1. Spirit Fanfics >
  2. Goner >
  3. Capítulo 1

História Goner - Capítulo 1


Escrita por: ALUSIE

Notas do Autor


Oi pessoal, esse capítulo vai ser meio que um "teste", tipo se vocês gostarem eu continuo se não, bom... enfim, espero que gostem!

Capítulo 1 - Capítulo 1



      Corro sem rumo pela Floresta das Trevas, de vez em quando tropeçando em raízes que se sobressaíam da terra e os galhos e folhas das árvores faziam pequenos cortes em meu rosto e mãos enquanto eu tentava desesperadamente afasta-los para fora de meu caminho. Meu rosto ardia por conta disso e meus músculos gritavam de dor a cada passada dada por meu corpo.
     Algo me perseguia. Algo grande e perigoso. Algo que eu não conseguia distinguir muito bem.
      Uma espécie irreconhecível de planta, que mais pareciam tentáculos, estava por toda parte e era possível ver algumas partículas estranhas (eu supus que fossem cinzas) flutuando pelo ar. Eu sabia o que aquilo significava, só não queria admitir que era real: eu estava no Mundo Invertido. E quanto mais eu corria pior a situação ficava, porque eu estava desesperado, cansado e não fazia ideia de para onde eu estava indo, a única coisa que eu sabia é que eu deveria fugir e tentar me esconder (o que era quase impossível levando em conta a proximidade que a coisa se encontrava e a raridade de lugares para me enfiar)
      Eu estava tão concentrado nos obstáculos no chão e tão preso em meus devaneios que nem percebi o ser humano parado como uma rocha no meio do caminho, só o vi quando nossos corpos se chocaram e eu fui arremessado no chão a sua frente, enquanto a pessoa continuou lá, parada.
      - Ei! Mas o que... - começo, mas ao erguer meu olhar o resto da frase morre em minha garganta e é substituída por um: - Oh.
      Lá estava ela exatamente igual desde a última vez que nos vimos: com o vestido rosa da Nancy, o casaco azul, as meias verde e amarelo, os All Star surrados e, o mais notório, a ausência de cabelos. Eleven parecia mais poderosa do que nunca, com um olhar que nada nesse mundo o abalaria, tão duro e frio que até o mais assustador dos criminosos teria arrepios.
      Me levanto e a encaro. 
      - El? - chamo com a voz baixa, mas parecia que ela não me via, que eu era transparente, apenas mais um fantasma naquele mundo onde só habitavam a morte e a destruição.
      - El, sou eu, Mike. O que faz aqui? Deixa eu te ajudar a sair deste lugar.
      Sem respostas. Ela só continua encarando a vasta escuridão da floresta com o olhar vazio.
     Faço de tudo para que ela me note desde sacudi-la à (tentar) empurra-la, mas nada tirava sua concentração, ela nem mesmo piscava. 
      Por fim decido usar meu último truque. Sugo o ar para os pulmões usando o nariz e a boca e grito usando todas as minhas forças possíveis. Um grito tão poderoso que me deixaria sem voz por vários dias.
      - ELEVEN!
      Nada. Bufo e abro a boca pronto para gritar novamente, quando um som animalesco corta o ar. Olho para trás e finalmente vejo a coisa que me perseguia. 
      Com seu corpo deformado e o rosto enrugado, o Demogorgon corria rápido em nossa direção, mas diminuiu a velocidade quando viu Eleven. A coisa pareceu assustada, com medo, quase como se a garota de 14 anos fosse o pior pesadelo da criatura horrenda, o que soava meio irônico. Até um pouco engraçado se a situação não fosse tão tensa.
      Mas mesmo estando assustado o bicho ataca e, quase igual a última vez, Eleven ergue o braço e usa seus poderes para desintegrar o Demogorgon e a si mesma, deixando para trás somente poeira, mais cinzas e um grito que ecoava em minha mente...

