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História Gentileza - Capítulo Único


Escrita por: Downdownbaby

Notas do Autor


Olá^^
Eu acho que trabalhar de madrugada foi minha melhor escolha. As ideias parecem escondidas entre 00:00 e 03:00. Essa fic é resultado de mais uma madrugada e uma conversa com um colega de trabalho antigo. Espero que gostem ^^

Enjoy it~

Capítulo 1 - Capítulo Único


Fanfic / Fanfiction Gentileza - Capítulo Único

 

 

Gentileza

 

 

Vamos começar essa história falando de mim. Eu era uma criança daquelas que se comunicam bem com todos, fossem da família ou o velhinho da esquina que passava todos os dias para ir pra escola. Essa sempre foi a minha característica mais marcante. E eu me orgulho disso. Veja bem, eu gosto de ler artigos veiculados pelos jornais do mundo todo, porque é simplesmente inaceitável que tenhamos essa quantidade esmagadora de informação e não aproveitemos. Em um desses jornais, uma vez li em um artigo que diz que ser gentil é da natureza humana, já ser egoísta é uma escolha. Então por que raios tantas pessoas são egoístas no mundo? Não faz sentido, mas, se tem uma coisa que meu interesse por ler notícias mundiais todos os dias me ensinou, é que pouca coisa nesse mundo faz sentido.

Você vê reuniões de grandes líderes mundiais falando da paz entre as nações o tempo todo, figurões sentados juntos tomando chá e dizendo que estão dispostos a tudo para que a humanidade seja uma só. Lindo, não? Mas aí na manhã seguinte acorda com um vídeo na internet mostrando uma organização terrorista exibindo seus soldados infantis (o mais velho devia ter uns 12 anos) executando homens com tiros na cabeça. E onde estão os figurões? Tomando chá com o dinheiro feito da venda das armas que esses soldados infantis seguram no vídeo.

Se eu pudesse escolher, queria ser um Superman com super poderes capazes de parar toda essa destruição que o ser humano causa, mas sou apenas um jornalista recém formado sentado no metrô, tentando diminuir o mal estar que tomou conta de mim com a notícia sobre o último vídeo do Estado Islâmico, enquanto espero a parada na estação mais próxima da redação do jornal onde começo a trabalhar hoje.

Parece que o dia já começou com o pé esquerdo.

O mundo não devia ser assim, as pessoas não deviam ser assim. Falta empatia na maioria da população mundial e isso é muito triste. Dia após dia, eu tento mudar o pouco que posso – já que não tenho os super poderes alienígenas –, sendo tão gentil quanto gostaria que todos fossem. Vai saber se a forma que eu trato um cara agora não vai influenciar a escolha dele de puxar ou não o gatilho daqui a alguns anos. Li em um livro que muitos dos atiradores que atacaram escolas sofreram algum tipo de violência no ambiente escolar.

Não custa nada ser gentil com as pessoas. Okay. Às vezes você tem vontade de mandar algumas delas pro inferno, mas é aí que entra a empatia. Se você estivesse em um dia ruim, com o humor de cão, gostaria de ser tratado com mais hostilidade? Pode parecer besteira e até um tanto utópico repetir que “gentileza gera gentileza”, mas é a mais pura verdade. Desde que me entendo por gente, consigo convencer as pessoas a me ajudarem quando preciso. Depois de um tempo observando, percebi que era porque eu as ajudei antes em algum momento. É comum que não percebamos, mas ser gentil com as pessoas é visto como um favor na realidade que vivenciamos nesse século onde todos correm o tempo todo, ocupados demais para gastar dois segundos e dizer um bom dia ao porteiro do prédio.  Ser gentil com as pessoas sempre me deixou satisfeito comigo mesmo, mas muito frustrado com os outros.

É tão natural ser agradável que não entendo como outras pessoas conseguem viver para fazer o outro se sentir mal e conviverem bem com isso. Eu fico sem dormir por dias quando, no calor de alguma discussão, digo algo rude para alguém!

As pessoas rudes me deixam frustrado. Ao longo da vida eu encontrei algumas que me deixavam pior do que todas as outras.

