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História Good Enough - Nightclub Invasion


Escrita por: SynthyaM

Notas do Autor


Eu sei que está cansativo pedir desculpas pela demora, mas, infelizmente, esse semestre está muito corrido na faculdade, estou fazendo de tudo para postar o mais rápido possível e sei que talvez não tenha o direito de reclamar por causa disso, mas, o número de comentário caiu bastante! Muito mesmo. Esse capítulo está enorme em compensação a demora e espero que os comentários aumentem, de verdade.
Lembrem de favoritar! Ajudem GE a crescer cada vez mais!
Boa leitura!

Capítulo 29 - Nightclub Invasion


Fanfic / Fanfiction Good Enough - Nightclub Invasion

"Porque são belas pessoas como você que conseguem o que eles querem
E são belas pessoas como você, que sugam a vida do meu coração
E são belas pessoas como você, que me fazem chorar
Porque ninguém poderia ser tão cruel como você"

(Cher Lloyd - Beautiful People)

 

As risadas ao meu redor formaram um eco distorcido em meus ouvidos. Minha cabeça tentou acompanhar a quantidade de pessoas que se encontrava ali e fiquei zonza, os vultos e as sombras me deixaram saber que não eram poucos os que estavam vendo aquilo. Tentei focar em Jesse e perguntar o que estava acontecendo e, quando o encontrei, estava entre seus amigos, a loira que vivia jogando indiretas para ele – mesmo nós estando juntos – com os braços em sua cintura.

Ele estava rindo e sequer me olhava. Jesse estava sorrindo para os amigos, recebendo felicitações pelo que estava passando no telão, alguns até disseram que ele era “o cara”, outros abaixaram a cabeça concordando que ninguém ali ousou ir tão longe quanto ele e ninguém obteve tanto sucesso também.

Minha garganta travou quando as gargalhadas ficaram mais altas depois do primeiro gemido. Depois do que acharam ser meu primeiro gemido. O vídeo era uma produção caseira, dava para perceber. A câmera estava em algum lugar perto da porta, não fazia ideia de como ele a tinha ligado. De qualquer forma, estávamos deitados na cama, sem roupas, ele por cima. Era um filme da noite passada e custava a mim acreditar no que estava vendo.

- Caramba, Jesse – alguém disse – Você realmente conseguiu, cara. Você comeu a garota mais esquisitona do colégio.

Alguém murmurou uma aprovação – E não é que a esquisita tem um corpo bem legal?

- Não tenho nada a reclamar – Jesse me surpreendeu dizendo – Claro que teria sido melhor se ela tivesse caído de quatro e chupasse o meu...

- Jesse? – perguntei, a voz entrecortada demonstrando minha insegurança e descrença sobre o que estava acontecendo – Jesse, o que está acontecendo?

- Como assim, linda? – ergueu a sobrancelha – Não se reconhece no vídeo?

- Porque esse vídeo está... está... – engoli em seco e mais risadas soaram ao meu redor – Jesse, porque você gravou isso?

- Não ache que sou de todo mal – deu de ombros e veio até onde eu estava, desgrudando-se da garota – Você até que é bonitinha – segurou uma mecha do meu cabelo em suas mãos e a colocou atrás da minha orelha – Mas eu jamais me apaixonaria por alguém tão... – segurou em minhas bochechas e aproximou o rosto do meu, nossos narizes quase se tocando – ...estranha, esquisita, imatura. Você é tudo menos atraente, Charlotte Di Angello.

- O que está dizendo? – sussurrei enquanto meu coração se quebrava em pedaços – Jesse, isso é algum tipo de brincadeira? Por favor, o que está dizendo?

- Não, não, não chore – pediu num tom de voz zombeteiro – Você fica mais estranha ainda com esse nariz vermelho e os olhos inchados. Deus sabe o tanto que eu me segurei para não sair correndo toda vez que seu drama começava.

- Isso não está acontecendo, não está... – apertei meu peito com força e fechei os olhos, recusando-me a acreditar que eu estava sendo humilhada daquela forma e perante todo o colégio. Não, aquele não era Jesse e definitivamente nada daquilo estava acontecendo.

- Acorda, garota – seu amigo intrometeu-se – Serei claro para você. Nós apostamos, simples. Apostamos sua virgindade, seu amor, seu gemido, seus segredos.

- Não, não... – um soluço sofrido saiu por meus lábios.

Ele bufou – Pare de choramingar. Nem para nos dar um vídeo decente de sexo você soube. Acha que o homem gosta quando vocês ficam paradas e apenas gemendo? – falou com as garotas ao seu redor.

- Eu não estava pronta, eu... – tentei me desculpar, tentei dizer alguma coisa que os fizessem parar de me tratar daquela forma porque eu ainda não havia entendido tudo que estava acontecendo, não conseguia fazer minha mente e meu coração aceitar que Jesse realmente tinha feito aquilo.