      Acordo sobressaltado, ofegante e com a camisa empapada de suor. Eu estava tendo novamente aquele pesadelo horrível.
     Já fazia 1 ano desde que tudo aconteceu, mas o trauma de ter visto e participado daquilo tão de perto nunca me abandonou, tanto que eu ainda tinha esses sonhos com Eleven e o Demogorgon. Era e ainda é difícil para mim superar tudo isso, Eleven tinha sido especial para mim e perdê-la daquele jeito tão terrível foi doloroso, como se alguém tivesse arrancado um band-aid da minha pele de maneira brusca enquanto uma ferida ainda cicatrizava. Todos os dias essa ferida dói e sangra e eu simplesmente não sei o que fazer para fecha-la. Sou jovem, estou entrando na adolescência agora então não sei lidar muito bem com perdas daquele nível como os adultos lidam. 
     No começo tinha sido pior. Eu mal saía de casa, só queria saber de ficar deitado esperando a morte chegar e levar a minha alma para longe. E quando os garotos me chamavam para jogar Dungeons & Dragons eu negava e desviava do assunto, em alguns casos ignorando-os completamente e voltando para casa sozinho. Nancy também tentou conversar comigo, mas eu sempre jogava na cara dela que provavelmente tudo teria sido diferente se ela e o Jonathan não tivessem saído para caçar o monstro e nos deixado sozinhos na escola.
     Meus pais (principalmente minha mãe) ficaram tão preocupados comigo que marcaram uma consulta com um psicólogo da região. Claro que eu não contei nada para ele, eu não costumo me abrir tão fácil, ainda mais com estranhos. No final das contas eu tive que ficar uns 2 ou 3 meses tomando antidepressivos.
     Diferente de mim, Dustin e Lucas já no segundo mês estavam bem e parecia até que eles nem se lembravam do que tinha acontecido (ou era o o que eles diziam).
      Mas eu sabia que Will nunca iria conseguir esquecer aquilo. Ele passou uma semana inteira no Mundo Invertido, sozinho, sempre se escondendo e correndo do Demogorgon. Ele quase nunca nos conta sobre o que aconteceu lá, só se o pressionarmos um pouco, mas no meio da história ele sempre acaba chorando ou parando bruscamente, como se tivesse visto um fantasma, e mudando de assunto. Nós já até desistimos de tentar descobrir.
      Porém com o pouco que sabemos já dá para saber que foi a pior experiência de todas. Às vezes eu penso o quão egoísta eu sou sofrendo pela perda da Eleven sabendo que Will passou por coisa muito pior nos dias que ficou preso naquele lugar.
     Seco a testa com as costas da mão e me deito novamente, bufando. Eu estava cansado de acordar praticamente todas as noites com aquele pesadelo. No começo eu acordava chorando, por ter acontecido tão recentemente. Depois eu já comecei a aceitar que ela tinha ido, mas agora eu sinto raiva. Raiva do mim, por não ajudá-la; raiva do monstro, por ter levado-a; raiva de várias coisas.
     Quando eu fui naquela consulta ao psicólogo eu o questionei sobre como uma pessoa normal reage à perda de alguém querido e ele me explicou que existem as cinco fases do luto que todo mundo precisa passar: a negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.
     Na negação a pessoa simplesmente se recusa a aceitar que perdeu um ente querido. No meu caso eu demorei alguns dias para sair da negação. Todos os dias eu pensava que El não estava morta, e sim no meu porão, só esperando eu descer com mais comida e algo para entrete-la.
     Acho que a raiva foi a fase que mais demorou para passar. Eu fiquei tão revoltado e me sentia tão injustiçado que culpava a tudo e todos pelo o que aconteceu. Foram duas semanas inteiras para aquilo tudo passar. 
     A barganha foi a que menos demorou, foram dois dias de pura negociação com Deus ou qualquer outro ser místico para trazer El de volta. Prometi que iria ser um filho melhor, um amigo melhor, uma pessoa melhor, iria me esforçar mais nos estudos, etc, tudo isso só pela vida da garota de volta. 
