História Laços Sombrios - Flores Malignas

Sakura

Mesmo com os olhos fechados, eu soube que estava em perigo, acordei com um estrondo do trovão no céu e os resquícios de sono prejudicavam minha concentração. Eu estava deitada de costas e a chuva não ajudava em nada, meu pescoço formava um ângulo doloroso e só então ordenei para meu cérebro que abrisse os olhos. Pedras estreitas se erguiam na névoa escura, e por um momento de estranha suspensão uma imagem surgiu em minha mente, mas em seguida entendi o que realmente eram aquelas formas. Lápides.

Sentei-me em um pulo provocando um leve escorregamento pelo gramado molhado e lutando contra a sonolência que ainda me deixava confusa levantei-me novamente tateando o espaço negro e nebuloso. Fui retomando aos poucos a consciência, as imagens voltando em flashs escuros em minha mente mas deixei totalmente esses pensamentos de lado pela dor lancinante que se espalhava em minha cabeça.

A névoa escura e sinistra projetava fantasmas diante dos meus olhos, a distância entre duas fileiras de árvores finas e altas, e ao longe avistei os portões altos. Quando o breu da inconsciência se dissipou eu finalmente notei onde estava. Estava memorial da Shodleine.

Com a onda de pânico penetrando minha pele, eu me esforcei para correr o mais rápido que conseguia na direção dos portões. Me perguntava como fora parar ali, sabendo que minha última lembrança não era nada boa.

Eu havia ferido Sasuke.

Ele havia se chocado violentamente contra a rocha, no fundo de minha mente, uma voz ecoou suplicando-me para não reagir mais, para não feri-lo. Aquela voz era minha, da verdadeira Sakura.

- Orochimaru, não me faça mais machucá-lo, por favor. Eu prometo ir com você sem resistir.

- Mas querida, temos que garantir que o Uchiha mais novo não nos seguirá. - Ele sorriu. - Acabe logo com isso Sakura. Agora.

Meus olhos arderam pelas lágrimas contidas. Então me vi atacar Sasuke sem pudor, ele desviava rapidamente segurando-me pelo pulso, a exaustão estava visível em sua face. Quando ele defendeu o último golpe deferido, um estrondo ecoou por toda aquela área, Orochimaru quase sorriu satisfeito, se não fosse pela flecha lançada diretamente em seu coração porém, diferente do esperado, ele apenas a retirou abrindo mais um sorriso diabólico.

- Sakura.. - Sasuke chamou. - Eu sei que pode me ouvir, lute, lute contra isso querida, eu preciso de você.

Meu Deus como eu precisava dele também. Estava prestes a respondê-lo com reciprocidade quando me vi outra vez arremessar Sasuke para longe. Eu era aquele monstro, aquele que gritava para fazer o mal, sem qualquer piedade. Eu estava prestes a matar o homem que eu amava. Desta vez, Sasuke fraquejou, levantando-se com dificuldade.

- É inútil lutar Uchiha, Sakura tem dez vezes o dobro de sua força física e olhe que ela ainda nem começou usar seu verdadeiro poder. Ela floresceu pelas artes do mal, e não há mais nada que possa fazer para trazê-la de volta. - Ele cuspiu cada palavra. - E outra, grave bem minha mensagem: Diga ao seu querido irmão que seus caçadoreszinhos não podem me matar, mesmo que me queime vivo, devo agradecer esse novo prodígio à um velho amigo é claro mas agora, sou um imortal, como você ou qualquer outro de sua linhagem amaldiçoada.

Imortal, Sasuke era um imortal.. Ele era agora como eu ou fora desde sempre? Eu me senti enjoada.

- Me acompanhe minha flor, usarei de misericórdia por você querida, e o deixarei vivo.

Eu o acompanhei sem dizer quaisquer que fossem as palavras, eu sabia que ele usara novamente um de seus truques de mente, porém, naquele momento segui decidida a tomar a mais dolorosas das decisões: Eu me manteria longe de Sasuke, machucá-lo seria machucar a mim. Eu era uma arma pronta para ser usada e não machucaria mas aqueles que eu acreditava amar.

