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História Good Enough - If I Could Fly


Escrita por: SynthyaM

Notas do Autor


O capítulo só demorou a sair porque o número de comentários estava bem baixo, então, leitoras fantasmas apareçam!
Eu espero que gostem, desejo uma ótima leitura e não esqueçam de favoritar e comentar, okay?.
- LEIAM AS NOTAS FINAIS - tem um aviso bem legal lá!

Coloquem para tocar If I Could Fly - One Direction quando aparecer o (1)

Capítulo 33 - If I Could Fly


Fanfic / Fanfiction Good Enough - If I Could Fly

 

"Eu possuo cicatrizes

Por mais que elas não possam sempre ser vistas

E a dor intensifica-se

Mas agora, que você está aqui

Eu não sinto nada"

(One Direction - If I Could Fly)

 

Não sei se perdi os sentidos ou só estava em pânico por causa da dor e do sangue, mas quando me dei conta estava no colo de Anthony. Ele abriu a porta de casa com esforço e levou-me até o carro.

- Respire, Charlotte – pediu quando deitou meu corpo no banco de trás do carro – Só continue respirando.

Forçando o fôlego entredentes segurei em seu braço, cravei as unhas porque a dor em meu ventre era demais para permanecer impassível – Salve o meu bebê. Por favor, Anthony – olhei em seus olhos e tentei achar ali algo bom, algo que ainda valia a pena – Salve-o.

Ele não me respondeu, mas permaneceu olhando-me por mais alguns instantes antes de correr para o banco do motorista e dar partida no carro. Ele ligou a sirene de polícia quando pareceu que a quantidade de carros seria o suficiente para atrapalhar nosso caminho até o hospital, enquanto tentava manter os olhos abertos percebi alguns sinais vermelhos ficando para trás. No entanto, saber da sua pressa para chegarmos não fez com que meu temor com relação a vida do bebê amenizasse.

Gritei quando um solavanco fez com que a dor em minhas costelas piorasse, mordi o lábio inferior para evitar os gemidos doloridos e senti o sangue em minha língua.

- Estamos chegando – olhou para trás – Continue com os olhos abertos. Ande. Não ouse fechá-los.

- Estou tentando – minha voz saiu baixa – Não estou sentindo ele se mexer, Anthony – choraminguei – Não sinto meu bebê.

Ele suspirou e tudo ficou escuro por alguns segundos, quando minha visão voltou ao normal Anthony não estava mais no carro, porém ouvia sua voz alta exclamando algo para chamar atenção. Homens de branco apareceram na minha frente e ajudaram-me a sair do carro. Deitaram-me numa maca enquanto seguraram meu pulso, virei a cabeça para tentar procurar Anthony, mas meus olhos me enganavam, não conseguia focalizar em nada.

- Anthony... Meu bebê... – não tinha certeza se minha voz foi ouvida, mas conforme adentrávamos no hospital pude ouvir um deles o chamando.

- Precisará ser forte, querida – uma mulher de óculos e touca acariciou meu cabelo – Iremos fazer uma cirurgia de emergência, mas tanto a vida do seu bebê quanto a sua estão em risco. Preciso que tente ficar acordada, nós faremos de tudo que for possível, mas, querida, você perdeu muito sangue, não sabemos como o bebê está.

- Salve-o – implorei sentindo as lágrimas caírem por meus olhos – Por favor. Só me importa ele ficar bem. Só ele.

Senti algo sendo injetado em meu braço, colocaram alguns fios em meu nariz e prenderam meu cabelo. A luz era menor na sala onde estávamos e senti minhas roupas indo para fora do meu corpo, alguém segurou minha cabeça no lugar quando tentei erguê-la. Minha respiração estava cada vez mais ofegante e a prendi quando a dor foi difícil de suportar na medida em que colocaram meu corpo de lado para injetar algo em minha coluna, minutos depois não conseguia mais sentir minhas pernas.

Tentei prestar atenção no que diziam, mas as vozes eram ecos em meus ouvidos. Virei a cabeça de lado e meus olhos se alargaram ao perceber Anthony com uma touca a conversar com a mesma enfermeira que havia conversado comigo.

