Narração: Mônica
O dia anterior deixou uma sensação estranha em mim. E, por mais que seja algo desconhecido, eu me sinto bem, bem demais. Há uma felicidade crescente dentro de mim, as coisas estão escalando sem nenhum escorregão. Isso me dá uma vontade de fazer algo, de ir atrás de sonhos perdidos. É bobo, eu sei. Mas está em mim, está me deixando nas nuvens.
Entro na escola e alguns olhares se voltam para mim, escondo minha felicidade e começo a pensar no motivo de ser notada. Escovei meu cabelos, vesti a camiseta do lado certo, o que havia de errado comigo? A medida que eu andava, os olhares me seguiam e eu tentava achar qual havia sido meu desastre. Poxa, logo hoje que eu estava animada para estudar (ou para ver tal pessoa, mas isso não vem ao caso).
Continuo andando, até ser parada por uma garota de cabelos vermelhos. Ela me perguntou:
— Você e o Cebola estão namorando? — Isso foi uma bomba. Agora estava explicado.
Nem sabia o que responder. Engoli saliva e olhei para os lados. Não estávamos juntos e essa verdade parecia me incomodar.
— Sem comentários! — respondi e sai de cabeça baixa, pensando o quanto essa declaração foi ridícula, eu deveria ter dito a verdade, droga.
Entrei no banheiro e fechei a porta atrás de mim com força, passei as mãos pelo cabelo nevosa. Eu estava morrendo de vergonha, provavelmente estava até vermelha.
— Oi, Mô! — Denise me cumprimentou, entrei tão rápido que não percebi ela ali com Marina, conversando na frente do espelho.
— E aí? — Marina também cumprimentou.
— Oi… Denise, você andou comentando sobre ontem com alguém?
Me aproximei delas.
— Só com alguns colegas.
— Tem certeza que não foi com o colégio inteiro?
— Não dúvido — Marina disse arrumando o cabelo.
— Ai, fofa, esquece isso! — disse me abraçando de lado — Você deveria me agradecer, sabia? As pessoas só te viam como a nerd ajudante da Cascuda, ou melhor, elas nem te viam.
Franzi o cenho. Cassandra era mesmo alguém que eu deveria ficar com um pé atrás.
— Espera aí! De novo a Cascuda como vilã? — Perguntou Marina. Ok, talvez eu devesse ficar com dois pés atrás.
— Pois é, uma vez cobra, sempre cobra!
— Nossa, até eu vi que naquela vez o Cascão… — Marina se interrompeu ao perceber que eu estava mais perdida que cego em tiroteio.
Denise entendeu a situação e mudou de assunto.
— Vamos parar de falar sobre coisas ruins e ir encontrar os outros — disse e nós três saímos do banheiro.
Enquanto nós três andávamos pelo corredor as pessoas nos encaravam. Eu não pude deixar de ficar tímida por conta disso, não é novidade, eu odeio esse tipo de situação. Marina nem parecia se importar, diferente de Denise, que carregava toda uma áurea de diva e parecia mais desfilar. Eu até acharia estranho estar andando para cima e para baixo com essas duas mas, depois de ontem, me senti no direito de me aproximar delas.
Cebola, Cascão, Xaveco e Titi estavam conversando no pátio, escorados em uma parede e pareciam despreocupados naquela manhã.
Tentava não olhar muito para Cebola, apesar dele prender minha atenção e meus olhos quererem focar nele o tempo todo. Ele parecia um pouco envergonhado também, mas quem não estaria nesse tipo de situação?
Enquanto conversávamos sobre assuntos banais, Magali chegou e passou reto por nós. Denise disse que “essa fera é difícil de amaciar, mas logo estará conosco”. Não pude deixar de rir pela sinceridade da ruiva.
O sinal tocou e tivemos que ir para a sala. Entrei na sala e sentei no meu lugar de costume, atrás da Cassandra. Tentei preparar meu psicológico.
Ela se virou para trás e me encarou com os olhos cerrados e começou um verdadeiro interrogatório.
— É verdade o que estão comentando?
— Não sei do que está falando — fugi do assunto, organizando meu material sobre a mesa.
— Você sabe muito bem do que estou falando! Vai ignorar tudo o que eu te disse?
— Droga, Cassandra. Eu quero estudar, você está me atrapalhando… — dei a primeira desculpa que veio em minha mente e passei a folhear o caderno.
— Estudar o que? O professor ainda não chegou. — corri meus olhos pela sala, era verdade, droga. — Por que não quer me responder?
— Porque o que eu faço não te interessa!
Ela ficou brava, me olhou desafiadora e se virou. Pensei ouvir ela dizer algo como “ela vai se arrepender disso” mas como poderia ser apenas minha mente confusa, ignorei.
Fiquei pensativa. Cassandra poderia parecer assustadora as vezes. Mas eu já lidei com pessoas piores. Ela estava apenas nervosa, é certo que logo isso tudo passa.
Sai dos meus pensamentos quando Denise, que estava em cima da carteira, estava falando, ou melhor, gritando.
