História Give Us A Little Love - The world is ugly

These are the eyes and the lies of the taken

Eu estava sentada no sofá de couro calçando o tênis. Sasuke havia me oferecido um banho mas recusei, dizendo que o esperaria na sala de estar. As batidas de meu coração estavam mais aceleradas do que a minutos atrás, eu já tinha feito minha escolha.

Em cima da lareira eu podia ver a foto de Sasuke com Karin, eles ainda estavam juntos e eu me odiei por ter me deixado seduzir com suas palavras bonitas e seus braços confortáveis. Me odiei mais por ainda amá-lo com todas as minhas forças, mesmo sabendo que nunca seria boa o suficiente para ele. 

Nós, mulheres, temos essa coisa de sempre achar que nunca somos boas o suficiente para alguém. Não sou boa para Sasuke, não sou boa para meu pai, não sou boa para minha mãe. Não sou boa o bastante para ninguém. 

Meus olhos arderam e eu sabia que iria chorar. Sabia que Sasuke desceria aquela escada com um olhar confuso e tudo voltaria a se repetir, foi por isso que juntei minhas coisas e saí correndo de dentro da casa, não me importando de ser molhada pela forte chuva. 

Eu não podia ir para casa e nem podia ir para a casa de Sakura, ela ainda estava na escola. Remexendo minha mente, procurei por algum lugar aberto e longe do centro da cidade, dirigi em direção ao East Park. 

Nos quarenta e cinco minutos de viagem, eu não botei nenhuma música para tocar. Eu precisava do silêncio e o som da chuva batendo contra o para-brisas do carro era reconfortante. Quando avistei o enorme espaço verde, com árvores para todo lado e vazio, estacionei o carro de qualquer jeito e saí, andando lentamente até um banquinho que ficava de frente para a paisagem da cidade.

O parque natural ficava nas montanhas, era um dos principais pontos turísticos da cidade e também um dos meus lugares preferidos. Minha mãe, meu pai, Hanabi e eu costumávamos fazer piqueniques ali todo domingo. Éramos uma família feliz, ou era assim que eu enxergava.

These are their hearts but their hearts don’t beat like ours

Semanas após à morte de Hanabi, meu pai saiu de casa. Ele não deu nenhuma explicação ou parou para conversar comigo. Ele simplesmente pegou suas coisas e saiu, sem nem dizer para onde iria.

Naquela época eu tentei me matar inúmeras vezes, de várias maneiras. Começou com um simples corte no pulso, até evoluir para remédios misturados com bebida. Eu vi a morte de perto, mas minha mãe tinha chegado cedo em casa naquele dia e me encontrou dentro da banheira ensanguentada. 

Minha avó chorou por dias, enquanto meu avô fazia de tudo para contornar a situação e não deixar que a mídia soubesse das tentativas falhas de suicídio. Minha mãe havia usado minha situação para tentar trazer meu pai de volta para casa, mas ela nunca esteve tão enganada. 

Quando meu pai fora me visitar, ele não fora sozinho. Sua nova namorada grávida entrou no quarto junto com ele. 

Chorei muito naquele dia, e pedi a Deus que me levasse de uma vez. O que eu tinha feito para merecer tudo aquilo? Uma mãe que só ligava para status, um pai ausente que me despreza, uma família inteira que só está atrás de dinheiro ... Meu único refúgio era Sasuke, mas ele também me abandonou.

They burn ‘cause they are all afraid

For every one of us, there’s an army of them

Lembro-me muito bem quando ele foi até minha casa. Usava uma calça jeans preta, tênis pretos e uma blusa de manga comprida listrada. Nós já não estávamos juntos naquela época, mas ainda continuávamos a nos ver com frequência, na escola ou quando eu fugia para ir à casa dele. 

Sasuke tinha me dito que seus pais não queriam que ele andasse comigo e, eu entendi e aceitei a decisão, final, que pai ou mãe iria querer ver o filho ao lado de uma garota suicida que só dava trabalho? 

Antes de se virar e ir embora, disse que tinha começado a sair com Karin, uma das garotas mais populares da escola e prima de Naruto, nosso amigo. Eu não o repreendi e nem disse nada, eu estava naquele estágio onde nada me surpreendia mais. 

Acho que se eu tivesse dito algo, ou chorado, ou gritado para ele não ir embora, ele não teria ido. Se eu tivesse me esforçado mais, não teria perdido ninguém. 

