História Ghost Town - Lembranças: Promessa

67 anos antes 

19 de julho, de 1946

          -Julian, o que foi?-Julian estava sentado na porta de casa na chuva e chorando tanto que o nariz estava inchado. 
          -O Jorge e o Ruan...eles foram chamados para a guerra Anni! O carro... ele levou o Ruan, um outro vai chegar amanhã.
          -Mas...mas porquê?
          -Todos os maiores de quinze anos estão sendo chamados.
          -Todos os maiores de quinze? Mas então o...
           Assim que entendi larguei o saco com o pão e o guarda-chuva e sai correndo. Estava chovendo e eu estava me molhando e sujando minha roupa todos de lama, mas não me importava. Eu só precisava chegar em casa e ver todos lá, sentados na mesa, me esperando chegar com o pão do café da tarde.  Quando cheguei lá eles estavam todos juntos, mas não do jeito que eu imaginei.
          Erick estava com uma bolsa e um uniforme e se despedindo de todos. Aquilo não podia ser verdade. 
          -ERICK!!! 
          Abracei ele com toda a força que eu tinha, ele pareceu não se importar de eu sujar o seu uniforme de lama. 
          -Erick por favor não vá, eu preciso de você!
          -Calma pequena o Otávio vai cuidar de você, da mamãe e da Cami.
          -Você não pode ir, por favor!
          A esse ponto eu já estava me engasgando com minhas próprias lágrimas. Como ele podia estar tão calmo?!
          -Ei-Ele disse se abaixando e tirando um colar do pescoço-Isso é pra você, para sempre se lembrar de mim. Prometa que não vai me esquecer tudo bem?
         -Só se você prometer que vai voltar! 
         -Anni... 
         -Prometa Erick!
         -Prometo que vou voltar.-Dava para ver que nem ele acreditava nisso. Mas que estava fazendo isso por mim.
          -Já está na hora-Disse um soldado do lado do carro.
          -NÃO!!!
          Então eu agarrei o Erick mais uma vez, mas meus pais me tiraram dele e ficaram me segurando enquanto ele ia embora.  Eu gritava seu nome várias vezes? esperneava, até que ele não estava mais no meu campo de visão. Quando me soltaram eu desabei no chão. Choros eram ouvidos de todos os lados, mães, pais, irmãos, avós... 
         Abri minha mão e dentro dela tinha um colar com um pequeno pingente: uma pena, algum dia tinha sido branca mas agora estava encardida nas pontas. Eu sabia o que era aquilo. 
         Uma vez uma ave com a asa quebrada caiu dentro do quarto do meu irmão e ele cuidou dela, escondido claro, e quando ela se curou e foi embora deixou cair essa pena. Ele disse que aquela pena significava um novo começo. Um bom recomeço.
         Apertei o colar contra o peito e sussurrei, tão baixo que eu mesma quase não ouvi:
         -Prometo que nunca vou te esquecer.