- Salve a vida dela – consegui ouvir seu sussurro – Ela é muito nova, terá tempo para...

- Não, não – forcei a voz para que fosse ouvida – Salve meu bebê! Meu bebê!

A enfermeira veio até onde eu estava, sua expressão demonstrava aflição – Querida, acalme-se. Isso fará mal para o bebê.

- Você precisa... – sufoquei quando perdi a respiração mais uma vez.

- Ela está perdendo os sentidos! – alguém gritou.

- Ainda não tiramos o bebê – responderam – Ela ainda está perdendo muito sangue!

Queria implorar para que cuidassem dele, do meu bebê. No entanto, não conseguia dizer nada. Os próximos instantes – não fazia ideia se eram minutos ou horas – pareceram borrões, flashes distorcidos onde a dor ia de insuportável a imensurável. Em um desses borrões vi minha barriga sendo aberta e vozes sussurrando entre si. Ouvi o som de um bipe que parecia ficar cada vez mais lento e irritante, alguém acariciava minha mão e o toque era um pouco rude, quando consegui focalizar no dono do toque deparei-me com Anthony olhando-me com preocupação. Seu rosto foi o que ficou em minha mente pelos últimos segundos, a testa franzida e os lábios crispados.

Deveria tê-lo feito prometer que salvaria a vida do bebê, que iria preferir ele ao invés de mim porque nada me restaria se ele não ficasse bem. Que motivo haveria para continuar viva se não pudesse segurá-lo em meus braços? Onde estariam os sonhos que tanto planejei para ele? Como iria viver sem o cheirinho de bebê que tanto imaginei?

Escuridão foi só o que consegui perceber mais uma vez, porém, quando tudo ficou claro novamente, todo meu corpo quis erguer-se para ver o pequeno pacote sendo tirado do meu ventre. O tempo pareceu congelar ao meu redor, só existia aquele pequeno ser em meu campo de visão, seu corpo minúsculo e envolto em sangue. Não ouve choro que tanto esperei ouvir, o viraram e as lágrimas caíram mais ainda quando percebi que era uma menina. Uma menininha. Cortaram o cordão umbilical e a levaram para o canto da sala.

- Sucção – disseram – Está sem respirar, os pulmões não estão funcionando.

Meu olhar seguiu a direção para onde a levaram. Minha menina. Tudo em mim implorava para que ela respirasse.

- Respire, minha menina. Vamos lá – sussurrei – Respire, respire...

Enquanto tentava manter meus olhos abertos, alguém entrou em meu campo de visão e, embora lutasse para vê-la, meu corpo me traía aos poucos, meus olhos queriam fechar. Uma lágrima solitária desceu pelo canto dos meus olhos quando, entre o cotovelo de uma das enfermeiras e o corpo de Anthony, vi o médico fazendo movimentos de ressurreição na minha menina.

- Ela está perdendo os batimentos!

O bipe ficava cada vez mais lento e longe de ser ouvido conforme a escuridão me dominava de novo.

(...)

 O vento balançava meu cabelo, minhas bochechas estavam doloridas e foi só quando me dei conta disso que percebi o motivo. Eu estava sorrindo. Quase uma gargalhada conforme ela me puxava pela mão. “Mamãe, vem!”, era o que ela gritava, a voz estridente e doce. Ao longe um corpo tomou forma e reconheci Jesse ajoelhado com os braços estendidos, ela soltou minha mão para ir até ele, o mesmo tom de pele brilhou no sol quando eles se abraçaram.

Ele levantou-se quando cheguei mais perto, senti seu beijo no canto da minha boca. Éramos jovens com uma filha inteligente, linda e que tinha conseguido ganhar o coração de Anthony. O homem rude e de poucas palavras foi substituído pelo avô que adorava cozinhar panquecas para ela e a enchia de mimos, ela podia fazer o que quisesse.

O que mais poderia pedir? Se existia outra forma de felicidade eu não queria porque aquele era o modelo mais especial e único que alguém iria querer. Uma família. Uma família feliz.

