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História Gifts - Capítulo Único


Escrita por: baekillegal

Capítulo 1 - Capítulo Único


Era realmente uma droga o fato de que não existem assentos únicos nos aviões. Bem, quer dizer, existem:

1- Na primeira classe, mas ele duvidava muito que, só por terem vencido o FFI, a equipe que o organizava lhes daria uma viagem de volta com uma mordomia tão grande como a primeira classe ou a executiva;

2- Existiam alguns assentos vazios disponíveis mais para o fundo do avião, lugar no qual ele daria tudo para poder estar. Mas Endou não parecia nem um pouco disposto em ao menos deixá-lo ficar algumas cadeiras atrás;

3- Sério, nem pagar uma viagem executiva?

Idiotas— Fudou comentou em seus pensamentos enquanto tacava grosseiramente suas roupas na mala. Após ver o quão caótica estava sua bagagem, soltou um longo suspiro e se pôs a arrumá-las cuidadosamente, dobrando as roupas uma por uma. Sentia-se grato por não ser uma pessoa que se preocupava muito com quantidade, e sim com qualidade. Caso contrário, passaria o resto do dia arrumando a mala.

Quando finalmente terminou, puxou a bolsa com as duas mãos e, dando alguns chutes para afastá-la, desceu as escadas e parou na sala, onde todos combinaram de se encontrar para enfim seguirem para o aeroporto. Endou já tinha ido antes para poder se despedir de seu avô, Rococó e Fideo. Quando ele voltou, os outros lhe fizeram uma surpresa em plena praia, o jogando para cima em meio a uma gritaria animada.

Agora, era a vez deles voltarem para casa. Os únicos que já estavam lá embaixo eram Hiroto, Tsunami e Fubuki. Este último tentava desesperadamente fechar sua mala, até Fudou perceber que aquela não era a mala dele. Seus pertences estavam cuidadosamente guardados em uma bolsa azul-claro em cima do sofá.

Sem dizer uma única palavra, ele cruzou os braços e franziu a testa, sem perder sua cara de poucos amigos.

— São presentes. – Fubuki contou, após mais um tempo tentando fechar aquela parafernália. – Algumas garotas me deram no caminho pra cá depois da final.

— Você fala como se fossem mesmo só algumas – Tsunami soltou uma risada. – A verdade é que, depois que descobriram onde estávamos concentrados, veio uma chuva pelo correio. Todos endereçados a ele.

— Acabou que não sobrou espaço para as coisas que comprei – o acinzentado continuou – Então, essas coisas estão na mala do Hiroto.

O ruivo apenas fez um aceno com a cabeça, concordando, com um sorriso calmo pousado em seus lábios.

Sua vontade era de rir com o desespero do pobre garoto. De qualquer jeito, não podia negar que uma parte de si gostaria de receber toda essa atenção. Não necessariamente garotas – uma família. Pessoas que se preocupassem com ele, como um pai, uma mãe. A família que nunca teve por seus pais estarem ocupados demais, sofrendo com as circunstâncias pesadas que a vida impôs aos seus pais com a demissão do homem, logo ele o deixando à própria sorte com a mãe.

Odiava quando esses pensamentos vinham à sua cabeça, principalmente quando do nada. Uma das coisas a acrescentar à sua listinha de coisas que não gostava – que já era uma lista bem grande – era: reviver o passado. Sabia que ali haviam pessoas com um passado tão triste como o seu, como o próprio Fubuki. Seus pensamentos estavam tão perdidos nas ondas do passado que nem notou que o garoto havia se aproximado dele.

— Ei, Fudou, esse é pra você. – notou um par de mãos brancas feito neve lhe estenderem um presente cuidadosamente embrulhado em um papel roxo.

— De quem é? – questionou, pegando o pacote das mãos do colega de time.

— Está sem remetente.

— Deve ser de alguém que mandou apenas para você pensar que uma garota gosta de você – provocou Kogure, descendo as escadas, soltando sua típica risadinha travessa.

Tinha muitas frases na mente que calariam de vez aquele pequeno pirralho, mas em vez disso, apenas mandou:

— Cale a boca.

[...]