Meu coração apertou, de acordo com meus desaparecimentos, perguntei-me há quantos dias havia sumido, revirei a memória mas ela estava inquietantemente vazia, não conseguia me lembrar de ter ido ao memorial. Não conseguia me lembrar de quase nada, era como se a noite passada inteira tivesse sido arrancada de baixo de meus pés. Pior, eu não conseguia lembrar nem da manhã. Um outro estrondo ecoou no céu e me apressei, atravessando o portão choquei-me com as paredes do laboratório e segui para o saguão. Não havia sinais do vigia noturno por lá porém o susto fora outro.

O calendário marcava duas semanas após a data da luta com Sasuke. Minha tia provavelmente estava a mercê do pânico - outra vez.

Subindo a escadaria, eu segui para o dormitório feminino, uma fresta de luz passava pela porta de nosso quarto iluminando levemente o espaço nebuloso e  escuro do corredor. Ino certamente estava lá. O pânico de machucá-la me corroeu por dentro, ela era minha melhor amiga, não poderia feri-la e então abri a porta levemente surpreendendo-me com os ocupantes do local.

[...]

Itachi, dois outros Uchihas e Tsunade me fitaram. Eu podia jurar que a cor fugira de suas faces, Itachi logo pôs-se de pé na posição de batalha apontando a adaga branca em minha direção porém eu estava cansada demais para tentar qualquer coisa.

- Ela está limpa, Itachi. - Disse o mais velho.

- Sakura.. Meu bem, onde você estava? - Tsunade me abraçou e sinceramente, não me lembrava de uma vez em que me abraçara com tanta ternura ou aflição.

- Eu não sei, não me lembro da nada. Só lembro de ter acordado no memorial.

- Sakura está marcada.  - Avisou o outro.

- Não sinto nenhuma anormalidade, mas fiquem de prontidão. Será que poderiam nos dar um minuto?

Depois de todos saírem, Itachi sentou-se na cama, parecia estar me estudando silenciosamente. 

- Você, olhe Sakura, preciso que me diga exatamente o que aconteceu. - Falou calmo.

- Eu.. Eu não consigo, é como se houvesse um bloqueio em minha mente me impedindo de lembrar de qualquer coisa.

- Faça isso por Sasuke, então. - Ele pediu. - Ele.. Nós, precisamos da sua ajuda.

- Certo, então contarei tudo que lembro.

- Espere, Tsunade deverá presenciar.

Minha tia adentrou o quarto, ela parecia aflita, parecia cansada e era notório que perdera noites de sono. Ela não parecia mais a Tsunade forte e mandona, na verdade, ela quase parecia fraca demais.

- A última coisa que lembro antes de me tornar isso, é de estar no castigo, arrumando o laboratório. Estava na limpeza da última prateleira quando abri uma espécie de passagem secreta. - Falei calma procurando porqualquer fluído de memória. - Então, vi que lá havia várias células danificadas e outras modificadas para algo que não consegui identificar. Orochimaru me pegou bisbilhotando e então, o que me lembro é de desmaiar e acordar numa mesa com vários aparelhos ao meu redor.

- Então.. Agora tudo faz sentido. - Itachi refletiu. - Sakura recebeu os poderes antes do tempo. Dezesseis é uma idade amaldiçoada no meu mundo, por isso não consegue controlá-los. O que não entendo é como pode ser tão forte.

- Por que Sakura é a mais pura Senju em milênios. 

Aquela voz, meu Deus como eu sentia falta dele. A voz de Sasuke preencheu o quarto me inundando de felicidade, eu quis instantaneamente correr para seus braços e dizer que o amava e que me perdoasse por atacá-lo quando fui impedida por minha tia. Sasuke lançou um sorriso terno para mim caminhando para o lado de seu irmão. Eu sentia tanto sua falta que doía.

- Olá, Anjo.

- Sasuke..

- Eu sei de umas coisas.. - Começou Tsunade. - Mebuki era uma ótima mãe e esposa mas, um tempo antes de se casar com Kizashi, minha irmã se envolveu com um homem. Éramos todos muitos novos e sem juízo então eu até que acobertei o ato.