A peguei no colo e ela rodeou meu pescoço com seus braços pequenos. Tirou o cabelo do rosto e no reflexo dos seus olhos não existia mais a Charlotte abandonada e que não se considerava boa o suficiente para ninguém porque aquela criança, até ainda no ventre, tinha conseguido mostrar o significado da aceitação e do amor, tinha conseguido unir os pais, trazendo pedidos de desculpas e o perdão e mudar o coração de um homem que já havia desistido da felicidade.

E por causa dela eu era suficiente. Boa o suficiente.

(...)

Minhas pálpebras pesaram quando tentei abri-las. Lentamente consegui me acostumar com a claridade que invadia meus olhos e, quando assim o fiz, percebi que estava em um quarto de hospital. Confusão invadiu minha mente antes de me dar conta do que tinha acontecido. Minha cabeça latejava com as lembranças do dia anterior e meu corpo estava dolorido acima da cintura.

- Está se sentindo bem?

Olhei para o lado, na direção da voz, e percebi Anthony sentado em uma cadeira, os olhos em mim.

- Meu bebê – sussurrei e minha garganta ardeu – Anthony, meu bebê...

- Charlotte – ele lentamente disse meu nome enquanto trazia a cadeira para mais perto da cadeira.

- Onde está minha filha? – perguntei lembrando-me que era uma menina, que dentro de mim havia carregado uma menina.

- Escute-me...

- Onde ela está? – perguntei firmemente dessa vez, forçando minha voz mais do que minha garganta gostaria.

- Eu sinto muito – murmurou – Eu realmente sinto muito, mas... – suspirou e olhou-me nos olhos – Eles não conseguiram salvá-la.

Meu queixo tremeu – O que?

- Ela nasceu morta – ele não foi sensível ao dizer isso e percebeu isso – Me desculpe, mas eu não conheço outra maneira de dizer isso. Ela nasceu sem respirar.

- Não, não, não... – pouco a pouco a realidade foi me atingindo e as lágrimas começaram a cair por meu rosto. Parecia fácil para elas estarem ali, como se cair fosse o trajeto que as levasse para casa – Isso não pode ser verdade, não pode.

- Sinto muito – ele sussurrou novamente.

- Mentiroso! – gritei, minha garganta ardendo ainda mais – Você não sente! Por sua causa eu caí... – solucei – Foi você quem matou minha filha!

- Charlotte... – ele estendeu a mão para me tocar.

- Não toque em mim! – esquivei-me – Você é um monstro! Disse a eles para me salvarem a não a ela. Você matou meu bebê!

Soluços irromperam por meu peito, foi como se uma barragem tivesse sido removida e agora eles podiam livremente serem soados. As lágrimas impediam que eu o visse com clareza – Eu quero meu bebê – choraminguei – Minha filha...

Empurrei seu peito para longe de mim quando tentou levantar-se da cadeira para vir até onde eu estava. Aquilo em meu nariz começou a me incomodar quando mais lágrimas apareceram, puxei o fio com toda minha força até que pocou fazendo com que meu rosto ardesse onde havia batido.

Não sabia o que fazer, minhas mãos pareciam ter vida própria quando arrancaram o soro em meu braço e afastaram os lençóis para longe.

- Minha filha! Eu quero meu bebê – gritei para ninguém em especial, só precisava dizer aquilo, gritar até alguém me ouvir e trazê-la. Precisava segurá-la em meus braços. A lembrança do sonho que havia tido sacudiu-me e desintegrou-se como pó por sobre a realidade. Eu nunca seria boa o suficiente, Jesse não faria parte da família, até porque família nenhuma havia. Anthony não seria o avô carinhoso que sonhei e minha filha não mudaria nossas vidas para sempre.

- Não, não... – solucei e coloquei o primeiro pé no chão, fiquei tonta quando tentei fazer o mesmo com o outro e cai nos braços de Anthony quando não consegui dar o primeiro passo para fora da cama. Ele segurou meu peso e acariciou meu cabelo – Eu quero meu bebê...

