejos frios, os quais eu nunca havia experimentado a sensação. Minhas costas gelavam em sua textura, mas ela me era tão agradável quanto os dedos que desciam até a barra de minha calça. E, assim como era quando eu o via tocar escondido, eu me sentia o pior dos criminosos. 

Eu podia conciliar facilmente uma de suas combinações de Sol e Lá a um orgasmo. Cada uma das suas partituras a uma noite intensa de amor. Permita-me dizer que, a certo ponto, eu não tinha experimentado nenhum dos dois. Mas eu passava a ser um homem com seu amante todas as vezes que o via tocar. Diria até que me apaixonava mais pelas suas notas do que pelo próprio garoto, mas eram dois pontos de vista que andavam de mãos dadas. Afinal, era impossível não imaginar seus dedos correndo por toda a minha pele da mesma forma ágil a qual ele fazia em um teclado.

Nós nunca nos falamos. Não trocamos nenhuma palavra. Simplesmente o ardor e a adrenalina de termos uma pequena amostra um do outro era o suficiente para que chegássemos a um ápice contínuo, daqueles que faziam seus dedos do pé formigarem e o estômago revirar. Era, definitivamente, deveras melhor quando só tínhamos o gosto de quero-mais angustiado dentro de nossos peitos. Pelo menos, era o que eu sentia.

E então, eu me dei conta. Tudo relativo a ele, me era doce. Os os sons agradáveis das notas que ecoavam pelo quarto eram doces, suas feições eram doces, e eu tinha a completa certeza de que talvez seus lábios tivessem um gosto tão doce quanto o cheiro de gardênias que exalava do seu corpo todas as vezes que ele chegava perto de mim. Cada momento ao lado de Jimin era mágico, como em um conto de fadas, e os meses, eu já havia perdido a conta de quantos haviam sido, apesar de guardar na minha própria mente todos os míseros segundos que passava em sua presença. Por mais que nós só tivéssemos nos tocado apenas uma única vez, enquanto ambas as nossas mãos dançavam pelas teclas brancas daquele extenso piano, sua palma escorregasse por cima dos meus dedos, me auxiliando a tocar notas quase tão bonitas quanto as dele, eu gostaria de me gabar daquilo pra sempre. Era o nosso momento.

O cheiro de gardênias. Era o mesmo que perfumava o jardim de mamãe, no qual eu me deliciava. O mesmo que preenchia todos os lugares do meu quarto, entre decorações de mesa, arranjos pendurados na cabeceira da cama, um par de flores que eu utilizava pra marcar páginas do meu livro de romance preferido. Eu já havia perdido a conta de quantos meses haviam sido... talvez porque achei que iríamos durar pra sempre.

O cheiro de gardênias continuava sendo o mesmo depois que ele se foi. Ele não foi, literalmente. Por favor, não pense besteiras!

Mas era como se Jimin fosse a melodia mais bonita de todas. Aquela única melodia que soa perfeitamente bem, e que, assim que é terminada, a pessoa que a tocou, sabe que nunca mais conseguirá tocar uma igual. Ele era o som mais agradável que eu poderia ter ouvido, a textura mais macia a qual eu poderia ter tocado, os traços mais encantadores que eu poderia ter enxergado, ele era perfeito.

Ele tinha aquele cheiro. O mesmo cheiro das gardênias de mamãe, o qual, junto às minhas lembranças, foi a única coisa que sobrou de Jimin.



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