História Girl meets Girl - Bifes novamente?

Então finalmente chegamos ao fim da triste história da minha existência... Maju virou uma boa amiga, Maria Clara vai me ignorar para sempre e Rafa voltou para a casa dos pais, como sempre foi. Eu? Eu fiquei solitária, porque só faço merda. Tudo do mesmo jeitinho de antes... Como já dizia o rei leião "É o ciclo sem fim que nos guiaráaaaa!". 

Caô. Só queria dramatizar mesmo.  

Mas a real é que as semanas se passaram basicamente assim, tudo meio morto, meio "mais ou menos"... Rafa realmente voltou para casa e eu até fiquei feliz no começo, afinal, ela se acertou com a mãe, né ? No entanto, algo dentro de mim não gostou nada dessa situação. Juro que não é maldade! É só que... Sinto falta da presença dela em minha casa. 

À propósito, Rafa tem andado bem estranha ultimamente, talvez pela maior participação de Maju em minha vida. Até agora não entendo o porquê dessa raivinha dela pela morena. 

Ah! Antes que fiquem se perguntando... Não, eu não transei mais vezes com a Maju. Sequer nos beijamos novamente após o dia do ônibus. Eu disse que costumo desapegar quando chego onde quero, não disse? Foi exatamente o que aconteceu. Sempre soube que Maju era das minhas!

Isso nos leva ao conceito louco da Rafa de que eu estaria apegada a uma das "Maria's", portanto, se cortamos a Júlia da lista, fica só a Clara, certo?

Demorou um pouco para que ela me procurasse, eu confesso que já nem esperava qualquer tipo de contato mais íntimo com ela. Era "bom dia", umas gracinhas no meio das aulas, umas dúvidas sobre as matérias e nada além disso, até aquele dia... 

Eu estava sentada na cantina com a Rafa, comendo uma coxinha dos Deuses (se você não gosta de coxinha, favor se retirar. Brincadeira, fica!), quando Maria Clara se aproximou com aquele jeitinho tímido e fofo de sempre. 

- Duda... - Chamou baixinho. - Podemos conversar? - Ô, frasezinha do capiroto. Eu, que nem tenho pau e nunca transei com ela, já achei que tinha engravidado a menina. 

- C-claro! - Respondi surpresa, sem nem conseguir esperar para terminar de mastigar a coxinha. - Senta aí.

O olhar da menina correu para Rafa, que estava ao meu lado, fitando Bife com curiosidade. 

- Vem aqui rapidinho. - Pediu com delicadeza.

Nem titubeei para levantar. Agora percebo que ignorei Rafa da mesma maneira que fiz no ônibus, quando beijei a Maju. Putz, viu?!

- Tudo bem? - Perguntei curiosa para Bife, enquanto a seguia.

- Uh-huh. 

Eu tentava buscar algum assunto enquanto subíamos as escadas para o segundo andar, como da primeira vez em que conversávamos, e nada me vinha a mente. Dessa vez ela não segurava livro algum.

Chegamos a um canto aleatório da escola, pelo menos para mim, pois ela parecia tê-lo escolhido com cuidado. As salas estavam vazias, todos ficavam no primeiro andar durante o intervalo. Apoiei-me no canto da parede e fitei minhas próprias mãos, tentando adivinhar o que Bife poderia querer.

- Olha, eu... - Falamos juntas.

- Opa, estamos conectadas. - Ri. - Começa você. - Bife permanecia séria, parecendo apreensiva.

- Bom, é que... Eu... - Ela soltou o ar com força, balançando a cabeça. 

- Ei, relaxa... Fala quando estiver pronta. - Tranquilizei, lançando o olhar mais compreensivo que consegui. Eu não arriscaria tocá-la. 

Bife concordou com a cabeça, fazendo uma pausa relativamente longa. Nesse meio tempo, mil possibilidades passaram por minha cabeça. No fim das contas, eu estava extremamente feliz por ela ter me procurado, só isso importava.

- Eu quero me desculpar. - Franzi o cenho. Whaaaaaat?! Isso nem estava entre as mil possibilidades nas quais pensei. - É. - Confirmou, lendo minha feição. - Eu agi mal com você, não deveria ter feito o que fiz e... Não foi legal.

- O quê não foi legal? 

