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História Gods and Monsters - Ain't No Rest For The Wicked


Escrita por: itsnunah

Notas do Autor


Música do capítulo: Ain't No Rest For The Wicked by Cage the Elephant

Então. Eu, particularmente, acho que vocês irão gostar desse capítulo! Acho que o anterior não foi tão divertido, mas esse está melhor e o próximo... ah, o próximo! Vocês nem sabem.

Capítulo 7 - Ain't No Rest For The Wicked


Fanfic / Fanfiction Gods and Monsters - Ain't No Rest For The Wicked

I know I can’t slow down, I can’t hold back

Though you know, I wish I could

Oh no, there ain’t no rest for the wicked

Until we close our eyes for good

Um turbilhão de madeixas louras foi tudo o que Afrodite viu antes de sentir a colisão que quase a levou ao chão.

“Ah, que saudade de você, Atheninha!”, seu grito saiu abafado. Athena a apertou forte antes de se afastar, sorrindo de orelha a orelha.

“Nem acredito que está aqui!”

Afrodite retribuiu o sorriso, sinceramente feliz e animada por rever a pessoa mais importante de sua vida. Mal podia acreditar que o rostinho de boneca diante de si era feito de carne e osso.

“Tempos difíceis exigem medidas radicais! Sei que a situação não é nem um pouco ideal, mas ao menos nos uniu novamente.”, Afrodite segurava as mãos de Athena nas suas e observava os olhos cinzentos se encherem de lágrimas. Ah, o que foi que haviam feito à sua menina?

“Ares vai querer morrer quando souber que não estava aqui para te receber.”, a voz de Dionísio surgiu quando já estavam subindo as escadas. Afrodite revirou os olhos e pôs uma mão na cintura, parando para olhá-lo.

“Ele não está aqui?”, ela franziu o cenho. “Certamente, deve estar tratando de fazer surgir mais alguns cabelos brancos na cabeça do pai. De qualquer modo, quero distância daquele ser.”

Dionísio deu um sorriso triste.

“Ares saiu às avessas, se comparado ao resto de nós... mas ele ainda tem sentimentos, sabe? E alguns bem fortes, quando se trata de você.”

“Bom, pior para ele. Ares deveria saber que tratar Athena do jeito que trata não me faria cair de amores por ele.”

O garoto encolheu os ombros, sabendo que não poderia protestar contra aquilo.

Athena ajudou a prima a levar suas malas, muitas, por sinal, até o quarto no qual sempre ficava. Era mais dela do que um quarto de hóspedes. Agora que Afrodite havia vindo para ficar, Athena esperava que não inventasse de ir para um hotel e, sim, fosse com ela para a casa da praia quando tudo se ajeitasse.

“Tomara que Ares não faça nenhuma cena...”, disse a garota para Athena, que suspirou, exasperada.

“Sinceramente, Afrodite, eu nunca sei o que esperar daquele moleque. Entendo a implicância dele comigo, mas deveria ser algo que não refletisse em toda a família, mas que saco! Enfim...”, suspirou ela. “Não tenho ideia de como ele possa gostar tanto de você...”

Afrodite se permitiu uma risada fraca enquanto se sentava na cama e tirava os sapatos, fechando os olhos com a sensação.

“Eu sinto mais como se isso fosse uma obsessão do que um sentimento genuíno. Ele me trata como se eu fosse de vidro, fica o tempo todo atrás de mim, querendo fazer tudo para me deixar, supostamente, confortável. É sufocante!”

“Eu acho que ele não sabe como demonstrar o que sente. Tirando quando está perto de você, Ares só consegue ser rude e violento. Talvez nem ele entenda o que acontece em seu íntimo.”

A outra deu de ombros e foi tomar um banho, sem querer admitir o quanto aquelas palavras a fizeram pensar. Logo as duas foram chamadas para o almoço e todos ficaram felizes em rever a morena. Por mais que fosse apenas parente de Athena, sobrinha de Métis, havia frequentado muito aquela casa e todos a amavam, com seu jeito leve e animado.

Athena gelou quando viu Poseidon se aproximar da prima e abraçá-la demoradamente. Podia ver ambos conversando entre murmúrios e meio sorrisos, o que fez seu estômago dar uma volta e meia.