- Quem era o homem? - Questionou Sasuke.

- Ele é um primo, de segundo grau devo dizer. - Ela corou levemente. - Sua mãe não tinha tanto juízo, foi um casinho de verão e ela estava quase noiva. Foi quando dois meses depois, recebemos a notícia que ela estava grávida de você.

- Está dizendo que sou filha de outro homem?

- Estou dizendo que há uma possibilidade. - Ela corrigiu.

- Isso explica muita coisa. Se ela é filha de dois Senju, pode ocorrer um dano de células. Ou nesse caso, nascer tão pura quanto o mestiço, Asura.

- Explique. - Pedi.

- Nossa espécie está por aí há muitos anos, Sakura. Caçadores, mutantes, rastreadores, mensageiros, bruxos, esses são capazes de usar truques de mente. E também há uma espécie inimiga, os manipuladores, como Orochimaru.

- Não entendo. Isso não é real, isso não existe.

- É claro que não entende. - Disse Sasuke. - Apenas ouça, você entenderá em breve, especialmente se Tsunade decidir colaborar.

- Certo, direi tudo que sei. - Ela se endireitou. - Isso começou há muito tempo em nossa família, era sempre assim, da mãe pula uma geração. Em nosso caso, foi de sua avó para você e seria para Sayra também, se não tivesse falecido.

Imediatamente lembrei-me da conversa com Nawaki, Tsunade também tivera uma filha o que acendeu algo novo em mim. Eu sentia como se Sayra ainda estivesse por aí, poderia ser loucura mas o sentimento aflorara de forma bruta dentro de mim.

- No começo, Mikoto, a mãe de Sasuke achou que Shizune quem herdaria o legado Senju porém, ela não é minha filha, ela é adotada. Quando Sayra nasceu, ela era como você, era até estranho a semelhança, o que diferenciava era o cabelo loiro. Ela tinha dois meses quando.. Quando fomos vítimas de um incêndio. Todos saíram mas não consegui chegar a tempo de tirar minha filha da casa.

- Nawaki me contou outra história, tia. - Eu protestei.

- Sim, essa foi a versão que pedi que todos contasse. Eu não suportava saber que minha filha tinha morrido e a culpa era minha.

-  Não foi culpa sua.. - Falei, a procura de consolá-la. - Ninguém pode prever um incêndio.

- Isso, o legado, está em nossa família há muitos anos, há Senjus espalhados por toda a terra, imortais ou outras criaturas desde a época da famosa queda. Lembra-se da história do anjo, eu lhe contava ela todas as noites? Aquele anjo, ela foi quem nos concedeu tanto poder, e seu filho foi quem treinou o primeiro Caçador.

- Sakura. - Sasuke chamou. - Orochimaru quer usá-la para libertar algo mal, algo muito poderoso. Precisa controlar o que sente, precisa controlar a força dentro de você, Anjo. Só assim teremos um frangalho se chance se houver uma guerra.

- Mas eu.. E-Eu não consigo, a voz dele ecoa em minha mente, e eu obedeço. Não sei o que ele faz mas é muito mais forte que eu.

- Um truque de manipulação, mais isso não é possível. Orochimaru precisaria ter lido o livro proibido para saber das técnicas.. - Itachi se pronunciou. - Este livro é protegido pelo mais antigo caçador de sombras.

- E leu, ele leu o livro de Madara, ou algo sobre ele. - Disse lembrando-me. - No dia do meu desaparecimento vi isso na sala secreta dele.

- Precisaremos de ajuda. 

Itachi bufou e ficou inquieto, andou de um lado para o outro murmurando algo incompreensível para Sasuke, então como uma luz no fim do túnel, Tsunade se pôs de pé e disse:

- Eu acho que sei de alguém que possa ajudar. Precisamos ir para a costa leste, veremos uma velha amiga.

[...]

O carro parou a beira de uma cabana abandonada. As ondas batiam com violência na baía perto dali e o lugar fedia a peixe, a cabana não era tão pequena porém o suficiente velha para ficar bem escondida entre a névoa densa que encobria o local.