- Eu sei – Jesse suspirou – Acredite, eu tentei te dar mais tempo. Eu queria sexo com você para acabar logo com todo esse tormento que é todo dia te aturar – meu queixo tremeu e ele rolou os olhos – Veja, você não é completamente chata. Mas estar ao seu lado era um tédio. Eu não podia nem pegar na sua bunda.

As risadas foram de zombaria a graça agora, não conseguia sentir o ar em meus pulmões e parecia que cairia a qualquer momento, porque Jesse estava fazendo aquilo? Por quê?

- Por quê? – não percebi que tinha feito a pergunta em voz alta até que ele a repetiu – Quer trote melhor para fim de ano letivo do que ganhar de todos aqui e fazer sexo com a garota mais esquisita do colégio? Mas, espere ai – ele riu – Não foi sexo. Eu fiz você se apaixonar! Isso me rendeu mais pontos, sabia? Elliot, seu desgraçado, não pense que não cobrarei a mais por isso!

- Mas eu amo você – disse enquanto a primeira lágrima caia por minha bochecha – E como pode ser uma mentira isso que eu sinto? Como tudo que você disse pode fazer parte apenas de uma aposta? Você enfrentou meu pai, faria isso só para provar que é o mais fodão desse colégio? – dei um passo em sua direção e ele engoliu em seco, não sabia de onde tudo aquilo estava vindo, mas as palavras foram tão certeiras que o refeitório inteiro fez silêncio – Você arriscaria a sua vida só para fazer sexo? Sexo, como você mesmo disse, com a esquisita do colégio?

Seu maxilar travou e as pessoas esperaram a sua resposta ainda em silêncio.

- Eu sou um cara de palavra – disse finalmente num murmúrio – Se eu disse que conseguiria fazer você se apaixonar por mim, faria de tudo para conseguir isso. Não importa o que estivesse em jogo.

- E, no caso, eu estava em jogo – minha voz tremeu e agora eu estava desesperada, soluços saíram por meu peito e as lágrimas não hesitaram em cair – Você me fez confiar em você, quebrou todas as barreiras que eu construí justamente por causa de pessoas como você e destruiu-me. Tudo por sexo. Tudo por causa de uma aposta.

- Não se subestime tanto – ele estralou a língua – Faria isso com qualquer outra garota esquisita daqui. Você deu azar em ser a pior delas.

- Você me usou – deixei a verdade sair por meus lábios – Você me fez cair em sua armadilha, você filmou o que deveria ser a melhor noite das nossas vidas e mostrou para todos – dizer aquilo era como admitir e fazer meu coração acreditar que realmente tinha acontecido – Você sequer se importou em saber se tinha sido bom para mim porque não foi!

- Não se faça de difícil agora, linda. Você gemeu, você gostou.

- Eu gemi de dor! – esmurrei seu peito, toda minha frustração naquele ato – Eu gemi de medo porque eu não estava pronta e você sabe o por que. Talvez todos aqui te achem o máximo pelo que você fez, mas será que eles sabem que você abusou e se aproveitou de uma garota que estuprada quando era criança?

Seus olhos arderem em uma chama que não pude identificar e as expressões no rosto dos seus amigos e de todos ali variaram entre surpresa e descrença – Isso é passado, você nem ao menos queria falar sobre isso.

- Porque eu tenho cicatrizes internas e externas quando se trata desse assunto. Eu me abri para você, eu mostrei todo o meu coração e passado e você foi só um rostinho bonito, sem conteúdo.

- Você se vitimiza demais – tentou desconversar – A verdade é que você não sabe lidar com o fato de que eu não te amo e nunca amei. Seu pai estava certo, sabia? Deveria tê-lo ouvido.

- Eu confiei em você – sussurrei – Eu amo você.

Ele aproximou novamente o rosto do meu, senti seu cheiro e o calor que seu corpo emanava, quis que ele me abraçasse e dissesse que aquilo era só uma brincadeira de mau gosto e tudo ficaria bem. Quis não acreditar nas risadas e nos olhares de pena, quis não ter o deixado entrar na minha vida e ao mesmo tempo quis ter sido mais difícil, ter dado mais valor ao que Anthony disse.

- E eu tenho pena de você – disse lentamente cada palavra, suas pupilas dilatas conforme me olhava. A voz que antes dizia me amar agora dizendo tais coisas. Eu não sei o que me fez fazer aquilo, não sei se foi seu queixo travado, seu olhar raivoso por tê-lo exposto também ou seu corpo tenso frente ao meu, mas no segundo seguinte estava esmurrando seu peito e arranhando seu pescoço. Não sabia onde tinha tirado forças para, depois de tudo que eu vi e ouvi, fazer aquilo, mas consegui estapear seu rosto, minha mão deixando uma marca vermelha em sua bochecha e minhas unhas arranhando seu pescoço antes que alguém me segurasse pela cintura e nos afastassem.