Zeus e Morfeu não estavam presentes. Haviam saído logo após o café para tratar de certos assuntos, nos quais Athena não queria nem pensar sobre, e Hera insistira em acompanhá-los. Anfitrite também não estava lá, mas ninguém se importava. Todos sabiam que a mulher deveria ter inventado algo para não passar mais tempo com eles. Na realidade, estavam até felizes por isso.

Seus pensamentos foram atraídos para o que havia acontecido no jardim naquela manhã. Mal podia acreditar no que quase fizera, sem nem mesmo ponderar sobre as consequências. Como pôde ser tão irresponsável? Toda e qualquer coisa que um dia acontecera entre eles era para estar enterrada bem fundo e esquecida. Além disso, encontravam-se em um lugar aberto, onde seus irmãos, pai e até mesmo a mulher de Poseidon poderiam aparecer. Rezava para que Dionísio não tivesse percebido nada, mas o moleque era muito esperto e malicioso para isso. Ah, que ele e Afrodite ficassem bem longe um do outro.

A refeição se passou bem animada. Afrodite estava radiante, contando as façanhas de sua vida em Roma, e querendo saber cada detalhe que perdera em todo o tempo que estivera fora. Athena sorria diante da cena, deixando-se contagiar pela felicidade que seus irmãos sentiam. Aquela família estava merecendo um pouco de paz e de risadas. Seus olhos perderam um pouco do brilho quando pensou em Apolo. Ah, como ele adoraria aquele momento de descontração em família.

Afrodite avisou à Athena que precisava descansar um pouco, tanto por causa da viagem quanto para estar apresentável quando todos começassem a chegar, e subiu para o quarto. Os outros tentavam ocupar a mente, mas não conseguiam deixar de se sentirem ansiosos e inquietos. Athena acompanhou os irmãos à sala de jogos. Dionísio e Hermes haviam escolhido um videogame qualquer e a gritaria fazia a loira sorrir, pensando em como eles ainda eram crianças, forçados a amadurecer cedo demais. Ártemis estava jogada em outro sofá, tentando se entreter com um livro, mas logo pegando seu notebook e fones para assistir a algo, sempre no mundo das séries.

Athena se viu totalmente sozinha, mas se sentia plena, um pouco culpada por estar feliz diante dos acontecimentos. Havia se sentado em uma poltrona e se divertia vendo seus irmãos quase se matando, gritando um com o outro, até mesmo levantando do sofá enquanto tentavam vencer no jogo. Ao levantar os olhos da cena, avistou Poseidon apoiado no batente da porta, encarando-a diretamente. O homem também sorria, bobo por poder observá-la sem ninguém perceber, enquanto Athena se encontrava tão em paz.

Relutante, a garota retribuiu o sorriso, o que o fez se aproximar com as mãos nos bolsos.

“Quem está ganhando?”, perguntou ele, sentando-se no braço da poltrona de Athena. A garota riu.

“Eu não faço ideia!”

“Claro que sou eu!”, exclamou Dionísio, sem descolar os olhos da tv. “Hermes passa tanto tempo enfiado no trabalho que não tem tempo de praticar... Parece você, Athena!”

Poseidon riu alto, seguido dos outros dois. Athena fechou a cara.

“Talvez se vocês fossem um pouco mais responsáveis, o pai não jogaria tudo em cima de mim!”

Hermes revirou os olhos, ainda sorrindo.

“Nem vem! Você é a preferida dele e sabe disso! É a herdeira!”

“Você é a única que deve ser responsável por aqui”, emendou Dionísio, assentindo. “A gente só dá uma ajudinha!”

“Muito bonito, enquanto eu faço todo o trabalho, vocês ficam se divertindo!”, Athena tentava ficar brava com os irmãos, mas não conseguia e acabava rindo. “Eu gosto de me divertir também, sabiam?”

“YES!”, Dionísio gritou, pulando do sofá e apontando para Hermes. “Eu venci! E sabe o que isso significa?”

Hermes revirou os olhos novamente e olhou para baixo.

“Que você venceu a aposta.”

“E...?”

Suspirando, o mais novo olhou de soslaio para a irmã.

“E eu vou ter que convencer Athena a sair com a gente.”

