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História Girl Power - One


Escrita por: strangerizando

Notas do Autor


"Ao fim do dia, podemos aguentar muito mais do que pensamos que podemos."
- Frida Kahlo.

Capítulo 1 - One


Capítulo 1.

- O que foi que eu fiz, Kizashi? O que?! Me diga! – Mamãe gritava. Gritava em plenos pulmões, com os olhos arregalados e vermelhos de tanto chorar. De tanto chorar em plenos pulmões. Mamãe estava tentando se defender com os braços, cobrindo seu rosto para tentar se esquivar dos tapas, chutes, murros. Entretanto, de uma coisa que eu sabia, mesmo criança, era que ela jamais conseguiria desviar dos xingamentos e ofensas.

Kizashi era cruel, um monstro. Não ousava chamá-lo de pai, recuso-me acreditar que mamãe teve coragem de lhe proporcionar uma noite de prazer um dia.

- Suas roupas, sua vadia! Quantas vezes já disse que não quero te ver com essas roupas?! – Uma chuva de cuspe pousou no rosto da minha mãe de tão perto que aquele asqueroso estava.

As roupas? O que isso tem a ver? Roupas refletem sentimentos? Justifica alguma coisa?

Eu estava indignada, querendo ajuda-la, mas tinha medo.

Kizashi, irado e fora de si, puxou-a pelos cabelos e tirou mamãe do meu campo de visão. Talvez quisesse me prevenir do que faria dali em diante, mas eu queria ver com meus próprios olhos a injustiça daquele homem. Aquele homem fraco, covarde. Meu peito doía de ódio por ele.

Fui atrás dos gritos da minha mãe e me escondi num canto da sala. Observei cada detalhe, e uma lágrima pousou em meu olho.

Sem piedade, a jogou no chão brutalmente, chutando suas costas em seguida. Os gritos abafados pelo choro me fazia tremer.

- Por favor, pare. Pare, Kizashi! – Mamãe implorava sem forças.

Tapei minha boca para não chorar escandalosamente e ser descoberta por aquele monstro. Tinha medo do que pudesse fazer comigo.

Foi quando arrancou do bolso um pequeno canivete. Tremi como bambu no meio da ventania, eu estava com medo, muito aliás. Mamãe!

Observei-o se aproximar cautelosamente, aproveitando a inconsciência da minha mãe, esparramada no chão. Eu queria interrompê-lo, empurrá-lo para longe. Matá-lo, era isso que eu mais ansiava.

Os gemidos angustiosos faziam meu estômago revirar e o sorriso maligno nos lábios de Kizashi me dava imensa vontade de torturá-lo das piores maneiras. Aquilo era doentio.

Sua proximidade ficou mais curta, agora a lâmina estava a um palmo de tocar as costas roxas da minha mãe. Devia agir, tomar atitude. Esse era meu papel.

- Nunca mais cometerá trairagem, sua vadia!

- MÃE!

- Sakura?

Todos olhando em minha direção, com os olhos esbugalhados. Duas garotas seguravam o riso no canto da sala.

- Está tudo bem com você, senhorita Haruno? – Professor Orochimaru pergunta parecendo estar preocupado. Tranquilizo-o afirmando com a cabeça.

Que vergonha.

Novamente eu estava tendo um daqueles pesadelos. Faz tanto tempo que isso aconteceu que eu deveria ter apagado esses momentos da memória. Me causam arrepios.

Creio que o motivo para tal seja o ocorrido com Karin, minha amiga. Ontem a mesma se encontrava voltando de mais uma festa, porém, quando estava próxima ao metrô dois caras mal encarados a abordaram no meio da escadaria. Ela não me contou todos os detalhes, deve estar traumatizada e não tiro suas razões, mas pelo que sei, eles a cantaram e tentaram leva-la à um lugar mais “reservado”. Recusando, ficaram instantaneamente furiosos e a pegaram pelo braço. Entre chutes e gritos, os dois a carregaram até um beco não tão longe dali, e a colocaram entre eles e a parede. Só sei que um guarda ouviu o escândalo e conseguiu tirá-la da situação, depois disso de nada sei. Vou aguardar o momento certo para perguntar, quando estiver preparada.

Não digo como se eu passasse pela mesma coisa, mas sei como lidar com o caso. É terrível lembrar dos rostos e vir a memória a cena que acaba com a sua vida. Difícil se abrir depois que perde a confiança na humanidade.

Karin me adiantou que não abusaram dela sexualmente, e isso me deixa aliviada, mesmo que o que ocorrera antes não seja tão tranquilizante.

