História Verdade Dourada - Capítulo Único

Levo a destra aos olhos e arranco a máscara que cobria a minha visão. As coisas não parecem tão diferentes assim, até que meus dedos magros tocam o corpo de algum outro, fazendo-o se desfazer em poeira. Assusto-me e olho ao meu redor. Milhares de outros sorrisos, lágrimas, almas que considerava verdadeiras são levadas com o vento como as minhas memórias. Estendo a mão para alcançá-las, tentando agarrar aquelas dos dias que pintei de dourado, mas elas rapidamente escapam do meu alcance, sumindo pelo horizonte, desfazendo-se em lágrimas. 

Me encontro então num mundo apocalíptico. Sei que estão ali, mas na realidade não os sinto. Flutuo por aí a procura de algum ser feito de algo que não seja a poeira que deixa meu nariz um tanto irritado. Papéis abandonados que contavam histórias esquecidas de amores perdidos eram levados pelo vento. 

O desespero de sentir-me sozinha me deixa com um nó na garganta. A chuva escapa pelos meus olhos, deixando o tempo nublado e desconfortável. Não importa o quanto eu passe minha manga longa pelos olhos, ela continua a cair. Acabo por me acostumar com a tempestade constantemente enchendo, mesmo que sufocada. As mãos que estavam sangrando de tanto lutar vão para a minha cabeça, apertando-a. Não suporto mais essa dor.

Tento lembrar-me de algo que seja verdadeiro, algo que realmente esteja lá. Nada me vem na cabeça. Costumo pintar os dias que me são interessantes, mas naquele, nenhuma tinta cobriria o cinza que se espalhava até depois do horizonte. A minha tão querida paleta dourada sucumbiu ao monocromo. Continuo vagando pelas ruas, procurando algo que sei que não vou encontrar.

Eu queria uma última dança, alguém para ficar comigo. Na escuridão, nenhum fogo veio iluminá-la. O mundo por qual ando é formado de sorrisos falsos. Preferia ter mantido a máscara, talvez. Ao levantar meu rosto, vejo no final da rua vazia algo que brilhava. Corro na direção da mesma, mesmo que tropeçando várias vezes no caminho pelo meu corpo fraco. Aproximo e encontro-a. A menina que tinha a aura dourada, a mais verdadeira de todas. Ao encostar meus trêmulos dedos no seu ombro, noto que esta, sim, não se desfez. 

A abraço com todas as minhas forças, agarro a única esperança de um mundo cheio. Como não pude ver? No mundo de mentiras, lá estava a verdade. A minha tinta dourada que se espalhava pela minha realidade, e de jeito nenhum a deixaria escapar.