História Gatunos! - Temmie vai matá-los!

- Venha, Temmie! - Nikkyo chamou por sua gata.

   Há era de manhã no dia seguinte. Haviam passado a noite muito bem, mesmo Temmie não podendo dormir mais à cama com sua dona e ser obrigada a deitar-se no sofá. Mas aquilo não importava. Estava ali. Isso sim importava para ela, para ambas.

   - Fiz um presente pra você! - disse a mulher.

   - Um presente? Pra mim? - Temmie ainda sentia-se um pouco culpada depois do que acontecera, portanto não esperava ganhar um presente.

   - Sim, Sim! Venha!

   A gata meio humana seguiu sua dona até a cozinha e sentou-se no chão enquanto a mesma revirava seu armário à procura de algo e coçava os olhos.

   "Ela não parece ter dormido o necessário essa noite. Por quê?" Pensou Temmie.

   Quando Nikkyo finalmente achou o que quer que fosse, escondeu atrás de suas costas, toda misteriosa e alegre. Ela sabia que Temmie iria gostar, mas mesmo assim ainda estava um pouco apreensiva.

   - Eu fiz pra você! - ela disse e mostrou para sua mascote o presente feito para ela com carinho.

   Era um swetter listrado de azul e amarelo com mangas e do tamanho de um vestido curto. Fora feito de tricô, atividade que Nikkyo adorava realizar. Por mais que fosse feito de lã, era muito resistente e não desfiaria com tanta facilidade.

   Temmie, ao ver aquilo, teve vontade de chorar de alegria. Agora usaria roupas! Nunca imaginaria que algum dia isso poderia acontecer. E que linda roupa! Havia amado! Não tiraria nunca - e nunca tirara.

   - Eu amei!! - exclamou a gata.

   - Que bom! Eu sabia que ia gostar! - respondeu Nikkyo.

   De repente, um grito agudo fora ouvido do lado de fora da casa. Parecia ter vindo da Praça da vila, que não ficava muito longe de onde moravam.

   Kikkyo, preocupada, correu atrás de suas chaves de casa e, quando as achou, foi até a porta principal e a abriu o mais rápido que pôde.

   - Temmie, você fica aqui - ordenou ela antes de sair.

   - Desculpe - disse Temmie. -, mas não. Eu vou com você! - A mulher assentiu e as duas saíram correndo rapidamente para ver o que havia ocorrido.

   Chegando no local de onde Temmie dissera que viera o grito, avistaram um bando de piratas agredindo uma mulher, segurando-a com força pelos braços. Quanto mais ela tentava se debater, mais forte o pirata apertava seus pulsos.

   - Me solte! - implorava ela. - Eu já disse que não a conheço!

   - Ah, numa vila pequena dessas? Faça-me o favor, madame! - o pirata debochava de sua vítima enquanto a interrogava sobre algo que Nikkyo podia ter quase certeza do que se tratava.

   A dona de Temmie, não aguentando ver tal cena, enfureceu-se e resolveu agir, mesmo estando ciente dos problemas que aquele seu ato poderia acarretar para si mesma.

   - Ei!! Largue ela!! - gritou aos piratas, colocando-se à frente de Temmie para defendê-la.

   O pirata levantou sua cabeça. - Ora, ora, ora... O que temos aqui...?

   - Capitão - um outro chamou este. - É ela, não é mesmo?

   - Sim. É ela, sim... Hahaha! Como se atreve a nos dar ordens, sua maldita!?

   Desta vez a enfurecida era Temmie. Como aquele homem miserável ousara xingar sua dona, a pessoa que mais amava no mundo!? Ele sim era um maldito! Queria protegê-la, mas o que poderia fazer contra aquele homem? Ele parecia ser extremamente forte e não estar brincando. Faria algo, faria sim. Mal sabia ela o que aconteceria.

   - Q-quem é você? - balbuciou Nikkyo.

   - Ora, vamos, pare com essas suas brincadeiras. Eu sei que é você... - disse o homem. - Nikkyo.

   A mulher espantou-se. - Barba de Prata... Também sei que é você .

   A cada fala de ambos, Temmie chocava-se mais e mais. Sua amável dona poderia ter relação com aquele pirata? Aquele tal de Barba de Prata? Mas que tipo de relação eles poderiam ter?

   - Espero que não tenha se esquecido - o homem de barba platinada e espessa continuou a dizer.

   - Haha... - Nikkyo deixou de mostrar os dentes, agora rindo. - E como poderia me esquecer... Do dia em que quase pude testemunhar seu fim?

   - Ha, sua maldita.

Desta vez sua dona pareceu não ter se chocado muito e nem se importado com tal ofensa, o que para Temmie fora uma calamidade.

   - O que está acontecendo, Nikkyo...? - Quase não teve forças para perguntar.

   - Não se preocupe, Temmie. Ficará tudo bem - a mulher assegurou-a.

   - Ora, não minta para ela - intrometeu-se Barba de Prata, finalmente largando a mulher, que correu para longe. - Você sabe que seu fim está próximo, como o meu um dia esteve.

   Há muito tempo, Nikkyo tentara enganar Barba de Prata o mandando para o outro lado da Grande Linha, onde nenhum pirata nunca ousou ir, para que isso o matasse, mas ele não caíra em sua armadilha e, assim, pegou-a no flagra. Por sorte a mulher conseguir fugir em um bote roubado do navio, mas fora por muito pouco mesmo; ele quase a matara.

   - Você era minha melhor tripulante, sabia? Ora, deve saber. Era minha imediata, a segunda em comando do navio. - O homem não parava de falar. - Ou também já se esqueceu?