“O quê?”, os olhos da loira se esbugalharam e ela os atingiu com uma almofada. “Espera aí, vocês apostaram sobre mim?! Seus putos!”

Poseidon assistia a tudo, divertido e cada vez mais interessado no rumo que estava tomando aquela conversa. Sentia-se imensamente feliz por estar ali, com sua real família, e espantava-se por ainda se encontrar vivo, mesmo sentado quase em cima de Athena. Talvez a loira gostasse de sua presença e não quisesse admitir. A lembrança do que acontecera no banco do jardim apenas servira para fortalecer suas convicções e seus sentimentos, concedendo-lhe uma pontinha de esperança.

“A gente apostou, sim, e vou dizer o porquê”, começou Dionísio, com o dedo apontado para a irmã. “Você costumava ser legal, a melhor irmã mais velha que poderíamos querer... não me leve a mal, a gente ainda te ama, mas a gente sente falta da antiga Athena! Ela era muito mais divertida! E agora... você vive carrancuda, a gente quase nem te vê! E quando vê, você está sempre apressada, atolada em trabalho com o pai, nunca sorri.”

Hermes a olhou, tomando coragem para continuar a fala do irmão.

“E já que estamos reunidos e Afrodite voltou, nós pensamos que seria legal sairmos todos juntos. Sabe, para relaxar. Essa família parecia tão perdida e distante, mas agora nós estamos todos aqui, Athena! Está na hora de você abaixar a guarda um pouquinho...”, o garoto suspirou novamente. “Mas nós tínhamos medo de falar com você e levarmos uma surra, por isso apostamos.”

Poseidon sorriu, mal podia acreditar no que estava acontecendo. Ele não era o único que pensava daquela forma! Deus parecia estar sendo muitíssimo bondoso com ele naqueles dias.

“Eu concordo”, disse o homem, dando de ombros. Athena o encarou, incrédula. Dionísio parecia que havia descoberto a fórmula para uma nova bebida alcoólica de tão feliz que parecia, mas era só uma nova ideia.

“Tio! Como não pensei nisso antes?”

“Que foi, garoto?”, Poseidon riu.

“Você precisa ir com a gente!”

Hermes assentia freneticamente, sorrindo e se levantando.

“Sim, sim! Ah, vai ser tão legal!”

“Cale a boca, Hermes, você nem pode entrar em um bar!”, exclamou Athena, um pouco desesperada.

“O quê?”, Poseidon soltou uma gargalhada. “Não... Eu não tenho mais idade para isso, meu Deus... Quero que vocês se divirtam muito, mas não se preocupem comigo.”

“Como assim? Você tá inteirão! Num tá, Athena?”, exclamou Dionísio. “Você é o nosso ídolo, cara! O melhor tio do mundo! Você vai sim, tá me entendendo?”

Poseidon riu e balançou a cabeça, levantando as mãos em rendição. Athena encarava os três, paralisada. Sem dizer uma palavra, a garota saiu da sala, deixando-os confusos. Ou melhor, seus irmãos, pois Poseidon sabia bem o que se passava por sua mente e não podia culpá-la. Ele apenas se sentia feliz demais para dar uma importância maior a isso.

Athena estava com a mão na maçaneta da porta quando ouviu uma voz feminina chamar seu nome. Afrodite havia colocado a cabeça para fora de seu quarto e a encarava, sorridente, mas logo ficando séria.

“O que aconteceu?” Athena negou com a cabeça. “Vem aqui, princesa! Vamos conversar!”

Como sabia que não havia discussão com sua prima, a loira apenas suspirou e adentrou o quarto, seguindo-a e fechando a porta.

“Fala logo”, disse Afrodite, de costas. Ela estava apenas com uma tolha envolvendo o corpo e penteava os cabelos negros e compridos. Os olhos azuis a encaravam, curiosos e preocupados.

Athena suspirou mais uma vez antes de se jogar na cama.

“Hermes e Dionísio fizeram uma aposta”, disse, simplesmente.

“Aham... e o que mais?”

“Resumindo, basicamente estão me obrigando a sair com eles, porque, supostamente, eu não sou mais divertida como antes.”

A morena riu e revirou os olhos, achando a reação de Athena um tanto exagerada.

“Querida, eles são seus irmãos e te conhecem mais do que pensa. Talvez você devesse esquecer um pouco os problemas e se divertir...”