— Galera! Todo mundo já percebeu que o tiozão de geografia faltou e que tal a gente botar para quebrar?!
Mais da metade da sala respondeu com gritinhos animados, não entendi muito bem qual era a intenção da Denise. Mas quis concordar.
— E como a gente faz isso? — Magali gritou de seu lugar, que era bem longe do lugar de Denise.
— Isso é fácil! É só… — Começou mas foi interrompida pela porta se abrindo e o professor entrando apressado.
— Que bagunça é essa?
Cassandra se levantou disse algo para o professor. Denise ficou emburrada e (ainda em cima da carteira, detalhe importante) gritou:
— Fala na cara, falsiane!
— Desce daí, menina! — ordenou o professor e ela logo desceu. — Xavier, Timóteo, Cebolácio, Maria Creuza…
— Quem é Maria Creuza? — Perguntou Marina.
— A senhorita Denise — respondeu o docente com deboche.
A sala inteira começou a rir, comecei a rir também.
— Silêncio! Continuando, Marina, Magali e Mônica. Para a diretoria agora!
Meus olhos arregalaram e eu parei de rir na mesma hora. Como assim? Eu não havia feito nada.
— Mas o que eu fiz? — perguntei.
— Que baixaria é essa? Eu estava na minha! — Marina se defendeu.
— Não adianta nenhuma de vocês discutir. Cassandra disse que vocês fizeram bagunça. E como ela é uma aluna exemplar, eu acredito. Agora, para fora!
Isso é sério, Melissa?
— Por que o Cascão não foi chamado? — Denise indagou indignada.
— Cassandra não mencionou ele…
— Isso porque ela quer dar beijinho nele. Senhor professor, você tinha que ver as besteiras que ele estava dizendo, inclusive sobre o senhor.
— Qual é, Denise? — Cascão questionou.
— E ele ainda estava…
— Já entendi, Denise. Cássio, saia também!
O professor foi se sentar emburrado, enquanto eu e os outros saíamos da sala. Antes de cruzar a porta, encarei Cassandra por cima dos ombros. Ela sorriu convencida para mim.
Saímos da sala e ficamos sentados no corredor desanimados com aquela situação. Até Denise abrir a boca.
— Eu sabia que ela continua sendo uma vaca! Eu sempre falei, mas ninguém nunca me deu ouvidos, ninguém nunca dá! É sempre assim, já estava demorando para ela aprontar de novo. Eu… — a metralhadora de palavras Denise se calou quando Cebola interrompeu seu chilique.
— Está bem, Denise! Pode calar a boca? Todo mundo já entendeu! — Cebola quase gritou com ela, se eu não estivesse confusa, estaria rindo. Porém os outros pareciam tristes com isso.
— Vocês estão muito irritadinhos. Foi até bom a gente sair da sala, a aula dele é um saco — Titi revirou os olhos.
— É só assinar o livro de advertências — disse querendo tranquiliza-los, não era grande coisa, afinal, já havia feito diversas vezes.
— Mônica é você? — Marina perguntou.
— Já assinei algumas vezes… Não me orgulho mas não é o fim do mundo.
— Hello, amiga?! — Denise estralou os dedos na minha frente.
— Não acredito! — Cascão cruzou os braços.
— Eu não gosto de falar sobre isso… — me encolhi tímida, me arrependendo do que havia falado, não saberia explicar sobre Penha, caso me perguntassem o motivo da minha ficha suja.
Ficamos em silêncio, era quase melancólico. Eu gostava de quando conversávamos, de quando fluía naturalmente, mas eu sabia que uma hora teria que quebrar minha timidez e ser aquela que inicia a conversa.
— Eu não entendi sobre a Cassandra. O que há de tão ruim nela? — esse me parecia um bom assunto, além de eu estar curiosa sobre “minha amiga”.
— É uma longa história…
—Que você não tem tempo de contar — Cascão interrompeu Denise — Xaveco, tente controlar sua namorada fofoqueira!
— Meu bem, tu acha que sou mulher de ser controlada por homem?
Ri, Denise havia ficado brava. Mas eu concordava com ela.
— Não é como se o Xaveco fosse fazer algo também. — Magali disse batendo os ombros.
— Ei, vai me ofender de graça mesmo?
— Não ouvi nenhuma mentira até agora. Gosto assim, fogo no parquinho! — Marina disse. — Preciso registar esse momento.
Ela tirou o celular do bolso e começou a filmar Denise e Cascão discutirem.
— Deveria me agradecer por ser sua amiga mesmo com esse seu cheiro.
— Não queria me intrometer mas a Denise tem um ponto.
— Até tu, Titi? E a amizade, quem mais vai me apunhalar pelas costas?
Todos olhamos para Cebola, esperando um posicionamento dele, que até então estava calado.
— Ei não me metam nesse assunto delicado… Ok, você poderia trocar de desodorante, cara.
— Traidor.
Minha risada saiu quase como um grito, tampei minha boca logo em seguida com uma das mãos. Ainda rindo, os outros me acompanharam. Incrível como em meio a uma situação ruim, ainda riamos.
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