Comecei a lembrar dos rostos durante o caminho entre a estação de metrô e o prédio de concreto cinza e vidros refletivos onde trabalharia.

O dia realmente estava ruim, sorte a minha foi que me lembrei de pegar o guarda chuva antes de sair de casa pela manhã. Conforme a chuva batia no tecido acima da minha cabeça e descia em frente aos meus olhos, eu tentava ignorar a lente embaçada dos meus óculos e lembrava-me de alguns rostos das pessoas que me fizeram sentir vergonha da humanidade.

“Sehee...” Kim Sehee foi minha professora no primeiro período da faculdade de jornalismo. Parecia viver com a missão de fazer os calouros desistirem do curso o mais rápido possível. Sempre era cruel nas apresentações de trabalho e fazia questão de expor todos os defeitos dos alunos na frente da turma toda. Poxa vida, eram adolescentes recém-saídos do ensino médio, com medo de tudo o que a vida exigiria deles, custava não deixá-los ainda mais apavorados? Enquanto lembrava das aulas de Sehee, vi uma garota parada na chuva em frente a porta de uma loja de doces. Ela procurava desesperada pelas chaves, enquanto a chuva caía sobre o capuz do casaco grosso. Seus olhos grandes me olharam surpresos quando parei ao seu lado, dividindo o guarda chuva para que ela achasse as chaves sem se encharcar completamente. Quando pescou o molho com umas quinze chaves presas por um chaveiro do Cony, me dirigiu um sorriso grato e entrou. Pronto. Foram quarenta segundos do meu dia que serviram para melhorar completamente o dia daquela moça. Por que era tão difícil para algumas pessoas?

Continuei meu caminho, ainda lembrando outros como Sehee. “Donghan também foi um problema.” O chefe do meu primeiro emprego era um cara negativo, do tipo de pessoa que puxa a equipe inteira pra baixo. Parei para fechar o guarda chuva quando a marquise sobre a porta da redação me protegeu da chuva, lembrando também de vários colegas de trabalho e estágio. Dentro do jornalismo é comum encontrar pessoas imediatistas que se tornam excessivamente impessoais e sem filtro entre o cérebro e a boca, mas, dentre elas, nenhuma se comparava a...

“Kim Taeyeon?”

Okay universo, eu sei que repeti algumas vezes que o dia parecia especialmente ruim hoje, mas colocar Kim Taeyeon nele não é um pouco demais?

Ela estava diferente, mais... bonita do que nunca e com uma cor de cabelo diferente, mas ainda seria capaz de reconhecer aquele rosto em qualquer lugar. A mulher que atravessava a porta da redação do jornal onde eu trabalharia fora supervisora de um dos estágios que eu fiz durante a faculdade.

Ela foi uma das piores coisas que já cruzaram meu caminho.

Parece exagero? Fácil falar, meus amigos. Eu também fui enganado por aquele rosto bonito que parece exalar gentileza, mas ela é um pesadelo, então eu queria muito que minhas preces fossem atendidas e ela não estivesse ali porque seria minha colega de trabalho. Ela podia estar simplesmente visitando um conhecido, não podia? Era assustador demais pensar que teria que lidar com ela todos os dias, que teria que trabalhar em equipe com ela se quisesse desempenhar minhas funções dentro do jornal. Eu queria tanto me dar bem naquele emprego. Era assustador depender dela.

E sabe o que foi ainda mais assustador do que a possibilidade de trabalhar com Kim Taeyeon justamente no primeiro emprego da minha carreira? A cena a seguir.

Eu muito provavelmente estava encarando ela enquanto via um filme passando por meus olhos, onde ela conseguiria me tirar dos eixos e estragar minha carreira que nem tinha começado ainda. Ela percebeu que eu encarava e me cumprimentou suavemente, desejando um “bom dia” educado que me fez prender a respiração, porque eu podia jurar que aquilo foi uma alucinação criada pela parte mais insana da minha mente.

“Ela... ela...?”

Nem minha mente funcionava direito naquele instante, então eu fiquei só olhando seus cabelos curtos e louros se destacaram entre as pessoas que chegavam até que entrou em um táxi e se foi.

