História Garoto Prodígio - 17

[P.O.V. Taehyung]
 

Olho em volta uma vez para ter certeza de que não estava no lugar errado. Era o parquinho próximo da casa de Yoongi. Nesse horário do dia, ele estava cheio de crianças brincando e pais ocupando o tempo. O dia estava lindo, nem mesmo uma nuvem no céu, já que o verão tinha acabado de começar. Eu pessoalmente, amo o verão. Com Yoongi ele seria ainda melhor.

Imagens de mim e de Yoongi, jogados na grama e nos beijando, fazendo um piquenique na sombra de alguma árvore, tomando sorvete passam pela minha cabeça. Estávamos esperando as férias de verão há meses, porque - além de ser verão e eu amar o verão -, já que a escola tinha acabado iríamos conseguir passar muito mais tempo juntos.

Procuro o banco de madeira de que Yoongi me falou, à sombra de uma cerejeira, e me sento ali. Aquela era uma vista incrível. Como a primavera tinha acabado de acabar, a cerejeira ainda estava cheia de flores rosa claro, e a grama ao redor do banco, salpicada de pétalas da mesma cor. Isso, somado ao céu azul e ao clima bom, formava o cenário perfeito. Olho em volta, procurando por Yoongi, mas ele não aparece em lugar nenhum. Puxo o meu celular do bolso e o mando uma mensagem.

Kim Taehyung: Yoonie, eu já cheguei no parque que você falou.

Min Yoongi: Já estou no caminho.

Mandei um "ok" como resposta e me encostei no banco para esperar por ele. Eu estava na minha casa, guardando o meu terno para hoje à noite, quando recebi uma mensagem de Yoongi falando que tinha que me encontrar. Ele não me deu nenhuma explicação, apenas o lugar e o horário.

Espero por mais um tempo, observando a vista linda do parque à minha volta, até que vejo Yoongi caminhando na minha direção. Ele estava com uma regata branca e uma bermuda preta, as pernas brancas à mostra. Na cabeça, escondendo os cabelos loiros com as raízes castanhas já aparecendo, um boné dos Yankees que ele roubou de mim e, nos pés, os tênis all star riscados com caneta que ele tanto amava.

Veio andando na minha direção com a expressão séria, olhando para os próprios pés, parecendo distraído. Assim que ele se aproxima, me cumprimenta com um beijo rápido, logo se sentando do meu lado. Olho para o seu rosto e ele ainda parecia distraído.

- Yoonie, você está bem? - perguntei, preocupado. Apesar de Yoongi já ter praticamente superado a notícia da sua infertilidade, de vez em quando ele parecia se lembrar desse fato e ficar triste de repente. - Por que me chamou aqui?

- E-eu t-tenho… - ele gagueja, o que me surpreende. De um tempo para cá, Yoongi tem mudado, ficando mais seguro e menos tímido. Ele raramente gaguejava agora. - Eu tenho um assunto sério para falar com você.

- O que foi? - pergunto, já ficando com um pouco de medo.

Ele olha para as próprias mãos e respira fundo, parecendo tomar coragem. Coloca a mão no bolso da bermuda e tira dali um papel, que não entendo até que ele me mostra. É uma passagem de avião, perfeitamente dobrada. Apenas ida para os Estados Unidos. Uma esperança minúscula e - honestamente - meio idiota surge em mim, o que ele estava fazendo?

- Yoongi, o que… - começo, sem entender.

- Eu recebi uma oferta. - ele me interrompe. - De largar tudo e me mudar para os Estados Unidos com o meu irmão, fazer faculdade lá.  

Abro minha boca em choque, ainda sem entender direito o que estava acontecendo. Olho para Yoongi e vejo seus olhos marejados quando ele fala:

- Essa passagem é para mim, Taehyung. Eu parto hoje à noite.

Arregalo meus olhos, os sentindo marejar sem motivo aparente. Ainda não entendia exatamente do que ele estava falando, foi muito de repente. Ele… vai embora simplesmente? Isso é uma despedida? Yoongi me encara, preocupado com a minha falta de resposta. Olho para o meu próprio colo, tentando controlar os meus pensamentos.