But you’ll never fight alone

‘Cause I wanted you to know

Quando eu voltei para a escola, ninguém sabia ou suspeitava de nada, até o dia da maldita aula de natação. Eu tentei ao máximo arranjar desculpas para não fazer, mas a professora Kurenai não estava disposta a acreditar, ela achava que se eu me socializasse, minha situação iria melhorar. 

Eu fui para o vestiário e fiquei por lá durante meia hora, fazendo uma prece muda para que Kurenai me esquecesse e eu pudesse sair dali, mas, mesmo faltando quinze minutos para o término da aula, uma pessoa foi atrás de mim nada feliz. 

Tinha colocado o maiô e o casaco por cima, com a toalha enrolada na cintura. Atraí olhares curiosos e repreensivos, mas tentei não me importar. Eu tinha que ter dado um jeito de não ter feito aquela aula, eu tinha que ter insistido mais.

Insistir mais.

Eu ainda consigo sentir os olhares das pessoas que estavam no ginásio. As cicatrizes eram recentes e as marcas ainda estavam avermelhadas e inchadas, minhas coxas estavam tão roxas que parecia que eu tinha caído de um penhasco. A professora mandou-me para diretoria e eu me vesti rapidamente sob os olhares das garotas, umas cochichavam, outras olhavam espantadas e até teve aquelas que fizeram piada. 

That the world is ugly

Iria começar a chorar enquanto andava em direção à saída da escola. Não me importava nem um pouco se ligariam para minha mãe ou se ganhasse uma advertência. Eu não conseguiria passar nem mais um minuto ali dentro. 

Meu nome foi chamado por uma voz que eu conhecia muito bem, mas ignorei, apressando meus passos. Para a minha surpresa, a pessoa não desistiu e correu atrás de mim, puxando meu braço e fazendo-me encarar os tão temidos olhos verdes.

- Hinata, você não me ouviu? - a rosada perguntou alto demais. - Por quê está indo embora, do que você tem vergonha?

Aquela pergunta foi como um tapa no rosto.

- Eu não vou voltar pra lá, Sakura! - me desvencilhei dos braços dela. 

- Eu não disse pra voltar, perguntei por quê está indo embora? - ela insistiu. - Hinata, todos aqui têm problemas, uns mais sérios do que outros, nós só somos diferentes na maneira de lidar com eles. - suspirou e se afastou um pouco. - Perdi minha mãe muito nova e mesmo depois de todos esses anos, ainda não superei. Tenho cicatrizes tão profundas quanto as suas. 

Aquilo havia me pego de surpresa.

- Eu não sabia ...

- Poucos sabem. - passou a mão pelos cabelos. - O mundo é feio, Hinata, mas nós podemos fazê-lo bonito. 

But you're beautiful to me

Aquele tinha sido o dia em que Sakura e eu viramos amigas. Eu passei a depender emocionalmente dela e acho que foi por isso que ela nunca me abandonou, ela sabia o que era servir de apoio para alguém. 

Eu vivia faltando à escola e ela sempre brigava, dizendo que eu iria me prejudicar e não iria a lugar nenhum. Minha mãe não soube das faltas no início, mas depois a escola entrou em contato, o que gerou uma briga terrível e palavras ditas sem nenhum tipo de comoção. 

Desde aquele dia eu tenho ficado aérea, não ligando nem para o que as pessoas falam ou fazem. Apesar das faltas, minhas notas não caíram, o quê não preocupava muito os professores e nem o diretor. 

Sentada aqui agora, sentindo as gotas de chuva tocarem minha pele com brusquidão, eu não me sentia mais aérea. Podia ser o fato de ter acabado de sair da casa de Sasuke, ou estar ali, olhando para a paisagem. 

Perdi a noção do tempo e quando dei por mim já havia começado a escurecer, à essa altura Sakura deveria estar desesperada por eu não ter aparecido na escola e nem na sua casa, eu precisava pensar em alguma desculpa para me livrar do interrogatório.

Quando sentei no banco do carro, com as roupas encharcadas, peguei o celular e vi que tinha muitas chamadas de Sakura e minha mãe. O número de mensagens era absurdo e eu suspirei pesadamente antes de começar a ler uma por uma. 

Meu coração gelou ao ler a última mensagem enviada por Sakura. Minhas mãos começaram a tremer e eu me obriguei a ler de novo, cravando em meus olhos cada letra.

Karin sabe que esteve na casa de Sasuke. - Sáh.

( ... )