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História Girl Power - Two


Escrita por: strangerizando

Notas do Autor


“Se cada homem (...) fosse obrigado a declarar o que sente a respeito de nosso sexo, encontraríamos todos de acordo em dizer que nós nascemos para seu uso, (...) reger uma casa, servir, obedecer e aprazer aos nossos amos, isto é, a eles homens.” - Nísia Floresta.

Capítulo 2 - Two


Eu estava tentando pegar no sono em meu quarto. Fazia de tudo para fechar meus olhos e sonhar com algo bom, ou seja, algo que eu não desfrutava naquele momento, já que Kizashi estava tendo mais um de seus ataques de fúria. Ele se encontrava bêbado dessa vez, voltando na madrugada de mais um de seus bares, não há como saber qual de modo que ele frequentava tantos todos os dias. E como se não bastasse o seu estado caótico, ainda descontava a ressaca de sua bebedeira na minha mãe.

Sabia que ele já tinha chegado porque a gritaria dentro de casa veio acompanhada. Kizashi berrava coisas como: “Onde está o jantar?!”, “Por que ainda está acordada? Estava tendo caso com algum filho da puta?”, “Vadiar combina mesmo com você!”. Meu coração doía só de ouvir essas coisas, mesmo que não fosse eu que recebesse-as.

A incapacidade da minha mãe em reagir me deixava angustiada. Vê-la recuar e se sentir fraca perante Kizashi me machucava tanto.

Ouço um barulho alto vindo da cozinha. Meu coração acelera e eu imediatamente corro para lá em busca de informações. Ele bate na mesa, pisa forte no chão e mostra sua autoridade. Mebuki, encostada num canto da parede, apenas chora. Observei essa situação por incontáveis vezes na minha infância e adolescência.

Resolvo agir, mesmo que impotente.

Seu monstro, pare de fazer isso com a minha mãe! Eu te odeio! – Grito para ele morrendo de medo. Logo ele se aproxima de mim e se abaixa para ficar no mesmo tamanho que eu. Não faça isso com ela, nunca mais! O encaro com os olhos cheios de lágrimas e o corpo tremendo, apavorada.

Que pedido mais doce vindo de uma criança tão nojenta.

Kizashi, não ouse relar um dedo na minha filha, está entendendo? Mamãe me segurou por trás e me aproximou de si. Juntas, estávamos encostadas na parede, impotentes.

O que fará se eu relar um dedo na sua filha?

“Na sua filha”. É tão simples o modo com que ele usa essas palavras sem se dar o favor de raciocinar que também sou sua filha, que também sou sangue do seu sangue. Mas na verdade, isso é um favor para mim.

Mamãe não responde sua pergunta e então Kizashi exibe um sorriso amarelo. Ele me puxa pelo braço e estende sua mão aberta.

Era essa a resposta que eu esperava. – E então Kizashi me dá um tapa no rosto.

Acordo desnorteada. Sento na cama e olho para todos os lados me certificando de estar sozinha. Passo minhas mãos pelo rosto e bagunço ainda mais meus cabelos. “Por que isso insiste em voltar à minha memória? Eu quero esquecer!”. Coloco meus pés no chão frio do quarto e caminho até o banheiro para tomar um bom e quente banho.

Após fazer a minha higiene matinal, vou até a cozinha preparar um simples café da manhã com ovos mexidos, café com açúcar, pães e frutas. Ajeito tudo na mesa e me sento. Karin deve estar se arrumando para a faculdade, como hoje não tenho aula estou livre o dia todo. Me volta a mente todo o acontecido com a minha amiga. O jeito que ela me contou o caso ainda me dá arrepios. Karin parecia tão amedrontada na noite em que isso aconteceu.

Eu estava deitada na minha cama quando alguém começou a bater na porta do apartamento. Estranhei já que Karin sempre anda com as suas chaves, mas mesmo assim fui atender, e meu coração quase saltou pela boca quando a encontrei quase despida nos braços de um rapaz. A colocamos no sofá e corri para trazer um copo com açúcar. Ela chorava tanto que pensei que toda a água do seu corpo fosse sair pelos olhos.

Karin não conseguia falar o que havia acontecido, então a deixei quieta em sua cama, e logo quando adormeceu perguntei ao cara que a acompanhava o que tinha ocorrido. Mas ele não soube me falar direito, apenas contou que a tirou dos braços de uns homens na estação do metrô.

– Hm, o que anda deixando minha amiga tão distraída? – Ela aparece na cozinha, imediatamente sentando ao meu lado e apanhando uma fruta da cesta.

– Do que está falando, cabelo de fogo? – Coloco meu pedaço de pão na boca.