Chorei em seu ombro por um bom tempo, meu corpo sacudindo em soluços que irrompiam por meu peito, lágrimas molharam sua camiseta. Aquela era uma cena que eu jamais imaginei, mas estava fora do meu alcance correr dali, não existia mais razão alguma para estar vida, para querer que o amanhã chegasse.

Minha filha estava morta.

(...)

- O que? – Vic perguntou assim que nos viu – Já conversaram com a garota?

- Não. Ela começou a gritar quando viu Harry – expliquei – Brad fez alguma coisa com aquelas garotas. Ela estava com medo dele.

- Ele quer tirar tudo de mim, como vocês disseram. Mas porque usar pessoas inocentes?

- Porque matar Gemma? – Louis perguntou da forma mais suave que conseguiu, era uma retórica – Porque ele sabe que te atinge assim.

- Liam está conversando com ela – falei – Tentando entender alguma coisa, mas...

- Ela é doida – Louis terminou a frase e rolou os olhos quando todos o encaramos – Qual é? Vocês pensam nisso e me culpam por ser o único com coragem para falar em voz alta!

- Não achei nada sobre ela nos anúncios de desaparecidos – Niall mudou de assunto – Ninguém está procurando alguém com as características dela.

- Tente procurar em outros lugares – Zayn disse – Brad as vezes pega as garotas através do tráfico. Na maioria das vezes são turistas londrinas ou novas na cidade.

- Cada vez mais tenho nojo desse cara – Vic bufou – O que faremos agora, Charlie?

- Harry irá decidir se quer que contemos o que descobrimos para Anne – o olhei – Se acha que ela precisa saber então iremos contar e abordar Des. Se não, deixamos ela no escuro e você decidirá a hora que encarará seu pai.

- Acho que irei precisar pensar um pouco – ele jogou o cabelo para trás da orelha – Vou comer alguma coisa. Falo com vocês depois.

- Ele está péssimo – Zayn suspirou assim que ele saiu porta a fora – Eu sabia que Des não era um cara legal, mas não a esse ponto.

De alguma forma, tinha o pressentimento desde o começo que o pai de Harry estava envolvido. Não sabia como e nem a extensão disso, mas sabia. Sempre trabalhando, sem tempo para família, culpando todos, exceto ele, pelas coisas que aconteciam. Guarda fechada, rude. Algo nele me lembrava Anthony. Enojava-me e entristecia.

- Qual de nós, com a família morta por causa da ganância de um homem que sequer teve a moralidade de agir como ser humano e ajudar nas despesas médicas de um acidente que ele mesmo causou, ainda que indiretamente... Qual de nós – repeti – não iria querer vingança?

Eles me encararam em silêncio enquanto pensavam naquilo.

- Eu, no lugar de Brad, não descansaria até que ele perdesse tudo, pouco a pouco, dando tempo para que ele sentisse cada golpe. Eu faria questão de que ele me olhasse nos olhos e soubesse que eu fui a responsável por tirar dele cada coisa, cada pessoa que amava – sussurrei enquanto lembrava de Anthony e de todas as coisas que já havia me feito passar, todas as surras e palavras grosseiras, todas as perdas e danos – Eu não descansaria até que ele estivesse morto pelas minhas próprias mãos.

Dizer aquilo foi como admitir tudo que eu queria fazer com Anthony. Foi como colocar para fora todas as mágoas e dores que ele causou, todo o sentimento de incapacidade e de perda, todas as vezes que dormi com o corpo sangrando pelas marcas da sua raiva, todos as razões pelas quais deixava claro que eu jamais seria o suficiente para nada.

Eu não sabia para onde queria ir com o que estava acontecendo entre mim e Harry, não fazia a mínima ideia do que esperava com isso que estava me permitindo sentir por ele, mas, a verdade é que nada mudaria quem eu era, nada me faria ser suficiente para ele, para o que Harry esperava que eu fosse.