- Já chega! – ouvi a voz do diretor e os olhos de Jesse se arregalaram – Vocês dois vão me explicar o que está acontecendo aqui e farão isso agora!

Eu não sei como Jesse esperava fazer tudo aquilo sem que fosse pego pela diretoria. Também não sei até quando eu iria conseguir segurar toda a tormenta que sentia estar chegando, minhas unhas estavam cravadas nas palmas das minhas mãos numa tentativa de fazer a dor física ser maior, mas aquilo era pouco para o que eu estava sentindo interiormente. O diretor estava falando comigo, seu olhar demonstrava pena, mas não conseguia focar em seu rosto.

Jesse, ao meu lado, exibia uma expressão impaciente e eu queria seus braços ao meu redor prometendo que tudo ficaria bem, apesar de tudo queria. Queria porque sabia que as coisas piorariam drasticamente quando Anthony chegasse, o diretor o chamou e já podia prever sua reação. Provavelmente riria de mim e eu merecia aquilo. Merecia sua zombaria e seu desprezo, ele estava certo o tempo todo e eu fui tão estupida e ainda sou por querer que Jesse peça desculpas e prometa que aquilo jamais acontecerá.

Eu queria me machucar. Queria fazer isso antes que Anthony chegasse porque suas palavras seriam o suficiente para me derrubar.

- Você me decepcionou, garoto – o diretor disse em relação a Jesse – E tenho certeza que a seus pais também.

Dito isso, nossos pais entraram juntos. Anthony tocava na arma em sua cintura e Jesse engoliu em seco. Nunca antes tinha visto os seus pais, pareciam terem saído de uma daquelas revistas de moda, a mãe usava um sobretudo preto e o pai tinha o cabelo todo penteado para trás e uma expressão raivosa estava em seu rosto.

- O que aprontou, Jesse?

- Eu exijo que esse rapaz seja expulso do colégio – Anthony disse depois que tudo que aconteceu fora dito – Isso é o mínimo que o senhor, como diretor, pode fazer.

- Sr.Neil – a mãe de Jesse falou num tom pomposo – Lembre-se de quem são os mantenedores dessa escola. Não queremos nenhuma medida drástica, certo?

- Você não quer complicação com o chefe de policia da cidade, acredite em mim – Anthony disse num tom ameaçador – Esse garoto abusou da minha filha e a expôs para todo o colégio, expulsá-lo é o mínimo que estou pedindo. E, sim, ainda estou pedindo.

Jesse bufou – Eu não abusei da sua filhinha. Primeiro, sequer a considera como filha. Você bate nela sempre que quer – o olhou com descrença – Segundo, ela gostou. Gemeu como uma putinha.

O pai dele colocou a mão nas têmporas e suspirou enquanto eu deixava mais um soluço escapar, mal vi quanto Anthony saiu do meu lado para segurá-lo pela camisa e erguê-lo à sua altura, o prensando contra parede ao som do grito agudo de sua mãe.

- Limpe sua boca antes de falar da minha filha, seu moleque – Anthony rosnou – O único motivo pelo qual não lhe processo e te faço apodrecer atrás das grades é porque não quero isso no meu histórico policial, mas eu poderia mudar rapidamente de ideia se você não calar essa sua boca idiota.

- Solte o meu filho, seu brutamontes!

- Nós iremos providenciar a transferência dele para outro colégio – o pai de Jesse disse ao mesmo tempo em que ele exclamava um “o que?” – Pedimos desculpas em nome do nosso filho e nos oferecemos a ajudar da forma com que quiser se nos garantir que nenhum processo será instalado.

A expressão de Anthony suavizou e ele até sorriu antes de dar tapinhas na bochecha de Jesse e soltá-lo – Parece que estamos começando falar na mesma língua.

Saímos de lá com um cheque em um valor alto, o que, para Anthony, lavou minha honra. Jesse iria para outro colégio e nenhum processo seria impetrado, tudo que ele queria. No final de tudo, não era comigo que Anthony estava preocupado. Como sempre.

Permaneceu em silêncio durante todo o caminho até em casa, mas sabia que só estava guardando para quando chegássemos. Sabia que levaria uma surra e que iria passar na minha cara tudo que disse, todas as vezes que me avisou que aquilo não daria certo.

Tirei a mochila das costas assim que chegamos, tentando facilitar seu trabalho. Mas, me surpreendi ao vê-lo sentar na poltrona enquanto tirava suas botas com uma lentidão exagerada.

- O que? – perguntou quando me viu encará-lo.

