O seu moletom nunca ficou aqui. Você sempre foi embora, entre as 4 da manhã e o nascer do dia, e levou ele junto. Você bem que me encarava logo ali, na sua frente, vestindo uma roupa que não era minha, cheirando um cheiro que não era o meu. Eu estava tão perdido entre todas as coisas, debaixo de um céu inteiro sem estrelas, boiando dentro do seu moletom.
Acho que você nunca reparou que você voltava para casa com as mangas ligeiramente molhadas, ou se reparou nunca falou nada. Eu sempre escondi o choro para não me sentir ainda mais vulnerável. Mesmo ali, dentro do seu moletom, onde tudo parecia não conseguir me atingir.
O inverno foi embora mas algumas madrugadas ainda são geladas. E agora eu vejo o seu moletom por aí, vestindo outros corpos e outras dores. A diferença é que, agora, você vai embora e não leva o seu moletom consigo. Ele fica lá, servindo como lembrança para quando você vai embora. Como abrigo, aperto, abraço. Tudo que nunca tive.
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