Estava tão imersa em pensamentos que Zayn teve de pigarrear duas vezes para chamar minha atenção. Ele apontou com o queixo para um local atrás de mim e dei de cara com Harry quando virei-me.

- Vim pegar meu celular – ele explicou depois de encarar-me por alguns instantes em silêncio, engolindo em seco – Mas é bom saber que você faria isso com meu pai.

- Caralho – xinguei quando ele fechou a porta atrás de si novamente, dessa vez com mais força.

- Acho que isso foi um pouco demais para ele escutar – Niall mordeu o lábio – Melhor ir atrás dele.

- Eu odeio isso de ter que se preocupar com o que eu falo – disse entredentes – Que porra.

Vic riu – Sei que é nova no assunto, mas Niall está certo – o irlandês sorriu para ela – Vá atrás dele.

- E o que eu vou dizer? “Perdoe-me, Harry. Mas é exatamente isso que eu faria com seu pai, sinto muito pela minha indiscrição”?

- Eu queria que fosse um pouco mais sensível – ela suspirou.

- Desista, querida – Louis deu tapinhas em seu ombro – Foram anos de um relacionamento repleto de xingamentos e murros. Acredite, eu tentei.

- Tinha mesmo que nos lembrar disso? – Zayn fez uma careta – É tão estranho dois caras que transaram com a mesma mulher serem amigos.

- Daqui a pouco serão três – ele cochichou – Deixa só Harry pegar ela de jeito.

- Qual o problema de vocês? – perguntei indo até a porta – Deixem minha vida sexual em paz!

- Ela arranhava suas costas na diagonal? – Louis perguntou prendendo o riso – Charlie tem essa mania, cara.

Zayn não conseguiu fazer o mesmo que ele e caiu numa gargalhada alta, seguido por Niall e Vic. Deixei os idiotas no quarto e fui atrás de Harry, mas não estava mentindo, não tinha a menor ideia do que diria.

- Não precisa dizer nada – Harry disse assim que entrei no seu quarto – Eu sei que pedir desculpas não faz parte de você e não precisa tentar me convencer de que não quis dizer aquilo.

- Styles...

- O que eu estava esperando, afinal? – ele riu – Que você me apoiasse e soubesse que, apesar de tudo, ele é meu pai? É pedir demais da temível detetive Charlotte Di Angello.

- Garoto...

- Oh, já estou sendo punido por estar falando desse jeito com você? – deu alguns passos em minha direção – Não irá mais chamar-me de Hazza?

- Porque está fazendo isso? – perguntei calmamente.

- Porque você não se importa! – gritou em meu rosto – Você não é quem eu pensei que fosse. Não está se importando com o que eu sinto! – apontou para o próprio peito – E a culpa é minha, não é? Eu quem não consigo enxergar a pessoa que se tornou.

- Mas eu não quis machucar você quando disse aquilo – me defendi.

- Foda-se, Charlotte! – bravejou – Foda-se porque me machucou! Saber que você mataria meu pai e todos ao redor dele, sabendo que ele é meu pai – destacou e riu sem humor – Sim, isso me machucou.

- Harry, entenda...

- Entender o que? – me interrompeu – Que algo aconteceu com você e foi o suficiente para transformá-la em alguém insensível e egoísta? Não se preocupe, eu já entendi o suficiente isso e...

- Quer me deixar falar, porra? – gritei e empurrei seu peito – Sim, eu mudei. Mas isso não significa que eu não me importe com você. Quando eu... – fechei os olhos por um instante enquanto pensava se realmente iria admitir aquilo e, quando os abri, vi os olhos esverdeados dele a me encarar, a pupila dilatada e firme – Quando eu disse aquilo não estava me referindo a seu pai. Eu estava pensando em Anthony quando disse tudo aquilo.

- Anthony? Seu pai?

- Pai – debochei daquela palavra com uma risada – Essa frase não condiz muito com o nosso “relacionamento” – fiz aspas no ar.

- Porque desejaria tudo aquilo a ele?

