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História Fogo e Gelo - Tempête


Escrita por: UoUUAn

Capítulo 1 - Tempête


Em uma noite densa de inverno, uma garotinha se encolhia na cama, com medo da nevasca lá fora. O vento batia fortemente em sua janela, junto com algumas pedras de granizo. Ensinaram-na que ela não devia temer o inverno, que fazia parte de sua natureza. Todas a estranhavam. “A neve é agradável e gentil! Deves temer o fogo! O fogo!”; lhe diziam

Em um meio de anjos do gelo, ela era a única na qual tinha medo da nevasca.

Não que não gostasse do frio e dos dias de neve, mas nevascas lhe atormentavam. Enquanto os outros anjos viam a nevasca como apenas uma mera tempestade, ela se encolhia na cama, com medo dela. Ela não via gentileza naquele tipo de neve, via terror. Em noites com nevascas intensas, ela não dormia.

Ela dormia em um quarto com mais 9 meninas. Cinco fileiras se encaixavam no canto esquerdo do quarto, no direito, mais cinco camas. Ela, especificamente, ficava no canto direito, na última cama, bem ao lado da janela.

Naquela noite, uma nevasca forte acontecia e a garotinha não conseguia dormir. O vento bateu mais forte, e uma rajada de neve bateu na janela. A garota soltou um grunhido baixinho e cobriu o rosto com as suas asinhas brancas.

- Ei pequena, problemas para dormir? – perguntou uma voz grossa e masculina

Era Rayther, um jovem rapaz que ensinava as crianças daquele lugar sobre a história de seu povo. Por algum motivo, ele dava mais atenção àquela menina, não porque ela era diferente e tinha medo da sua própria natureza, mas porque de alguma forma ele sentia algo em especial por ela – e ele denominava isso como errado, pois ela era apenas uma criança.

- Não precisa ter medo da nevasca. – ele sorriu acariciando as asinhas da menina para que ela abaixasse as mesmas – Olha.

A menina, muito lentamente, retirou suas asas do rosto e encarou os olhos dourados do rapaz. Ele apontou com a cabeça em direção da janela. A menina encarou a janela, onde a tempestade ocorria lá fora.

- Você é especial, sabia, Andril? – sussurrou para não acordar as outras meninas – Em uma vida passada, Andril foi conhecido como O Anjo Branco, um ishim que manipulava o gelo e frio, era um dos arcontes do arcanjo Miguel, um dos mais fortes dos arcanjos, O Príncipe dos Anjos. – contou – De todas as crianças que eu conheço aqui, e são muitas, você é a única que possui o nome de um anjo antigo. Você sabe das castas dos ishins, não é? – a garotinha assentiu – Eu estou no nível 45, a Convocação de Elementais, e você quer ser forte o suficiente para alcançar o nível 75, não quer?

A garota se sentou na cama em um pulo, sorrindo e assentindo. O nível 75 era tão forte que desgastava o anjo por alguns momentos. Andril sempre admirou Rayther, afinal era um anjo bem forte.  Haviam diversas castas dos ishins, e Andril ainda estava na primeira. Existiam 10 castas:

Afinidade com o Elemento, nível 5 – que era onde Andril se encontrava – O nível básico de controle elemental dá ao ishim habilidades primárias relativas aos elementos, como levitar pequenas pedras, criar faíscas, movimentar filetes de água e influenciar os ares.

Controle de Elementos, nível 10 - O celestial invoca concentrações significativas de seus elementos, como rajadas de fogo, lufadas de vento, tremores de terra e jatos de água.

Criação da Realidade, nível 25 – Com esta técnica, o anjo pode criar substância orgânicas e inorgânicas relativas à natureza, como ossos, rochas, metal ou madeira. Não é possível criar formas de vida.

Comunicação Animal, nível 30 – Permite ao ishim compreender os pensamentos dos animais, conversando com estes.

Comunicação com a Natureza, nível 35 – O ishim estabelece uma comunicação com o reino vegetal, podendo retirar impressões, visões e passagens ou presença de estranhos no local.

Convocação de Elementais, nível 45 – onde Rayther se encontrava – O celestial invoca uma força natural - espíritos elementais com consciência - para ajudar em seus objetivos.

Adaptação Paraelemental, nível 50 – Permite ao usuário manipular paraelementos (lava, rocha, gelo e fumaça).

Forma Elemental, nível 60 – O anjo transforma seu corpo inteiro em água, fogo, terra ou ar. [Dura 2 turnos]

Fúria da Natureza, nível 75 – Invoca forças naturais catastróficas, como furacões, nuvens de fogo, terremotos e maremotos. A técnica desgasta muito o anjo.

E por fim, a casta mais alta de todas:

Entropia, nível 100 – Nesta divindade, o ishim pode destruir praticamente qualquer substância pela simples dissipação de sua moléculas. O poder do anjo determina o tamanho do alvo. A técnica desgasta muito o anjo, que desmaia.