E agora, no aeroporto, vinham as despedidas. No caso, pessoas de um local distante se despedindo de uma pequena ilha que nada fizera a não ser realizar o maior sonho do Inazuma Japan.

Ah, as despedidas. Para Fudou, era uma coisa tão inútil que nem se dava ao trabalho de resmungar isso em voz alta. Encostado em um canto, observava Hiroto em uma ligação – provavelmente com o amigo Midorikawa – e os outros conversando entre si. Cada um com sua família, com seus amigos.

Resolveu direcionar sua mente para o presente. Decidiu que o abriria no avião, isto é, caso tivesse a sorte de sentar em um assento único e afastado. Nem pensar que deixaria o pacote à mostra se estivesse com alguém como Kogure. Caso não tivesse esse prazer, deixaria para abrir quando finalmente chegasse em casa.

[...]

E, por fim, o avião. O pessoal entrou fazendo barulho, em um estado de animação que superava os limites impostos pela humanidade. Isso ele até poderia justificar – haviam vencido o torneio, eram os campeões do mundo! Até ele próprio estava feliz, apenas não desandou a demonstrá-la com tanta facilidade. Mas não era por isso que concordaria com o sofrimento de seus ouvidos, que poderia perdurar por toda a viagem.

Segundo o bilhete, seu assento ficava no meio, então ele teria que dividi-lo com outras duas pessoas, sendo elas Tsunami e Tachimukai, que estavam alheios a tudo, conversando animadamente sobre assuntos diversos. Com um resmungo, ele andou com a bagagem de mão até seu lugar marcado. Sentou-se e fechou os olhos, tentando entrar em um mundo de sonhos que o prendessem até o avião pousar. E foi o que ele fez, até entreabrir um olho e escutar as risadinhas vindas do banco da frente.

Ah, não.

Com uma verificada rápida, constatou que Fuyuka, Haruna e Aki ocupavam os assentos da frente, sendo que Natsumi participava da conversa de longe. Certo, se eu dormir toda a viagem, não vai ter problema nenhum. – pensou, ou melhor, implorou a si mesmo. Sentiu tamanha vontade de estar no lugar de Hijikata, que agora dormia tranquilamente, sem ninguém ao seu lado para atrapalhá-lo! Fechou os olhos e tentou mais uma vez entrar naquele mundo de sonhos perfeito. Mas as notícias vindas da frente o impediam de fazê-lo:

1- Ichinose faria uma visita ao Japão dali a algum pouco tempo e chamou Aki para um encontro;

2- Aparentemente, Tsunami e Toko estavam começando a sair juntos;– e escondidos: comentário por parte de Natsumi.

3- Haruna estava começando a gostar de Tachimukai – pobrezinha.

4- Eu não mereço isso, mereço?

Cansado de ouvir tais coisas e irritado pela possibilidade de ouvi-las o resto do voo, levantou-se e foi para um dos últimos lugares, lá no fundo do avião, ignorando todos os avisos para que voltasse ao lugar de origem. Colocou a bagagem no novo assento e deixou o corpo relaxar sobre a poltrona macia. Apoiou-se na janela e a visão das nuvens contrastando com o céu laranja e rosa foi a última que viu antes de finalmente adormecer.

Quando acordou, viu as estrelas pendendo sobre o céu escuro e constatou que já estava de noite. Provavelmente, os outros passageiros já estavam adormecidos. Desatou o cinto e se levantou para confirmar se aquilo era verídico – e era. Percebeu também que o assento de Fuyuka estava vazio, então ela deveria ter ido ao banheiro.

Sem pensar duas vezes, tirou o pequeno embrulho da bagagem de mão e desandou a tirar a tampa da caixa, tentando não fazer muito barulho. Não se importando com as leis ecológicas dos aviões, deixou que ela caísse no chão. Leu o bilhete que vinha junto. E agora, em suas mãos, havia uma caixa, que ele abriu.

— Você gostou?

A voz doce e preocupada de Fuyuka ao lado dele o fez sentir um arrepio por todo o corpo. Instintivamente, ele se virou na direção da garota, segurando a caixa cada vez com mais força em suas mãos enquanto a fitava, ela com as mãos unidas junto ao peito.

— É seu?