Quando consegui me mover novamente, entrei e me apresentei à recepcionista simpática. Ela me levou até minha sala e o restante do dia não foi tão ruim quanto achei que seria. Tudo correu bem com o jornalista que estava me apresentando minhas funções. Eu ocuparia o lugar dele na divisão de revisão de conteúdo da página de entretenimento, então Jongwoon passaria aquela semana toda me apresentando a rotina de trabalho e a equipe, já que nosso trabalho depende de uma rede intrincada onde cada membro precisa estar desenvolvendo sua parte para que, no fim, o todo funcionasse bem.

A equipe parecia boa e eu estava grato por não ter voltado a ver Taeyeon até a quarta-feira. Não era tão bom quanto parecia, porque uma das primeiras coisas que descobri na segunda-feira foi que ela trabalhava sim ali. Era a editora chefe, aquela que recebe o material de cada divisão e monta a versão que vai para a impressão mensal com as histórias mais relevantes. Decidi não me deixar desesperar de novo porque eu não precisaria, necessariamente, ver Taeyeon pessoalmente para desenvolver meu trabalho.

Apesar de trabalharmos todos no mesmo edifício, a comunicação ocorria por meio de emails. Era mais rápido, prático, sustentável e possibilitava que estivéssemos conectados a qualquer hora. Claro que pra mim a maior vantagem era resolver tudo o que precisasse resolver com aquela mulher através da tela de um computador. Se desse sorte, ela nem se lembraria do meu nome.

Contrariando Newton, devo alertar-vos que nem tudo que está em paz tende a permanecer em paz.

Por isso mesmo, naquela fatídica manhã de sexta-feira, eu senti meu sangue gelar dentro de cada centímetro de veia ao perceber que enviei o e-mail com o anexo errado para Taeyeon. “Ah, mas é só enviar outro e-mail de errata”, me diz você. Seria, se a internet não resolvesse que não trabalharia mais exatamente no momento em que eu mais precisava dela! Jongwoon parecia tranquilo demais e até divertido com o meu pânico quando eu pedi ajuda pra ele, me respondendo que eu só precisava passar o arquivo para um pendrive e levar pessoalmente até a sala dela.

Só isso.

Quando batia a porta com o nome dela, eu já estava pronto para ouvir um sermão de algumas horas sobre a falta de atenção e como eu poderia prejudicar o trabalho de toda a equipe com aquele erro que não deveria nem ter acontecido. Eu estava errado, admito isso, mas já senti na pele o quão cruel Taeyeon pode ser. Ela pode transformar algo pequeno em uma tempestade e te fazer se sentir a coisa mais inútil da face da Terra. Eu já passei por isso, já vi outras pessoas passarem pelo mesmo e estava me preparando psicologicamente para estar frente a frente com ela novamente.

A mesma voz que me desejou um “bom dia” na segunda-feira soou me pedindo para entrar. Quando entrei, ela estava sentada em frente ao computador, concentrada. Desviou os olhos rapidamente para mim e indicou a cadeira a sua frente.

– Bom dia, eu estarei no lugar de Jongwoon a partir dessa semana e... – engasguei quando ela direcionou os olhos grandes demais pra mim. – Eu... O e-mail que eu te enviei agora a pouco está com o arquivo em uma versão anterior... Trouxe a versão final aqui. – estendi o pendrive na superfície impecavelmente limpa de sua mesa.

Ela parou de ler o que quer que estivesse lendo e voltou sua atenção total pra mim. Se eu tremi? Imagina. Imaginei todo tipo de repreensão que eu sabia que existia no acervo dela sendo despejada em mim, mas, mais uma vez, ela não se comportou como eu esperava e disse algo que parecia fora de cogitação:

– Tudo bem. Se já trouxe aqui, então o problema está resolvido.

Mas hein?

Sim. Foi só isso. Nada de sermão, nada de minha autoestima jogada no chão, nada de nada.

– Você... – Ela recomeçou a falar, me olhando mais atentamente. É agora. Eu pensei. – Eu acho que conheço você, mas não consigo lembrar. Desde o acidente eu não consigo lembrar muitas coisas.

– Acidente?

