História Gomen, otouto - Capítulo Único

Otouto, gomen.

A verdade é que eu sempre fui um péssimos irmão e não mereço nem metade da sua admiração, agora ou mesmo no passado. Sempre fui visto como um ninja forte, um prodígio para minha idade, a promessa para o nosso clã, mas na verdade sempre fui fraco. A dor da perda, o caos que presenciei na Guerra ainda muito novo me moldou, a vida se tornou um tema delicado para mim, e fugaz, não existia motivos para viver e lutar se um dia a sepultura era o destino que todos deveriam compartilhar, a única coisa que os uniam.

Foi quando você nasceu, Sasuke, que vi um motivo para a minha própria existência. Era para proteger você de toda dor, todo desespero e sofrimento que havia nesse mundo que eu viveria. Otouto, você foi o ponto brilhante de esperança, iluminou a mim, haha e chichi, a primeira geração pós tragédia da Guerra, aqueles que deram motivos por aquela luta sem causa.

Conforme você foi crescendo, forte, saudável e alegre, senti que não era preciso ficar preso a minha própria existência ou a do Clã, me formei como ninja, e assim vivi com outros, conheci as dores e suas histórias, o sentimento de união com seus companheiros. Entendi que laços poderiam e deveriam ser criados, nos fortaleciam, até que o nome Uchiha tirou isso de mim.

O ódio que existia entre Konoha e os Uchihas afetava a todos envolvidos. Eu, como um dos centros da força do Clã, futuro líder e homem de confiança do Terceiro Hokage, era pressionado de todos os lados. Mas havia Shisui, nosso primo e meu melhor amigo, ele foi meu guia e sensei, ensinou sobre as técnicas ninjas e de sobrevivência na nossa própria família, aprendi mais sobre união com ele do que com nosso próprio pai, que estava tão focado em lidar com as exigências do Clã que não enxergava o que acontecia ao redor.

Inclusive você.

Minha rebeldia com as ordens de chichi, quando eu ainda era muito jovem, falavam mais alto na hora de Uchiha Fugaku sentir-se obrigado a agir no poder da posição de pai, me corrigir, me educar, me treinar, me tornar Uchiha Itachi, o orgulho do Clã, o assassino que não reclamava. Enquanto você, Uchiha Sasuke, ia crescendo sobre a sombra que eu projetava, o ponto de iluminação que ignorei, achando na minha inocência, que assim você ficaria a salvo.

Eu sinto muito, Sasuke.

Foi por deixar de lado os valores que antes tinha aprendido, que você sofreu tanto. Minhas recusas, minha solidão, foram como um véu que encobriram meus olhos, tirando qualquer chance de entender verdadeiramente a situação, o que você sentia. Minha sombra egoísta avançava sobre você.

Hoje me arrependo do tempo que não passamos juntos, dos treinamentos que nunca cumpri, os ‘até logo’ que não passavam de promessas vazias.

Então tudo aconteceu, foi rápido e eu não soube agir. Os Uchihas me despertavam um ódio que nunca senti, Shisui se sacrificara por um Clã perdido, mergulhado em ódio, assim como o abismo que meu próprio coração. Por outro lado era a minha família, meus primeiros laços, as pessoas que eu amava e sofriam pela sua própria arrogância, que se engasgavam com as desconfianças que toda uma vila tinham para consigo.

Então eu os matei.

Com dor em minhas entranhas. Manipulado. Usado. Descartado. Mas com meu querido irmãozinho salvo.

Engano meu.

Prometi lhe proteger no momento que você nasceu, porém fui aquele que mais te machucou. Lhe joguei na escuridão e na dor, minha decisões precipitadas te deram uma carga que sozinho se obrigou a carregar. O peso da honra dos Uchihas, o símbolo de sobrevivência de uma revolução, aquele que permaneceu a solidão.

Fui seu herói, sua inspiração, e sua ruína.

Por isso, gomen, por mais que eu não mereça.

Aishiteru, Sasuke.

Betado por Pan Alban