– Não se faça de besta. Olha, estou indo para a faculdade. – Ela se levanta e deposita um beijo na minha testa. Percebo o tom da sua voz e imagino que tenha superado o acontecido. Óbvio que isso não acontece da noite pro dia, mas ela está disfarçando bem. – E eu estou melhor, Sa. Não se preocupe comigo.

– Vou tentar, boa aula! – Aceno e ela sai pela porta da sala. Suspiro fundo e volto a tomar meu café. – Bom, o que sobrou para mim foi a faxina.

Recolho a comida e lavo os pratos. Coloco meu avental na cintura e começo a esperada faxina de final de semana. Normalmente essas coisas sobram para mim porque Karin é uma perdição com utensílios de limpeza, sempre quebra ou derrama alguma coisa, então deixo a tarefa sob meus comandos. Antes cansada do que com a casa destruída.

Levanto os tapetes, passo um pano nos armários, mesas e criado-mudo. Deixo todos os móveis brilhando e me sinto orgulhosa pelo feito. Creio que puxei essa habilidade da minha mãe, ela era obcecada por organização.

Varro toda a casa e depois passo apenas um pano umedecido para aromatizar o ambiente. O chão fica tão brilhoso que quase consigo ver meu reflexo na cerâmica.

Sento no sofá cansada e logo depois de fechar meus olhos, ouço meu celular apitando na cozinha.

– Ah, eu mereço.

Vou até lá e vejo uma ligação vinda de Karin.

– Sakura? Oi, eu vou almoçar com uns amigos hoje. Tudo bem para você?

– Não vejo nenhum problema nisso. Divirta-se.

– Eu te amo! Nos vemos mais tarde, bye.

Ótimo, agora terei que preparar meu almoço.

Largo o aparelho na mesa e fico pensando no que fazer para comer. Acho que vou tentar o básico para não botar fogo na cozinha. Pego uma panela e um pacote de macarrão instantâneo no armário. Coloco água no recipiente e o levo ao fogo.

– Pelo que eu sei, tenho que deixar isso ferver. – Então sento na cadeira e observo cada ação da água na panela para não cometer a gafe de errar nenhum passo. Meu celular apita e eu fico entre pegá-lo ou não, mas no fim acabo pegando-o. É uma marcação de Karin num post, um vídeo de gatinho para ser mais específica. Dura menos que dez segundos mas eu acabo dando replay milhões de vezes, e então vejo a água quase sair pela panela como se tivesse ganhado vida.

Fico sem saber o que fazer, apenas tiro o macarrão do pacote e jogo na panela. Alguns pingos voam na minha cara e eu saio correndo a procura de um pano para me limpar, enquanto isso o meu fogão vira uma verdadeira zona. Limpo meu rosto e quando volto a minha posição de cozinheira, me decepciono ao ver o macarrão queimado no fundo da panela.

– Aish, por que isso sempre acontece? – Falo comigo mesma.

Depois do ocorrido resolvo sair para comer fora e gastar um pouco do dinheiro que me resta, não posso ficar sem me alimentar. Tiro minha aconchegante roupa para colocar uma calça preta e uma blusa de manga. Pego as chaves de casa e vou até um restaurante mais próximo.

Meu sonho de consumo é poder comprar um carro para não precisar andar para lá e para cá, além de ser cansativo desgasta muito meus sapatos.

Chego no restaurante e logo me sento num lugar perto da janela, gosto de ver como os carros se movimentam apressadamente nas ruas. Mas meus olhos não vão em direção aos automóveis, e sim para Sasuke, o homem que estava na lanchonete ontem.

 

Observo mais claramente seus detalhes, a forma como a franja encobre seu rosto. Ele aparenta ser um cara sério, que não aceita brincadeiras tão facilmente e que detesta essa nova geração. Vendo seu perfil, deve ser mais um daqueles caras machistas que querem somente uma noite de prazer com uma mulher.

Ou talvez ele tenha uma esposa e a deixa em casa sozinha cuidando das crianças enquanto finge que vai trabalhar quando na verdade sai para a casa da sua amante. Bem típico.

Semicerro meus olhos e observo cada ação sua, suas expressões faciais e tudo mais. Ok, talvez isso esteja soando estranho mas não estou sendo uma maníaca por esse cara, só quero descobrir se ele está realmente traindo sua esposa.

– Moça, qual será o seu pedido? – O garçom vem até mim, e por eu estar muito concentrada acabo o ignorando. – Moça... Qual será o seu pedido?

– Oh, me desculpe. Hm... – Olho rapidamente para o cardápio e escolho macarrão com molho branco, salada verde e um suco natural de laranja. Espero ansiosamente o garçom sair para eu voltar a minha investigação secreta com o tal Uchiha.

