História Gatunos! - A despedida de Sashi

- E então? O que acharam? - perguntou a loira.

   - Sashi... - começou Lanny. - Essa foi a melhor comida que eu já comi!!!!

   - Tá muito boa mesmo! - comentou Kalissa.

   - Concordo! - disse Toby.

   - Digna de restaurantes cinco estrelas! - afirmou Sabine.

   Sashi sorriu, agradecida e contente. Era a primeira vez em tempos que ouvia elogios tão bons ditos à sua comida. Como cozinheira, ela não poderia estar mais feliz, afinal, sempre cozinhara com amor.

   - Qual o ingrediente secreto para isso? - perguntou Kalissa, divertida.

   - Já sei: é amor - respondeu Toby, brincando e rindo.

   - É - disse Sashi. - Talvez seja amor. Mas é mais provável que seja salsa e cebola - riu.

   Sashi estava começando a se acostumar com os novos companheiros. Lanny era espontânea, divertida e um pouco estranha às vezes, mas gostava de estar ao lado dela. Kalissa era fofa e meiga, o que deixava Sashi mais à vontade com ela. Toby, bem, ela não sabia distinguir o que sentia, a única coisa que conseguia pensar quando olhava para ele era como seus cabelos liláses eram lindos. Claro, ela não se dera bem com todos. A loira não fora muito com a cara de Sabine. Achava-a falsa, mas não seria si mesma a falsa? Ela preferia mil vezes acreditar que não.

   - Aquilo que você fez hoje mais cedo foi incrível! - disse Lanny. - Você fez ele voltar pra casa com o rabo entre as pernas, hihihihi!! Como fez aquilo?

   Sashi percebia que a morena dizia a verdade; estava totalmente fascinada. Receber elogios assim era parte da rotina diária da loira, mas eles geralmente vinham de homens que se apaixonavam ou que queriam outra coisa, mas desta vez era diferente: vinham de uma... amiga, sim, era essa que palavra que ela estava procurando.

   - Ora, não foi nada de mais - respondeu. Mesmo não estando sem graça, dava um pequeno sorriso forçado para que não parecesse desfeita. - É que eu treino e luto desde criança.

   - Que legal! Eu e a Sabi-chan também! - acrescentou Lanny.

   - Sim. Lanny usa os punhos e... às vezes a cabeça. Já eu luto com um bastão. Que tipo de luta você pratica? Por acaso não usa armas? - comentou e perguntou Sabine.

   Sashi achara Sabine entrometida por querer saber tanto sobre ela, mas não perderia a chance de se gabar. Então respondeu: - Eu sei várias técnicas de luta, mas não uso as mãos nas batalhas, somente pés e pernas.

   - Por quê? - perguntou Toby.

   Desta vez ela não se importara em responder. - É que uma vez, uma pessoa me disse que cozinheiros não podem sujar suas mãos com o sangue de seus inimigos. Disse que cozinheiros devem sempre ter as mãos limpas.

   - Isso me é familiar... - comentou Kalissa. - Hey, Lanny-chan, Sabine-chan, não tinha um cara do Bando do Chapéu de Palha que dizia isso? Meu pai falava muito dele. Dizia que era... hum... acho que usou várias vezes o termo "mulherengo".

   Sashi bufou e torceu o nariz. Não por causa do comentário, mas por Kalissa estar certa. Realmente ele era mulherengo, até demais.

   - Sanji - disse Lanny. - É o Sanji, o cozinheiro da tripulação do meu pai.

   - E-ei, espera aí! Você é filha do Monkey D. Luffy, o Rei dos Piratas!!? - perguntou Sashi, surpresa.

   - Sou eu mesma! Me chamo Monkey D. Lanny, huhu!

   - Bem... Então, acho melhor eu me apresentar: sou Vinsmoke Sashi. Sou filha de Vinsmoke Sanji. E é um prazer me unir à você, Lanny-chan.

   -  VOCÊ É FILHA DO SANJI!!!!??? - todos exclamaram ao mesmo tempo com caras extremamente assustadas e exageradas.

   - Sim, eu sou. E não, não é incrível.
  
   - Por que não? - perguntou Kalissa. - Ah, sinto muito pela intromissão...

   - Não, não, tudo bem. É que ele e a minha mãe só me criaram até os cinco anos e depois me abandonaram aqui.

