Curiosos e atentos olhos negros observavam as nuvens de condensado vapor moverem-se lentamente pelo azulado céu. Insetos voavam pelas árvores, as águas cochichavam pelos córregos e as flores...ah sim...as flores desabrochadas da estação passada postavam-se radiantes pelo bosque, visivelmente destacadas em quanto à suas companheiras; monótonas e verdes gramíneas que revestiam o campo. Nessa visão que lhes descrevo, que é a mesma contemplada pelo jovem goblin Rowo, qualquer um poderia e iria com certeza...concluir que se passava ali um comum dia do verão...e não, não erraria.
Porém, de maneira nenhuma apenas Rowo admirava o frescor do belo dia, a pequena criatura de aparência grosseira era acompanhada por outras duas, não menos verdes, nem menos feias. Membros semelhantes à pés humanos descalços erguiam-se e desciam, não menos automáticos que as perambulantes formigas carregando restos, não menos rápidos que o farfalhar das copas. Assim, gradualmente, nestes temporários nômades uma só preocupação, alerta e urgência cruzavam-lhes as mentes; precisavam se apressar. Negras nuvens que expulsaram as pacificas anteriores, mostravam-se indiferentes as supostas vítimas da próxima tempestade. Pois a natureza afinal, tinha personalidade singular e inconstante, enquanto em uma hora era branda, em outra era impiedosa.
Pingos, gotas ou gotículas, chame e denomine o leitor ou leitora como quiser, mas se atente ao fato de que estas despencavam do céu esplendidamente, sendo a todo momento afetadas pela aceleração da gravidade (além de especialmente naquele dia estarem exageradamente numerosas!), faziam que a substância, encontrando o solo, reverberasse estrondosamente pelas moléculas de nitrogênios do ar. E como consequência, que os desengonçados corpos dos esverdeados selvagens, tremessem.
Entretanto, se particularmente a nossa arrogante (e indesejada!?), opinião adjetivava pejorativamente os parentes de 3º grau dos ogros, em contrapartida, a particular opinião destes não podia ser nem mais, nem menos, que o contrário. Rowo estava estático, e fitando a “bela” Hanu, estufava o peito em busca de...coragem?...bravura?...ah...talvez força.... Bom, admito que isto não sei eu, mas por outro lado, sei que queria, porém não podia, tremer tanto quanto seus “amigos”...digo...coloco tais aspas pois também nunca pensei se goblins haviam amigos, muito menos familiares e quem dera, sentimentos!
- Ogh...Ogh...– Melancólico dizia o honroso cavalheiro de pé...digo, honroso goblin, enquanto apoiava uma mão nas costas de Paru, o terceiro monstro.
Talvez o leitor, assim como eu, de primeira não entendeu, ainda não entende e sequer vai entender o que Rowo exclamava, no entanto, confesso-lhes que pela expressão, devia e ser algo parecido ou igual ao “acalmem-se, ficará tudo bem” dos otimistas e cínicos humanos.
Em direção ao único que hesitava em tremer no grupo, pupilas de esperançoso alivio transmitiram confiabilidade e admiração. A esperança não consistia exclusivamente sobre a chuva passar, porém, de os sacos vazios que carregavam preencherem-se novamente de deliciosos alimentos, de os pés cansados descansarem, e principalmente, de aqueles mesmos olhos poderem ver e sentir outra vez, um lugar a qual pertencem, um lugar apenas deles. Um lar.
Ah! Mas os inocentes monstrinhos não possuíam a mínima ciência da maldade do destino ou da realidade, estando estes por tanto, aparentemente prestes a aprenderem ao meu ver.
Pois então, barulhentos e coletivos passos de origem das profundezas do vale cada vez mais aproximavam-se. No entanto, aqui deixo um insolúvel enigma, porque no meu limitado vocabulário, não encontro palavra ou adjetivo para fielmente expressar o sentimento que vi e com certeza senti, transbordar das esverdeadas faces ao encararem os três aventureiros molhados, e notoriamente; armados e gananciosos.
Doce começo do outono....
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