História Give me love, please - Capítulo 2

Eu não era a melhor pessoa do mundo, mas eu também não era a pior delas. Eu já estava acostumado a ganhar tudo de mão beijada, sem grandes esforços. Nunca fui obrigado a lutar por nada, e isso não mudaria.
Meu nome, Peeta Ryan Mellark. Filho do astro do rock, Haymitch, o dono de umas das maiores fortunas da Califórnia. E se meu pai tinha grana, eu não precisava de mais nada para ser feliz, e chegar onde eu queria. 
- Mamãe está esperando você na sala. - revirei os olhos. - A filha dela chegou. 
- Eu não vou descer. - falei, sem tirar os olhos do celular. 
- Vai. Claro que vai. - Prim arrancou o celular de minhas mãos. - Agora. 
- Ei, pentelha. Me devolve! - pulei da cama, indo em direção a ela, que saiu correndo em direção ao corredor. - Primrose! - gritei, sem obter resposta. - Argh.
Calcei meus chinelos, e saí batendo pé do quarto, enquanto seguia minha irmã mais nova pelos corredores da mansão. 
Eu tinha oito anos, e Primrose quatro, quando Effie e meu pai, se casaram a nove anos atrás. Na época, eu não entendia muita coisa, mas anos mais tarde, eu descobri, lendo revistas antigas, que ela havia abandonado uma vida para ficar com meu pai. 
Há poucos meses, Effie finalmente contou a mim e a Primrose, que ela havia deixado uma filha para trás. Que a menina vivia com o pai, mas que ele acabou adoecendo, e que, talvez, ele não resistisse, e se caso o pior acontecesse, ela iria mandar buscar a garota. 
Prim ficou eufórica ao saber que teria uma garota em nosso meio. Fez planos, e ajudou Effie na decoração do quarto, e nas compras, para agradar a minha nova "irmã". 
E eu? Eu apenas torci para que ela fosse gostosa. E apesar dos pesares, não me decepcionei. 
- Querido. Você apareceu. - Effie veio me encontrar, ao pé da escada. 
- Eu tinha escolha? - questionei baixo, e ela fingiu não ouvir. 
- Katniss está aqui, e eu mal posso esperar para jantarmos todos juntos. - a mulher saiu, me puxando pela sala. - Sente. Logo ela irá aparecer. 
- Pai. - supliquei ao meu velho, que mantinha sua atenção no jornal. - Por favor. 
- Não posso fazer nada, garoto. Apenas finja ser educado. - foi a resposta dele. 
- Desde que ele não se espelhe em você. - foi a resposta da minha irmã. 
- Devolve meu celular. - estiquei a mão sobre mesa, para alcançar a minha irmã. 
- Calma, jovem. - ela sorriu. - Depois do jantar, se você se comportar. 
- Eu vou te matar. - sussurrei, e ela piscou pra mim.
Passaram-se minutos, até que Effie finalmente atravessasse a porta da sala de jantar, seguida pela coisinha estranha e bela, que ela chamava de filha. 
Meu sangue ferveu, apenas por ver aquele sorriso falso, desenhando aquele rosto pálido que ela tinha. Eu não precisava de muito mais, para saber que eu odiava aquela garota, mais do que qualquer outra coisa no mundo. 
- Essa aqui é a Katniss. A minha filha. - Effie sorriu, animada. 
- Boa noite. - foi o que a loirinha disse. 
- Boa noite. Sou Haymitch Abernathy Mellark, ou só Hay do Rock. Entendeu o trocadilho? - foi o que meu pai disse, e eu revirei os olhos, com a piada sem graça.  - Seja bem vinda a família, "Bella Ragazza". 
- Não gaste seu italiano com ela, pai. - provoquei, enquanto encarava a loira. - Ela só entende a linguagem dos cavalos.
- Que amor. Eu também acho, que nos daremos muito bem, irmãozinho. - a cretina sorriu, fazendo todos sorrirem.
- Primrose Mellark. - minha irmã abraçou a garota, sem grandes rodeios. - Estou muito feliz em ter você aqui. Vamos ser grandes amigas. 
- Balela. - resmunguei, me atirando na cadeira. 
- Peeta. - minha irmã me olhou, com repreensão. 
Meu celular. 