(1)

- Ele me destruiu, Harry – admiti aquilo em voz alta – Ele roubou de mim todos meus sonhos, minha esperança. Tirou minha capacidade de sofrer pelo próximo, de ser alguém de que se tenha orgulho - passei por ele para sentar em meu colchonete, deitando a cabeça no final da cama – Para provar a você que eu me importo, que isso não foi tirado totalmente por Anthony como eu achei que tivesse sido, eu quero te contar tudo.

Eu acho que eu poderia desistir de tudo, é só me pedir

 

- Tudo? – repetiu sentando-se ao meu lado.

Assenti mordendo o lábio inferior – Você quer ouvir?

Estava insegura, prestes a abaixar a guarda e mostrar meu coração quando ele segurou em minha mão, entrelaçou nossos dedos e esperou que eu dissesse alguma coisa. Olhei para a diferença das tonalidades entre nossos corpos e respirei fundo, soltando o ar lentamente conforme deixava que as lembranças viessem e ele visse toda a vulnerabilidade que escondia.

Somente para seus olhos, eu vou mostrar meu coração

 

- Quando eu fui embora de Holmes Chapel foi porque minha mãe queria encontrar meu pai, construir uma família – falei – Queria que morássemos juntos e que ele gostasse de mim. Pelo menos era o que ela queria que eu acreditasse. Quando chegamos lá, me deixou na porta de Anthony. Estava escuro e chovia. Ela me abandonou na porta dele, Harry. Foi embora e me deixou sozinha com um desconhecido.

- Eu...

- Me deixe terminar ou não vou ter coragem – sorri sem jeito – Anthony passou a primeira noite a xingando, pensei que ia me colocar para fora da casa, me expulsaria. Ela fez uma carta, acredita? Dizendo que não podia tomar conta de mim, não tinha como fazer isso. Pediu para que ele me amasse. Anthony não foi capaz disso. Eu acho que fui como uma bomba, sabe? Do nada, bum!, aparece uma criança maltrapilha na sua porta com uma carta dizendo que é sua filha.

Eu tenho cicatrizes, mesmo que nem sempre elas possam ser vistas

 

As lembranças iam vindo conforme eu falava, os mesmos sentimentos me acompanhando. Contei a ele das surras, do fato de que não podia ter amigos, dos passeios escolares que perdi.

- Eu sentia sua falta todos os dias. Às vezes eu chorava baixinho para que ele não escutasse e planejava como fugiria para encontrar você. Se eu pudesse voar, eu voltaria para casa pra te encontrar– seus olhos me sondavam naquele momento, o tom esverdeado repleto de umidade conforme acariciava minha mão sem parar – Eu desejava estar com você de novo, tinha medo de que tivesse encontrado outra amiga para tomar meu lugar e as vezes queria mesmo que tivesse porque com certeza seria alguém melhor que eu.

Preste atenção, eu espero que você escute porque eu abaixei a guarda

Agora eu estou completamente indefesa

 

- Jamais encontrei – respondeu ignorando meu pedido de ficar calado – Ninguém era como você, Lottie.

Aquilo me tocou de uma forma que não soube explicar. Ele deixou as lágrimas escorrerem quando contei do estupro e do fato de Anthony apenas ter se importado com a sua honra, sua carreira e o modo como veriam o nome da sua família.

- Eu me senti completamente inútil e sozinha – lembrei sentindo minha garganta arder – Suja e uma idiota.

Contei da minha adolescência, das vezes que riram de mim, que aplicaram algumas peças. Disse sobre como me sentia quando ninguém prestava atenção quando ia apresentar algum trabalho na frente da turma e, finalmente, contei sobre Jesse.

Agora você me conhece, apenas para os seus olhos

 

- No começo eu tinha certeza que ele só queria pregar mais uma peça em mim, que iria me zoar de alguma forma, mas ele me convenceu do contrário. Ele teve paciência, Harry. Eu roubei vestidos para sair com ele, me sentia tão boba – sorri estupidamente – Tão apaixonada.

Ele travou o maxilar quando disse isso, mas continuei admitindo todos os meus sentimentos.