   - Abando... naram? Como assim? - questionou Lanny. Ela realmente não sabia, pois Luffy nunca teria coragem de fazer algo assim com sua própria filha e sempre a tratara com muito amor e carinho.

   - Disseram que eu ficaria aqui, treinaria e que em um ou dois anos um dos dois voltaria para me buscar, mas já se passaram onze anos e eles nunca nem me mandaram uma carta.

Lanny parou e pensou um pouco. Horrível. Era o que achava daquelas palavras. Sanji era mesmo o que Sashi dizia? Como ele teve coragem de fazer algo assim com sua própria filha? Luffy sempre disse à ela que nunca a abandonaria e que sempre viria quando ela chamasse. Não era assim com a nova amiga?

   - Sinto muito - lamentou Sabine.

   - Nha, já não me importo mais. Decidi que iria provar meu valor e esfregar na cara dele quando nos víssemos de novo.

   - Esse é seu sonho? - perguntou Toby.

   - Não sei. Acho que não. Tem algo que quero mais do que isso, mas não irei lhes dizer nada sobre meus desejos, vocês não precisam saber.

   - Tudo bem, respeitamos - afirmou Sabine.

   Conversaram durante um bom tempo e, enquanto isso, os chefs e outros funcionários discutiam sobre o que poderiam fazer para a garota. Queriam um gesto de carinho por terem realmente criado a garota desde seus cinco anos de idade, então precisavam de um gesto grande e bonito para sua despedida. Porém não tinham a mínima ideia do que poderiam fazer.

   Demoraram-se horas para que chegassem em um acordo, mas até que enfim tinham pensado em algo e decidido o que fazer. Seria uma despedida inesquecível para ela, disso todos tinham certeza.

   - Venha- Sashi! Vou te mostrar o nosso navio! - Lanny disse e puxou a amiga pelo braço, arrastando-a até onde estava o barco.

   Atravessaram todo o salão e logo chegaram onde o navio se encontrava. Os outros as alcançaram logo depois.

   Sashi realmente estava ansiosa para vê-lo, afinal, se era de Lanny, a filha do Rei dos Piratas, o homem mais rico do mundo, deveria ser lindo e enorme. Mas se arrependeu.

   Ficou de queixo caído quando viu tal coisa. Não era nem um pouco parecido com o que imaginara. Claro, a pintura de verniz era nova e acabara de ser feito, além de ter um mastro e apetência fofos, mas preferia que fosse melhor. Era o contrário de tudo o que Sashi queria: era pequeno, meio pobre, simples e cheirava à peixe e suor.

   - Err... Lannizinha, o que é exatamente essa coisa? - perguntou ela, fresca.

   - É o nosso navio! - Lanny disse e abriu um enorme sorriso, apontando para o objeto.

   - Qual o problema com ele? - perguntou Sabine, já desconfiada da atitude da loira.

   - Ah... nada, é só que... Lanny, você não acha que ele é um pouco... simples?

   - Acho que quis dizer grotesco. Foi o que pensou, não foi? - questionou Sabine, cruzando os braços.

   - Não quis ser mal educada - admitiu, séria.

   - Tudo bem, Sabi. Olha, eu não me importo. Os outros que pensem o que quiserem, porque eu amo meu navio! - Lanny disse e esticou seus braços de borracha para abraçar ao redor da estrutura.

   Ao ver aquilo, Sashi ficou de boca aberta. Como!? Os braços da capitã haviam se esticado de forma surreal e assustadora. Ela teve até medo, mas logo se recompôs ao notar o olhar e a risada de lado de Sabine. Era como se ela penssasse: "Encara essa agora!".

   Kalissa corou. - Q-que bom que gosta t-tanto assim do barco, Lanny. Fico muito contente!

   Após voltar seus braços para a forma normal, Lanny encarou Sashi com cara de dúvida, mas foi abrindo lentamente um sorriso cada vez mais largo, até que caiu na risada. De tanto rir, foi parar no chão, sem fôlego.

   - V-você é algum tipo de m-monstro!? - perguntou Sashi, horrorizada.

   - Aí também não, né? - disse Lanny, já se recompondo e retomando o ar por causa das risadas. - Eu comi a Fruta do Diabo Gomu Gomu, assim como meu pai, e agora sou uma menina de borracha!

   - I-isso parece plágio...

