-Como foi o retorno? –Minha mãe pergunta quando entro em casa.
-Foi interessante.
-Interessante? – Ela pergunta espantada.
-Quer dizer, foi normal... Teve aquela coisa de apresentação de alunos, apesar de todos serem iguais. –Digo gaguejando um pouco inicialmente.
-Qual é o nome dele? –Minha mãe pergunta sorrindo.
-De quem? Não sei do que está falando! –Minto.
-Você costumava ser uma mentirosa bem melhor.
-Spencer.
-É um menino? –Ela pergunta e eu rio.
-É. Ele já chegou aqui com uma bolsa de especialização em Harvard, muita areia para meu caminhãozinho.
-Mas a bolsa é de especialização, quem disse que ele tem como bancar a faculdade?
-O pai dele é o juiz.
-Oh! Mas não importa, ninguém é areia demais para seu caminhãozinho.
-Obrigada, mãe.
-Eu te amo Mizzle, sinto muito por tudo.
-A culpa é minha, eu também sinto.
Passo a tarde lendo algumas coisas, então decido pesquisar Spencer no Facebook. Ele até tem um perfil, mas só tem uma foto de perfil, sua foto de capa é ele com uma mulher mais velha, e só tem umas cinco publicações, a última é uma foto só dessa mulher escrito “Mon premier printemps sans toi’’. Oh Deus, a mãe dele está morta.
Uma nova solicitação de amizade: Natalie Brumps.
Quem é essa garota? Olho as fotos dela e ela me parece familiar... Ah, ela foi apresentada hoje na aula de biologia. Aceito o convite e em segundos chega uma mensagem dela.
Natalie: Oi
Mizzle: Oi
N: Eu sei que é estranho te mandar mensagem assim, relaxa, eu não sou lésbica. É que, todos que vieram falar comigo são bizarros, principalmente aquelas asiáticas esquisitas e a galera do clube de xadrez. Você me parece racional!
M: Natalie, eu sei EXATAMENTE o que você está passando nesse momento, passei por isso há exatamente um ano.
N: Sorte minha ter você nesse ano.
M: Nos vemos amanha então?
N: Por favor! Beijos, obrigada.
M: Beijos, obrigada também.
Bem, acho que vou ter uma amiga.
No dia seguinte, 7h25
Não consegui dormir direito. Virei tão antissocial ao ponto de passar quase a noite em claro por causa da ideia de finalmente ter uma amiga e ter algum garoto interessante me cumprimentando. Chego na escola mais cedo e vou para meu armário.
-Mizzle? –Viro e vejo Natalie. Ela é baixa, tem cabelos compridos e tingidos de loiro, totalmente meu oposto. Ela é muito bonita.
-Oi Natalie! Como vai? –Pergunto e a abraço.
-É meio louco né? Chegarmos aqui já sendo amigas. Mas eu estou muito bem com isso, e você? –Ela parece entusiasmada.
-Acho que é a necessidade de finalmente ter uma amiga. –Digo rindo. –Eu vou bem!
-Nós parecemos bem diferentes, mas conseguirmos nos entender, engraçado isso. –Ela diz.
-Pois é! Você prefere Mozart ou Beethoven?- Pergunto.
-Quem?- Ela pergunta e eu solto uma gargalhada.
-Deixa pra lá.
-Você gosta de Beyonce? –Ela me pergunta.
-Gosto.
-Então prometo investigar quem são esses ais depois.
-Acredite, eles não tem nada a ver com Beyonce.
-Tudo bem. Sua primeira aula é de Matemática?
-Não, literatura.
-Merda, vamos nos separar!- Ela exclama e eu concordo.
-Sua primeira aula é literatura? –Spencer paira ao meu lado e meu coração acelera.
-S-sim, é sim!- Respondo.
-Pode me acompanhar?
-Claro!- Respondo e lanço um olhar para Natalie que solta um risinho. Nos conhecemos há minutos e já temos olhares que falam por si só.
-Seu nome é M-I-Z-Z-L-E? –Spencer pergunta soletrando meu nome.
-Sim. Por quê?
-Seu nome quer dizer “chuvisco” mesmo?
-Sim.
-E você é calma como um chuvisco?
-Só se virar tempestade depois. – Ele ri com minha resposta.
-Você é interessante, Mizzle Storm. –Ele se refere a mim como “Chuvisco Tempestade”.
-Chegamos à sala de literatura.
-Então é nossa despedida!- Ele diz.
-Você não tem aula de Literatura agora?- Pergunto.
-Claro que não, eu tenho Matemática com sua amiga. –Ele diz e eu sorrio. Inacreditável.
-Mozart ou Beethoven?- Pergunto.
-Mozart. Por quê?
-Me responde você. –Digo falando próximo ao seu ouvido. –Te vejo mais tarde.
-Você é incurável Mrs. Storm. –Ele diz rindo.
-Vai continuar me chamando de Tempestade? –Pergunto e ele se aproxima do meu ouvido.
-Sempre. –Então vira as costas e sai andando pelo corredor. Ele é incurável.
Sinal do almoço.
-Acho que a aula do seu amiguinho não era de Literatura. –Natalie diz aparecendo ao meu lado.
-Não achava que ele era espertinho assim. – Respondo.
-Afinal, você conhece ele há tanto tempo né? Tipo, umas 24 horas. –Ela debocha.
-Idiota. –Falo pegando uma bandeja e localizando uma mesa vazia fora do refeitório para nós duas.
-Pelo que já vi, dois nerds que ao mesmo tempo são malandrinhos. Se casem.
-Com prazer. –Respondo rindo.
-Você adora né?
-Um ano sem ao menos flertar. Você tem ideia?
-O que fez antes de chegar a Chicago para se tornar tão reclusa?
-É mais fácil te dizer o que eu não fiz.
-Não consigo imaginar você nessa vibe. –Ela diz.
-Até porque não é minha vibe, foram uns 2 meses de pura revolta que geraram uma possível vida de arrependimento.
-Nada é para sempre. Sem essa de “vida de arrependimento”.
-É verdade. Afinal, é uma chance para recomeçar, não é?
-Exatamente, ai você pode recomeçar perguntando se esse tal Spencer tem amigos gatos e inteligentes, tipo ele.
-Pode deixar, Natalie.
.
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