Tsunade respirou fundo caminhando até a porta, eu podia sentir os músculos do seu corpo rígidos com a tensão se estar ali e me preocupei. 

- Vai ficar tudo bem, querida. - Ela disse abrindo um sorriso gentil. - Ela irá ajudar você.

Após dar três batidas na porta, pôde-se ouvir o ranger das tábuas dentro da cabana, ela abriu a porta com cautela mostrando sua adaga prateada. A moça não parecia ter mais do que vinte anos. Corpo esbelto, cabelos curtos e escuros e uma pele alva, porém fora os olhos quem chamara minha atenção.

Eles eram como olhos de cobra, observando tudo ao mesmo tempo.

- O que faz aqui, Senju? - Perguntou. Tsunade respirou fundo duas vezes antes de sequer se mover. Era visível que aquela mulher lhe causava repulsa ou temor.

- Preciso da sua ajuda.

- Ajudarei de acordo com o que me pagar. - Ela riu com deboche.

- Negociaremos o valor que quiser, depois Anko. Primeiro ajude minha sobrinha, ela está.. Está em processo de mudança.

Ela virou-se para mim só então parecendo notar minha presença. Precisou apoiar-se no batente para impedir um tombo, os olhos observaram cada centímetro, queimando, eles pareciam ver minha alma. Então ela deu meia volta, voltando em segundos com um livro empoeirado.

- Não pode ser.. - Sussurrou. - O que fizeram com você criança?

- Se me permite explicar, a transformação foi forçada, pelo lado negro, pelas artes do mal. - Disse Itachi, reverenciando-a.

Eu por outro lado estava mais perdida do que pata cega. O que eram aquelas artes do mal de que tanto falavam?

- Entendo.. 

- Anko, eu a trouxe aqui porque você é minha última esperança de ajudar Sakura. - Minha tia suplicou. - Ela está descontrolada, nasceu como a Amayka, a filha do mal, como se a própria fênix estivesse selada em seu corpo.

- E está. - Anko endireitou-se. - Entrem, eu lhes explicarei tudo, não é seguro aqui fora.

[...]
 

- Há um livro, um livro muito antigo que diz sobre a profecia da Balança. - Anko falava. - A balança era como o Yin e Yang, duas forças muito poderosas nasceriam no corpo de um só mutante. Ele seria tão forte quanto Asura, o primeiro mestiço há milênios, eu estudei durante anos sobre o que dizia neste livro, e descobrir que ninguém nunca soube sobre ele por apenas um motivo: Ele é guardado e protegido por um Anjo, o amante de Kaguya, o primeiro anjo a cair.

Minha mente vagava em uma imensidão de lembranças, lembranças de uma época distante e de um povo nobre. Uma época da esfera celestial, a moça de cabelos claros teve as asas arrancadas e fora expulsa do paraíso por desejar algo impuro aos olhos do Criador. Agora eu compreendia nitidamente.

- Raziel... - Falei. - Ele guarda o livro, ele o guarda no submundo.

- Exatamente o que pensei. - Ela sorriu quase que vitoriosa. - Sakura, nunca houve e nunca haverá alguém como você, você é quase como uma reencarnação. Eu nunca em toda a minha existência conheci uma mestiça tão poderosa.

- Acha que Sakura pode voltar a... Voltar a ter uma vida normal sem querer sair arrancando cabeças por aí? 

Shisui riu, um riso fraco e sem emoção.

- Eu posso treiná-la. Ensiná-la o domínio das artes e ensiná-la a conter isso.. Esse poder.

Ela parecia até empolgada porém Sasuke tomou a palavra rapidamente.

- Não. - Falou determinado. - Sakura não poderá ficar aqui, ela será um alvo fácil para os Demoníacos. Sem contar que por ter o selo das artes, você será a primeira opção de Orochimaru.

Ela o examinou por um momento; buscando por algo na estante, Sasuke calou-se enquanto Itachi observava tudo em silêncio e eu, procurava forças para não explodir com tudo, a sensação parecia de um furacão rondando em minha cabeça. Eu gostaria de voltar à minha vida normal, de ser uma pessoa normal. Eu não queria ser uma máquina de destruição.

