História G.B.F. (Gay Best Friend) | Malec (HIATO) - Party? PARTY!

Ao levantar da cama a primeira coisa que me vem a cabeça é: Tyler.

Como eu nunca percebi o fato dele ser gay? Jesus, preciso urgente descobrir onde consertar meu gaydar.

Será que mamãe sabe sobre ele? Aposto que ela vai surtar.

De qualquer forma, depois do beijo de ontem, eu não consigo pensar em outra coisa que não seja ele. Quando Ragnor souber ele vai gritar horrores sobre o quanto estava certo.

Me troco rapidamente, vestindo as roupas mais discretas possíveis: uma camisa branca, calça jeans preta e um all star vermelho. Look adolescente indie confirmado.

Desço os degraus lentamente ao ouvir mamãe conversando com alguém, ao me aproximar da cozinha, escuto o tilintar das xícaras e paro ao lado da porta e escuto a mesma voz de ontem, cheia de entusiasmo.

- Magnus se tornou um garoto muito bonito - ele diz enquanto eu tento não fazer barulho algum.

- Ele puxou a mim - mamãe diz convencida e ri levemente.

Por alguns segundos o silêncio toma conta da cozinha e eu só escuto a xícaras baterem contra o pires. Até que Tyler começa a falar.

- Kasih, o que você faria se eu te contasse que sou gay? - a voz de Tyler soa tão naturalmente que chega a me fazer corar.

Mamãe ri escandalosamente por alguns segundos.

- E desde quando você é hetero?

Tyler começa a rir junto com ela enquanto eu tampo minha boca surpreso. Mamãe já sabia sobre Tyler, menos eu? O que há de errado comigo?

- E o que fará quando seu filho se assumir para você?

A intimidade que eles demonstram na conversa me deixa um tanto desconfortável. Se para Tyler é tão fácil dizer sobre sua sexualidade com tranquilidade, por que para mim é tão difícil?

- Mantenha seus olhos longe do meu bebê, ele ainda não está pronto para mim.  

Saio de meu devaneio ao ouvir a voz de mamãe soar carinhosamente dentro da cozinha, fazendo com que eu me sinta culpado por não ter coragem de dizer a ela.

- Ele me dirá no tempo dele - minhas bochechas coram fortemente e minha respiração parece pesar toneladas - e eu esperarei ansiosa por esse dia - ela ri logo em seguida.

Não ouço mais nada além dos leve tilintar das xícaras e uma das cadeiras ser arrastada, e logo percebo que mamãe está saindo da cozinha se aproximando da porta, quando vejo sua sombra contra a parede do corredor.

Rapidamente finjo estar entrando na cozinha e esbarro nela.

- Meu filho, bom dia - ela me abraça, me beijando e sorrindo enquanto acaricia minha bochecha.

- Bom dia mamãe.

Faço o possível para parecer descontraído, como se não tivesse escutado a conversa dela com Tyler.

- Quem está aí? - pergunto cinicamente. Eu devia fazer teatro.

- Ah, você sabe, Tyler o gostoso.

- Mãe! - sinto meu rosto enrubescer e percebo pelo olhar que mamãe me lança, que ela não caiu no teatrinho que fiz - Pare de dizer essas coisas.

Cuidado com a virginiana.

- Você sabe que é verdade - ela abre um sorriso malicioso em seu rosto e ri me deixando mais desconfortável ainda - Vai tomar café, Tyler te levará para a escola, aproveite a vista - a ouço rir enquanto sobe as escadas.

No momento em que entro na cozinha me deparo com Tyler de costas lavando a louça. Suas calças jeans são tão apertadas que deixam sua bunda perfeitamente arredondada.

Jesus, que raba é essa? Acho que preciso trocar minha calcinha.

Tyler coça a garganta para chamar minha atenção, meus olhos que por segundos se mantiveram focados em seu quadril, agora sobem lentamente pelo seu tronco até encontrar seus olhos.

- Bom dia - ele diz com o rosto vermelho de vergonha e a voz embaraçada.