   Ela cerrou os punhos. - Ah, me lembro muito bem. Pelo visto meu plano não funcionou, não é mesmo? Pensei que finalmente tinha dado um fim aos seus crimes. Que azar o meu. - Provocava o homem como quem provoca um urso com um graveto.

   - Por mais que eu te odeie depois do que fez, devo admitir que trocar o mapa da Grande Linha pelo mapa do lado obscuro e sem saída dela foi uma ideia brilhante.

   - Obrigada, mas eu já estou ciente disso. - Riu. - Pena que percebeu tão rápido.

   Temmie apenas ouvia a conversa dos dois sem palpitar e nem discutir. Sua dona fora uma pirata, agora tudo estava claro como a água. Ela nunca imaginaria algo do tipo, principalmente por já ter ouvido-a dizer milhares de vezes que piratas são pessoas ruins, não todos, mas a maioria.

   Algo dentro da gata queria colocar-se para fora. Ela não sabia, mas era seu lado desprovido de humanidade; sua "outra Temmie." Uma que não perdoaria nada nem ninguém... nunca.

   - Sabe o que vai acontecer com você, não sabe? - perguntou Barba de Prata à mulher, que agora já não estava mais assustada e nem com medo.

   - Não, não sei - admitiu.

   - Homens - ele chamou os outros que observavam-os. - Mostremos para ela!

   Após o capitão ter ordenado aquilo, seus marujos partiram para cima Nikkyo, agarrando-a pelos braços. Para se revidar, a dona da gata socava os rostos deles sem piedade e com muita força; ela realmente não parecia ter toda aquela força.

   Agora Temmie havia ficado fascinada, esquecendo um pouco o lado ruim da situação. Aquilo a inspirara. Ela queria lutar também, da forma que fosse, não importava-se.

   Foi quando olhou para suas mãos, que formigavam, que viu suas garras crescendo. Haviam duplicado de tamanho! Estavam grandes e afiadas! Ela poderia usá-las. Sim, era o que faria: arranharia todos os que tentassem machucar sua dona!

   Um pirata mal-cheiroso partiu para cima de Nikkyo e Temmie partiu para cima dele. A gata arranhou o rosto do homem, ferindo-o de forma horrorosa e fazendo com que ele perdesse bastante sangue.

   Aquilo havia sido terrível, já que Temmie nunca fizera nada parecido, mas ela gostara. O que sentiu não foi pena do homem, mas sim achou divertido.

   - Obrigada, Temmie - Nikkyo agradeceu à sua mascote.

   A gata sorriu. - De nada! - respondeu, golpeando logo após mais um pirata que avançara para perto de si.

   De repente, Barba de Prata, que havia saído de fininho, apareceu por trás de Nikkyo e pressionou um enorme facão na garganta da mesma, fazendo-a gritar de susto, de dor e de medo.

   - Você vem comigo! - disse ele.

   - Não! - gritou Temmie. - Eu não deixarei! Nunca!

   - Ora, ora, ora... O que temos aqui? Uma gata que comeu a Akuma no Mi, err... Como se chama? Ah, sim. Hito Hito no Mi - disse o capitão pirata.

   - Isso não é da sua conta! - disseram dona e mascote.

   - Ah, eu acho que é sim. Afinal... eu também já comi uma. Você não sabe, né, Nikkyo? Foi a pouco tempo. Comi a Bari Bari no Mi, a fruta das barreiras.

Após dizer isso, o pirata correu até seu navio carregando a mulher em seus braços, que o socava e chutava, mas não fazia efeito algum nele.

   Temmie correu atrás do homem nas quatro patas, alcançando-o já sobre o navio, onde todos os outros piratas também já estavam.

   Ao tentar pegar sua dona de volta, a gata tronbara em uma barreira invisível, que fora feita pelo próprio Barba de Prata, devido ao poder de sua Akuma no Mi.

   - Não!! - gritaram ambas novamente.

   Por mais que Temmie tentasse, não conseguia atravessar aquela barreira aparentemente indestrutível e, quanto mais tentava, mais forte batia seu corpo na parede e mais dor sentia.

   - Pare, Temmie! Isso não vai adiantar! Está se machucando! - pediu Nikkyo.

   A gata, obediente, assentiu, por mais que quisesse ir contra aquela ordem de sua dona.

   Quando distraiu-se, vários piratas chegaram e seguraram Temmie por todos os lados, não poupando nem mesmo sua calda. Ela, desesperada com tudo aquilo, deixou-se levar por seus instintos de sobrevivência animais, entregando-se ao seu lado desprovido de humanidade.

   Devido a isso, os olhos azuis da gata foram preenchidos por um lindo mas tenebroso vermelho. Suas garras triplicaram de tamanho, ganhando trinta centímetros de puro metal, isso mesmo. O pelo da cauda de Temmie e seu cabelo ficaram com o pelo mais espesso, dando a ela uma aparência assustadoramente arrepiante.

   Barba de Prata, um pouco assustado, ordenou: - Joguem-na no mar!!

   E assim fizeram seus homens: jogaram uma Temmie insana ao mar e fugiram antes que algo pior acontecesse. Como era uma gata, ela pensou que pudesse nadar facilmente, mas estava muito enganada. Não conseguia mover-se. Por sorte um pescador que tudo assistia a salvou depois dos piratas irem embora.

   - Temmie vai pegá-los! - disse, ainda insana, mas voltando ao normal lentamente. - Temmie vai matar todos eles! E vai trazer a fona dela de volta pra casa!! - E Então voltou a si mesma.