- Você sabe, Duda. - Sua voz estava um tanto manhosa. - Por favor, não me faça dizer.

- Você não me chamou aqui só pra pedir desculpas. - Bife abaixou a cabeça. - Me explica. - Incentivei. - O beijo que não foi legal? 

- Para. Você sabe que não é isso. 

- Então me conta o que é, Bife. - Pedi, quase sobrepondo nossas falas. - Se gostou do beijo, o que foi? - Ela permaneceu calada. - Por que me chamou aqui? 

- É que eu não sou como você, Duda, tá legal?! - Bingo, despertei coragem nela. - Você não vai entender...

- Me chamou porque sabe que vou. - Bife passou as mãos no cabelo. O que podia ser tão difícil assim de dizer? 

- Eu gostei do beijo. Você sabe que sim. - Não pude evitar um sorriso de orelha a orelha. - Mas isso não é certo.

- Claro que é, Macla. - Falei carinhosamente, tomando a liberdade de me aproximar. - Eu sei que assusta um pouco, mas... - Peguei sua mão sem encontrar nenhuma resistência. A garota seguia meus movimentos com os olhos. - Tá tudo bem. 

- Não tá, Duda. Pra mim não tá. - Meu olhar murchou. - É por isso que te chamei aqui. Sei que você não tem culpa, você não sabia... - Respirou fundo, interrompendo a si mesma. - Nem sei se eu deveria estar te falando essas coisas.

- Vai, Bife, confia em mim. Pode falar. 

- Não tem muito o que dizer, sabe? - Deu um risinho triste. - Eu tenho uma família bem diferente da sua. Fui criada vendo isso como um pecado. - Inclinei a cabeça levemente para lado, claramente decepcionada. - Isso de ser lésbica. - Explicou, sem jeito. 

- A Rafa também, Bife! Olha... - Tentei animar, afinal, esperança é a ultima que morre. - A mãe dela tinha expulsado ela de casa, né? Agora ela já tá de volta e super bem...

- É diferente. - Interrompeu, ainda de forma carinhosa. - Por favor, tente entender. - Seu olhar era tão triste quanto o meu. - A doutrina na qual cresci, é pesada. Eu não quero ser lésbica. Eu vou mudar esses pensamentos que surgiram e - Balancei a cabeça. Não dá, Bife. - e vou seguir o caminho que acho correto. Não posso me deixar levar como naquele dia. 

- Não fala assim... - Lamentei. Eu adoro isso de "deixar-se levar", "permitir-se".

- Duda, - Interrompeu novamente, antes que eu pudesse argumentar. - estou te pedindo desculpas. Foi horrível o que fiz naquele dia, mas também quero que entenda minhas razões - Concordei com a cabeça. Situação tensa. - e que respeite minha decisão. - Ela esperava que eu dissesse alguma coisa? Puta decisão errada! - Por favor? - Hesitei em respondê-la. - Eu tenho sentido sua falta. - Ai, meu core... Derreteu todo.

- Você vem aqui, me diz tudo isso, diz que gostou do beijo e quer que eu finja que tá tudo bem? 

- Só quero que entenda.

- Tudo bem, eu entendi, mas continuo te vendo da mesma forma.

- Então muda, Duda.

- Mudar?! - Ri pelo nariz de forma irônica. - Maria Clara, eu tô louca pra te beijar agora. 

- Por favor, não faz isso. - Os olhos da garota se fecharam, ela parecia com mais medo do que nas outras vezes.

- E se eu fizer? - Questionei, fazendo-a balançar a cabeça sem saber o que dizer. A resposta é fácil: se eu fizesse, todo o discurso dela seria esquecido. Pelo menos por alguns instantes...

Aproximei-me ainda mais de Maria Clara, fazendo-a dar uma leve recuada, mas apenas a abracei.

- Vai ser difícil, mas prometo me esforçar. - Sussurrei, obtendo um "obrigada" em troca.

O sinal que indicava o fim do intervalo soou, fazendo com que nosso abraço fosse quebrado. Fiz todo o esforço que do mundo para sorrir de modo convincente.

- Bifes novamente? - Fiz referência ao mesmo meme que usei quando nos conhecemos, dessa vez a garota entendeu.

- Bifes! - Riu.