História Gothic Boy - It's Gotta Be You

Mesmo a contragosto, lá estava eu caminhando lado a lado com Byun Baekhyun. O menor a todo o momento desviava o olhar para mim enquanto eu apenas seguia com minha melhor faceta de tédio completo.

Felizmente a escola não era tão longe de nossas casas, dessa forma não demoramos a chegar.

Quando caminhei até o ginásio, percebi que meus colegas e amigos de time já estavam ali, se aquecendo enquanto algumas garotas os assistiam. Não fiz questão alguma de falar com o Byun antes de correr até o vestiário e trocar de roupa.

Não fiquei para ver a feição magoada e triste que ele dirigiu às minhas costas.

*~☆~*

O aquecimento durou o tempo necessário para que o outro time chegasse e tomasse conta da quadra, assim fomos todos para o vestiário descansar um pouco mais.

Alguns riam enquanto conversavam, outros mexiam em seus celulares, e Luhan espiava vez ou outra em direção à quadra.

— O que você tanto olha, hyung? — o garoto saltou em seu lugar, colocando a mão no peito.

— Que susto, Chanyeol! Aish… — o chinês se virou, mostrando-se envergonhado por ter sido pego no flagra. — E-eu só estava vendo o outro time treinar… — não consegui acreditar em uma palavra. Luhan estava estranho demais. — Ah, ok! Sehun é meu namorado. — confessou corando.

— O capitão do outro time é o seu namorado? — ele assentiu. — Que romântico. — ri, o deixando ainda mais vermelho que que já estava. — Estou brincando com você, hyung. Só não entrega o jogo, pelo amor de Deus. — disse ainda no tom de brincadeira.

— Eu jamais jogaria baixo desse jeito. — o mais velho afirmou. — Se ele quiser, ele que faça isso. —  cruzou os braços enquanto ríamos juntos.

Yifan não demorou a aparecer e dar as últimas instruções antes de nos encorajar a entrar em quadra e dar tudo de nós pelo time e pela vitória.

Todos caminhavam para a quadra, ainda teríamos alguns minutos por conta da animação da torcida. No corredor para a entrada principal, percebi Kyungsoo recostado na parede com suas típicas roupas pretas e botas militares. Ele me encarava.

Quando passei por si, senti meu braço ser puxado e arrastado para uma parte onde não havia ninguém. Estava prestes a lhe xingar quando ele abriu a boca.

— Olha Chanyeol, você sabe que eu não faço muita questão de te agradar, e se fosse por mim eu nem estaria aqui… — diminuiu o tom na última parte, suspirando de forma cansada. — Mas isso não vem ao caso agora, já que eu não estou aqui por minha causa.

— E tá aqui por que, então? — cruzei os braços, passando a me sentir irritado com a presença do menor ali.

— Por causa do Baek. Sei que você está irritado comigo e até mesmo com o Jongin, e eu até entendo, mesmo não fazendo muita questão… mas o que eu quero dizer é que você não deve descontar seu ódio no Baek porque ele não tem culpa de nada. — diferente de todas as facetas que eu já tive a oportunidade de ver em Kyungsoo, essa que ele me mostrava agora era algo totalmente diferente. Não havia nenhum traço de prepotência ou superioridade, muito menos instinto assassino. Ele estava apenas me encarando como se pedisse. — Ele não merece o seu desprezo, Park.

— Ele que pediu para que você viesse falar comigo? — soltei uma risada sem humor. — Não sei o que você quer dizer com todas essas palavras vazias, mas eu só desejo que vocês três se f—

— Para de ser imbecil, Chanyeol! — arregalei os olhos com o soco que Kyungsoo havia descontado na parede ao meu lado. O lado agressivo de Kyungsoo era assustador. — Você devia ter perguntado diretamente para ele, mas parece que é mais fácil agir como um babaca do que ir em busca da verdade.

— O-o que você quer d-dizer? — meu olhar pairava de Kyungsoo e seu braço ainda esticado, acompanhando o trajeto do mesmo até parar junto de seu corpo novamente enquanto minha cabeça tentava processar tudo o que o menor tentava dizer na realidade.

— Que eu e Baekhyun nunca fomos namorados e nem nada disso. — disse calmamente, com a expressão um tanto quanto culpada. — Ele devia ter te dito antes… mas, não é de mim que ele gosta, Park.

— Chanyeol! Vamos, só falta você! — um dos meninos do time gritou, mas eu estava tão atordoado com o que Kyungsoo havia acabado de me dizer, que eu nem pude responder.

— Você precisa ir. — o menor disse, como se não tivesse acabado de jogar uma bomba nos meus pensamentos.

— Como assim nunca foram namorados?