Ela mora comigo em um apartamento. Depois que saímos do orfanato procuramos logo um rumo para tomar nessa vida, e com muito custo e trabalho duro conseguimos, mesmo que a anos e anos depois. Não é à toa que eu esteja estudando com vinte e dois anos de idade.

Sou dispersada novamente quando o professor anuncia o término da aula. Na verdade, ficar naquele local estava me angustiando. Tenho que ir para casa ver como Karin está, fico preocupada com seu estado.

Pego minha mochila e saio da faculdade indo direto à uma lanchonete não tão longe. Sempre compro o almoço, sou péssima na cozinha e minha amiga de cabelos vermelhos não é diferente.

Após comprar a comida confiro as horas no relógio de pulso e calculo mentalmente o tempo que gastarei até chegar no metrô. Coloco meus fones de ouvido e me desligo do mundo por alguns instantes enquanto aprecio meus pops. Desço a escadaria e passo meu cartão pela catraca.

Não demora muito tempo até que o trem chegue, logo procuro um assento e me aquieto. Mando uma mensagem para Karin.

“Já estou chegando com a comida.”

Sei que ela não vai responder, entretanto é melhor informa-la, nunca se sabe.

Observo as pessoas no trem. Todas parecem estar calmas e serenas, mas imagino a angustia em seus corações, afinal, todo mundo tem problemas. Creio que não há um ser que não sofra por causa do seu psicológico, seja no trabalho, na escola, em casa ou na sociedade. Infelizmente, a sociedade reprime muito as pessoas. Excluem aquelas que estão fora dos padrões e endeusam os ricos e nobres. Muitos pensam que os tempos mudaram, porém não tenho tanta fé nisso. Claro, estamos na época contemporânea da humanidade, mas o que mudou realmente foram as estradas, prédios e pontes, porque os seres humanos continuam repugnantes e desprezíveis. Não generalizando, obviamente, existem os que vivem pelo bem, mas o ruim disso tudo é que a porcentagem é bem pequena.

Eu gostaria de sair pelas ruas fazendo o bem para as pessoas, ajudar os pobres e dizer aos jovens que são todos lindos e que devem ser seguros de si, porém como conseguirei fazer tal coisa se não sou sincera comigo? Se não estabeleço isso à mim mesma? Seria hipocrisia dizer algo aos demais sendo que eu não cumpro com os meus conselhos.

Saio de meus devaneios quando o trem para. Desço e caminho por alguns minutos até o meu prédio. Cumprimento o porteiro e subo no elevador. Em instantes me encontro na sala da minha casa.

- Karin? Oi, como você está? – Deixo a sacola no balcão e me sento ao seu lado no sofá. Percebo que está assistindo à programas de moda, é disso que ela gosta. Passo minhas mãos pelas suas costas e a abraço de lado.

- Oi, você chegou! Estou melhor, Sa. Muito obrigada por perguntar. – Ela me encara com um sorriso sincero.

- Que é isso? Sou sua amiga e irmã, claro que devo perguntar. – Retribuo o sorriso. – Hm, está com fome?

- Um pouco. – Karin muda a feição e parece estar envergonhada. Pergunto o motivo e ela recua. – Consegui me sentar aqui com muito custo, minhas costas e braços ainda doem, desculpe.

- Oh, Ka, desculpe-me por ser tão descuidada. – Levanto imediatamente e tiro a vasilha com a comida dela. Volto para o mesmo lugar. – Você é meu bebê agora, cuidarei de você. – Sorrio e levo a comida até sua boca.

A Uzumaki fica com as bochechas vermelhas, penso no quão vergonhoso isso pode estar sendo para ela, mas não há nada que se possa fazer no momento. Além disso, somos conhecidas de anos, não tem porque eu não fazer isso. Eu a amo e vice-versa, somos irmãs, acima de tudo.

Depois do almoço, resolvo ir ao meu quarto. Estou exausta e preciso dormir, entretanto tenho uma pilha de livros para ler e estudar. Faculdade é complicado, requer muito do ser humano.

Sento na minha cadeira em meu cantinho de estudo, ligo o abajur e abro o primeiro livro. “Manual da medicina musculoesquelética”.

Passo as páginas e bocejo. Coço meus olhos.

Meus olhos cansados passam lentamente por cada palavra. Tento me manter concentrada enquanto alguém na minha cabeça diz “durma, durma, durma!”.

Não resisto e pouso minha cabeça sobre a mesa, fecho meus olhos e adormeço em segundos.

- Nunca mais cometerá trairagem, sua vagabunda! – Kizashi berra para minha mãe enquanto aproxima o canivete das suas costas.