- Não vai passar na minha cara? Dizer o típico “eu avisei”? Me surrar?

- Nunca pensei que veria o dia em que você ansiaria por uma surra, Charlotte – coçou a barba e recostou-se na poltrona, um suspiro relaxante saindo por seus lábios.

- O que está esperando? – insisti.

- Quer tanto que eu faça isso, não é? Quer que eu bata em você porque precisa, porque é desse jeito que vai fazer a dor que está sentindo diminuir – murmurou de olhos fechados – E é exatamente por isso que não irei encostar um dedo em você, Charlotte.

- Você tem que me bater – implorei – Eu errei, não ouvi o que você disse. Eu manchei sua honra. Bata-me.

- Não – disse simplesmente.

- Bata-me! – pedi num lamurio – Por favor, bata-me.

- Essa é minha punição a você, Charlotte. Eu não irei te bater porque é disso que precisa. Tente fazer um bom trabalho por mim, mas, no fundo, você sabe que não será boa o suficiente. Como sempre.

- Anthony, eu...

- Vá para o seu quarto. Lide com sua dor. Eu não poderia pedir punição melhor.

- Eu odeio você! – gritei enquanto corria escadas acima – Eu realmente odeio você!

Ouvi sua risada lá embaixo e ela me acompanhou até o quarto. Fechei a porta atrás de mim e ainda assim conseguia senti-lo zoando de mim. Na verdade, conseguia sentir todos eles fazendo isso. Jesse e os amigos, a loira peituda que agora seria a namorada dele, os alunos presentes naquele refeitório, o diretor. Todos eles de alguma forma zoaram de mim, mas, pior que isso eram os olhares de pena.

Tudo aquilo estava criando um buraco em meu peito maior do que eu poderia prever. Eu sabia que um dia Jesse acabaria me decepcionando e nosso namoro acabaria, era normal, depois de tudo que passei não acreditava em contos de fadas. Mas, eu nunca imaginei que isso seria do modo como foi e nem pelo motivo que aconteceu.

Sabia que deveria ter ouvido Anthony. Ouvido a parte sã de mim que dizia ser impossível alguém como Jesse gostar de alguém como eu, completamente quebrada e errada, distorcida em lembranças de uma infância trágica e uma adolescência aterrorizante. Impossível que o líder do time de futebol americano mais cobiçado daquela escola quisesse remendar todos os caquinhos do meu coração e me fazer sua. Inacreditável o amor que dizia sentir, eu deveria ter percebido.

Deveria ter notado que eu era a piada, o motivo das risadas baixas quando estávamos perto dos seus amigos. Tinha de ter percebido que seu amor era falso, suas palavras de mentira e suas atitudes enganosas.

Eu deveria ter acreditado que também não era boa o suficiente para ele. Jamais seria.

Fui até o banheiro quando as lágrimas começaram a cair, a dor surda em meu peito não me deixava respirar direito e eu sentia que a qualquer momento ela seria forte demais e acabaria comigo. Eu deveria deixar que isso acontecesse, mas era covarde demais. Peguei a lâmina e, com os dedos trêmulos, a pressionei contra meu pulso. Ardeu quase que imediatamente, mas não foi o suficiente. Ainda não.

Minutos depois eu estava ajoelhada no sanitário, colocando para fora em forma de vômito toda a angústia em meu coração. Se é que ainda existia isso em meu peito. Sangue dos meus pulsos escorria até o chão, mas não estava ligando. Soluços desesperados saíram do meu peito ao constatar a verdade nua e crua: eu era uma estupida, alguém desprezível e incapaz de ser amada.

Eu nunca seria feliz. Sei que parece drama de adolescente, mas não é. Que pessoa depois de ser abandonada pela mãe, jogada na porta de um pai que não se importa com você e constantemente lhe lembra os motivos pelos quais foi abandonada e desprezada, que garante não te amar e repete que é porque você não faz nada para merecer esse amor acharia que um dia será amada? Porque se pergunta todos os dias o que tem de fazer então para que ele te ame, tenta ser a melhor filha possível e mesmo assim não é o suficiente porque, quando houve o estupro por parte de um amigo dele, a única coisa com que se importou foi sua própria reputação e não se você estava quebrada, machucada, ferida internamente e externamente.

Mas, mesmo assim, acha que encontrou o amor na forma de um sorriso travesso e olhos azuis que parecem sondar sua alma e esquece-se de todos os avisos, esquece que a realidade é diferente porque ninguém jamais olharia para alguém assim, tão vazia por dentro e por fora. E acaba sendo o motivo da piada. Enquanto riem seu coração destrói-se por dentro.

Então não, amor não era para mim. Nem sexo. Não conseguia sentir prazer. Família não era para mim, nem afeto. Só a dor sobra e eu precisa aprender a lidar com ela.

