História Goodbye Stranger - Único.

Goodbye stranger it's been nice
Hope you find your paradise
Tried to see your point of view
Hope your dreams will all come true

A mesa de plástico azul foi a primeira coisa que compramos juntos, lembra? Você quase não me deixou comprá-la sob o pretexto de ser horrenda, mas com jeitinho, eu consegui te convencer. Hoje, depois de tanto tempo, você quer tirá-la de mim. Pode esquecer, ela é minha. O abajur também, você sabe, aquele que quase quebrou durante nossa última briga – é meu e não abro mão. Como se não bastasse o tempo que você sugou de mim nessa brincadeira de morarmos juntos, você ainda quer arrancar também os meus pertences, eu não deveria, mas estou surpreso.

A gente chegou a se amar? Não sei, minhas recordações andam meio embaralhadas depois do caminhão de terra que você usou pra me soterrar. A gente acordava de manhã e se olhava como quem encena a protagonista amnésica daquele filme horrível que você ama - aquele com a Drew Barrymore e o Adam Sandler -, francamente nunca entendi seu gosto para cinema. Inclusive, você pode levar todos esses dvds de comédia romântica, não os quero.  

Enfim, por que diabos eu estou numa cama com você? Quem diabos é você? Como sua escova veio parar do lado da minha no porta-escovas do banheiro?

Eu posso estar exagerando, mas você sempre foi o rei do drama nessa relação. Não me venha com olhares mal encarados a torto e a direito. Pode fazer as malas de uma vez, aproveite e leve todas as fotografias que tiramos juntos na última viagem para o Peru. Afinal, o que farei das fotos com um estranho empoeirando no fundo do armário? Você pensou o quê, que eu sentaria sozinho aos domingos – especialmente os chuvosos – e choraria sobre as memórias de um tempo em que éramos felizes? Pensou errado, leve tudo, quem vive de passado é museu.

Menos o sofá, esse fica comigo – não importa se nos sentávamos todas as noites depois de um extenuante dia de trabalho para assistir a novela das oito, esse sofá sempre ficou bem na noss-minha sala de estar. Não adianta argumentar, você já vai levar a televisão. Falando nisso, o tapete que você deixou no chão da sala sempre foi seu, enfie em algum lugar onde  pareça menos feio, mas não aqui. Já deixo avisado que se deixá-lo para trás, o destino vai ser a lixeira.

Eu jogarei no lixo tudo o que você já escreveu para mim. Quem sabe não tenha sido esse o seu feitiço, essa pilha de papel que você adora chamar de poesia. Pois bem, eu me livrarei de tudo – menos aquele das flores de maio, esse eu vou guardar. Mas não fique se achando, não tem nada haver com você. Eu só gosto do jeito que as palavras soam na minha cabeça quando leio.           Maneire no deboche, quem você pensa que é?

Você pode pegar todas as suas risadas e cair fora, não quero ouvir um só eco delas enquanto estiver enrolado nos lençóis que costumávamos dividir. Saia dessa casa – eu não quero nem aquele seu cheiro de cigarro que sempre empesteou a cozinha. Nem o som dos seus passos no assoalho do corredor quando chegava em casa um pouco mais tarde, muito menos a memória de todos aqueles livros que você deixava pelos cantos. Os livros, eu quero todos fora, ouviu bem? Eu quero ser livre de qualquer resquício seu.

Pode levar todo o suposto amor que já viveu sob esse teto, eu não vou sentir falta. Ah, quando estiver saindo, não se esqueça de deixar a chave debaixo do tapete; não é por nada, eu só quero ter certeza que você sumiu da minha vista de vez. Eu já preparei o discurso que darei quando fizer sua caveira para os vizinhos, então não apareça mais por aqui – não se preocupe, pouparei aqueles seus amigos do bar. O que foi? Não faça essa cara de quem comeu e não gostou, não aja como se eu nunca tivesse te dado nada.  Toda a paciência que tive nesse relacionamento foi suficiente para garantir um lugar no céu.

Você pode sair furioso comigo, mas não se esqueça de lembrar de todas as vezes em que rimos a toa no chão da varanda;  de como dividimos nossa primeira receita juntos na mesa azul de plástico, ou de como compartilhamos o tempo de dificuldade encolhidos no sofá; de como gostava de me presentar com uma poesia nova nos aniversários - você costumava dizer que o amor é sempre a melhor inspiração. Não se esqueça também de todos os perrengues que passamos no Peru, mas de como acabamos dormindo abraçados sob um céu explodindo em estrelas.  Não é por nada, é só uma sugestão. Você sabe, para aquelas noites silenciosas repletas de saudade.

Não estou dizendo que vou tentar lembrar, não me olhe como se tivéssemos ainda que seja um mísero grão de poeira para dar um ao outro. Caia fora daqui. Aproveite todos aqueles filmes de comédia romântica e, por favor, seja feliz.

And I will go on shining
Shining like brand new
I'll never look behind me
My troubles will be few