     Eu estava na fase da depressão quando fui ao psicólogo. Foi a parte que eu só queria ficar deitado esperando a morte chegar. Eu fiquei tão triste que uma vez me peguei ponderando se o suicídio não seria a melhor forma de acabar com tudo. Descartei a ideia na hora. "Estes não são pensamentos de um garoto de 13 anos. E suicídio parece algo tão egoísta", pensei. 
     E depois de todo esse processo eu comecei a simplesmente aceitar o fato que Eleven se fora para sempre e que o melhor a se fazer era seguir em frente. 
     Olho para o relógio na mesinha de cabeceira, que marcava as 6:02 e eu ouço os passos abafados de minha mãe vindo me chamar para tomar café. 
     Hoje é o dia em que aulas retornam e eu não estava nem um pouco animado para voltar à velha rotina. Por mais que eu goste de ir a escola, hoje eu não estava com um bom humor para isso. Penso em mentir pra minha mãe que estou doente e que não posso ir a aula, mas desisto. Preciso voltar a me acostumar a ver o rosto de Troy e seus amigos cérebros de pudim (nós os chamamos assim porque parece que eles têm um pudim no lugar do cérebro. Dustin não gostou muito, mas os chama disso mesmo assim) e de assistir horas de aulas sentado em uma cadeira tão desconfortável que mais pareciam tábuas de aço.
     Ouço quatro batidas na porta e minha mãe a abre apenas o suficiente para colocar a cabeça para dentro do quarto.
     - Oh, você já está acordado - ela sorri. - vamos se levante, o café está quase pronto. - ela estava saindo quando pareceu lembrar de algo  - Ah, e hoje o Will vai vir aqui para vocês dois irem juntos para a escola. 
      - Certo. - dou um sorriso cansado a ela e me levanto enquanto ela fecha a porta e volta para o andar de baixo.
      Tomo um banho demorado em uma tentativa fútil de fazer com que as imagens daquele pesadelo horrível escorressem pelo ralo junto com a água. Saio do banho e enquanto me seco dou uma rápida olhada no espelho. Eu estava bem melhor do que à alguns meses atrás, quando eu ainda estava na depressão (eu havia emagrecido tanto nesses dias que eu podia ser facilmente confundido com um esqueleto). Meus cabelos pretos seguiam o mesmo corte de sempre, minhas feições estavam mais maduras por conta da puberdade e olheiras começavam a se destacar abaixo dos meus olhos decorrente de tantas noites em claro lendo gibis ou jogando vídeo game na casa de Dustin ou Will (que aliás se resumiu em metade das nossas férias).
     Saio do banheiro e caminho rapidamente até meu quarto. Visto uma calça jeans qualquer, uma blusa azul, uma jaqueta de moletom e calço meus tênis. Pego minha mochila e desço as escadas.
      Holly e meu pai estavam sentados à mesa enquanto minha mãe cozinhava alguma coisa no fogão. Me sento em frente ao meu pai e pego uma torrada lambuzando-a de geleia de morango. Eu estava servindo um pouco de suco quando a campainha tocou.
      - Eu atendo! - Nancy foi correndo até a porta. - Ah! Olá Will.
      - Oi, Nancy. Cadê o Mike?
      - Aqui! - grito do meu lugar e mesmo de longe pude ver o olhar de Will pousar em mim e um pequeno sorriso brotar em seu rosto.
      - Com licença. - ele diz passando pela minha irmã e vindo na minha direção.
      - Will! Que bom que você chegou! Não quer comer com a gente? - ouço a voz da minha mãe vinda da cozinha. 
      - Oi, Sra. Wheeler! Não, eu já comi em casa, obrigado. 
      - Tudo bem. 
      - Ansiosos, meninos? - meu pai nos pergunta ainda olhando para as folhas do jornal. 