- Bom dia - eu respondo mais envergonhado ainda.

Acho que estou absorvendo as habilidades de safadeza de Ragnor.

Com a habitual pressa puxo uma cadeira e me sento, começando a tomar meu café. Tyler se senta ao meu lado e passa os próximos cinco minutos me encarando seriamente.

- O que foi? - sua feição se transforma em algo entre o sério e a tentativa de parecer distraído.

- Sua mãe e eu estávamos conversando - ele diz baixo, coçando a barba rala que volta a crescer em seu queixo.

Até assim ele parece sexy, S.O.S!

- Eu escutei tudo - respondo sem dar rodeios.

- E quando irá conversar com ela? - ele pergunta enquanto bebo meu café - Kasih parece ser bem compreensível.

- E ela é - solto um longo suspiro pensando como será quando me assumir para mamãe - Só não estou preparado, entende?

Pouso os olhos em Tyler que olha para mim de forma consoladora,  logo dando aquele maldito sorriso.

...

- Da próxima vez você pega no pau dele!

Abaixo a cabeça, encostando minha testa na longa mesa gelada do refeitório. Ragnor nunca será discreto, o que me resta é aceitar e me prevenir de suas reações indiscretas.

Tampo minha boca, tentando não rir dos comentários de Rag sobre Tyler, que por acaso não tirou os olhos de mim durante a terceira aula.

Logo avisto Isabelle se aproximando da mesa, confiante como sempre e se sentando ao meu lado com um enorme sorriso nos lábios.

- Inhai gayrotos - ela diz entusiasmada como sempre, alternando o olhar entre mim e Ragnor.

- De onde você tira essas palavras? - pergunto rindo - Fangay, gayroto, o que mais você pode inventar?

- Elas apenas surgem aqui - ela responde apontando para sua cabeça e sugando o refrigerante de sua latinha posta em cima da mesa - Não se preocupe, pretendo lançar um dicionário LGBT - ela ri levemente e fixa o olhar sobre os de Ragnor - Você é o Ragnor Fell, não é? - ela aponta o dedo em sua direção, a unha pintada de um vermelho vivo brilhante, seus olhos arregalados,  balançando a cabeça confirmando como se fosse o máximo que pudesse fazer naquele momento.

Por incrível que pareça, Ragnor não disse uma só palavra desde que Isabelle se sentou conosco.

- Você conhece o Ragnor? - pergunto curioso.

Os mais populares nunca notam pessoas como eu ou Ragnor, declaradamente invisíveis socialmente. O que faz com que eu fique muito confuso sobre ela conhecer meu melhor amigo.

- Digamos que um amigo meu o conheça - Isabelle o encara maliciosamente e ele parece ficar desconfortável - Quando você vai se assumir? Já fez o favor para o seu amiguinho, agora você também precisa sair do armário bebê - arregalo os olhos chocado vendo ele engolir em seco, corando como se tivesse levado um tapa.

Ragnor me encara envergonhado. E sem dizer nada ele se levanta, afastando se da mesa em passos rápidos.

- Não fique em Nárnia para sempre! - ela grita enquanto Rag praticamente corre para fora do salão.

Eu nunca tive coragem de dizer para que ele se assumisse, até porque nem eu estava preparado, mesmo sendo seu amigo há anos. Mas Isabelle Lightwood simplesmente jogou as cartas na mesa.

Ela pode não saber, mas internamente eu a venero.

Por um lado foi bom ela ter dito, Ragnor sempre se demonstrou mais confiante que eu em quase todos o quesitos. Mas por outro lado, espero que ele não fique com raiva de mim por não ter dito nada.

Mas todo mundo sabe: o carma volta. Às vezes como uma vadia, outras vezes como uma senhorinha com uma bandeja cheia de doces.

- Ai minha deusa - solto um leve suspiro, Ragnor deve estar querendo esganar ela agora mesmo -  Isabelle, o que você...

- Não se preocupe, ele vai ficar bem, prometo - ela me interrompe e assinto incerto. Novamente ela suga sua Coca-Cola pelo canudinho totalmente descontraída - Por favor me chame de Izzy, Isabelle soa muito formal.