- Isso é uma despedida? - pergunto, engasgado. - Foi por isso que você me chamou aqui?

O ômega assente, pressionando os lábios um contra o outro. Ele olha para as próprias mãos e por um segundo eu me sinto ofendido. Ele aceitou a proposta sem nem mesmo falar comigo… me mando calar a boca mentalmente antes que eu pense mais algo como isso, eu estava sendo ridículo.

- Eu tinha que falar com você antes de ir embora. - ele sussurra, segurando a minha mão. - É em cima da hora, mas eu não podia ir embora sem falar com você. A gente vai ficar muito separado e por muito tempo…

- A gente dá um jeito , Yoonie. - aperto a sua mão em um encorajamento mudo. - Nós podemos conversar por vídeo, e eu posso te visitar de vez em quando, ou até…

- Taehyung. - ele me corta e eu paro de falar, notando tarde demais que até agora ele não me chamou uma vez sequer pelo meu apelido. Olho nos seus olhos e os vejo brilhando com lágrimas quando ele fala: - Eu quero terminar.

Meus olhos se arregalam, as lágrimas acumuladas nos meus olhos ameaçam escapar e minha boca se abre várias vezes tentando formular uma frase. Começo a pensar seriamente se isso não é alguma pegadinha de mal gosto, mas o olhar despedaçado de Yoongi e a consciência de que ele não faria uma piada tão horrível deixam claro que isso está acontecendo de verdade. O ômega me encara, esperando uma resposta, mas tudo o que sai da minha boca é uma pergunta engasgada:

- Por que?

Yoongi suspira e volta a apertar a minha mão, parecendo pensar na resposta.

- Taehyung. - ele não me chama pelo apelido, a consciência disso me machuca. - Você precisa entender que as coisas nos Estados Unidos vão ser diferentes às aqui na Coréia. Eu vou estudar muito mais, o tempo livre que eu tiver lá vai ser minúsculo. Tentar um relacionamento à distância ia me machucar e te machucar. - Yoongi olha para as nossas mãos entrelaçadas e suspira novamente. Quando levanta o olhar o olhar, seus olhos estão úmidos. - Eu já passei por tanta coisa aqui… Ganhei uma chance nova longe daqui e quero deixar tudo para trás.

- Tudo para trás? - repito. - Incluindo eu?

- Taehyung, não é assim. - fala, soltando as minhas mãos e arrumando o seu boné apenas para ocupar as próprias mãos, parecendo ansioso. - Você sabe que eu gosto muito dos meus amigos aqui e que te amo, óbvio. Mas não é o suficiente, nunca vai ser o suficiente se eu continuar aqui, com o meu pai e poucas chances de futuro.

Passo as mãos pelas bochechas e percebo que elas estão encharcadas, as lágrimas agora caíam livremente. Levo meus joelhos até o peito e abraço minhas pernas, me encolhendo. Olho para Yoongi e vejo que ele não está chorando. Seus olhos estão úmidos e sua expressão é triste, mas ele não chora.

- Você prometeu. - sussurro, com o rosto escondido nas minhas pernas.

- O que? - ele pergunta, provavelmente não tinha ouvido.

- Você prometeu. - levanto o rosto e falo um pouco mais alto. - Você prometeu que íamos sempre ser o suficiente um para o outro.

Sei que pareço uma criança. Sei que um alfa sofrer na mão de um ômega desse jeito é impossível, sei que estou patético no momento. Mas não dou a mínima, apenas quero quero fazê-lo entender que não pode simplesmente terminar tudo comigo e fugir para outro país, do dia para a noite.

Levanto o olhar e o direciono para a paisagem linda à nossa volta, ao chão salpicado de pétalas cor-de-rosa e ao céu azul. A vista bonita ri na minha cara e permanece rindo até que ouço Yoongi falar:

- Tae, por favor, não dificulte tudo. - quando meu apelido finalmente sai dos seus lábios, parece errado naquele tom pesaroso. - Eu já fiz minha escolha, vou embora hoje.

