"Certa vez, faz tempo, eu, através dos meus poderes, transformei o ar em água, e a água novamente em sangue, e, solidificando-a em carne, formei uma nova criatura humana - um menino - e produzi um resultado muito mais nobre do que o Deus Criador. Ele o criou da terra, mas eu o fiz do ar - uma tarefa bem mais difícil: depois eu o desfiz e o dissolvi novamente no ar." -Simão Mago, Apophisis Megale, século I
Floresta da Cidade de Amissa, ano 477
(Narrador POV)
O mago estava apressado, corria de um lado ao outro na velha cabana enquanto arrumava seus preciosos livros em uma sacola grossa de pele. O garoto o olhava sem expressão enquanto aguardava alguma ordem a ser obedecida.
- Seokjin, meu querido filho, devo guardá-lo enquanto eles não chegam. Deite na caixa.
- Sim, senhor.
O mago se aproximou do garoto silencioso e colocou a sacola cheia aos seus pés no espaço que sobrara da caixa.
- Sinto muito por isso, as coisas não deveriam ter tomado tal rumo, eu apenas...apenas queria o humano perfeito para a guerra. Deveria ter sido mais cuidadoso; não o culpo pela minha ignorância. - O velho sorriu ao se dar conta da sua ingenuidade; o jovem ali deitado não tinha sentimento algum, apenas o olhava de forma vazia.
- Está tudo bem, senhor.
O mago o olhou surpreso, a sua criação nunca havia falado palavras que não fossem "sim", "não" ou "senhor".
- Parece que você é mais perfeito do que eu imaginara... - Estava impressionado, mas não tinha tempo para devaneios, precisava escondê-lo dos Tenebris o mais rápido possível então fez um pequeno corte em seu dedo indicador, pingando uma única gota na testa do garoto. - Somno pulveris creatura. - Um pequeno pergaminho enrolado saiu por entre os lábios finos do menino e os pequenos olhos se fecharam. Quem o olhasse naquele momento pensaria ser apenas um jovem cadáver; o velho apagou o seu nome que estava escrito com pequenas letras no pergaminho, o enrolou novamente e o colocou sobre a mão imóvel do menino.
O mago suspirou pesaroso ao que teria que abandonar a sua maior criação em um caixote velho, mas não havia tempo. Abaixou a pesada tampa e proferiu mais algumas palavras, selando-a. No momento em que a caixa fora selada, começou a desaparecer lentamente sendo transportada para um lugar que nem mesmo o mago sabia. Nunca havia testado aquele feitiço antes.
A Guarda Tenebris já podia ser ouvida se aproximando da cabana então o velho colocou seu velho capuz sujo e saiu, sabendo que teria que enfrentar uma batalha já perdida.
Subúrbio da Cidade de Amissa, ano 577.
(Namjoon POV)
- Namjoon, vamos logo! O festival é em uma semana e eu não quero perder nada!
Hoseok não parava de gritar do lado de fora da estalagem, o que me fazia demorar mais ainda para achar a droga do meu alaúde. Depois de muita gritaria e impaciência eu achei o instrumento em cima do armário, a parte de como ele foi parar lá ainda me é desconhecida.
- Finalmente! Eu já ia te abandonar aí! - Foi a primeira coisa que o meu suposto melhor amigo me disse quando eu desci até a porta da estalagem.
- Você nunca faria isso, agora vamos logo, como você mesmo disse não podemos perder o Festival da Terra! - joguei minha pequena bolsa no lombo da mula que me esperava e a montei. - Uma semana, hein? Melhor isso valer a pena, não sei quanto tempo mais o Rapmon aguenta.
- Eu te disse pra trocar essa mula velha por algum dinheiro. Não me venha com ladainhas justo na nossa partida, o Mickey aqui aguenta rodar o mundo! - e deu leves tapas no jovem animal com seu sorriso habitual.
- Eu não vendo meus amigos! - soltei, indignado com tal sugestão. Hoseok gargalhou e bateu as rédeas do animal, fazendo-o correr e me deixando para trás. - Não acredito nisso...Vamos lá, Rapmon, mais uma viagem. - e seguimos Hoseok com um lento trote.
__
Olhei o céu e pela posição do Sol eu sabia que já havia passado da hora do almoço. Hoseok mantinha o mesmo ritmo que eu e comia um pedaço do bolo de castanhas que havíamos comprado numa taberna qualquer na beira da estrada lamacenta.
- Será que vamos conseguir nos apresentar esse ano? - Hoseok questionou com a boca suja de farelos.
- Acho difícil, nunca deixaram nenhum camponês entrar na lista.
- Ah, cara, isso é tão injusto! Maldito seja o rei!
- Você ficou doido?! E se alguém escutar? - olhei rapidamente ao redor. Não pretendia ser preso por difamar a figura real.
- Pff. Não tem ninguém nesse fim de mun-
- Olha ali! - apontei para uma figura pequena parada alguns metros a frente que balançava uma mão em nossa direção.
- Será que precisa de ajuda?
- É o que vamos ver. - acelerei o trote e parei ao lado do que notei ser um menino pálido e com um diferente cabelo num tom esverdeado. - Precisa de ajuda?
O menino limpou o suor da testa e posicionou as duas mãos na cintura.
- Eu quero ir até a cidade de Tenebra, tem um festival por lá. O que acham de uma carona para esse camponês? - e sorriu.
- Hm...- Hoseok se prostou um pouco atrás. - Tudo bem. Sobe aqui, estamos indo até lá também, e eu não estou carregando muita coisa mesmo e duvido que o Rapmon consiga carregar dois. - e sorriu debochado. - Aliás, nome, por favor.
O menino de cabelo verde nos olhou como se não acreditasse que daríamos carona para um completo estranho e assentiu com a cabeça, trazendo à tona um sorriso encantador.
- Eu sou o Yoongi, mais conhecido como o melhor músico do reino de Tenebra, muito prazer! - e fez uma pose como se realmente fosse alguém importante. Ok, ele parecia doido e não sei se levá-lo conosco é certo, mas Hoseok tinha aquele olhar que eu conhecia bem, o de decidi e não mudo de ideia. Na verdade o fato é que se o Hoseok confia em alguém, eu também confio.
Como nenhum de nós disse nada sobre a encenação, Yoongi bufou e deu de ombros, subindo no lombo do Mickey. Hoseok parecia cada vez mais animado.
- Cara, agora somos três! Dá pra acreditar? Quantos mais viajantes encontraremos? Façam suas apostas, cavaleiros! - e Mickey começou a trotar, comigo logo ao lado.
- O que vão fazer em Tenebra? - Yoongi me olhava.
- Vamos tentar participar do Festival da Terra, e pela sua bela apresentação como melhor músico do reino acho que você também vai.
- Ah, sim. Aqueles ricos nojentos vão ver que entre os pobres as estrelas brilham mais forte! E a estrela sou eu, óbvio.
Hoseok riu e demos início a uma leve conversa entre várias paradas para descansar. Tive que sorrir com o clima de amizade que logo surgira entre Yoongi, Hoseok e eu.
Por algum motivo, com o surgir da noite, uma estranha sensação começou a apertar meu peito; esse ano seria diferente, com certeza, eu sabia disso. E não poderia estar mais ansioso.
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