DAISY-POV
Seis horas antes
O telefone toca, alto, sem parar. Por que diabos ainda temos telefone fixo?
Olho para o relógio. 12h15. Ops, acho que me atrasei para a escola.
Levanto aos tropeços e praticamente rolo escada abaixo para atender a porcaria do aparelho. Atendo já sabendo que era um dos meus pais. Não sei porque a Senhora Johnson não atende, mas imagino que ela provavelmente esteja usando o aspirador de pó na casa da piscina e não ouve o barulho.
- Alô? – Meu som sai quase como um sussurro, eu sei que meus pais odeiam que falte escola e provavelmente não atendi as ligações do celular, ele está no silencioso, não me dei ao trabalho de ligar o despertador pois tinha voltado tarde demais da casa de Charlotte na noite anterior. Quanto mais velhos ficamos mais longas são as festas, logo estaremos virando dias seguidos de bebida, música e risada. E bem, outras coisas a mais também. – Alô? – Digo novamente, em um tom mais alto, mas apenas som estático sai do aparelho. Estou praticamente desligando quando ouço um sussurro. – Quem é? Que tipo de brincadeira é essa? Isso é muito infantil. – Estou prestes a bater o telefone na cara.
- Daisy. – Uma voz rouca diz meu nome, o som não é claro, mas sei que é meu nome.
- Alô? Quem é? – Pergunto novamente, sei que é idiota ficar perguntando repetidamente, mas a pessoa disse meu nome, caramba.
- Dais-s-y – Posso ouvir a pessoa tossir algo liquido, e a ligação então cai.
A campainha toca. Pulo no lugar, completamente assustada. Estou completamente arrepiada, sei que era uma brincadeira, de muito mau gosto inclusive, mas não consigo não me assustar um pouco.
Ando até a porta tão rápido quanto fui atender o telefone, não tenho medo de que seja um ladrão ou algo do tipo, principalmente porque sei que essas coisas não acontecem por aqui. A violência fica apenas nos bairros mais pobres de Blue Lake, as estatísticas estão ao meu favor.
E como já imaginava, é apenas o carteiro. Provavelmente não tem nada fora do comum. Agradeço e fecho a porta as minhas costas. Contas, cartas do banco onde meu pai trabalha, convite para alguns jantares, uma festa beneficente.
- Tédioooo. – Solto uma risadinha baixa, quando então chego ao ultimo pacote, o que me deixa curiosa, pois contém apenas meu nome. Daisy Rivers. As letras foram recortadas de jornais e revistas de maneira descuidada e coladas com cola demais, indelicadas no papel.
Abro o envelope, curiosa, para encontrar mais letras coladas no sulfite tortas. Dou risada antes de ler o conteúdo, esse tipo de brincadeira é tão idiota e comum entre os meninos da escola. Eles nunca tem coragem de falar comigo, me olham de longe e até arriscam um sorrisinho, mas nunca tem coragem de falar o que realmente querem, o que eu sinceramente aprecio, eles são uns babacas.
“Um. Dois. Três.
A morte pegou outra vez.
Quatro. Cinco. Seis.
Os próximos são vocês.”
- QUE PORRA É ESSA? – Deixo soltar mais alto do que pretendia. Mas o que está colado naquele papel vai muito além do babaca dos meninos da escola, é bizarro e doentio. Só pode ter sido Frederic, irmão da Charlotte. Volto rápido até meu quarto e alcanço o telefone enfiado sob o travesseiro, discando seu numero.
- Heeeeeey ruivinha, como vai? – Fred atende com sua felicidade costumeira. – Não estou acostumado com suas ligações, mas sempre disponível. Qual é a boa?
- A boa? A boa uma ova, Fred. Que porra é essa que me mandou pelo correio? – Estou praticamente gritando, sei que deveria estar controlando meus nervos, mas o bilhete me deixou furiosa. Sempre participo de brincadeiras, mas isso era demais, havia ido longe demais.
- Eu? Eu não te mandei nad... – “Quem é? Está falando com a Dee? Me deixa falar com ela”, pude ouvir a voz de Charlotte no fundo e em seguida de outro barulho indecifrável, provavelmente Charlie havia arrancado o celular da mão do seu gêmeo.