Ela assentiu suavemente. – Eu fiquei um tempo em coma induzido no ano passado depois de um acidente de trânsito. Minha memória de antes disso é um tanto confusa. Nós nos conhecemos?

Então era isso. Parecia sim uma história de novela das sete, mas fazia muito sentido pra mim. Taeyeon parecia uma pessoa nova, literalmente. Tipo um smartphone. Você compra ele com todas as configurações de fábrica e vai deixando-o diferente conforme adiciona aplicativos, preferências, contatos, notas...  As pessoas nascem boas por natureza e vão ficando diferentes conforme a vida adiciona decepções, normas sociais, preconceitos, padrões... Mas, diferente dos smartphones, não é tão prático apagar essas diferenças adicionadas às pessoas.

Taeyeon agora era um smartphone resetado.

Não era do feitio dela ao menos falar tanto de si mesma. Sempre ouvi dos outros funcionários na época do estágio que ela não sabia ao menos desejar um bom dia ou agradecer. Era tão surreal, tão gratificantemente surreal que eu não pude evitar demorar alguns segundos para assimilar o que acontecia, apenas sorrindo de volta. Quando seu sorriso diminuiu e deu lugar a uma expressão de dúvida, percebi que eu ainda estava encarando-a.

– Sim. – respondi finalmente. – Você foi minha supervisora de estágio quando eu ainda estava na faculdade.

Ela sorriu tão bonito que eu quase sai correndo da sala. Aquilo ainda era muito surreal.

– Espero que tenha sido um tempo bom.

Okay. Eu não quis acabar com o humor daquela nova Kim Taeyeon dizendo que não, não foi um tempo nada bom.

Depois de copiar os arquivos, ela me devolveu o dispositivo e ainda agradeceu por ter levado a correção até ali.

Agora, enquanto eu estou novamente nesse vagão de metrô, agora fazendo o caminho de volta pra casa, não consigo pensar em outra coisa que não seja aquele sorriso bonito de quando eu disse que fui seu estagiário. Eu tinha dado o guarda-chuva para uma menina que estava emburrada sob a proteção da marquise da entrada da redação. Ela tinha a mão segurada por sua irmãzinha, uma menina de uns seis anos de idade, e estavam paradas em frente a redação porque não conseguiam ir pra casa naquela chuva. Tudo bem que acabei tomado chuva na volta pra estação e pegando um vagão com a lotação máxima, sendo obrigado a lidar com os olhares feios de quem estava perto – colado – de mim. Ainda tinha um bebê chorando bem ao lado do meu ouvido e a ponta especialmente pontuda do guarda-chuva de uma estudante estava cutucando minhas costelas. Mas não parecia tão ruim. Saber que havia uma pessoa a menos para amargar o mundo era incrivelmente satisfatório, me fazia sentir bem só de saber que ela faria outras pessoas se sentirem bem.

Então, mesmo molhado, apertado, prevendo uma dor de ouvido e me contorcendo pra não ter uma cirurgia acidental nas costelas, a fé renovada no poder da gentileza me trazia paz e tudo fazia mais sentido. O mundo parecia um pouco menos perdido, um pouco mais recuperável. A última vez que tive sentimento parecido foi quando passei horas vendo a série de vídeos Real Life Heroes¹. A imagem da multidão empurrando um trem de 32 toneladas para salvar uma mulher que caiu no vão entre o trem e a plataforma se tornou meu papel de parede, para que eu sempre olhasse pra ela quando me sentisse a ponto de desistir de tudo.

Me contorci para tirar o celular do bolso e ativar o ecrã. Sorri para a tela que agora tinha uma foto de Taeyeon que eu colocara como proteção de tela, porque papel de parede seria muito estranho.

Ela foi uma das melhores coisas que já cruzaram meu caminho.

 


Notas Finais


Eu ainda não sei porque BaekYeon foi o couple que mais se encaixou quando eu fui procurar um couple pro plot. Eu nem escrevo hétero sem or! Mas ok, porque foi bem leve e nem temos a certeza de que Baekhyun está apaixonado. Por enquanto é só a felicidade por ver que ela mudou.
Obrigada a quem leu até aqui <3

~chuu


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