— Park Chanyeol! — meu estado letárgico foi desperto quando a voz grossa de Yifan ecoou por meus ouvidos, me puxando para a realidade.

Sem ter muito o que dizer, me arrastei até a quadra ainda pensando nas palavras de Kyungsoo.

Se eles não tiveram nada, então de quem o Byun estava falando todo esse tempo? Se não é do Do que ele gosta, de quem é?

O apito indicando o começo da partida soou, me forçando a tentar manter o foco naquilo que eu treinei tanto para fazer. A bola rebatia no chão e os jogadores corriam de um lado para o outro em busca dos pontos para a vitória do jogo. Em meio aos gritos da torcida e dos treinadores, o barulho dos nossos tênis deslizando era apenas um ponto a mais em tudo aquilo que eu não conseguia prestar totalmente atenção. Não quando aqueles olhos contornados me encaravam do meio da torcida.

Baekhyun me encarava e tinha seu rosto coberto por aflição, já que estávamos perdendo o jogo. Mesmo depois de tudo ele ainda torcia por mim. Mesmo depois de todas as vezes que eu agi como se ele fosse culpado de alguma coisa.

Droga! Agora fazia tanto sentido. Jongin e Kyungsoo trocavam carinhos e o Byun nada dizia pois não tinha porque dizer, afinal ele não namorava o Do. Era tão óbvio.

Como eu pude não perceber isso antes?

Me amaldiçoei mais uma vez antes de voltar meu foco para a partida. Eu não poderia mais me dar o luxo de decepcionar ou magoar mais pessoas, ainda mais aquelas que colocaram tanta expectativa em mim.

E eu não decepcionaria.

— Isso aí! — Luhan comemorou quando eu fiz uma cesta, marcando os 3 pontos que nos aproximava cada vez mais de um empate e de, com sorte, uma vitória.

*~☆~*

O jogo se arrastava para o fim e com a virada que havíamos conseguido, a vitória era certa. Luhan e o capitão do outro time, Sehun, não deixavam de trocar olhares durante aquela reta final. Luhan com um sorriso prepotente e Sehun com a raiva de ter perdido para o namorado cintilando em seus olhos.

Aos últimos segundos, me permiti olhar mais uma vez para onde Baekhyun estava acomodado. Eu tinha tantas coisas para lhe dizer, tantas desculpas para lhe pedir… Mas infelizmente não o encontrei em seu lugar, na verdade, ele não estava em lugar algum daquela arquibancada.

Vaguei com os olhos por todo o ambiente, encontrando-o próximo à saída do ginásio que dava nos corredores da escola com Kyungsoo. O Do parecia impaciente, enquanto Baekhyun negava com a cabeça. Seus olhos cintilavam, deixando em evidência que ele chorava.

Aquilo apertou meu peito, o que Kyungsoo estava lhe dizendo para o fazer chorar assim?

O apito final soou, e eu pude ver que o Byun corria para longe de Kyungsoo. Antes mesmo de conseguir receber as parabenizações pelo grande jogo, me vi correndo na direção do mais velho, pouco me importando com os gritos do meu time ou de Kyungsoo. Eu só, estranhamente, precisava falar com Baekhyun.

— Baek! — gritei quando o avistei no meio do corredor, andando apressado para só Deus sabe onde. O menor estagnou no mesmo momento em que minha voz se fez presente, apertando as mãos em punhos.

— Ch-Chan… — de forma lenta ele se virou para mim, me encarando com aqueles olhos avermelhados e a maquiagem escorrida no caminho de suas lágrimas. Meu peito apertou novamente e quando dei por mim, já havia encurtado a distância que havia entre nós.

— O que foi? Por que está chorando? — não me contive e acabei levando uma de minhas mãos ao seu queixo, o levantando sutilmente. O Byun apenas negava, desviando seu olhar do meu. — Me diz o que aconteceu, Baek. — o menor pareceu tomar coragem depois de alguns instantes em silêncio, finalmente me fitando nos olhos.

— Você. — seu olhar era de culpa, e seus olhos voltaram a brilhar se enchendo d’água. Franzi o cenho e ele voltou a me encarar como se buscasse coragem. — Eu gosto de você, Chanyeol.

Estagnei no lugar. Não conseguia me mexer ou nem mesmo esboçar alguma reação. Como assim ele gostava de mim? Então todo esse tempo era em mim que ele estava interessado?

Um flash com todas as vezes que estávamos juntos passou pelos meus olhos naquele momento, e então tudo se fez tão óbvio. Baekhyun havia me dado todas as dicas, mas eu fui lerdo demais para perceber que durante todo esse tempo era de mim que ele estava falando.

Sua cabeça abaixou e ele continuou a chorar baixinho, se livrando das lágrimas com os punhos fechados, como um bebê negligenciado. E aquilo me doía como um inferno. Nunca achei que aquele garoto pudesse me causar tantos sentimentos.