   - Mas não é! Você vai entender um dia. Aqueles treinamentos todos... - por um momento os olhos de Lanny ficaram nublados de dor e tristeza, mas ela logo voltou a sorrir. - Bom, isso não importa! Não mais!

   "Oh, Lanny... me perdoe..." pensou Sabine, tristonha. "Por não ter estado lá...".

   - Tá bom - Sashi disse e chacoalhou a cabeça para organizar as ideias.

   - Acho bom prepararmos as coisas para partirmos - Toby disse e todos os outros concordaram.

   Já de noite, com as coisas já prontas, Sashi entrava no navio enquanto despedia-se mentalmente de todas as lembranças que tinha daquele restaurante, sua verdadeira casa.

   - Não virão aqui se despedir de você? - disse Toby, chegando ao lado dela, um pouco tímido por tal pergunta.

   Sashi apenas engoliu sua vontade do chorar, empinou o nariz e fez que não com a cabeça, entrando no barco rústico. Por mais que ela tentasse disfarçar, dava-se para perceber que ela queria chorar e que ainda tinha esperanças de que se importassem com ela.

   Tudo o que a loira queria era se despedir, mas seu orgulho não a permitia fazer isso. Ela não queria algo grande e espalhafatoso, por mais que parecesse. Um gesto pequeno e significativo já estava ótimo, e ela nunca esqueceria. Em toda sua vida, sempre recebeu gestos grandes de amor, verdadeiros ou não, mas apenas algo pequeno já satisfazia seu coração atormentado.

   Virada de costas, escutou chamarem por seu nome: - Sashi, venha aqui - era Pé Vermelho.

   Hesitante, ela finalmente resolveu ir até lá, tentando imaginar o que seria, pois o chef parecia estar bravo e muito sério.

   Ficou frente à frente com o homem. - S-sim, chef?

   - Tenho uma coisa pra você - a garota instintivamente "ligou" todos os seus sentidos, pronta para receber um ataque. - Não é só meu, veio de todos.

   O que Pé Vermelho queria dizer com aquilo? De todos? Sashi relaxou os músculos, saindo do modo ataque. Encarou os olhos do homem. Ele estava sério, mas seus apresentavam um brilho semelhante a orgulho.

   - Para você - disse ele, levantando seu braço direito e abrindo a mão.

   Quando o chef abriu sua mão, Sashi quase não conseguiu acreditar no que via na palma: uma flor roxa. Uma simples flor.

   - E-era tudo o que eu q-queria - disse ela, forçando para conter o choro.

   Ela pegou a flor e deu um forte abraço em Pé Vermelho, o qual retribuiu o ato. A garota, não suportando mais, acabou desabando em lágrimas que molharam o avental do homem.

   - O-o-obrigada! - ela disse, em meio aos soluços.

   A garota também abraçou todos os outros chefs e agradeceu-os, também tendo seus atos retribuídos por eles.

   Quando já havia despedido-se de todos, ainda derramando algumas lágrimas, entrou no navio.

   Kalissa, que cuidava do jardim da mãe na mansão, ofereceu um vaso para Sashi plantar a flor. Não prometeu que ela floresceria, mas prometeu que faria o que pudesse para que isso acontecesse.

   - Pronta para zarpar, cozinheira Sashi? - perguntou Lanny.

   - Sim - respondeu ela. - Sim, Capitã Lanny.

   A morena assentiu e ordenou que Sabine levantasse a âncora, ajudando-a com a tarefa, enquanto Toby e Kalissa inssavam as velas.

   Enquanto o barco se afastava do restaurante, os cinco acenavam incessantemente e despediam-se dos chefs que para trás ficavam.

   Já ao longe, Kalissa resolveu comentar: - Eles parecem tão pequenininhos daqui!

   - Parecem mesmo! - concordou Lanny.

   - Fico feliz que tenha se juntado a nós, Sashi -  disse Toby. Sashi percebia pelo olhar e pelo sorriso do garoto que ele estava sendo honesto com ela.

   - Bem... eu não podia passar o resto da minha  vida naquele restaurante velho, não é mesmo? - respondeu ela.

   - É, talvez você tenha razão.

   - Sashi, seu quarto já estava preparado. Pode ir arrumar suas coisas quando quiser - Sabine apareceu pela porta e disse.

   "Eu e essa garota não vamos combinar!" Pensou Sashi, bufando.