História Girl - Prólogo

Poderia ser dito que a latina estava sob os encantos de um ser desconhecido por este mundo, que trouxera à ela a paz e o sentimento de leveza quando estava por perto. Mas nada do que Camila dissesse descreveria o que sente pela dona dos olhos cor de esmeralda que tanto a hipnotizavam. 
   

Ela adorava ser hipnotizada pelos olhos de Lauren. 
   

Entre encontros e desencontros, finalmente Lauren conseguiu aproximar-se da mais nova, como vinha ansiando em fazer há dois meses atrás, quando entrou na biblioteca tendo em mente que todos já haviam ido embora naquele final de tarde. E então encontrou uma menina sentada no chão do final do corredor 2. Por sorte, ou não, conseguiu observá-la sutilmente, querendo gravar a imagem da garota na memória. Camila apresentava uma estrutura baixa, pele clara, lábios carnudos avermelhados naturalmente. Suas vestes eram um vestido azul de alça fina e a saia caía pouco acima dos joelhos. Cabelos ondulados no tom castanho escuro caíam como uma cascata nas costas da mais nova, tendo, é claro, seu inseparável laço prendendo uma pequena parte no topo de sua cabeça. Parecia concentrada na leitura de um livro que Lauren não conseguiu decifrar qual era. Não de tão longe. 
   

Aproximou-se então de Camila, sem se preocupar com o barulho que suas botas fariam naquele piso de madeira crua. 
 

- Pensei que fosse apenas eu. - a morena quebrou o silêncio que tomava o local, recebendo um olhar assustado da menina. - Desculpe, não quis assustá-la. 
   

Camila sorriu envergonhada, tentando acostumar-se com a beleza incomparável daquela mulher em sua frente. Mas ela não conseguiu. 

Jamais conseguiria. 

 - Apenas você, o que? 
 

 - Pensei que só eu me escondesse aqui para ler quando todos já estivessem ido embora. - flexionou as pernas e deu pequenas batidas para afastar a poeira de sua calça jeans preta, assim que sentou ao lado da menina. 
 

  - Ah... Não, eu não - 
 

  - Tudo bem, não conto e você não conta. - a morena sentiu sua mandíbula ser travada em um sorriso amarelo de ambas - Ok? 
 

  Recebeu um sorriso em resposta. 

 - O que está lendo? 
   

- Na verdade, eu não estou lendo. Apenas pensando. - mordeu os lábios em sinal de nervosismo, abandonando o livro ao seu lado e dando de ombros. 
   

Lauren sentiu a explosão de um sentimento não decifrado em seu estômago quando os olhos cor de chocolate da menina encontraram os seus. Chegava a ser ridículo idealizar uma paixão aos olhos da mais velha, foi criada muito rigorosamente para acreditar em outro tipo de amor. Além do que sentia por seus pais. Daquele dia em diante, sentiu que lutaria para decifrar o tal sentimento que crescera em seu peito. Ela precisava entender.
   

Ainda mais estranho para ela era o fato de sentir pela primeira vez, por alguém que havia acabado de conhecer e não conversado por ao menos dez minutos. 

- Bem, e o que pensava? 
   

- Não sei se devo compartilhar pensamentos pessoais com alguém que nem ao menos sei o nome. - arqueou a sobrancelha em brincadeira, arrancando uma risada anasalada de Lauren. 

 - Lauren Jauregui. - sua voz soou mais rouca do que o normal. Acontecia sempre que corava, e isso não passou despercebido aos olhos de Camila. - E você é...? 

  - Camila Cabello. 
 

  - Porquê eu nunca te vi por aqui, senhorita Cabello? - brincou com os próprios dedos entrelaçados em cima das pernas. A mais nova riu.
   

  - É a primeira vez que venho à essa biblioteca, desde que eu tinha cinco anos. 
   