Num movimento rápido, ele levanta a cabeça e olha para o lado de fora da janela e eu acompanho seu olhar, até encontrar o meu. Fico extremamente vermelha e procuro algo para cobrir o rosto, como o cardápio foi embora apenas viro a cabeça em direção ao vidro transparente. Burra, burra, burra!

Com o canto do olho vejo se ele ainda está a me encarar e respiro aliviada ao perceber que ele já não está mais ali.

Por mais que esse cara esteja traindo sua esposa, ele também “me ajudou” na noite anterior e de alguma forma me sinto agradecida por isso. Quer dizer, ele não me ajudou de fato, mas tornou a situação com seu irmão menos constrangedora.

O meu pedido chega e eu começo a comer, morrendo de fome. Se estivesse em casa eu atacaria esse macarrão como um leão faminto.

Fico tão concentrada no meu almoço que esqueço das coisas ao meu redor, sinceramente eu estava com muita fome, chega ser estranho. Ou pode ser que seja pelo nervosismo ao me deparar com um cara me fitando, não sei.

Eu esperava estar livre de ver aquela cara bonita novamente, até Sasuke aparecer mais uma vez vindo em minha direção. Ele deve ter ido pagar a conta e com certeza vai passar pela minha mesa. Tomara que ele não olhe para mim! Sasuke parece passivo e sereno, sem muitas expressões faciais, de fato um homem muito bonito. Com certeza deve ser aclamado pelas mulheres.

Esqueço da sua presença e volto a comer, até ele passar pela minha mesa e eu sentir seu perfume masculino invadir meu olfato. Um arrepio percorre meu corpo e brigo comigo mesma por estar sendo desconcertada por um cara que mal conheço.

Mais uma vez estou indo para casa de apé. Sinceramente, eu preciso comprar um carro. Mas o que me deixa feliz, por um lado, é que dessa maneira eu posso observar melhor as pessoas ao meu redor, e isso não é possível quando se está a cem por hora.

Hoje em dia existem diversos tipos de pessoa, na verdade, esses “diversos tipos” já existiam a um bom tempo atrás. Por exemplo, na Grécia Antiga homem pegava homem mesmo, na cara dura. Atualmente as pessoas procuram criticar uma coisa de mil anos atrás como se fosse abolir o acontecido, mas não vai. Se o planeta está mudando com o tempo e todos estão se aperfeiçoando à isso, por que é que não podem fazer o mesmo em relação a sociedade?

Avisto um grupo de alunos voltando da escola. Com certeza deve ser escola particular, dá para perceber de cara pelos uniformes sofisticados. Logo atrás está uma menina andando meio reclusa em relação aos outros, parece estar com vergonha ou tímida. Paro de andar pela calçada e a observo. Deve estar apaixonada por algum garoto. É o que penso primeiramente, até eu ver seus sapatos surrados no pé.

Desculpe, meu amor. Eu realmente queria poder comprar um sapato novo para você, mas...

– Tudo bem, mamãe. Eu entendo.

Eu sabia bem o motivo para eu não ter um sapato bonito como o resto da minha turma, era meu pai. Ele trabalhava e gastava todo seu dinheiro com bebidas, não sobrava nada para a gente. Minha mãe dependia do seu dinheiro para sustentar a casa pois ele não a deixava trabalhar fora de jeito nenhum, mas como ela faria isso se não tinha um tostão? Eu não estava com raiva por ter uma roupa simples, nem ligava para isso, só queria que aquele imundo respeitasse mais nossa família.

Quando chego na escola vou correndo até meu armário para guardar meu sapato surrado e colocar o da escola. Shion e Ino aparecem na mesma hora exibem os seus belos e engraxados sapatos. Eles eram tão brilhosos que eu podia ver meu reflexo neles.

– Minha mãe comprou para mim naquela nova loja que abriu. Exclusiva de lá, só tinha esses pares. – Tiro os meus e guardo no armário. – E você, Sakura? Já visitou aquela loja?

Sabia que elas estavam brincando com a minha cara e eu não estava disposta a participar da gozação. Apenas deixei as duas rindo de mim enquanto eu ia para o segundo andar da escola.

Passaram-se as oito horas de aula. Eu estava cansada e teria que enfrentar mais uma vez o homem asqueroso da minha casa. Estava totalmente indisposta para isso. No caminho, Shion e Ino mais uma vez mostram seus belos sapatos para os outros alunos. Normalmente eles andam em grupo, os mais “populares”. Sei que isso soa clichê mas é a verdade.

Entristeço-me pelas minhas condições. Eu também queria ter um calçado caro, uma mochila importada e uma família contente, sem brigas. Esse era o luxo da qual eu não desfrutava, a não ser em sonhos. Dormir era a melhor parte do dia pois em meus sonhos eu tinha a liberdade de imaginar um calmo e amigável almoço entre pai, mãe e filha.