Bati em meu rosto por ainda estar pensando em como Jesse me abraçava, cravei as unhas em meu pescoço por lembrar da boca dele na minha e do seu corpo nu sobre o meu. Esmurrei a parede até que a dor nos nós dos meus dedos foi grande o suficiente para que eu parasse de soluçar e começasse a contar as dores físicas que sentia. Meu corpo todo ardia, sangue pingava de cortes que eu nem lembrava de ter feito – recentes ou não.

Liguei o chuveiro e ainda de roupa deixei que a água lavasse todo o sangue e lágrimas. Prometi que não ia chorar mais, contudo, segundos depois estava mordendo minha mão para que os soluços não fizessem um barulho tão grande assim. Não sei quanto tempo passei ali, só apenas me machucando física e mentalmente, mas, quando enrolei-me na toalha, percebi que estava cansada, esgotada em todos os sentidos.

Foi só quando abri os olhos que me dei conta que tinha dormido apenas de toalha. Tentei me mexer em meio aos lençóis, mas todo o meu corpo estava dolorido. Minha cabeça parecia explodir e sentia minha pele arder. Tirei fios do meu cabelo grudados em minha testa e encarei o teto do meu quarto. O que eu tinha deixado acontecer em minha vida? Como voltaria para a escola e encararia todos novamente?

Porque Jesse fez isso? Como alguém pode ser tão cruel a esse ponto? Porque eu? Porque eu fui escolhida dentre tantas pessoas nesse mundo para passar por tudo isso? Porque a felicidade não era para mim? O que de tão errado eu tinha feito para não merecê-la?

E, o mais importante de tudo, como esquecer o que aconteceu? Eu realmente queria esquecer a prova de que Anthony estava certo e eu não era mesmo boa o suficiente?

As várias perguntas que rondavam minha mente beiravam em uma única certeza: eu jamais, em hipótese alguma, seria boa o suficiente para qualquer coisa em minha vida.

(...)

- 15 segundos – a voz de Niall soou por toda a van – Consigo ver os seguranças. Não são muitos, mas tomem cuidado.

- Onde Brad está agora? – perguntei conferindo as facas em meu tornozelo.

- Em casa. Chegou há alguns minutos. 12 segundos.

- Niall, quando chegarmos estarei com fome. Prepare alguma coisa – Louis disse estralando o pescoço.

O irlandês bufou – Eu estou com os nervos a flor da pele aqui e você está falando de comida? 09 segundos.

- Isso não soou um pouco contraditório? Você não querendo ouvir falar de comida?

- Louis, não enche. 07 segundos.

- Lembrem-se de não machucarem nenhuma das prostitutas. Iremos apenas soltá-las e algumas irão escolher ficar – falei principalmente para Liam, tentando evitar que seu bom coração falasse mais alto.

- 05... – Niall suspirou –Por favor, tomem cuidado. Eu já disse isso?

- Niall, concentre-se.

- 03 segundos – sua voz estava tensa – Vocês tem 20 minutos antes que o provável reforço de Brad chegue. 01. Vão!

O comando foi dele, não precisei reforça-lo. Liam foi o primeiro a sair da van, corremos o pedaço que faltava para chegarmos na boate e, como combinado, Zayn, Liam e Vic foram pelos fundos. Caminhamos lentamente evitando assustar os seguranças para que não avisassem aos que estavam dentro sobre a invasão, evitando que Brad tomasse ciência logo do que estava acontecendo.

Louis foi pela direita e eu pela esquerda, nossas armas tinham silenciadores e disparamos na mesma hora, dois seguranças caindo no chão com isso. Sem que percebessem o que estava acontecendo, os outros ficaram atordoados e não tiveram a ação imediata de comunicarem-se com o restante. Louis atirou em mais um e preferi uma ação mais corporal, cheguei de surpresa em um moreno que estava de costas e torci seu pescoço, não tive tempo de observar seu corpo cair no chão porque outro veio em minha direção. Atirei antes que pudesse sacar a arma.

Louis e eu assentimos um para o outro e ele abriu lentamente a porta da frente. No entanto, nosso plano de passar despercebidos acabou ali. Zayn entrou atirando e não poderia culpa-lo, poucos foram os treinamentos sobre como fazer isso de forma sorrateira e por isso nos deparamos com os seguranças alarmados.

- Isso diminui o tempo de vocês – Niall falou através da escuta – Provavelmente apenas 15 minutos ou menos.

- Dará tempo – falei para um Zayn que me olhou atordoado e com um olhar tenso. Em seguida, atirei.

Não parei para respirar, apenas desviei-me das balas que vinham em minha direção. Senti uma delas esbarrar no colete e dei graças pela tecnologia que Niall tinha nos arrumado, ele quase passava despercebido por baixo da blusa.