- Peeta Ryan Mellark. - me coloquei em pé, e entendi a mão em direção a garota. 
- Katniss Elizabeth Everdeen. - ela apertou a minha mão, enquanto me dirigia um sorriso. 
- Eu odeio você, coisinha. - sussurrei entre os lábios. 
- Não mais do que eu odeio você, mauricinho. - ela respondeu, soltando minha mão em seguida. 
O jantar transcorreu tranquilo, na medida do possível. Primrose estava feliz com a presença da estranha na família, e meu pai não parecia diferente. Já Effie, era a animação em pessoa, enquanto Katniss permanecia em silêncio, só respondendo o que Prim perguntava, e vez ou outra, fazia algum comentário sobre os assuntos que meu pai falava. 
Effie estava feliz, mas, acredito que, todos podiam notar que Katniss e ela, agiam de maneira estranha, quando precisavam falar sobre algum assunto entre elas. Talvez ainda tivessem assuntos a resolver. 
Eu passei boa parte da noite analisando a loira sentada a minha frente. Ela tinha o rosto pálido, acompanhado de inúmeras sardinhas, que se concentravam em suas bochechas. Seus olhos eram cinzentos brilhantes, e quando ela sorria, pequenas covinhas se concentravam abaixo de seus lábios. Eu jamais havia visto aquelas covinhas em outra pessoa. 
Ela não era feia. Ela era apenas diferente de todas as garotas que eu já havia visto, beijado e até mesmo ido para a cama. Algo nela me chamava atenção, mas eu não sabia ao certo o que era, e pra ser sincero, eu não fazia questão de saber. Eu a detestava, e ela ainda iria me pagar muito caro, por ter feito o que fez, com meu carro. 
- Você tem dinheiro. Esquece isso. - Finnick se escorou ao meu lado, no carro. 
- Eu ter dinheiro ou não, não muda o que ela fez. - soltei com raiva. 
- O carro já foi consertado. - Marvel chegou ao nosso lado, com a bola de basquete embaixo do braço. - Vamos nos concentrar nos jogos. 
- Sua sorte, é uma merda. - Cato quem falou dessa vez. - Morando com ela, na mesma casa? 
- Ela, pelo menos, é gostosa? - Finnick questionou, rindo. 
Claro que é. 
- Não. Ela é estranha. - falei, puxando meu celular do bolso. - As roupas são de interiorana, e ela anda em um fusca. Quem, em sã consciência, andaria em um fusca azul? 
- Ela. - Cato apontou com o olhar, e eu segui sua indicação. 
O fusca azul havia sido estacionado a poucos metros de onde estávamos, e dele, desceu a loira com quem eu teria que dividir o mesmo teto, e sabe-se lá mais o que. 
Ela vestia uma calça jeans surrada, e extremamente apertada, enquanto, em seu tronco, estava uma camisa xadrez. E, apesar da sua vestimenta deixar mais evidente o seu lugar de origem, havia um problema, que me deixou, levemente, desconcertado. Aquela maldita camisa xadrez, que deveria deixa-la com cara de caipira, havia sido amarrada acima do umbigo, e droga... 
- Vai mentir na casa do caralho, Peeta. - Finnick se desencostou do carro. - Ela é linda. 
- E gostosa. - Marvel completou. - Gostosa pra caralho. 
Revirei os olhos para o exagero de Finnick, e o comentário de Marvel, antes de voltar a minha atenção para ela. A loira que desembarcava de um fusca azul, como se ele fosse um Maserati de última geração. 
Ela bateu a porta do fusca com força, e nem isso fez com que a mesma fechasse. Ela pareceu balbuciar algo, antes de bater a porta com mais brutalidade ainda. 
Aquela garota, com certeza, jamais, em momento algum, chegaria perto da minha Hilux novamente. 
Nossos olhares se encontraram, e se mantiveram presos por alguns segundos. Eu acabei desfazendo o contato, e indo em direção a escola, sendo seguido por meus amigos, e seus comentários exagerados sobre Katniss.
Era certo que ela tinha algo, que prendia a minha atenção, mas como eu disse no começo, eu não fazia a menor questão de descobrir o que era. 
Quanto mais longe de mim, Katniss Elizabeth Everdeen se mantivesse, melhor seria pra ela, e, porque não acrescentar, que seria bom para mim mesmo?