      - Um pouco. Na verdade eu só tô indo para escola para poder pegar comida de graça na cantina. - brinco enfiando o resto da torrada na boca e virando o suco. 
     - Você já tá falando que nem o Dustin. - Will retruca, rindo. 
     - É, acho que passei tempo demais com ele durante essas férias. Bom, nós já vamos andando. Tchau, pai. Tchau, Holly. 
     - Tchau, Mike - a pequena diz um pouco hesitante. Sorrio com a sua tentativa bem sucedida de se despedir de mim. 
     - Tchau, filho, boa sorte. Você também, Will. 
     - Obrigado, Sr. Wheeler 
     Me levanto e pego minha mochila indo em direção à porta com Will em meu encalço. 
     - Mãe, já estamos indo! - grito para ela já com a mão na maçaneta. 
     - Não vai esperar os waffles ficarem prontos?
      Faço uma careta e fico meio zonzo com a lembrança de Eleven comendo os tão amados Eggo's, que me atinge como um soco.
     - Não, estamos meio atrasados. Tchau, mãe. - digo sentindo o desânimo pousar novamente em meus ombros. 
     - Certo. Tchau, querido. 
     Saímos e pegamos nossas bicicletas, indo em direção a escola. 
     - Ei, cara, não fica assim, com certeza Eleven tá bem. Ela só deve tá esperando o momento certo para aparecer de novo. - Will diz percebendo minha tristeza e tentando me animar.
     Quando Will saiu do hospital e a situação dele se assentou por completo eu, Dustin e Lucas contamos tudo o que aconteceu naquela semana detalhadamente para ele, desde o momento em que ele saiu da minha casa no dia de seu desaparecimento até o dia em que o visitamos pela primeira vez quando saiu do Mundo Invertido. Claro, ele achou a história incrível, mas Will era meu melhor amigo e me conhecia bem, então notou minha tristeza rapidamente e quis saber o que estava acontecendo. Não contei assim tão fácil pra ele, eu havia me tornado uma pessoa muito fechada depois que tudo aconteceu. Só depois de tanto me pressionar que contei tudo sobre o que eu sentia pela El. Ele era o único que sabia com detalhes disso (Dustin e Lucas também sabiam, mas porque eles descobriram). 
     - É, tá. - murmuro. 
     Pedalamos em silêncio durante algum tempo até que o som de outras bicicletas se aproximando surge e a voz debochada de Dustin diz:
      - E aí, mocinhas? O que duas lindas garotas fazem aqui sozinhas?
     - Cala boca, Dustin. - Lucas o repreende. 
     - Ah qual é, cara, não enche!
     Sorrio. Por mais que as brigas de Dustin e Lucas irritassem eu sentia falta daquilo. 
     - Será que dá para vocês pararem de brigar por um minuto? - Will diz fingindo irritação. 
     - Ele está certo, vocês deviam parar de brigar. Resolver as coisas com ódio e violência nunca dá certo. E vocês são amigos, não tem porque brigar. - digo. 
     Dustin bufa. 
     - Tá bom, Ben Kenobi, já entendemos.
     - É, cara, você tá falando igualzinho aquele Jedi esquisito. - Lucas completa. 
     - Tá bom - respondo, rindo. 
     Pedalei pelo resto do caminho em silêncio enquanto ouvia alguns comentários dos outros três como "será que teremos novos professores?" ou "quem vai estar na nossa turma esse ano?" ou até  "será que a mulher da cantina ainda esconde os pudins de chocolate?", mas minha mente viajava até os acontecimentos na escola no último ano. Como será que eles lidaram com todos aqueles corpos? Ou toda aquela destruição em algumas partes do colégio?
      - Alô, Terra chamando Mike, está na escuta, Mike? - Lucas me chama imitando um controlador de uma missão espacial. 
     - Que foi? - pergunto, balançando a cabeça para afastar aqueles pensamentos. 