“Ainda não terminei.” Athena se sentou e cruzou as pernas. “Claramente, você também vai e Ártemis também será arrastada... Mas, para completar, Poseidon está no meio.”

Afrodite deixou sua boca se abrir em surpresa, os olhos divertidos. A garota jogou a cabeça para trás e começou a rir, sendo atingida por um travesseiro.

“Isso não é engraçado, porra!”, gritou Athena.

“Ai, Athena, você não tem nem noção do quanto é engraçado!”, Afrodite havia jogado a toalha em uma poltrona e colocava uma lingerie preta. “Por que está tão preocupada? Não confia no próprio comportamento ao lado dele?”

Athena ficava possessa quando a prima não a levava a sério e, ainda por cima, ria de suas preocupações infindáveis.

“Quem sabe, talvez ele nem vá. Anfitrite está aqui, não é? E grávida, ouvi dizer.”

“Afrodite, você sabe que ele não perderia essa chance! Ou você se esqueceu da última vez que estivemos todos juntos em uma boate? E ele já era casado naquela época, devo te lembrar!”

“Mas é por isso mesmo que é tão engraçado, meu amor!” Afrodite riu novamente. “Seus irmãos estão recriando toda a situação sem nem mesmo terem conhecimento sobre isso!”

“Você. É. Impossível.”

Athena se levantou de repente, irritada. Sabia que ter Afrodite em sua vida novamente a viraria de cabeça para baixo.

“Por que não para de pensar nisso um instante e vai se arrumar? Já passam das três da tarde. Ou se esqueceu que temos compromissos mais urgentes para comparecermos?”

A loira respirou fundo e assentiu, rumando para a própria suíte para um banho rápido antes de começar a se arrumar. A água gelada a acalmou um pouco e a ajudou a colocar os pensamentos em ordem. Realmente, havia algo mais importante para lidar antes de esganar seus irmãos mais novos.

Abriu o armário e tentou encontrar uma roupa adequada, mas lembrou-se de que não deixara muita coisa quando se mudou para a casa na praia, em busca de paz. Paz, essa, que havia encontrado no exterior, mas não em seu íntimo. Optou pelo vestido mais comportado que pôde encontrar. Ao se olhar no espelho, sorriu. Era elegante e sensual, ao mesmo tempo. Claro que não gostaria de parecer sensual diante do corpo inerte do irmão, mas imaginou que Apolo aprovaria a escolha.

O vestido era preto e justo, terminando um pouco acima dos joelhos. Tinha alças grossas e decote quadrado, revelando o começo de seus seios, um pouco apertados. Suspirou, passando a mão pelo tecido. Nem se lembrava da última vez que o usara.

Não queria passar uma maquiagem muito pesada, então deixou os olhos iluminados com um pouco de dourado e utilizou seu delineador, que tanto amava, mas nem sempre tinha paciência para passar, e máscara. Para finalizar, cobriu os lábios de um vermelho queimado, que sobressaía em sua pele alva.

Já calçando peep toes pretos e discretos, olhou-se uma última vez no espelho antes de sair do quarto. Havia deixado os cabelos soltos, caindo por suas costas e por cima de um ombro. Sentia-se um pouco desconfortável no salto alto, depois de tanto tempo passado apenas com botas e alpargatas.

Bateu de leve na porta da prima, crente de que ainda estaria se arrumando.

“Pode entrar!”

“Não sei como leva tanto tempo para ficar pronta”, disse a loira, encarando-a pelo espelho.

“Querida, eu não aceito menos que a perfeição. Nunca.”

Afrodite se levantou da cadeira onde estava e olhou Athena da cabeça aos pés.

“Uau, você está maravilhosa!” Ela se permitiu um sorriso maroto. “Andou se arrumando para alguém em especial?”

“Afrodite, pare de ser tonta. Pessoas realmente importantes estarão aqui.”

A morena revirou os olhos e se sentou na cama, calçando as sandálias pretas, cheias de tiras que formavam um desenho harmonioso no peito de seu pé, decoradas por brilhantes. Afrodite, sempre o oposto de Athena quando se tratava de discrição, mas nunca menos elegante.

“Tudo bem, então. Se você está dizendo. Mas sabe que não precisa esconder as coisas de mim.”