— É. – ela assentiu, balançando a cabeça e com as bochechas começando a ficar vermelhas. – Você... você gostou?

Certamente havia uma infinidade de respostas para aquela pergunta, cada uma com seu fundamento. Procurava não machucar a garota com as palavras: de fato, nunca fora bom com elas, mas tinha uma grande diferença entre você machucar um garoto e machucar uma garota.

Ficou um bom tempo vidrado no azul céu brilhante que eram os olhos da arroxeada, procurando uma resposta. Ele havia gostado?

Sorriu, como nunca havia sorrido na vida. Agradecia por ter ganhado um presente de alguém que se importava com ele. Aquele presente. Aquilo que o fez lembrar daquela queima de fogos e, só por isso, deixá-lo feliz com aquela lembrança. Uma das poucas de sua infância.

— Sim.

Foi invadido por uma sensação de tranquilidade e felicidade ao ver que Fuyuka devolvera o sorriso, alegre pela resposta. Ele não estava mentindo: era a melhor coisa que ele poderia ter ganhado, além do que era um presente redirecionado a ele, sinônimo de um sentimento de carinho que ele nunca pensou ser alvo.

— Eu estava querendo falar com você. – ouviu a voz da garota novamente, enquanto ela soltava as mãos e as deixava cair desamparadas para começar a brincar com a saia que usava. – Eu poderia...?

Ele balançou a cabeça em resposta, concordando, enquanto ela tomava o lugar ao seu lado e se debruçava para olhar em seus olhos. Mas que raios você está fazendo? – quis perguntar. Mas em vez disso, apenas ficou calado, esperando que ela começasse a falar.

— Nós nunca nos falamos, não? – ela sorriu consigo mesma. – Nem uma vez sequer. Acho que somos mais o tipo de pessoa que observa em vez de falar.

Fuyuka fitou o chão por alguns segundos e levantou a cabeça para prosseguir:

— Eu só cuidava de você quando você se machucava, o que quase nunca acontecia. Nunca tive a chance de poder falar com você e você nunca se importou de verdade em falar comigo. Desconfio que você nem saiba da minha existência.

É, talvez.

1- Definitivamente, ele não sabia mesmo;

2- Aonde ela queria chegar com esse papo todo?

3- Meu Deus, será que ela era masoquista?

— E...? – quis saber.

— E – sua boca se alastrou em um sorriso sereno. –, que as coisas do meu lado não são bem assim. Quer dizer, eu sei da sua existência mais do que deveria.

Ele entreabriu a boca para novamente questionar sobre o que ela queria dizer com tudo aquilo, mas Fuyuka o calou com um caloroso beijo na bochecha. Ele gelou: contato humano também estava na lista de coisas que não gostava. Mas, por algum motivo, não queria que as palavras da garota cessassem nem o gesto que a mesma estava fazendo. Sentia-se a vontade perto dela. Não sentia vontade de fazer comentários sarcásticos ou maldosos, queria voltar no tempo e apagar todas as palavras pesadas que dissera: a inocência da garota dominava todo o seu consciente.

Durou apenas uma fração de segundo, mas ele ainda sentia as bochechas coradas da arroxeada, por estarem muito perto de seu rosto. Fudou não queria nem conferir como estava, porque sem sombra de dúvidas, estaria pior do que ela.

— Aonde você...? – murmurou.

Ela afastou os lábios de sua bochecha, mas perto o suficiente para sussurrar em seu ouvido:

— Eu amo você.

Seus olhos se arregalaram e ela se afastou. E algo explodiu dentro dele, sentiu seu coração apertar e seu corpo ficar trêmulo. Sentiu-se quente, como se o vazio que sempre houve em seu coração, por falta de amor, finalmente houvesse sido preenchido.

— Eu só queria que você... que você soubesse disso. – Fuyuka mantinha seriedade na voz, embora sua expressão fosse serena. – Bem, eu preciso voltar para o meu lugar.

Ela começou a se levantar, ainda hesitante. Para quem sempre escondeu seu sentimento dos olhos dele, agora ele notava claramente que ela não queria sair dali. Queria ficar, mas sabia que poderia ser mal recebida. Já era demais ter feito aquela declaração, certo? Ela tinha que sair dali imediatamente... Certo?

