Tsukishima sempre fora alguém com bom senso de tempo e espaço, nunca se atrasava para algo por descuido, talvez para irritar alguém e apenas por isso, então como ele foi ficar em uma situação como esta?
Desde o último acampamento de treino mantinha contato com Kuroo, Bokuto e Akaashi, não gostava de chamar aquilo de amizade, achava esse tipo de coisa ridículo, mas no fundo sabia que havia sim uma amizade entre os quatro ou não estaria em Tóquio para um breve encontro com os mais velhos, o plano inicial era ficar sexta na metrópole e a noite voltar para Miyagi, tinha tudo completamente visível em sua mente, mas não contava com um temporal, não contava com a possibilidade de passar a noite na casa de Kuroo. Ainda tentou pedir para ficar na casa de Akaashi, entretanto, o moreno iria para a casa de Bokuto, por esse estar sozinho e quase chorar aos pés do melhor amigo para que dormisse lá.
Não, ele não tinha raiva ou algo do gênero para com Kuroo, mas a barreira que mantinha entre si próprio e todos as outras pessoas ao seu redor era um pouco mais sólida e espessa quando o assunto era o ex-capitão do Nekoma, talvez por seu jeito presunçoso e sempre carregado de malícia ou pela forma como sempre conseguia o que queria com aquela insistência e paciência infinita, um ótimo exemplo disso era o fato do loiro ter aceitado dormir em seu apartamento invés de pegar “um pouco” de chuva até o metrô.
Não adiantava ficar pensando nessas inutilidades agora, o melhor a fazer seria dormir e ir para casa o mais cedo possível.
– Tsukki... – Pressionou as pálpebras com mais força ao escutar o timbre arrastado, tentando ignorá-lo. – Tsukki, eu sei que você está acordado. – Como sempre, era impossível ignorar Kuroo.
– Não estarei em alguns segundos. – Tentou cortar o possível assunto, mesmo sabendo que não dormiria tão cedo com aquela chuva que caia lá fora, o mundo parecia estar caindo.
– Posso deitar com você?
– Não. – Virou-se na cama, para o lado oposto de onde estava Kuroo, que aliás, era em um colchão não muito grosso, devia mesmo estar frio, mas isso não era problema seu, o moreno quem insistiu para que dormisse em sua cama.
– Mas por quê?
– Porque eu não gosto de dividir cama com ninguém e você parece espaçoso demais.
– Tsukki, está frio. – A carga extra de manha na voz quase fez o maior ceder, afinal estava ali de favor, porém, se tratava de Kuroo Tetsurou e sabia que aquele timbre era apenas para o persuadir.
– Se cubra. – Respondeu seco, esperando que fosse o suficiente para o outro desistir daquela ideia.
– Tsukki...
– Boa noite, Kuroo. – Não deu tempo para o outro completar e viu que este havia enfim desistido, o que era um pouco estranho.
Não era o dia de sorte do loiro, definitivamente a vida resolveu cobrar todas as pegadinhas acumuladas que havia feito com seus companheiros de time naquele dia e logo começou a trovejar. O primeiro estrondo assustou levemente o loiro que tentou ignorar cobrindo a cabeça com o travesseiro, mas foi em vão ao escutar o segundo, muito mais alto que o primeiro, um riso baixo foi ouvido no pequeno quarto e Kei não precisava olhar para saber que o “amigo” tinha aquele sorriso irritante de quando conseguia o vencer em algo.
– Kuroo. – Chamou baixo, sendo totalmente ignorado, era óbvio que o mais velho não estava dormindo, apenas fazendo birra e devolvendo o que recebera anteriormente. – Kuroo-san... – Chamou novamente, tentando colocar mais sutileza na voz.
– Hm? – O timbre sonolento era obviamente falso, não havia dúvidas e Tsukishima sabia que ele não estava tentando o enganar, apenas o provocando.
– Vem. – Murmurou meio a contragosto, voltando a deitar a cabeça sobre o travesseiro e puxando a coberta até o nariz.
– Não entendi, Tsukki. – Apoiou a cabeça sobre a mão, olhando fixamente na direção do mais novo com o típico sorriso torto e esnobe.
– Vem deitar comigo. – Amarrou a cara de vez, cobrindo o restante do rosto ao escutar um trovão ainda mais alto que os anteriores.
"Os céus me odeiam tanto assim?”, questionou-se silenciosamente.
– Mas você disse que não queria...
– Tudo bem então. Boa noite, Kuroo. – Puxou a coberta visivelmente irritado, não iria entrar em um dos joguinhos do moreno em que acabaria implorando para vir deitar-se consigo.
Os dedos longos e finos continuaram agarrados firmemente a coberta, estremecendo levemente a cada estrondo, tentando manter o pensamento de que em algum momento — breve — eles cessariam e conseguiria dormir sossegado. Ledo engano. Alguns minutos depois da rápida conversa, sentiu o colchão afundar próximo a seus pés e o corpo musculoso se esgueirar por baixo da coberta, ficando rente ao seu.
– Sério que tem medo de trovão? – Kuroo perguntou baixo, estava muito perto do loiro, os corpos quase colado, aproveitando para passar um dos braços sorrateiramente pela cintura fina.
– Não precisa de toda essa proximidade. – Tentou afastar o braço alheio de seu corpo, o que era completamente inútil, mesmo que fosse mais alto que o moreno era bem mais magro e consequentemente, fraco.
– Você me deixou muito tempo passando frio no chão, estou congelando; – Aproximou-se mais e o loiro pode constatar que a afirmação do outro tinha um fundo de verdade, ele estava gélido, mas o espaço entre os dois era mínimo e aquilo continuava o incomodando. – Eu te ajudo com seu medo e você me esquenta.
– Não estou com tanto medo ass- – A frase não pudera ser completada pelo susto tomado com o barulho lá fora, o corpo inteiro retesando e sendo seguido da risada sínica do outro.
– O que dizia mesmo?
– Okay, eu tenho muito medo de trovão, satisfeito? Não é algo que faça diferença para você.
– Agora eu sei algo a mais de você, além do que via nos treinos e encontros com o Bokuto e o Akaashi. – Tsukishima não pode ver, mas Kuroo ostentava um pequeno sorriso, diferente dos habituais, este parecia sincero, o típico sarcasmo passava a quilometros de distância.
– Vai me chantagear com isso?
– Não, só quero te conhecer mais, Tsukki.
O loiro pensou em retrucar, mas uma sequência de trovões o fizeram se calar e apenas se aconchegar mais nos braços forte, além do medo, também estava com frio.
– Eu tenho medo de aranhas. – O mais novo demorou a entender a informação, virando o rosto um pouco e olhando de esgueira para o dono daquele apartamento. “Por que infernos ele estava lhe contando isso?” – Não quero que pense que irei te chantagear.
– Um homem do seu tamanho com medo desses bichinhos? Então é por isso que não quer dormir no colchão?
– Cale a boca, você tem medo de trovão, não discuta com os senpais.
– Tsc. – Tsukishima tentou controlar, mas acabou rindo baixo do outro, apenas por imaginar sua cara emburrada no momento.
– Que tipo de filme você gosta?
– O quê?
– Vamos, diga...
Do ponto de vista de Kei, aquele interesse todo por si era suspeito, Kuroo só podia estar tramando algo, não fazia ideia do que poderia ser, muito menos o porquê de ter respondido à pergunta e todas as outras feitas na sequência, se deixando levar pela conversa e também perguntando sobre o — agora — universitário. Também não saberia dizer como o medo do barulho lá fora foi deixado de lado ou quando adormeceu tão tranquilamente nos braços daquele gato de rua.
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