“E nem você de mim. Aliás, o que você e Poseidon ficaram cochichando no almoço?”

Athena a encarou de braços cruzados, uma sobrancelha arqueada. Afrodite soltou uma risada gostosa.

“Ele estava apenas dizendo que, agora que estou aqui e pretendo continuar, as coisas ficarão um pouco mais animadas... se é que me entende.”

Ela se levantou e, antes que Athena pudesse se expressar quanto às palavras do homem, deu uma volta e disse:

“Então, como estou? É melhor que diga que estou ótima, porque não temos tempo para trocar.”

Athena riu do jeito da prima. Ah, realmente havia sentido sua falta.

Afrodite estava com um vestido de duas partes. A parte de baixo era um pouco parecido com o de Athena, um tomara-que-caia preto, que ficava um pouco soltinho no quadril e marcava sua cintura. A parte de cima era toda feita de renda preta, de mangas compridas, indo até os pés. Sua maquiagem destacava tanto seus pontos fortes que pararia qualquer coração. Os olhos azuis se encontravam abraçados pelo preto e, a boca, recoberta por vermelho sangue. Seus cabelos ondulados caíam como uma cascata negra sobre as costas, parte presa em finas tranças em um lado da cabeça.

“Afrodite, você sabe que sempre está linda”, Athena suspirou. A morena tombou a cabeça e sorriu, enlaçando o braço no de Athena.

“Então vamos, porque a noite promete.” A loira revirou os olhos.

Ao chegarem ao topo da escada, as pernas de Athena fraquejaram. O hall de entrada já estava movimentado, homens das mais variadas idades seguravam taças de champagne e conversavam entre si, sérios. Algumas mulheres também circulavam, cobertas por joias, vestidos vulgares, algumas de luvas, penteados extravagantes, todas se esforçando ao máximo em uma batalha silenciosa em seu ninho de cobras. Mas nenhuma chegava aos pés da deusa que Athena chamava de prima.

Aos poucos, os burburinhos foram cessando e todos os olhares se voltaram às duas. Zeus apareceu ao pé da escada, ansioso pela presença da filha e por poder receber Afrodite apropriadamente. Logo atrás dele, vinha Poseidon, que mal conseguia esconder a atenção que dispensava à própria sobrinha.

Elas desceram as escadas lentamente. Afrodite, radiante por natureza, estava confiante, acostumada a ter toda a atenção voltada para si. Athena, agarrando-se à prima, forçando um sorriso, sentia os olhos verde-mar cravados em sua alma.

“Afrodite, querida, desculpe-me não ter estado aqui para recebê-la”, Zeus a puxou para um abraço apertado.

“Imagine, tio”, ela sorriu tristemente. “Sinto muito por Apolo.”

O homem assentiu e passou a mão suavemente pela bochecha da sobrinha.

“Obrigado. Ele merecia uma vida melhor... eu só não pude ver isso a tempo.”

“Não se culpe, pai”, Athena sussurrou. “Não há nada que possamos fazer agora.”

Zeus suspirou e apertou as mãos de ambas, antes de se afastar, precisando voltar sua atenção aos convidados.

Poseidon continuou lá, parado, saboreando o líquido dourado.

“Olhem só, os três mosqueteiros juntos novamente!”, disse Afrodite, enquanto enlaçava o braço livre no de Poseidon e caminhava para longe, sob o olhar de todos.

“Havia me esquecido de como você adora chamar a atenção”, murmurou Athena.

“Ah, eu não acredito que toda essa atenção seja apenas para Afrodite. As pessoas não estão acostumadas a vê-la desse jeito, sabia?”

“Concordo com Poseidon”, disse Afrodite, encarando a prima e arqueando a sobrancelha de modo sugestivo. “Eu vou encontrar alguma bebida alcoólica.”

A morena se distanciou rebolando, parecendo quase flutuar sobre o chão, tão elegante e graciosa como sempre.

Athena, desconfortável, caminhou para um canto mais distante, ciente que o homem a seguia. Mesmo que não quisesse, obrigou-se a parar para cumprimentar alguns rostos familiares. Aceitou as condolências e agradeceu a presença de cada um, educadamente não deixando a conversa se prolongar.