- Vocês não podem contra isso. - Disse meu outro eu. Ela já estava tomando conta de mim outra vez, soube disso no momento em que o choque percorreu meu corpo. - Não podem mais me parar.

~ ' ~

Era quase manhã quando cheguei ao destino ordenado, ele me esperava sorridente perto ao laboratório com um livro grosso e capa negra nas mãos. Orochimaru com o passar dos tempos havia adotado um novo estilo de vestimenta: calças e camiseta negra e um cinto carregando frascos e uma adaga. Ele parecia mais jovem a cada dia que passava, revelando mais um lado no qual eu ainda não conhecia.

Com o passar dos dias, Kabuto também desaparecera sem deixar qualquer rastro sobre seu paradeiro. Ele era esperto o suficiente para desconfiar até do próprio pai.

Uma agonia eletrizante atrevessou meu corpo e eu cai. Estava cansada, exausta meu corpo finalmente pediu por uma boa noite de sono. Estávamos à beira do penhasco quando Orochimaru bradou sua nova ordem.

- Minha flor.. - Chamou. - Está na hora de testarmos seus dons.

- Só.. Só não me faça mais matar ninguém. Por favor. Eu estou cansada, mal me aguento em pé, pelo amor do que é mais sagrado me diga de uma vez o que quer de mim.

Eu supliquei. Ele apenas riu, olhando para a baía. Os pequenos raios de sol se perdiam na neblina que envolvia a Shodleine e uma chuva se aproximava. Meu corpo tremia, não por frio ou medo, tremia pelas ondas que ele me fazia sentir. Eu desejei ter morrido enquanto era queimada viva, naquele momento qualquer dor era melhor do que aquela.

- Quero usá-la para algo que está profetizado a milênios. Quero usá-la para libertar meu mestre. - Disse abrindo o livro. - Só você é forte o bastante para libertá-lo.

- Eu não vou lhe ajudar com seu plano maluco, seu psicopata.

- Você fará o que eu mandar, minha flor. Nem que para isso você precise matar aquele rastreador.

Ele apontou para além da neblina, rumo ao memorial da Shodleine. Eu silhueta alta e forte ia tomando forma junto a outras quatro, logo o rosto de Neji fora revelado. Ele estava pálido, parecia ter perdido meses de sono. Ao seu lado, estava Hinata, Naruto, Kakashi e Karin.

Ela estava quase graciosa demais, suas mãos brilhavam em uma luz escarlate, e em seus dedos agora continham anéis variados como as marcas em que vira meses antes nas sombras. Hinata estava apavorada e Naruto assim como Neji, parecia exausto. Ele sorriu fraco para mim, abraçando Hinata. Naquele momento notei que teria que ser forte, eu não poderia jamais me perdoar se machucasse aquelas pessoas. Elas me amavam e eu as amava. Elas haviam me acolhido, cuidado e se preocupado, eu não poderia ser ingrata a esse ponto. Nem a que para isso, eu tivesse que me sacrificar.

- Hyuuga, que bom que apareceu. Eu precisava mesmo de uma cobaia para  testar os dons de Sakura. - Orochimaru sorriu.

- Desista do seu plano, professor. E poderemos agir de misericórdia com você. - Kakashi ameaçou calmo, só então notei que os olhos dele estavam mudados tingidos em uma coloração vermelha. Ele era um imortal também, concluí.

- Agir de misericórdia? - Ele gargalhou. - Minha criança poderia acabar com todos vocês de olhos fechados. Neji, eu aconselharia levar sua prima mundana para longe junto ao filho de Minato. Ela não gostará do resultado desta batalha. Acabarei com você como acabei com Hizashi e não restará um sequer mutante em seu clã fracassado.

Neji passou por mim como um raio. Eu podia sentir o poder de sua ira, ele corria em suas veias como um tsunami de energias. Arremessando Orochimaru contra as paredes de concreto ele cuspiu as palavras:

- Nunca mais ouse insultar meu clã, sua cobra humana de merda. - Rosnou. - Ou eu acabarei com cada pedaço de você, nem que para isso eu terei que enterrá-lo desmembrado.