     - Nós já chegamos. O que tá acontecendo com você hoje, hein?
     - Nada, eu acho que é só o sono. - minto. 
     - Hum. - ele não pareceu convencido. 
     Desço de minha bicicleta, prendo-a em um poste ali próximo e depois que os garotos fazem o mesmo, o sinal toca e entramos juntos.
     As aulas correram normalmente, algumas mais chatas que as outras, mas tudo normal. Tinha alguns professores diferentes e alunos novos, como uma garota que teve cálculo comigo e havia me perguntado sobre como fazer uma equação, porque ela não tinha conseguido entender muito bem. Dustin, Lucas, Will e eu não tivemos as mesmas aulas, exceto por algumas matérias obrigatórias tipo álgebra ou linguagem oral. 
     A próxima, e última, seria de ciências com o Sr. Clark. Eu adoro as aulas do Sr. Clark, eu acho a ciência fascinante, principalmente a astronomia. Amo coisas relacionadas ao espaço sideral e sempre penso na quantidade de mistérios esperando para serem solucionados a respeito disso. Outra paixão minha é o espaço-tempo. Pode parecer estranho mas eu estou sempre tentando estudar viagens no tempo e coisas do tipo. É incrível. 
     Paramos na porta da sala e vejo que a mesma está fechada. Franzo a testa e tento usar a maçaneta, mas ela não se abre. 
     - Trancada? - Will pergunta parecendo tão confuso quanto eu.
     - Não era para isso estar aberto? - Lucas completa. 
     - Sei lá, acho que sim - respondo. 
     Aquela altura o corredor já estava cheio de alunos confusos ou que contavam, animados, o que fizeram nas férias para seus amigos. 
      Escuto alguém pigarrear e viro o rosto na direção do som. Vejo o professor de pé no fim do corredor acenando para chamar a atenção de todos. 
       - Bom dia, alunos! Pelo visto vocês aproveitaram bem as férias. - alguns concordam, murmurando. - Desculpem o transtorno, mas é que hoje nós vamos começar com uma aula diferente e precisaremos de uma sala diferente. - ele sorri consigo mesmo imaginando alguma coisa. - Bom, vamos, sigam-me. 
      Ele nos conduz por um labirinto de corredores até encontrar a sala desejada. A porta já estava aberta, então ele somente para ao lado dela e nos da passagem. 
      Nós éramos uns dos primeiros da fila, então fomos meio privilegiados para poder escolher os melhores lugares. Ou não. 
      Fico paralisado ao entrar na sala e ver que o buraco onde o Demogorgon havia sido prensado por Eleven com seus poderes não havia sido reparado. Minha mente da voltas e mais voltas e eu preciso me apoiar em Will que estava do meu lado, se não eu iria cair. Dessa vez eu não consegui afastar as lembranças, que vinham como um soco na cara. Todos os acontecimentos naquela sala passam pelos meus olhos e eu sinto as lágrimas brotarem.
     - Ah não. - Dustin ofega. 
     - O que foi? - o professor pergunta entrando na sala. - Ah! Mas eles disseram que isso já tinha sido concertado! Desculpe por isso, garotos, eu vou resolver isso. 
      Ele arrasta um quadro com a tabela periódica para frente do buraco, tampando-o visualmente. 
      - Eu vou pedir para alguém consertar isso. Agora, sentem-se. 
      Will me ajudou a chegar até o meu lugar e nos sentamos nos fundos da sala, porque os lugares à frente já haviam sido tomados, e a aula começa. 
      A matéria devia ser alguma coisa a ver com biologia, porque ele estava sempre apontando para partes de si mesmo ou então para uma representação dos órgãos do corpo humano em uma estante ali próxima, mas eu não prestei atenção em nenhuma palavra que o Sr. Clark disse, eu só ficava encarando o quadro e pensando no que aconteceu no último ano. 