“Como está Hera? Você a viu?” Athena se virou de repente para Poseidon e cruzou os braços em nervosismo. O homem olhou em volta, um pouco receoso.

“Ela é forte. Zeus tem bom gosto para esposas, ao contrário de mim”, ele riu. “Ela está bem, Athena, na medida do possível. Está mantendo a compostura. Hera sempre soube dos riscos de se aproximar de nossa família.”

“Você fala como se ela não tivesse o direito de sofrer.”

“Não foi isso que eu quis dizer. Hera perdeu um filho e eu acho que ninguém aqui tem noção do que é isso. Ela pode sofrer o quanto quiser e nós estaremos ao seu lado. Acredito que nada nunca a fará superar essa dor.”

Athena assentiu, concordando. Ela mesma tentava e tentava trancar a própria dor em um local esquecido dentro de si, mas sem sucesso.

“Ares ainda não apareceu?” Poseidon negou. “E Anfitrite?”

O homem respirou fundo.

“Ela desceu meio contrariada, mas agora não sei onde está. Para falar a verdade, não me importo também.”

A loira revirou os olhos, cansada de tudo que dizia respeito à relação dos dois.

“Por que não pede logo o divórcio? Você parece não se importar nem com o próprio herdeiro, então para quê prolongar tudo isso? Ninguém mais suporta aquela mulher por aqui e você finalmente estaria livre para fazer o que quiser.”

Assim que as palavras deixaram sua boca, Athena percebeu seu amplo significado. Estava apenas tentando fazê-lo enxergar a realidade, ajudar de algum modo e dar forças ao homem para fazer o que queria, mas sabia que soara de outra forma.

Poseidon apoiou uma mão na parede atrás da garota e aproximou o rosto do dela, podendo ver com detalhes aqueles olhos cinzentos, tão misteriosos. Para ela, parecia que tudo à sua volta havia entrado em câmera lenta.

“É isso que quer que eu faça?”, sussurrou ele. O hálito de champagne a inebriava. “O que eu preciso fazer?... Se eu fizer... você volta?” Seus dedos roçaram a bochecha de Athena.

A loira espalmou as mãos em seu peitoral, com a intenção de empurrá-lo, mas logo sendo vencida pelo contato de seus dedos naquele corpo quente.

“Você sabe muito bem que há mais coisa em jogo.”

“Uou! Aqui não, casal. Aqui não”, a voz de Afrodite se fez ouvir. Poseidon se afastou de Athena, sem tirar os olhos do dela. A loira pigarreou.

“Não é o que estava pensando.”

“Ah, mas é sempre o que eu estou pensando. Até quando vocês acham que não é, é.”

A morena tomou o líquido de sua taça de uma só vez.

“As outras pessoas podem não perceber por não estarem cientes de todos os acontecimentos, mas eu?”, ela balançou a cabeça e a taça vazia. Estava claro que já havia bebido muito mais do que apenas aquela taça.

“Afrodite, pode ir parando por aí”, Athena arrancou a taça de sua mão. “Vê se esquece esse assunto, tá bom?”

Hermes se aproximou por trás de Afrodite e colocou a cabeça na roda que os três formavam.

“Ei, Athena...”, começou ele. “Acho que o pai vai fazer um discurso e quer você lá.”

A loira suspirou e assentiu. Quando o irmão já havia se afastado, virou-se para Afrodite e disse em voz baixa:

“Não faça nada estúpido!”

Afrodite imitou uma continência, numa tentativa de se manter séria, mas logo sorriu e mostrou a língua para a prima. Poseidon deu risada e a segurou pela cintura, com medo que tropeçasse.

Athena ainda não havia tido a chance de se aproximar do local mais importante, onde estava o corpo de Apolo. Havia sido arranjado um arco com rosas brancas logo depois da porta de vidro que dava para o jardim e, no centro do círculo que se formava, um sarcófago de mármore negro se encontrava fechado. Sobre ele, uma foto de um garoto de cabelos curtos e dourados, olhos cor de mel e sorriso radiante a encarava. Fora tirada no dia de sua formatura, na Austrália.

Hera estava lá, e estendeu a mão assim que avistou a garota, os olhos tristonhos. Zeus assentiu para ambas e soltou a mão da esposa, dando um passo à frente, o semblante sério. Quando todos os olhos estavam voltados para o patriarca, respeitosos, uma voz foi ouvida vindo de lugar nenhum.