Naquele lugar, as crianças treinavam suas habilidades. Andril conseguia influenciar o ar, dando uma pequena rajada de vento gelado, mas não era forte o suficiente nem para derrubar uma sacola com pequenas pedrinhas.  Todavia, ela não participava de todos os treinamentos, porque como dito, ela tinha medo das nevascas, e como aquelas crianças estavam ali para ser treinadas para a guerra, elas eram treinadas em situações um tanto... Catastróficas.

Na maioria das vezes, as crianças tinham de aprender combate nas nevascas para se acostumarem com as futuras batalhas, e Andril não participava – pelo menos, não de todas.  Por isso, Rayther as vezes à ensinava em locais fechados, ele tentava convencê-la que na verdade o fogo deveria ser temido, não o gelo.

- Você tem que ser forte também o bastante para perder esse medo. Veja. – ele puxou a garota pelos braços até a janela e abriu a mesma, a garota se encolheu no peito de Rayther – Não se preocupe, olhe.

Ele estende sua mão em direção a nevasca, e dela, puxa uma lufada de vento. Em sua mão, ele forma diversos flocos de neves que ficam rodeando em círculos. Os olhos de Andril brilham e ela se encanta, ela nunca vira algo tão belo assim.

- Vê? Não tem porque do medo. – ele sorriu, olhando para Andril – Quer tocar? Você consegue manipulá-lo. Considere isso... Um treinamento.

Ela engole um seco e, em hesito, estende sua mão na direção dos flocos. Rayther olhava em volta atento, para ver se não havia acordado nenhuma criança. Ele gostava em especial de Andril. Na verdade, ele a achou. Andril fora abandonada em frente o Castelo Glaciem, ele se lembra muito bem.

***

“Em frente aos portões do Castelo Glaciem, o verão chegava. A temperatura estava subindo, e o calor se tornava insuportável para os anjos de gelo. Um garoto albino de cabelos platinados e olhos dourados como ouro puro tentava esfriar um pouco em volta. Seus poderes não eram tão fortes, e por isso necessitava da ajuda de seus mentores. Ele ficou por tentar congelar a frente dos portões. Tudo estava normal, até que ele começou a ouvir um lamento, um choro, talvez. Era um choro infantil. Ele seguiu o som, atento, talvez poderia ser uma armadilha.

Ele ouviu o choro ficar maior, até achar uma cesta de palha, coberta com uma manta. Puxou uma adaga em mãos, se não for uma armadilha, também poderia ser a criança de um anjo de fogo, e quanto mais cedo exterminar uma raça dessas, melhor. Ele retirou a manta. Não, não era uma criança do fogo, era bem notável pela cor de sua pele e olhos. Era uma garotinha, pálida, olhos azuis tão claros que poderiam ser confundidos com branco, ainda era um bebê, mas podia-se ver pequenos fios louros nascendo pelo seu couro cabeludo. Rayther guardou sua adaga e pegou a criança em mãos. Ela não usava, nada mais, nada menos, do que um pequeno vestido sujo. Uma correntinha estava pendurada em seu pescoço com um pequeno pingente de prata onde estava gravada “Andril”, julgou ser o nome da criança.

O bebê parou de chorar assim que olhou nos olhos do rapaz. Mesmo sendo uma criança, podia saber que aqueles eram os olhos mais bonitos que vira em toda sua vida, a criança sorriu e começou a rir. Ela tinha gostado dele.

- Ah... – foi somente o que o rapaz conseguiu dizer

Logo ele viu as asinhas delas aparecerem. Eram pequenas, branquinhas e fofinhas. Ele suspirou e abraçou a criança, deixando a cesta e levando-a até o castelo. Naquela noite, ele cuidou dela, os mentores dele deixaram a criança ficar, afinal, ela era um deles. Quando ele foi pô-la para dormir, ela agarrara seu braço, não deixando ele ir.

- Ei pequena, não precisa ter medo, estou aqui. – ele riu da expressão assustada dela, era tão adorável – Se quiser, posso dormir aqui com você.

A garota não entendeu direito o que ele quis dizer, mas se sentiu mais segura ao ver o rapaz deitando-se na cama que tinha logo ao lado do berço improvisado.

- Ah... Talvez você ainda não entenda, mas... Meu nome é Rayther. – riu novamente, ele estava falando com um bebê, afinal de contas

- ... – ela se remexeu – Ray... ther...?

Ele sorriu. Ele tinha gostado dela.”

***

- ...! – a garota automaticamente se escondeu debaixo de seu lençol assim que tocou a nevasca

- Psiu, hey, não precisa ficar assim. Olha, ela não está me machucando, então não vai machucar você também.

- E-Eu não sei se sou um anjo de gelo... – a menina por fim sussurrou, como era tímida, não falava muito e sua voz saiu falha – As outras meninas dizem que sou estranha e que não sou forte o bastante, acho que elas estão certas... Eu não sou um anjo de...