- Tente, Hyuuga.

Kabuto esbravejou lançando-o longe dali.

- Sakura, derrote-o querida. Quero o corpo de Neji neste chão antes que o sol nasça.

Eu lutei por uma pequena fração de segundos contra o impulso de cumprir aquela ordem, mas fora inútil. Vi meu corpo movendo-se rapidamente e golpeando Neji com voracidade. Ele caiu há pouco mais de um metro de distância. Seus olhos foram tingidos por uma nova cor, era branca, como os olhos do anjo e as veias logo tomaram forma em sua face. Ele era mais veloz que eu, percebi no momento em que contra atacou.

Um golpe deferido em meu estômago fora o suficiente para me deixar zonza por alguns segundos. Então meu interior adormeceu, deixando o monstro tomar o total controle.

[...]

Recoei alguns passos, retomando a postura. Fora então que notei que Kabuto batalhava com Kakashi, em uma sessão de golpes intermináveis.

Voltando à luta, me vi golpear Neji outra vez, desta vez o brilho laranjada tomara conta de minhas mãos, como em dois bisturis afiados. Eles perfuraram o estômago de Neji atravessando-o e foi possível ouvir a risada vitoriosa de Orochimaru. Um rosnado apavorante passou rasgando por meus dentes, o som me perturbou, mas não foi o bastante para me refrear.

— Ela é incrível, não é? — ouvi Orochimaru murmurar e procurei à quem ele falava, encontrando Kabuto suado ainda em posição de batalha.

— Ela não avançou para o pescoço dele nem uma vez — concordou, parecendo espantado. — Vejo que essa batalha vai demorar mais do que pensei. Não temos tempo pai, faça-a acabar com isso logo.

- Precisa parar Sakura, ou eu vou ter que machucá-la. - Neji falou quase em tom de súplica.

- Eu.. Você.. Já era.

Então os bisturis atacaram rumo ao seu pescoço, Neji caiu metros de distância e Hinata caiu sobre os joelhos em um ato inusitado sendo socorrida por Naruto.

Em um pequeno momento virei-me para Kabuto, ele estava prestes a acabar com sua luta quando uma fresta de luz dourada atravessou seu coração com fulgor. Um grito alucinante ecoou por seus lábios. Então vi a imagem de Kurenai se formar, com sua mão apoiada sobre o peito do mais novo, esperei pelo sangue e compreendi. Era um truque de manipulação.

Neji levantou com dificuldade. Eu sabia o que estava prestes a fazer, sabia que choraria noites por aquilo e sabia que ficaria em mim como uma mancha. Avançando para deferir o próximo golpe, ataquei seu pescoço. Imobilizando-o. Hinata gritou com dor, eu sentia sua dor, aquele era o efeito do truque de mente. Eu chorava por dentro incapaz de deter ou fazer qualquer coisa, contra aquele mal. Incapaz de deter a mim.

O sangue do Hyuuga mais velho manchou minhas mãos, porém Neji ainda pelejava, defendendo cada golpe com uma velocidade anormal. Quando o grito de Hinata fora ouvido outra vez Naruto se preocupou e eu me desfiz do truque concentrando todo o poder que corria em minhas veias para um último golpe. Kurenai imobilizou-me com as correntes, junto a Kakashi. Eu nunca havia sentido tamanha fúria, tamanho poder eu me sentia tão forte quanto um exército.

- Acabe com isso, minha flor. Estou exausto. - Ordenou Orochimaru.

Chamando a atenção de Kakashi, Hinata soluçou cuspido resíduos de sangue, ainda em estado de choque.

- Eu... - Ela engoliu em seco. - Eu vi ela... O sangue... Eu... Ela vai mata-lo.

- Quem matará quem, Hinata? - Naruto perguntou confuso, era visível sua aflição. - O que está acontecendo.. Por que Sakura está violenta e...

- Sakura... Ela matará Neji.