- Oi baby Dee. – E Charlotte solta uma risadinha irritante que me faz rolar os olhos. Ela é minha amiga? Hmm, é. Mas isso não faz com que ela seja menos entediante e com atitudes de vaca quanto quaisquer outras garotas de Honory High.
- Charlie, me deixa te dizer uma coisa, de maneira curta e grossa. Você participou dessa merda de brincadeira infantil e doente? – Pergunto sem me enrolar. Quero chegar ao ponto logo, quero descobrir de uma vez quem me mandou essa porcaria, eu entendo de jogos e odeio ser o jogo.
- O que? Você continua bêbada, só pode, Dee. De que brincadeira está falando? – Solto uma bufada pela boca, fazendo os lábios tremerem. Que bela bosta. Explico detalhadamente para Charlotte, que agora utiliza o viva voz para que Fred também ouça, sobre a ligação bizarra de momentos atrás e sobre o bilhete anônimo e mal feito, e Charlie continua a afirmar que não fez nada, muito menos seu irmão. – Daisy, isso é bastante sério. Você devia falar pra alguém.
- Não é sério Charlotte, é mais uma brincadeira babaca dos meninos. Eu vou levar essa merda amanhã pra escola e descobrir quem foi, e seja quem for, vai pagar caro por isso. – Disse, dando fim a ligação.
Não é possível! Estamos no ultimo ano da escola, todos praticamente maiores de idade quando não maiores de idade e ainda assim conseguem agir como crianças de 6 anos!
Me jogo sentada em minha cama, buscando alguma musica para ouvir. Conecto o telefone em uma caixinha de som e me dirijo então ao closet, afinal, um lindo dia de sol não poderia ser desperdiçado. Escolho um biquíni pequeno e vermelho, minha cor favorita. Me enrolo em um roupão e volto a descer as escadas, passando primeiramente pela cozinha. Chamo pela Senhora Johnson, e assim que ela aparece pergunto se ela fez, inutilmente porque acordei tarde, almoço. Ela me diz que sim e que está no forno. Me sirvo de sua comida e almoço com calma, sei que ainda tenho o dia todo para aproveitar, antes que meus pais cheguem e comecem com mais um sermão, clássico.
Assim que termino minha refeição sigo até a piscina, deixo cair o roupão sobre uma cadeira espreguiçadeira, a piscina reluz com sua cor azul. Coloco a ponta do pé, está gelada pra caramba, decido então entrar na banheira quente, muito melhor e confortável. Pego a caixinha de som e o celular que carregava comigo, deixando os eletrônicos apoiados em uma mesa. Volto para a cozinha e procuro um suco na geladeira, não há nada pronto. A senhora Johnson prontamente se disponibiliza para fazer, mas nego.
- Deixe que eu faço, não se preocupe, é rapidinho mesmo.
- Obrigada, senhorita Rivers. – Ela agradece e eu dou uma risada baixa, negando com a cabeça.
- Senhora Johnson, eu já disse, pode me chamar de Daisy. Eu não sou meus pais. – Ela sorri e concorda com a cabeça, se retirando, enquanto termino meu suco. Sirvo um copo, e então sirvo outro para levar para a senhora Johnson, afinal de contas, está um calor do caramba.
Quando então ouço um grito, alto, estridente, quase dói nos ouvidos. Corro rápido para a piscina, imaginando que de alguma forma a senhora Johnson se machucou, mas a encontro bem e intacta, sua expressão é de puro terror e ela leva as mãos a boca, olhando fixamente para a banheira de hidromassagem.
Ando lentamente até a mesma, torcendo para que não seja algum bichinho morto, muito menos Furffles, nosso cachorro de estimação, ele as vezes pode ser estabanado demais. Porém quando consigo ver o que a senhora Johnson viu fico estagnada, tão aterrorizada quanto ela estava, os gritos que saem de meus lábios assim como as lágrimas de meus olhos não podem, e nem devem, ser contidos.
Metade dentro da água e metade para fora, no concreto, está o corpo de um jovem, de 18 anos assim como eu, vestindo o uniforme do time de basquete da escola Honory High, mas este não é um fato chocante, se você puder ignorar que ele está morto, e como eu posso afirmar isso? Pois a menos de um metro, boiando e pintando a água de vermelho, está a sua cabeça. E eu sei quem está ali, é a mesma pessoa que ouvi a poucos minutos atrás. John Reagan.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.