“Ora, ora, ora... Mas então estamos dando uma festa e ninguém se importou em me avisar?”

Athena conhecia aquela voz muito bem para se enganar, mas rezava a Deus para que estivesse imaginando coisas.

Não, não, não. Não naquela hora. Não era possível.

Alguém abria caminho por entre os convidados, meio andando, meio caindo. Hera apertou a mão de Athena com força. Zeus fechou os olhos e respirou fundo, preparando-se para o pior. Quando conseguiu sair da multidão, todos já o encaravam, temerosos.

“Pai!”, exclamou ele, abrindo os braços. Um sorriso idiota na cara. “Paizinho, qual é a ocasião?”

O garoto deu alguns passos arrastados à frente.

Zeus apoiou as mãos sobre o sarcófago e cravou os olhos no filho, quase soltando faíscas, tamanha era a sua raiva e o sentimento de desrespeito que podia ver no próprio filho.

“Ares. Pare de bobeira e mostre algum respeito ao corpo de seu irmão.”

O sorriso parecia congelado no rosto do garoto, mas os olhos estavam confusos. Lentamente, ele foi percebendo cada detalhe que havia achado estranho sobre aquela “festa” e, por último, encarou a foto sorridente de Apolo.

Hermes correu até o irmão quando Ares ameaçou cair. O garoto cheirava fortemente a álcool e já não era muito são normalmente. As pessoas ao redor estavam inquietas. Athena temia pelo desenrolar da situação e pelo estado psicológico de Hera, que tremia ao seu lado e lutava para não explodir, devido à confusão de sentimentos em seu íntimo, pelos dois filhos.

De joelhos, Ares soltou um urro que assustou aos presentes e fez com se afastassem. Na frente de todos agora se encontravam apenas os membros da família. Athena pôde ver o olhar espantado e preocupado de Afrodite. Poseidon estava em alerta.

Quando o garoto se levantou, seus olhos estavam inundados pela fúria.

“Você”, sua voz baixa conseguia ser ainda pior. Ele encarava Athena. “Você!”

Quando deu um passo em sua direção, Hermes colocou a mão em seu ombro e tentou acalmá-lo, apenas para ser empurrado para trás.

“Devia ser você!”, Ares gritava novamente. Agora, os olhos de Poseidon estampavam um claro desespero. O homem estava pronto para se interpor entre os dois.

“Ares!”, gritou Zeus.

“O quê? Deveria ser ela, sim! Ela, a bastarda! A única que não se encaixa nessa família!”

O corpo do garoto tremia quando ele sacou a arma escondida no cós da calça. Foi a gota d’água. Zeus acreditava que podia resolver tudo com sua presença e sua voz, mas Poseidon já não tinha tanta certeza. O homem se colocou protetoramente perto de Athena, segurando-a pelo braço.

“Ares, já chega. Athena não tem nada a ver com isso.”

“Qual é o problema de vocês? De todos vocês?” A arma em sua mão balançava perigosamente. Seus olhos estampavam algo que beirava a insanidade. “Tão enfeitiçados pela menininha perfeita que acham que ela é! E o que ela tem de mais? Nada! Então por que todos insistem em agir como se estivessem diante de uma PRINCESA?”

Athena já havia estado diante de muitos homens que se achavam superiores e de muitas armas que ameaçavam matá-la. Ares era impulsivo, egoísta e a odiava. Athena não tinha problema em lidar com o irmão. Mas, naquele momento, ele estava bêbado e quase se deixando levar pela loucura, com uma arma em punho no velório do próprio irmão, rodeado de pessoas que não tinham nada a ver com a rixa dos dois.

Sentia o corpo de Poseidon ao seu lado, retesado e à espera do menor movimento. Poderiam negar seus sentimentos um pelo outro, mas nunca que formavam uma bela equipe. Quando o estrondo se fez ouvir, seus corpos se movimentaram em perfeita sincronia.


Notas Finais


Aliás, gostaria de perguntar se vocês têm algum pedido, alguma ideia, qualquer coisa que gostariam de ver na história, pois estou sentindo que o pequeno roteiro que tinha escrito está se esgotando...


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