Eu posso sentir seu coração dentro do meu

 

Não sei porque estava fazendo isso, mas precisava, era o que meu coração queria, era o que a parte que não foi destruída por Anthony ansiava.

- Anthony todos os dias fazia questão de dizer que eu era burra, que ele jamais amaria alguém como eu, mas eu achava que era implicância dele, como sempre.

Então contei da armação, do que Jesse queria com tudo aquilo – Eles riram de mim, Hazza – tremi quando lembrei daquilo e o apelido foi sussurrado com uma fragilidade que não imaginei ter – Jesse disse para todo mundo que eu tinha sido só mais uma e que eu era péssima na cama. Eu não consegui sequer me entregar a ele, a noite foi horrível, não era capaz de sentir prazer.

E eu espero que você não fuja de mim

 

- Eu não... – engoliu em seco – Eu não imaginava que...

- Ele me largou no final, Anthony não me bateu porque ter sido largada foi castigo o suficiente, era mais do que eu merecia. Eu quis tanto que me batesse naquele dia, pelo menos a dor física poderia... de alguma forma... – só percebi que estava acariciando meus pulsos quando Harry trocou minha mão pelas suas. Acariciou os cortes com um olhar perdido.

- O que aconteceu depois?

- Eu entrei na academia, Anthony me treinou para ser alguém como ele. Me fez torturar, matar e sobreviver em lugares horríveis. Encontrei Louis e ele me ensinou coisas boas, se não fosse por ele... – balancei a cabeça – Me tornei a melhor. Melhor que Anthony. Formei o time e só.

Agora você me conhece, apenas para os seus olhos

 

- Isso é tudo? – perguntou antes de falar qualquer outra coisa.

Talvez porque contar sobre a criança que eu perdi fosse doloroso o bastante até para ser lembrado ou porque eu não estava pronta ainda para reviver a dor de perder meu bebê, de ver minha filha morta, não contei a ele.

- Sim, é tudo – menti – Por causa de Anthony eu sou insensível, como você disse. Ele me transformou nisso – apontei para mim mesma – Nesse ser repugnante e que não é digno de nada. Eu não consigo amar. Não consigo sentir felicidade, acho que não mereço isso – olhei em seus olhos – Eu não mereço que goste de mim. Não sou a mesma garota que conheceu. Tudo que eu toco vira pó, não consigo manter ninguém perto de mim por bastante tempo. O time foi tudo que eu consegui construir na minha vida e todo santo dia eu acho que eles vão embora, cansarão de mim e me abandonarão – apontei para meu peito – Porque eu odeio a mim mesma!

Agora você me conhece, apenas para os seus olhos

 

Eu esperava um monólogo quando terminei, foi o que Louis fez quando o contei parte daquilo. Frases sobre eu ser boa o suficiente e incrível. No entanto, Harry não fez nada disso. Ele estendeu os braços para mim e antes que ele visse o quão frágil eu estava porque as lágrimas ameaçavam a cair, encostei minha cabeça em seu ombro e ele apertou contra si.

- Deixe vir – sussurrou contra meu cabelo – Eu sei que quer chorar. Eu não vou julgar você.

- Eu sinto tanto por não ser a mesma – solucei – Eu queria merecer você, queria que se orgulhasse de mim, de quem eu me tornei.

- Oh, minha Lottie – sabia que estava chorando tanto – Eu me orgulho. Suas cicatrizes são marcas de tudo que passou sendo forte, sendo quem eu jamais poderia ser.

- Como você pode...

- Me orgulhar de você? – terminou minha pergunta afastando meu corpo e olhando em meus olhos com tamanha intensidade que não consegui não retribuir – Ou amar você?

 


Notas Finais


Esse capítulo é um amorzinho! Lottie finalmente deixando com que as últimas barreiras caíssem e o passado dela revelando mais um dos motivos para ele ser assim atualmente. Espero que tenham gostado porque esse foi o penúltimo capítulo com flashback!
GE terá segunda temporada e ela se chamará "This Town" (música do Niall)
Nós temos um grupo no whats, quem quiser entrar é só mandar o número por mensagem.
Mil beijos!


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