Deito na minha cama, abro um livro qualquer que está largado no chão. Leio as duas primeiras páginas, percebo que ele é uma bosta, talvez porque seja um dos milhares de livros estranhos de autoajuda que umas das minhas tias que não lembro o nome me deram. Que deprimente.
Sou a Lua. Sim, meu nome é Lua, tipo o astro. Não é Luara, Luana. Lua, só Lua. Lua Chase Porter. 16 anos, Frankfurt, Alemanha. Emancipada com orgulho de pais que me perseguem 24 horas por dia. Cabelos castanho tingidos de cinza(antes verdes), geralmente prendidos em tranças, olhos castanho avermelhados, pele clara e uma coleção interminável de tênis.
Sim, só tênis, outras coisas me dão desconforto. Isso incomoda a maioria das pessoas a minha volta( tipo a minha família cof cof ), elas falam que eu tenho que ser mais "feminina" e eu fico tipo: meu pau caralho. Mas eu não largo meus tênis, nunca na vida, talvez por pura rebeldia.
Ouço uma batida na minha porta. Devem ser meus pais me oferecendo uma cota infinita de vantagens sobre a vida e o universo, só pra ver se eu volto pra casa. Nunca vai acontecer obviamente.
É o Carter, o entregador. Sim, eu conheço o entregador. Por que eu conheço o entregador? Ah, ele estuda comigo, e ocasionalmente me traz os tênis que eu pedi na internet. Geralmente ele vem, a gente joga um papo fora, toma um refri e ele vai embora.
–Hey Lua.
–Oi Carter.
–Por mais que seja estupido perguntar foi você que pediu esses Vans femininos estampados?
–Hmmmmmm... Acho que não, deve ser o senhor Túli do andar de cima.
–Aquele com a regata branca e a pança do tamanho da sua porta?
–Esse mesmo.
Demos risada. Acho que sou a única menor nesse prédio, acho que também sou a única que sabe usar um computador.
–Qual a estampa dessa vez?
– Nuvens.
– Ah, por quê?
–Bom, eu quero sentir que estou andando no céu por pelo menos um tempinho. Refri?
–Ah, não, não tenho tempo. Vim só entregar isso daqui mesmo. Não posso demorar. Tchau.
–Tchau.
Ele vai embora. Sento no sofá. Tiro meus tênis da caixa e calço, eles são incrivelmente lindos e me lembram manhãs ensolaradas. Dou um giros com eles, não estou andando nas nuvens, mas eles me dão a breve sensação de liberdade que todos sonhamos em ter.
A felicidade de mais um par para os infinitos me faz sorrir.
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