- Não diga isso! – cortou Rayther que tirou o lençol de cima de Andril e lhe fez carinho nos seus cabelos tão louros que chegavam à uma tonalidade de platinado – Você é forte, não ligue pra o que elas vão dizer sobre você. – ele fez uma pausa e sorriu – Nem sempre você vai ganhar e conseguir o que quer, mas você não pode desistir de algo só porque falhou, ao contrário Andril, você tem que persistir e ver onde errou. Ser forte não é só ser bom no ataque e o maior anjo do batalhão, é enfrentar seus medos, assumir que errou e treinar para melhorar. Eu acredito que você será um grande anjo, a mais bela, e eu vou estar lá pra ver isso e ainda dizer: “Eu não falei?”.

A garota sorriu, os conselhos de Rayther sempre deixavam-na feliz. Ela inspirou fundo e pulou ao lado de Rayther.

“Enfrentar seus medos”; pensou Andril; “Eu consigo!”.

Ela estendeu a mão em direção da pequena nuvem de nevasca que ainda se encontrava na mão de Rayther. Dessa vez, ela tocou-a. Não recuou, ficou encarando os pequenos flocos de neve brilharem ainda mais no seu toque. Eles se tornaram maiores e mais brilhantes, estava hipnotizada pela beleza que fora extraída de uma tempestade tão brutal. Logo ela notou que apenas sua mão mantinha o espetáculo a sua frente.

- Ray... Rayther... – murmurou um tanto assustada – Eu... Eu não sei se vou consegui segurar isso p-por muito t-tempo...

- Relaxa. – retrucou sentando na beirada da cama – Olhe para a neve, não para mim. Foque nela, imagine mais deles, e depois você vai ver.

- Ver o que? – perguntou Andril

- “...você vai ver...”

A garota suspirou um pouco temerosa, mas focou-se novamente nos flocos de neve que rodopiavam ao redor da palma de sua mão. Ela imaginou mais flocos majestosos e brilhantes como aquelas, viu si mesma em uma clareira, brincando com os flocos como se fossem pássaros, viu a beleza da neve. Os mesmos flocos de neve que via em sua mente formaram-se ao redor dos outros. Ela os analisou, eram idênticos aos seus pensamentos.

- Você invocou esses elementos. Eles são bem complexos para a sua idade. – explicou Rayther com um sorriso orgulhoso – Bem-vinda ao nível 10, o Controle de Elementos.

***

Duas semanas após ter conseguido alcançar o nível 10, Andril corria em direção a Floresta Halgar, onde apenas anjos com espíritos puros podiam entrar. Com um sorriso enorme estampado no rosto, Andril dava pulinhos e abrindo suas asas. Ainda não sabia voar, mas Rayther estava ensinando-a.

E é claro, ela invocava pequenos flocos de neve ao redor enquanto pulava. As garotas que antes ficavam provocando Andril, agora se juntaram à ela ao ver suas novas habilidades. Como Rayther dissera, Andril havia invocado flocos bem complexos para a idade dela.

Andril agora corria até a Floresta Halgar, um lugar onde apenas almas puras podiam passar. Ela gostava de ficar sentada, descansando às sombras de alguma árvore, ou de se banhar no pequeno riacho que tinha lá. Rayther não gostava muito que ela saísse, afinal, ela ainda era uma criança, e Andril poderia ser atacado por algum anjo do fogo. Porém Andril o persuadia, fazendo carinhas tristes, chorando e dizendo que prometeria voltar em segurança. Ele sedia, ainda receoso, mas ele a seguia até a barreira da floresta. Assim que ela entrava no local, ele ficava aliviado, descansando, esperando ela sair de lá. Mas dessa vez ele não foi com ela.

Andril já estava agora sentada no centro da Floresta Halgar. Os arredores eram cobertos de árvores, onde apenas poucos raios de sol passavam. Andril brincava com os flocos de neve que criara. Ela realmente ficara animada com as novas habilidades. Suas colegas também ficaram impressionadas, nunca pensaram que a pequena pudesse criar flocos tão majestosos, algumas ficaram com inveja.

- Olá?

A anjinha congelou. Nunca vira mais ninguém entrar naquela floresta. Era só ela, apenas ela. Levantou-se rapidamente. Os flocos desmancharam-se no chão, enquanto Andril abria as asas que outrora eram inúteis, já que ela não sabia voar.

- ...A-Ah... – Andril tremia, a atmosfera em volta começou a ficar quente, parecia que a floresta estava em chamas

- Um... – uma voz feminina e infantil soou atrás dela – ...ANJO DE GELO!

Andril se virou em um salto. Arregalou os olhos. A sua frente, havia uma garota da sua idade, com os cabelos absurdamente ruivos e olhos pretos como carvão, a pele morena, e asas negras.

- Raça estúpida! Vou acabar com você! – a menina gritou, invocando chamas em suas pequenas mãos

Andril paralisou. Um anjo do fogo iria atacá-la, e Rayther não estava lá para protegê-la.



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