As balas da primeira pistola acabaram, saquei a que estava na minha cintura e acertei um deles na testa. Parte de mim queria conferir se Zayn estava bem, mas não podia perder o foco. Sabia que Louis estava ao meu lado direito e Liam ao esquerdo, por isso poucos seguranças vinham até mim. Em compensação, Lou estava arrodeado deles numa luta corporal, afastei-me da minha posição para ajuda-lo, indo contra as regras que eu mesma criei, mas foda-se.

Puxei um deles pela camisa e joguei seu corpo com tudo no balcão do bar, vendo seus olhos fecharem-se em dor por causa disso. Em seguida, atirei a queima roupa. Tirei um fio do cabelo dos olhos e senti um soco me pegar de surpresa, minha bochecha ardeu no mesmo instante conforme me virava em direção ao segurança gorducho que tinha me acertado. Ele tentou desferir outro golpe, mas segurei em seu punho fechado para apará-lo, depois chutei seu estômago. Quando seu corpo foi para trás, o soquei no olho e sabia que tinha de ser rápida, por isso não continuei o esmurrando até que ao menos desmaiasse, tirei a faca do meu tornozelo e a enfiei em seu peito.

Ele fez um som estranho, seu corpo ficando mole aos poucos. Retirei a faca e a lancei no homem atrás de mim, minha mira foi certeira e ela o atingiu no pescoço, sangue gotejando de lá na mesma hora.

Caminhei até os fundos da boate, Zayn liderando porque sabia exatamente onde estavam as prostitutas. Os gritos assustados de algumas pôde ser ouvido no corredor, sabia que a bagunça no centro da boate as assustaria, mas isso lhes daria maior vontade para correr dali.

- Eu fiz alguma merda? – Zayn perguntou apreensivo.

- Não, está tudo bem – o assegurando – Você está machucado? – perguntei ficando em sua frente – Que sangue é esse? – meu tom de voz denunciava minha preocupação e odiei isso por saber que ele entenderia de outra forma.

- Não é meu. Mas eu estou me perguntando como conseguirei dormir depois... – balançou a cabeça – ...Depois de tudo isso.

- Você vai se acostumar.

- Temos 07 minutos – Liam apareceu limpando sangue em sua boca – Temos que ser rápidos.

Zayn assentiu – Deixem que eu fale, okay? Algumas já me viram por aqui.

- Não me diga que transava com todas elas – rolei os olhos.

- Você não precisa ter ciúmes – cutucou meu ombro de forma brincalhona.

- Parem de conversar! – Liam nos apressou e empurrou Z em direção a porta de onde vinham os gritos – Entre.

Zayn deu um chute na porta e mais gritos foram ouvidos, elas estavam encolhidas na parede, algumas se abraçaram e as que estavam mais a frente seguravam alguns pedaços de ferro e madeira, uma expressão feroz no rosto.

- Uau – observei. Estavam semi nuas, algumas pareciam tão novas que me perguntei como diabos foram parar num lugar como aquele.

- Nós não somos capangas do Brad – Zayn adiantou-se – Eu sei que já viram meu rosto por ai. Eles – apontou para onde eu e Liam estávamos, um pouco mais a trás – Estão aqui para libertar vocês, então, corram. Vão para qualquer lugar longe daqui.

- Você está de brincadeira – uma morena disse em negação.

- Não, não estou. Eu sei que algumas acham que não existe vida lá fora, que perderam tudo e a única alternativa é essa, mas, escutem, qualquer coisa é melhor que isso, melhor que ele.

Uma garota que deveria ser mais nova que eu ficou de pé, ela estava abraçando uma menina que parecia mais nova ainda – Então, nós simplesmente podemos sair? Simples assim?

- Sim.

- Isso é algum tipo de brincadeira? – alguém choramingou.

- Eles estão nos testando – outra garota disse.

- Olhem só – falei antes que aquilo virasse um tumulto – Nós somos pessoas super do bem, okay? – levantei a mão em sinal de paz – Estamos aqui apenas pelo bem estar de vocês – Liam suspirou atrás de mim – Mas, se vocês preferem choramingar ao invés de dar no pé, nós entendemos e fodam-se vocês – virei as costas já sabendo qual seria a próxima reação delas – Vamos simplesmente trancar a porta de novo e fiquem a vontade.

Z encarou-me como se eu fosse louca, mas o que eu disse teve o efeito esperado. A grande maioria das garotas levantaram-se e começaram a falar de uma vez só. Liam aumentou a voz para ser ouvido diante daquilo – Acalmem-se, só caminhem sem olhar para os lados até a saída.

- Vocês são da polícia?

- Querem calar a boca e saírem logo? – perguntei retoricamente fazendo gestos impacientes que indicassem a porta.