- Mas eu não fiz a minha. - retruco, olhando nos seus olhos. - Você não me deu escolha, só decidiu terminar comigo e fugir.

- Tae… - ele suspira, olhando rapidamente para o céu.

E é então que eu percebo. Já está escurecendo ele já tem que, já quer ir embora. Já se livrou de tudo o que tinha que se livrar aqui e eu fui o que sobrou.

- Tae, eu tenho que ir. - ele fala, se levantando do banco e confirmando meus pensamentos.

- É isso, então?  - digo alto, a raiva achando lugar no meio da tristeza. - Você acha uma oportunidade melhor e abandona todo mundo?

Yoongi não fala nada, mas o seu olhar triste e resignado deixa claro que sim, é exatamente isso. Ele não abre a boca, apenas desvia o olhar do meu e se vira para ir embora.

Nesse momento, não me aguento mais. Minha mão encontra o pulso de Yoongi e eu o puxo com tanta força que o seu boné cai para trás, pressionando minha boca na dele. Yoongi cai sentado no meu colo e eu agarro sua cintura, o abraçando enquanto peço passagem com a língua. Para minha surpresa, Yoongi a concede, e o gosto característico de menta e açúcar invade meu paladar, se misturando ao salgado das minhas lágrimas.

Nossos corpos já se conhecem à esse ponto, se acendem quando estão juntos, se iluminando com aquela energia que apenas nós dois podemos criar. As mãos dele vão até a minha nuca e prendem meus cabelos entre os dedos, deixando claro que ele está tão desesperado quanto eu.

É essa energia, essa vibração, que me vicia em Yoongi. E eu estou usando ela como minha última arma para convencê-lo a ficar.

[...]

As luzes coloridas refletem na bebida dentro do meu copo, enquanto ouço a música que toca alto dentro do ginásio. Elas deveriam ser alegres, mas no momento tudo o que estão me causando é dor de cabeça. Mesmo sabendo que essa não é a melhor cura para uma dor de cabeça, pego o copo de cima da mesa e o viro em três grandes goles, o álcool descendo pela minha garganta como fogo.

Olho em volta, sentindo meus olhos marejados por causa da bebida, o baile de formatura de Jin e Namjoon. As pessoas dançam, felizes por finalmente se livrarem da escola, e no centro da pista vejo meus amigos abraçados, achando que não estão sendo vistos por ninguém. Namjin, penso, logo soltando uma risadinha com o meu pensamento.

- Eles são muito shippaveis, né? - ouço uma risada gostosa do meu lado e me viro, vendo aquele garoto baixinho que eu amo. Yoongi senta do meu lado, arrumando o terno e parecendo desconfortável.

- Sim, eu quero ir no casamento deles. - digo, colocando o copo em cima da mesa. Yoongi vê o copo vazio, e revira os olhos.

- Cara, vai com calma, você vai cair se continuar bebendo assim. - fala, com um sorrisinho.

Não resisto dar uma risadinha porque eu sei que ele bebeu muito mais que eu.

- Relaxa, estamos de férias, Yoongi. - falo.

Ele inclina a cabeça, parecendo confuso, e seus cabelos loiros caem por cima da testa.

- Yoongi? - pergunta.

Minha cabeça gira por causa da bebida, ficando nublada, e eu pisco uma vez com força, contando até dez antes de abrir os olhos. Quando eu o faço, o garoto na minha frente está um pouco mais alto e não tem mais os cabelos loiros, e sim pintados de vermelho.

- Cara, retiro o que eu disse. - Baekhyun fala. - Você ‘tá mal mesmo, vem vou pegar uma bebida pra você.

Baek me puxa pelo braço para a mesa das bebidas, mas eu sei que não vai dar certo. Nenhuma quantidade exorbitante vai fazer eu me esquecer do avião que deve estar voando em cima das nossas cabeças agora, indo para outro país sem nunca mais voltar, com o amor da minha vida dentro dele.