Agora eu sabia o que Baekhyun tanto sentia, mas… e quanto a mim? O que eu sentia por Byun Baekhyun?

Passei a relembrar de quando o menor havia ido até minha casa, de como meu coração bateu agitado dentro do peito, e também da vez em que estávamos no terraço do escola; os olhos de Baekhyun me transportavam para outra dimensão. Tudo deveria estar claro para mim, mas como eu disse antes, eu fui muito lerdo para notar. Até mesmo quando a saudade bateu e arranhou meu interior, eu fui muito cego para perceber o que aquilo poderia significar.

Mas por sorte eu enfim notei a tempo.

— Me desculpa… — disse enquanto limpava as lágrimas do pequeno, que forçava no cenho na tentativa de não desabar. — Por não ter percebido antes. — os olhinhos contornados me encaravam confusos. Sorri para o mais velho que ainda não entendia enquanto me aproximava ainda mais, segurando o rosto delicado do Byun com minhas duas mãos antes de colar nossos lábios juntos.

Percebi a surpresa com o arfar abafado do mais velho, que passou a apertar meus pulsos levemente. Nossos lábios se encaixavam naturalmente juntos, mesmo que naquele instante Baekhyun não correspondesse ao toque, era como se tudo ficasse finalmente claro perante ao meus olhos. Aquilo era o certo a se fazer.

Me separei do mais velho e sorri ao ver os olhos pequenos se abrirem lentamente, como se desejasse que aquele momento nunca mais acabasse. E antes que eu pudesse falar algo para complementar aquele momento, Baekhyun me puxou pela camiseta do uniforme e juntou nossos lábios, dessa vez os movimentando e pedindo passagem com a língua que não demorou a ser concedida.

Levei minhas mãos até a cintura do menor, apertando ali ocasionalmente. As bocas se moldavam juntas, ganhando um ritmo só nosso. Era maravilhoso beijar Baekhyun e meu coração arremetia cada vez mais agitado dentro do peito.

Sorri durante os selares que trocamos antes de nos separarmos de vez, e a feição alegre no rosto do menor é algo que eu jamais vou esquecer.

— Se eu soubesse que vocês iam dar esse beijão, teria falado com esse poste mais cedo. — me assustei ao ouvir a voz de Kyungsoo, mas assim que me virei e dei de cara com o time inteiro de Basquete nos encarando, senti meu rosto por inteiro pegar fogo. Baekhyun escondeu o rosto no meu peito ao que eu o abracei com medo de que por algum motivo ele fugisse, o que gerou um coro de “awn” desafinado.

— Eu sabia! — Jongdae comemorou ao lado de Minseok.

— Os dois ficam tão lindinhos juntos. — Luhan disse enquanto era abraçado por trás por Sehun.

— Vocês vão deixá-los com vergonha desse jeito. — Jongin se pronunciou. Quando nossos olhares se cruzaram, percebi que o sorriso que ele me lançava era como se pedisse desculpas. Sorri aliviado, era bom ter meu melhor amigo de volta. — Viemos chamar vocês para comemorar a vitória.

— Vem, eu dou uma carona pra vocês dois. — Luhan sorriu.

Todos caminhavam para fora da escola e eu seguia junto com minha mão entrelaçada a de Baekhyun, que sorria tímido.

— O que foi? — perguntei lhe dando um beijo na bochecha.

— É só que nada disso parece real… não acredito que consegui dizer que eu gosto de você. — seu rosto ganhava uma tonalidade avermelhada, incrivelmente fofo.

— Eu não consigo acreditar que fui tão lerdo para perceber. — passei meu braço ao redor dos ombros do menor, o trazendo para mais perto. — Eu até briguei com você achando que estava traindo o Kyungsoo… — fiz uma feição de nojo, arrancando uma risada do mais velho.

— Eu gosto de você faz tempo, Chanyeol. — seu olhar continuava a cintilar, mas suas palavras transmitiam uma seriedade única. Não me aguentei e estagnei meus passos para beijar meu pequeno.

— Desculpe demorar tanto. — Baekhyun tombou o rosto em minha palma, fechando os olhos enquanto aproveitava o carinho. — Prometo compensar todo o tempo perdido.

Baekhyun me lançou novamente aquele sorriso único, selando seus lábios aos meus mais uma vez antes de corrermos para o carro de Luhan que buzinava nos chamando.

Nossa história juntos estava apenas começando. O garoto gótico isolado em seu mundo com fones de ouvido e livros que eu sempre quis fazer amizade, agora era muito mais que apenas isso. Baekhyun havia se tornado meu Millennium. E dessa vez, eu não o entregaria a ninguém.