História Ghost (Yoongi) - Lábios

Assim que abri meus olhos vi a pouca claridade atravessando as cortinas. Olhei para o lado e Yoongi continuava me abraçando, os olhos fechados, a respiração lenta. Toquei na sua face e tirei seus cabelos da testa. Ele era tão lindo.

- Você está me olhando. – murmurou ele.

- Admirando.

Ele abriu os olhos e uma fina linha se formou em seus lábios. Era tão bom estar ali com ele.

- Senti falta disso. – disse. – Quando dormíamos juntos e você tinha medo dos trovões.

Sorri fraco. Me levantei e vesti minhas roupas já secas.

- Têm que me deixar em casa. – falei.

Segui rapidamente até a cozinha e tomei meu remédio. Yoongi vinha do corredor, ajeitando sua jacketa e com as chaves do carro na mão.

Era uma sábado e a neve tinha diminuído. Me perguntava se meu pai já tinha chegado em casa e se sim, o que ele iria dizer. O trajeto foi silencioso e por mais que eu quisesse falar com Yoongi, as palavras acabavam não saindo. 

Assim que chegamos me virei para ele.

- Obrigada por ter me acolhido. – falei.

- Não foi nada.

E então eu entrei em casa, certa de que tudo ficaria bem. Mas não ficou, nunca ficava. Porque eu lembro que no momento que cheguei em casa, subi para meu quarto e meu pai me esperava.

- Onde estava? – perguntou.

- Eu...bem estava nevando muito então passei a noite na casa de Yoongi.

- Então deveria ter continuado andando. – gritou e me acertou no olho.

Me afastei dele, me encostando na parede fria atrás de mim. Ele tinha parado de me bater a uns meses atrás, mas ainda sim gostava de me ver triste. Pelo menos era o que achava. Acho que o pior erro dos adultos é achar que tudo na vida é fase, uma maldita fase. Que a depressão é porque não apanhou o suficiente, acham que estamos fazendo drama. Mas não é bem assim.

- ESCOLA. CASA. Apenas isso que eu sempre pedi a você. – gritou e eu fechei os olhos.

Eu queria tanto sumir, tanto.

- Vou ter que viajar a trabalho e como eu vou ir sem ficar preocupado se você vai estar em casa? – perguntou.

- Quando?

- Hoje a tarde. Vou para a China. Você vai a pé para a escola por uma semana. No frio. Vai aprender a me obedecer.

Ele bateu a porta e eu me joguei na cama. Me perguntei o porque de a vida ser tão complicada.

Talvez se minha mãe estivesse viva eu teria tido uma vida melhor. Namorasse, sorrisse...

Mas ela tinha falecido quando eu tinha 9 anos. Acidente de carro.

Yoongi cuidou de mim, me ajudava no meu dia a dia. Mas quando foi embora tudo piorou, a raiva do meu pai de mim, as bebidas e os gritos e murros.

Minha mente era sombria. Escutava algumas vozes de vez em quando.

Fui até o espelho e vi meu olho roxo. Deixei uma lágrima cair e escutei meu pai arrastando sua mala até o carro. E saiu. O táxi tinha sumido.  

Eu nunca tinha ido ao médico, acho que eu mesma diagnostiquei minha depressão, pesquisei os sintomas e concluí que eu estava. E eu precisava de um amigo. Como nunca precisei antes. Eu tinha procurado nome de antidepressivos e comprei alguns com o dinheiro que tirei da carteira de meu pai, escondida.

Muitas pessoas colecionam livro, eu colecionava remédios. Eles ficavam na minha cômoda, acho que meu pai tinha visto.

Pela noite eu estava assistindo TV no meu quarto quando escutei um barulho na janela. Pedras. Fui até o vidro e vi Yoongi, ele jogou a pequena pedra no chão e sorriu.

- Eu vou subir. – disse.

Ele escalou por uma pequena escada que ficava no jardim e eu abri o vidro. Ele entrou no meu quarto.

- Oi. – disse.

- Oi. – eu estava de cabeça baixa.

- Violet? Porque está com a cabeça baixa?

Senti ele se aproximar e segurou em meu rosto, me fazendo olhar para ele.

- Ahhh, Violet. Eu sinto muito. Desculpe-me por não estar aqui para te defender.  

Ele deu um beijinho no meu olho meio roxo e um na minha bochecha.

Mas no fim, o que eu senti foram seus lábios macios nos meus.