Observo tudo com cautela por trás da porta. O rosto vermelho de tentar segurar o choro e os gritos de pavor. Olhando a situação que Mebuki se encontra, procuro forças interiores capazes de fazer criar coragem e ir até lá, enfrentar aquela besta cruel.

Aperto minhas mãos contra o peito e cerro meus olhos quando o grito angustiante vem à tona. Ele a feriu. Ele a matou.

Tento olhar para ela, mas não consigo. Não consigo abrir meus olhos, é como se ele estivesse cerrado, tampado. Como se alguém tivesse o encobrindo.

Meu sono fica pesado, não consigo acordar. Estou presa nesse lugar, presa atrás dessa porta. Não consigo acordar, mas preciso. Os gritos se tornam cada vez mais altos, é impossível. Não consigo tapar meus ouvidos, não quero ouvir isso.

- Quem está fazendo isso? Por que?! – Tento gritar enquanto minha boca está tampada. Sinto o gosto metálico do sangue em meus lábios. Levanto meus olhos e encontro o canivete próximo ao meu nariz.

- Quer ser a próxima?

- Sakura?

- Han?

Vejo Karin apenas de toalha na porta.

- E-eu... Bem, me desculpe incomodar, você estava dormindo... – Ela olha para todos os cantos do quarto menos para mim, deve estar realmente nervosa.

- Quer ajuda no banho? – Franzo a sobrancelha.

Karin abaixa a cabeça ligeiramente e confirma. Rio de lado. Posso ajuda-la nisso, mas não deixo de pensar que será um pouco constrangedor para ambas.

Levanto da cadeira e caminho em sua direção, logo chegamos no banheiro e eu deixo a banheira encher, por ser mais confortável para ela. Ficar de pé pode estar sendo uma tortura, então é melhor evitar.

Quando finalmente enche, a ajudo a entrar com cuidado. Sento na beirada e apanho o shampoo ao lado.

- Karin, não precisa ter vergonha em me pedir essas coisas, ok? – Esfrego sua cabeleira vermelha.

- Eu sei disso, mas não é tão fácil como parece.

- Imagino... – Massageio sua cabeça levemente. – Seu cabelo é tão lindo, ah, sua imprestável! – Procuro mudar de assunto. Ela ri e me olha de canto.

- Jamais será igual à esses fios cor de rosa, haha. Lide com isso. – Rio novamente.

Gosto de ficar perto da Karin, ela me dá o conforto que preciso e me sinto aberta para lhe contar os segredos mais valiosos do mundo. Ela sabe do meu passado, mas não contei ainda sobre os pesadelos que tenho a cada sonho. Karin está num momento delicado, não posso preocupa-la com meus problemas.

- Eu estava descendo as escadas do metrô, foi aí que me pegaram. – Paro o que estava fazendo e escuto com atenção.

- Karin, não precisa dizer se...

- Eu consigo agora. Começaram me cantando, jogando aquelas coisas toscas para mim, como se eu fosse cair nelas. Babacas. – Observo que brinca com a espuma. – Então, quando se tocaram que eu não ia com a cara deles, resolveram me puxar. Pegaram meu braço e apertaram com força, me empurrando para um canto escuro. Eu só sabia gritar, estava em pânico. – Ela para de mexer com a espuma e olha fixamente para a parede branca. – Então me colocaram contra a parede e disseram, ou melhor, ordenaram que eu tirasse a minha roupa. Eu recusei, óbvio, não ia mostrar meu corpo para àqueles asquerosos. Mas eles foram brutos comigo... Começaram beijando meu pescoço... – Percebo a melancolia em sua voz. Deve estar chorando, porém não a impeço. – Eu batia nas suas costas, mas nada os parava. Depois... depois desceram os beijos até meus seios. Como meu vestido tinha um decote, não foi difícil para eles sentirem minha pele. Foi tão horrível sentir aqueles lábios nojentos em mim, Sa...

- Karin...

- Eu gritei mais alto, até que um deles aproximou o bafo do meu rosto e tentou me beijar, mas eu virei o rosto. Outro passava as mãos pelas minhas pernas, e eu as mexia incontrolavelmente. Tremia demais. Mas antes que algo pior acontecesse, um homem veio correndo e lhes socou o rosto. Eu estava encolhida no chão enquanto ele os espancava. Estava tão envergonhada.

- Foi ele que a trouxe aqui, certo?

- Sim.

Um silêncio estranho toma conta do lugar. Resolvo não falar nada, Karin talvez tenha terminado de contar. Toda a informação faz minha cabeça doer e meu coração se encher de raiva. Entretanto, quero deixar minha amiga mais confortável possível, quero fazer com que se esqueça disso, pelo menos agora.