Elas passaram como um furacão, algumas com tanta pressa que tropeçaram nos próprios pés. Como previsto, algumas indecisas ficaram. Eram quatro e pareciam mais velhas que as outras. Zayn olhou uma ultima vez, mas não insistiu. Nós estávamos sem tempo.

- 04 minutos! – Niall falou – Vamos lá, saiam dai logo.

- Como Brad está? – apertei o aparelho em meu ouvido para que ele me entendesse melhor.

- Está na casa, as câmeras só me deixar ver a movimentação no jardim. Alguns seguranças correram para dentro no intuito de avisá-lo, acredito.

A boate estava digna de um verdadeiro massacre. Corpos no chão por todo lugar, sangue respingado nas paredes e um Louis bebendo um copo de whisky enquanto apontava para o seu olho – Um cara me deixou com o olho roxo, dá para acreditar nisso? Porra, quanta mulher gostosa junta.

Estava conferindo Vic e não só porque Niall pediu, quando um som de tiro chamou minha atenção. Ouvi o grito antes de ver a garota caindo no chão enquanto segurava seu estômago, atrás de mim um dos seguranças era o responsável pelo disparo. Ele sangrava pelo nariz e pelo ombro, mal se sustentava em pé e seu dedo tremeu quando apertou o gatilho mais uma vez.

Zayn trombou com o homem o suficiente para desviar o trajeto da bala, mas ela atingiu meu ombro num baque surdo. Senti o impacto do corpo de Z sobre ele antes mesmo da dor e cravei os dentes ao perceber que atingiu o ponto onde o colete não cobria.

- Você está bem? Charlie? – Louis gritou vindo em minha direção – Liam, ela está ferida!

- Quem está ferida? – Niall gritou do outro lado – Pelo amor de Deus, Charry levou um tiro?

Ouvi um barulho rouco perto de Niall, mas não consegui distinguir.

Tirei a escuta antes que o irlandês me deixasse surda e respirei fundo – Como a garota está?

Liam estava ajoelhado perto do corpo dela, murmurava palavras de incentivo e segurava seu estômago para tentar estancar o sangramento – Não muito bem. Charry, precisamos ir. Você está ferida.

- Se apoie em mim – Louis pediu – Não dá para olhar o ferimento agora, estamos sem tempo.

- Ela não vai morrer, vai? – Zayn perguntou com a voz trêmula.

- Graças a você, ainda não – falei entredentes – Tinha até esquecido de como essa porra pode doer.

- Não podemos deixar a garota aqui – Liam pediu – Ela vai morrer se a deixarmos.

Eles me encararam esperando uma ordem, grunhi por causa da dor e segurei meu ombro para estancar o sangue que começava a escorrer com mais força agora – Leve-a. Lidaremos com isso em casa.

- Vic, dirija – Liam jogou as chaves para ela e pegou a garota no colo – Temos que sair rápido.

- Você está bem, não é? Niall não para de gritar porque Harry e Anne estão preocupados – Vic correu ao meu lado.

- Estou.

- Você está pálida – ela respondeu – Louis, não é melhor leva-la no colo?

- Eu levei um tiro no ombro – bufei – Vou ficar bem.

- Não precisa bancar a durona – Louis sussurrou enquanto sustentava todo o meu peso num cuidado desproporcional – Eu sei que isso dói pra caralho.

O encarei sem dizer palavra alguma porque infelizmente aquele idiota entendia-me como ninguém – Estão todos aqui? Zayn? – perguntei quando estávamos na van. Vic dando partida quase que imediatamente.

- Estou aqui – respondeu atrás de mim – Liam e a garota estão aqui atrás, ela está perdendo muito sangue.

- Droga – resmunguei quando senti uma fisgada maior no ombro ao tentar olhar para trás – Vic, dirija mais rápido. Essa garota não pode morrer.

- Foi um descuido nosso – Louis esfregou a testa enquanto tirava a camisa para apertá-la em meu ombro – Deveríamos ter conferido os mortos.

- Ele tem razão – Vic concordou porque ela e Louis tinham ficado para trás enquanto Zayn, eu e Liam ficamos responsáveis pelas garotas – Me desculpe, Charlotte. De verdade. Deveríamos ter...

- Depois falamos sobre isso – a interrompi com um resmungo – Só dirija logo, Vic.

- Não preciso nem dizer que não pode desmaiar, não é? – Louis falou, seu rosto próximo ao meu porque estávamos muito perto. Apertou mais ainda a ferida para que a dor me mantivesse mais acordada, o problema era que já estava acostumada com ela.

Não demoramos para chegar. Liam provavelmente tinha avisado a Niall da garota ferida, pois, assim que a van foi aberta, um médico acompanhou o irlandês e ambos vieram em nossa direção.