  Lauren engoliu as informações rapidamente, o suficiente para querer saber mais sobre a latina. A mais velha vestia uma calça jeans skinny da cor preta, botas também pretas que chegavam até os tornozelos, camisa com o símbolo dos Rolling Stones e por cima, uma jaqueta de couro. Suas roupas quase informais chamavam a atenção de Camila, que analisava a morena à cada um minuto. Ninguém pode culpá-la, Lauren era tão atraente que seria desperdício de tempo se privar de olhá-la. Não por malícia, ou algo assim. Camila nunca tinha conhecido alguém com tal aparência e estilo despojado, a maioria se escondia atrás do que não era, por medo da sociedade. 
   

   Lauren não seguia nenhum padrão imposto pela sociedade. 
   

   - Eu gostava de explorar aqui. - continuou a explicação à morena - Livros de fadas, princesas e todo esse mundo mágico em que se acredita quando se é criança e inocente. 

    - Não acredita mais? 
 

     - Claro que acredito. - suspirou - Mas a vida não é um conto de fadas. 

   - Algumas pessoas alimentam essa ideia na mente. - Lauren disse com a voz carregada de convicção. - Assim como a crença no amor. 
   

    - Você não acredita no amor?  
 

   Camila nunca havia se apaixonado por ninguém, e à partir daquele momento, soube que Lauren também não. Ambas inexperientes e confusas. Ambas curiosas para descobrir o amor. 

      Ambas o perfeito oposto da outra.
   

   Saltou do chão e ficou de pé, pensativa demais para perceber que estava calada há longos segundos, a morena arrastava o dedo indicador em cada livro da estante prateada. Quando finalmente saiu do transe em que estava, observou uma Camila quase impaciente aguardando a resposta. 
 
 

     - Eu nunca me senti completa. - respondeu sem deixar de arrastar o dedo pelos livros. - Minha mãe nunca disse que me amava. Meu pai, muito menos. Sempre ocupados com qualquer coisa que não fosse eu. Me expulsaram de casa no meu aniversário de 18 anos, depois que cheguei bêbada da festa de minha amiga Dinah e assumi minha sexualidade à eles por um impulso. - a morena revirou os olhos, afastando a lembrança da mente. - Então eu trabalhei todos os dias em uma conveniência para conseguir comprar um apartamento, enquanto meus tios me receberam na casa deles e meus pais nem sequer me ligaram desde então. Hipócritas, não? - fitou Camila, que ainda estava sentada no chão e continuou sem esperar resposta - Não é como se eu não acreditasse no amor. Só nunca me senti amada.
 

  Não havia reação da menor naquele momento. Ela não poderia chorar, mesmo que o quisesse. Lauren ainda não havia cicatrizado a ferida que seus pais abriram há um ano atrás, todas aquelas lembranças, momentos juntos que mesmo em silêncio significavam para a morena. Ela os amava incondicionalmente. Porém, agora guardava uma mágoa deles. 
   

   Camila pôde notar a revolta nos olhos de Lauren e tentou acalmar-se antes de falar alguma coisa à morena. Ela não entenderia o que a mais velha teve que enfrentar. Não conseguia imaginar sua vida sem Alejandro, Sinu e Sofia, sua irmã caçula. Os sábados no Tommy's eram agradáveis com sua família, junto de toda aquela música tocada por uma banda de calouros que não era muito conhecida, mas que tocavam um ótimo jazz e rock clássico. Eles tocariam o que qualquer um ali pedisse. Camila se perguntava o motivo de eles nunca terem saído daquele restaurante e buscado trabalho profissional com uma gravadora ou algo assim. The Kills faria sucesso fora daquele local.    
 

    Ela realmente não entenderia, sentia-se amada à cada segundo perto de sua família. 
   

    Dane-se, Camila sentiu que deveria confortar Lauren de alguma forma, então o fez. 

               

   - Acredite, meu silêncio significa admiração. - a mais nova levantou-se para que pudesse ficar de frente para a morena - Digo... Você enfrentou isso tudo praticamente sozinha. Nunca passei por algo parecido, mas a dor é imaginável. 
   

   Lauren sorriu amarelo, envergonhada. Buscava maneiras de reagir à aquela menina, e essa era a única forma que conseguia. 
   

    - Eu sinto muito, Lauren. - a latina abaixou a cabeça, voltando a fitar a morena no mesmo instante. 
   

    - A vida não é um conto de fadas.