Passo a água por suas costas levemente e ela abaixa cabeça, parecendo estar relaxada. Massageio suas costas por alguns minutos.

- Preciso ir trabalhar.

- Tudo bem, muito obrigada.

A ajudo sair da banheira e a enrolo na toalha, a mesma diz que consegue se virar dali em diante então confio. Vou ao meu quarto para trocar de roupa e ir para a lanchonete.

Sim, trabalho numa lanchonete como garçonete. É um bico que está me tirando do sufoco, está dando para pagar a faculdade e os custos da casa, pelo menos.

-

Anoto o pedido de uma mesa e sigo para o balcão.

- Uma porção de fritas, refrigerante e uma cerveja. – Deixo o papel sobre a bancada e olho em toda a lanchonete buscando mais algum cliente a fim de fazer um pedido.

O acontecido com Karin volta a martelar na minha cabeça junto ao pesadelo. Minha cabeça dói e eu tomo mais um gole d’água para ver se faz algum efeito. Remoer aquela história agora não fará bem ao meu trabalho, pelo contrário, só irá me prejudicar.

- Mesa cinco, hambúrguer e suco natural de laranja. – Pego a bandeja e vou até a mesa entregar o pedido.

- Qualquer coisa é só chamar. – Sorrio simpática. Coloco a bandeja debaixo do braço e caminho até outra mesa, com um cara de cabelo preto com o braço estendido. – Boa noite, qual é o seu pedido?

Ouço alguns cochichos dos outros rapazes presentes e percebo que eles me olham de cima a baixo.

- No momento, só cinco cervejas bem geladas. Consegue trazer? – Qual é a desse cara? Só pode estar brincando comigo. Sou uma mulher nada fraca, se é o que está pensando.

- Consigo. – Digo apenas e anoto no bloco. – Se é apenas isso, me deem licença.

- Só não demore, gatinha.

É a gota d’água. Já não basta o que minha amiga passou na noite anterior e agora é comigo. O que esses homens querem, afinal de contas? Apenas um corpo para satisfazer seus desejos? E olha que aquele babaca ainda nem tomou um gole de álcool. Não precisa estar bêbado para dizer idiotices.

Coloco o papel no balcão e aguardo uns instantes até o pedido ficar pronto. Penso em colocar outra pessoa em meu lugar para ir até lá, e felizmente encontro outro garçom. Ponho a bandeja em seus braços e o empurro até aquela mesa. Sinceramente, não estou com cabeça para nenhuma gracinha.

Depois disso, volto a trabalhar tranquilamente. Levo e trago bandejas, anoto e entrego pedidos. Tudo rotineiro, como de costume.

O local onde trabalho não é muito chique e também não tão simples, o dono daqui é bastante rígido quanto a limpeza e as vezes fico encarregada de cuidar dos banheiros. Gosto dessa lanchonete, mas não sonho em ficar aqui o resto da vida. Sonhar pequeno não é para mim.

- Sakura, a mesa nove está chamando. O que está esperando? – Sou chamada a atenção pelo gerente e corro apressada até a mesa, e para minha infelicidade é a dos caras mal encarados.

- A conta. – Pego o papel com os valores e calculo mentalmente. Sou boa em matemática, não vou mentir.

- 1000 ienes. – Coloco os braços para trás. O observo pegar o dinheiro na carteira. Ele estende o braço e quando vou pegar, o rapaz desvia.

- Uma moça tão bonita trabalhando num lugar como esse, acho um desperdício. – Permaneço séria para não desferir um tapa na cara dele. – Devia ser modelo ou algo do tipo. – Seus amigos riem horrores.

- Deu 1000 ienes, senhor. – Insisto e ele finalmente me entrega o dinheiro. – Obrigada, voltem sempre. – Digo isso automaticamente, mesmo desejando internamente nunca mais vê-lo na minha vida.

Guardo o dinheiro no bolso e enquanto pego os copos da mesa, um outro rapaz muito parecido com aquele que me cantava vem falar comigo.

- Me desculpe pelo meu irmão, Itachi é sem noção quando bebe.

Vejo sua cara envergonhada. Com certeza sair com um cara chato assim deve ser uma tortura.

- Seria bom se fosse apenas quando estivesse sob efeitos da bebida. Estou acostumada com isso. – O encaro seriamente enquanto avalio seu perfil. Com os cabelos cobrindo metade do rosto é meio complicado saber sua próxima reação. Por fim, ele me cumprimenta e deixa o local.

É cada uma que me aparece.

Levo pela centésima vez mais uma bandeja até a bancada, e é assim até tarde da noite. 


Notas Finais


Reflitam.
Até a próxima.


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