- Não, não – apressei em dizer quando o médico ameaçou atender-me primeiro – Eu estou bem, posso lidar com isso sozinha. A garota, cuide dela.

- Você levou um tiro...

- A garota! – ordenei ignorando o apelo de Louis.

Mal coloquei os pés na casa e fui surpreendida por Harry. Ele levantou-se do sofá rapidamente e caminhou até mim, os ombros tensos e a expressão preocupada – Onde você está ferida? – a voz estava rouca e aflita – Lottie, você está bem?

- Eu estou bem – respondi num sussurro porque calor puro emanava do seu corpo, seus olhos examinando cada centímetro do seu corpo – Só preciso tirar a bala daqui – apontei para o meu ombro – Ajude Vic a tirar as coisas do carro, por favor...

- Eu vou ficar com você – ele respondeu firmemente – Deixe-me ajuda-la. Você está sangrando muito.

- Isso não é nada – desconversei e Louis fez uma careta para mim.

- Eu vou tirar a bala daí – Lou respondeu – Vem, vamos subir.

- Não precisa. Eu consigo em virar sozinha.

- Sou eu – ele me encarou – Só eu. Não fale assim.

- Louis, desculpe – esfreguei a testa e mordi o lábio por causa da dor – Mas, me deixe sozinha, okay?

- Não precisa fazer isso sozinha, por favor... Eu...

- Estou subindo, vão ajudar Vic e a garota – me desvencilhei dele e passei pro Harry, meus dedos substituindo a camisa de Louis e logo se enchendo de sangue.

Peguei a caixa de primeiros socorros embaixo da cama de Harry e fui até o banheiro, fechando a porta atrás de mim. Respirei fundo quando tive que tirar os dedos da ferida para puxar a camisa por meus ombros, a dor me fazendo soltar um grunhido rouco.

Tirar o colete foi mais fácil e logo minha pele ficou a vista, sangue ensopando o sutiã. Era por isso que queria ficar sozinha, pensei quando encarei-me no espelho, as marcas em minhas costas eram grotescas e horríveis, apesar de Louis ter conhecimento sobre elas, jamais tinha deixado que as visse.

As cicatrizes ao longo do meu braço eram apenas rastros que com o tempo ficaram mais claros, porém, ainda visíveis. Principalmente assim, com a luz ligada, diferente das vezes em que fazia sexo. Mesmo nua, fazia questão que a luz estivesse desligada.

Peguei uma pinça e sentei-me no chão, coloquei minha blusa ensanguentada na boca para evitar gritar porque me lembrava bem de como aquilo iria doer. Segurei as bordas das feridas depois que lavei minhas mãos com álcool e joguei o liquido ali. Mordi o pano com força e lágrimas involuntárias saltaram por meus olhos, engoli em seco evitando que saíssem.

Segurei a pinça firmemente, anos de treinamento evitando que meus dedos tremessem e alcancei a bala. Graças aos Céus ela não estava tão funda assim, não foi difícil retirá-la. Guardei-a em um potinho e segurei uma gaze firmemente para estancar o sangue que ainda jorrava. Depois de alguns segundos, o volume de sangue saindo finalmente diminuindo, juntei as bordas e com a mão livre costurei o ferimento como tinha feito quando o vidro entrou na minha pele, mesmo que não tão profundo como agora.

A pior parte já tinha passado, mas, ainda assim, doía. Os pontos não ficaram tão feios assim e essa seria mais uma cicatriz para o histórico das que eu tinha. Levantei-me do chão evitando mexer o ombro e liguei o chuveiro no intuito de lavar a camisa e minha mão suja de sangue.

Estava pensando que precisava beber algo forte porque a dor estava irritantemente me tirando do sério, de costas para a porta e lavando minhas mãos quando ela foi aberta.

- Lottie, eu sei que não queria que ninguém subisse, mas eu precisava ver como você esta... – a voz de Harry parou, ouvi seu respirar engasgado e virei o rosto em sua direção, dando de cara com seus olhos arregalados e sua boca entreaberta.

Eu sabia o que ele tinha visto, o que o fez ficar sem fala e com aquela expressão assustada no rosto. Tão logo ele sairia dali, correria das cicatrizes físicas grotescas em minhas costas, mas aquilo me atingiu como um tiro, mais forte do que o que me fez quase chorar agora pouco. Sabia que seu olhar se transformaria em pena e isso me enojava, deixava minha boca seca e com um nó insuportável no estômago.

Ele continuou encarando a minha coluna, seus olhos cravados nas cicatrizes e abaixei a cabeça esperando a porta se fechar novamente e ele sair dali com nojo e pena das marcas que me lembravam o quanto meu passado tinha a me ensinar ainda.


Notas Finais


Espero de coração que tenham gostado! Prometo tentar continuar logo logo. Mil beijos


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