      Eu ainda não conseguia acreditar que aconteceu tudo tão rápido. Eu disse antes que havia aceitado o fato de Eleven ter ido, mas ver aquilo fez com que tudo que eu passei nos últimos meses fossem por água abaixo. 
     Ela era incrível, a garota mais incrível que eu havia conhecido e eu não acho que vou conhecer alguém como ela nunca mais. E ela era incrivelmente bonita, mesmo não tendo cabelos (o que comprova que a beleza de alguém não é só tendo cabelos ou não) e eu nunca vou esquecer cada detalhe daquele rosto. Nunca vou esquecer aquele sorriso contido e nem aquele olhar... Ah, a maneira que ela me olhou depois que eu a beijei. Me senti tão leve, como se eu pudesse flutuar e tocar as estrelas. Quem sabe não trazer uma para a El? Sorrio comigo mesmo imaginando-a maravilhada observando o brilho e a beleza do astro. 
     "Mas ela se foi e você nunca mais vai vê-la. Você deixou que isso acontecesse a culpa é sua", dizia uma voz no fundo da minha mente. 
     "Não!", protesto. "Eu tentei protegê-la, mas..."
     "Mas? Em quem você vai jogar a culpa agora, Michael? Na sua irmã? No Will? Nos seus amigos? A culpa é sua, toda sua! Assuma a culpa, seja home..."
     - Ei! - alguém me chama dando um soco de leve no meu braço, interrompendo a voz. 
     - Hein? Mas o que... - me viro para olhar a pessoa que me chamava e vejo a menina da aula de cálculo me olhado - Ah, oi, você de novo. 
     - Você tá bem?
     - Eu? Eu tô ótimo.
     - Humm, não parece. Você tá triste com alguma coisa. Era aquilo no quadro? Você sabe o que é aquilo? O que aconteceu?
     - Hã...
     - Sr. Wheeler e Sra. McBridge, estão com algum problema? - o Sr. Clark diz colocando as mãos na cintura e nos repreendendo com o olhar. 
     - Desculpe, professor. A culpa é minha, eu que chamei ele. - a garota abaixa a cabeça parecendo envergonhada. 
     - Tudo bem, espero que isso não se repita. Bom, como eu ia dizendo... - o sinal toca interrompendo sua fala - Ah! Passou tão rápido! Bom, dever de casa: leiam sobre corpo humano na página 20 do livro, vamos aprofundar sobre isso na próxima aula! Não se esqueçam. 
     Me levanto e começo a arrumar minhas coisas e pelo canto do olho pude ver a menina fazendo o mesmo, porém vez ou outra ela me lançava um olhar rápido.
     - Seja lá o que estiver te deixando para baixo, não fique assim, vai dar tudo certo. Afinal de contas depois da chuva vem o arco-íris não é mesmo? - ela continua, jogando a mochila nas costas. 
     - Acho que sim. - respondo. 
     - Ei, eu ainda não sei seu nome. 
     - Michael Wheeler, mas todos me chamam de Mike. E você?
     - Sou Billie McBridge, mas todos me chamam de Bill - ela estende a mão para mim e eu fico encarando-a um pouco confuso. - Vamos, aperte minha mão. Não sabe o que é isso?
     Eu o faço um pouco hesitante. 
     - Olha só! Então você sabe como se faz - ela ri. - Bom, Mike, eu preciso ir, até amanhã. 
     - Até amanhã, Bill. 
     Ela se vai e eu sinto alguém me empurrar, quase fazendo com que eu caísse e batesse a cara na mesa.
      - Quem era aquela garota? - Lucas pergunta com os olhos semi cerrados. 
      - Acho que é uma novata. - Will diz. 
      - Ela é bonita. - Dustin comenta. 
      - Não sei, gente, ela que começou a conversar comigo. 
      - Acha que ela quer entrar pro grupo? - Will pergunta. 
      - Também não sei, mas vamos dar uma chance a ela. Ela parece ser bem legal. - digo.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...