- Okay... - respondo não muito confiante.

Ela levanta com a latinha vermelha em uma das mãos, esticando a outra para mim.

- Ainda temos vinte minutos e essa mesa tá um flop, vem bicha - pisco com força ao escutar o final da frase e logo ela pega minha mão me puxando apressada até a mesa onde seus amigos estão sentados.

Isabelle com certeza sabe como deixar alguém se sentindo desconfortável, mesmo que ela não queira.

Ao chegarmos a mesa, me deparo com alguns alunos que já conheço e outros super populares que é impossível alguém não conhecer em High State School.

- Com licença que a princesa chegou - ela diz pedindo a um garoto de óculos redondos que está sentado ao lado de uma garota ruiva - E eu não estou falando de mim.

Todos riem e só depois de perceber os olhares caídos em mim, é que me dou conta de que quem Izzy estava falando. 

Cuidado com a bicha burra.

Observo Isabelle dar alguns tapinhas no lugar agora vazio ao seu lado no grande banco e me sento tentando não parecer um manequim em meio a todos eles.

- Esse é o Simon - ela aponta para o garoto de óculos ao meu lado que balança a cabeça ao ritmo de alguma música em seus fones - Essa é Clary e aquele é o namorado dela, Jace - a garota ruiva faz o símbolo de paz e amor enquanto o rapaz loiro com cara fechada acena seriamente.

Jace Herondale é um dos garotos mais populares da escola, isso se deve ao fato dos seus olhos dourados e o cabelo loiro nos ombros.

- E esse é o Raphael - ao olhar para ele, tenho a sensação de já o ter visto em dos corredores ou alguma aula, mas posso estar me equivocando então apenas sorrio tentando ser simpático - Magnus vai se sentar com a gente a partir de hoje. Aliás - ela continua a falar olhando diretamente para mim - Isso não foi um convite queridinho - garota mais intimidadora impossível.

Olho para a saída do refeitório, cogitando ir atrás de Ragnor, mas a ideia some de imediato quando ele senta ao meu lado colocando um braço em meu ombro.

Ai. Meu. Cu. Eu poderia gemer em cinquenta idiomas agora mesmo.

Não faço nenhum movimento e nem mesmo olho para ele, apesar de sentir seus olhos azuis sobre mim.

- Olá Bane - ele diz rente ao meu ouvido o que me deixa arrepiado instantaneamente.

- Alec chame ele para sua festa - Izzy dispara animada.

- Festa? - literalmente é a primeira coisa que digo desde que me sentei com eles.

- Uma estratégia para conseguir mais votos - Simon começa - Quanto mais pessoas forem, mais a probabilidade de Alec ganhar a eleição.

- Meu irmãozinho vai ganhar, anotem amores - Izzy diz convencida o bastante para fazer com que Alexander sorria.

Internamente eu estou gritando amém em mais de dez idiomas.  Obrigado Lady Gaga por me dar essa oportunidade, eu não poderia estar mais grato.

- Quando será? - pergunto sem ânimo algum.

- Essa sexta feira - Simon responde animado.

- Então... - olho para a menina ruiva me encarando curiosa - Você vai?

- Eu ain...

- Com certeza ele vai - Isabelle me interrompe - O primeiro gay dessa escola é meu amigo e todos precisam saber disso.

Acho que terei que acostumar com a felicidade dela em relação minha sexualidade.

- Eu acho que você não pode negar - Alexander diz rindo ao olhar para sua irmã conversando com a menina ruiva que eu não lembro o nome.

- Então acho que terei de ir - sorrio tímido ao notar que sua mão se põe de volta em meu ombro. 

- As sete eu passo em sua casa, por favor use uma roupa que chame a atenção dos heteros - Isabelle diz minutos antes do sinal soar - NÃO se atrase viado - andando como uma top model ela começa a gritar pelos corredores - AMANHÃ TEM FESTA PIRANHAS! FESTA!!!