Suas bochechas continuavam vermelhas. Sua boca estava entreaberta. Seus olhos, semiabertos. Seu olhar, perdido.

Ele a deixaria ir?

Fudou não percebeu que Fuyuka havia se virado para observá-lo por alguns segundos. Um sorrisinho brotou em seus lábios ao ver o quanto ele estava desnorteado. Que, aparentemente, ela conseguira quebrar um pedaço daquela barreira que afastava as pessoas de perto dele. Ele ficava tão fofo quando estava confuso!

Ela andou o primeiro passo quando sentiu o toque quente da mão do garoto puxando a sua. Olhou mais uma vez para trás, os olhos arregalados. Ele não olhava para ela – fitava o chão, mas sua expressão permanecia a mesma.

— Fica. – e Fudou não exatamente acreditava que teria outro surto de coragem depois daquele. Era agora ou nunca. Quando percebeu, já havia puxado-a pelo braço, com alguma delicadeza. – Aqui do meu lado.

Seu sorriso foi reconfortante. Fuyuka sentou-se ao lado dele, ainda sem soltar sua mão. O calor do contato da sua mão com a dela trazia-lhe sensações impossíveis de se descrever. Seu rosto continuava quente, mas pela primeira vez em tanto tempo... seu coração também estava. E era uma sensação muito boa.

Sem esperar resposta ou advertência por parte do moreno, ela deitou a cabeça em seu ombro e assim ficaram. Ele não reagiu negativamente, não pediu para que saíssem daquela posição – ele nem ao menos reagiu. Mas permitiu-se abrir um pequeno sorrisinho, junto a uma fala baixa:

— Obrigado. Por tudo.

A voz aveludada da garota pôs fim à conversa e confirmou tudo o que ele já sabia.

— Eu que agradeço. Também por tudo.

E ele fechou os olhos novamente. Dessa vez, a última visão que teve foi dos cabelos roxos e delicados da menina, que já dormia tranquilamente e, pelo toque da sua mão ainda junta à dele, trazia-lhe a mesma sensação para seu coração. E, tranquilo, ele adormeceu, certo de que agora ele não estava mais sozinho. Estava na companhia de seu melhor presente, o melhor dos muitos que havia ganhado naquela madrugada.

***

— Os fogos começaram, mamãe! – ele gritava, apontando freneticamente para a queima colorida de fogos que subia ao céu, tornando aquela visão linda para qualquer um que parasse para apreciá-la naquela noite. Era o mais bonito Hanabi Taikai (Festival de Fogos de Artifício) que o pequeno Fudou já tinha visto.

— Não temos uma câmera fotográfica ainda, querido. — sua mãe sorria serenamente, apertando com delicadeza os ombros do pequeno. – Então registre esse momento na memória, está bem?

— Tudo bem, mamãe. – a criança esticou o pescoço, desviando o olhar do céu para encarar os olhos daquela mulher tão gentil. – Uma vez eu vi na TV que os melhores momentos ficam guardados na cabeça. Não precisa de uma câmera, mamãe.

Isso alargou o sorriso da mulher, e colocou em retirada toda a tristeza que ela sentia por não poder dar ao filho uma câmera. Ela abraçou o pequeno e sussurrou:

— Tudo bem então. Nós não precisamos, meu anjo. Os nossos momentos ficarão na memória. E, um dia, alguém que te ame como eu amo você te dará essa câmera e os seus momentos ficarão registrados. Mas os nossos são preciosos o suficiente pra que nenhuma câmera precise saber. Está bem?

— Está bem! – Fudou sorriu, apertando a mãe em seus bracinhos pequenos.

Ele não reparava em uma menina pequena de cabelos arroxeados, perto dali, que observava a cena com atenção, pouco antes de novamente voltar os olhos para a queima de fogos.

 

A câmera fotográfica, guardada e envolvida naquela caixa roxa, continha também um bilhete, escrito com caneta roxa e letras delicadas:

 

“Os melhores momentos ficam guardados na memória. Mas eu quero ser a pessoa que vai registrar momentos com você. Espero que goste do presente.

Fuyuka.”



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