Eu me via claramente naquela menina, ela me representava há treze anos atrás, quando ainda tinha uma série de problemas que não eram de matemática.

A garotinha vira a esquina e volto com o meu percurso para casa, provavelmente já eram uma da tarde.

Em casa, resolvo tomar um banho para tirar o suor do corpo. Querendo ou não eu acabei soando na minha caminhada até o apartamento. Arranco minha roupa e vou para debaixo do chuveiro, deixando a água quente percorrer meu corpo. Depois me enrolo numa toalha e troco de roupa, coloco uma calça de moletom e uma camiseta larga. Nem sutiã me dou o trabalho de vestir.

Vou na cozinha e faço um café. Volto novamente para o quarto e pego meus livros para estudar. Não estudo somente para provas, acho importante saber do conteúdo com antecedência.

Se passam algumas horas até eu escutar alguém batendo na porta do quarto.

– Oi, Saky, cheguei! – Karin arreganha a porta e pula na minha cama.

– Sério? Não me diga! – Digo irônica. – Onde é que você estava?

Eu realmente me preocupo com a Karin e procuro me manter informada sobre tudo o que ela está fazendo. Não que eu queira parecer chata, só quero parecer ao menos um pouco com a mãe que ela não teve.

– Eu estava conversando com uma amiga. – Pelo seu sorriso no rosto imagino que tenha rolado mais do que uma conversa.

– Uma amiga, hm? Quem era? – Pergunto parecendo desinteressada enquanto leio meu livro.

– Era a Konan. Acho que você a conhece. – Karin continua com o sorriso no rosto enquanto fala da garota. Devem ter uma relação muito forte.

– Ah, sim, conheço. Ok, agora sai do meu quarto porque estou estudando.

– Sua grossa. – Ela levanta da cama e eu taco-lhe um travesseiro. Rimos e então volto a me concentrar nos estudos.

Não posso nem pensar em reprovar nessa matéria, senão é mais uma grana para voltar atrás do prejuízo.

Meus olhos ficam pesados e eu vejo a hora no relógio e percebo que já são oito horas. Estou faminta e indisposta para cozinhar alguma coisa. Guardo meus materiais e vou até a sala. Pergunto se Karin topa pedir uma pizza, mas ela recusa porque diz que está de dieta.

– Se continuar emagrecendo vai acabar sumindo.

Sinto meu celular vibrar no bolso e então pego para ver a mensagem, e é de um número desconhecido. Fico meio receosa em responder mas o faço.

Sakura Olá, quem é?

Desconhecido Sasuke Uchiha. Esse é número da Sakura Haruno, certo?

Sasuke? O que ele quer comigo? E como conseguiu meu número?

Sakura Sim, mas como conseguiu meu número? Não lembro de ter lhe passado nada.

Sasuke Ah, eu peguei com o gerente da lanchonete.

Fico boquiaberta. Por que esse cara quis meu número? Qual é, investigação agora?

Sakura Sasuke, você não pode sair por aí pedindo o número das pessoas para outras pessoas sem autorização!

Sakura Desculpe, mas vou ter que lhe bloquear. Mal o conheço.

Sasuke Se é esse o problema podemos nos conhecer. Que tal sair comigo hoje?

Mas é a gota d’água! Esses Uchiha são mesmo uns sem vergonha. Primeiro sou cantada na maior cara de pau e depois o irmão mais novo me convida para sair. Eu devo ter feito alguma coisa para essa família, não é possível.

Não respondo sua mensagem e então me sento ao lado de Karin no sofá. O convite fica martelando na minha cabeça.

– O que você tem, Sakura? Parece tensa. – A ruiva me pergunta.

– Um cara de pau me chamou para sair. – Ela franze a sobrancelha, confusa. Lhe explico o episódio anterior e Karin entende o que quero dizer, mas sugere que eu deva aceitar o pedido. – O que? Está maluca?

– Sakura, por favor. Ele só está te chamando para sair, qual o problema nisso? Em nenhum momento ele te assediou ou cantou, quem fez isso foi seu irmão tosco, mas Sasuke parece ser mais respeitoso. E você com essa cara emburrada assusta qualquer um, é óbvio que ele não teve coragem para pedir seu número.

Paro por uns segundos e penso melhor. Até que ela tem razão. Sasuke não me cantou como Itachi fez, até pediu desculpas pelo ocorrido, de fato ele é mais racional. Mas e sua esposa? Não quero ser sua amante.

Talvez ele nem tenha esposa, não sei.

– Ok, eu vou sair com ele. Mas só porque estou com fome. – Karin ri alto. 


Notas Finais


Até a próxima.


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