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História Gotta be somebody - Eyes and smiles


Escrita por: elmaxswanmills

Notas do Autor


Essa é minha primeira one WickedRed e foi feita especialmente para atender o pedido de uma pessoinha bem especial. u_u

Miss, espero que goste do seu presente. <3

Foi um desafio delicioso escrevê-la. =)

Capítulo 1 - Eyes and smiles


Fanfic / Fanfiction Gotta be somebody - Eyes and smiles

“Existe algo naqueles olhos azuis sempre tão desafiadores que me impeliam para perto dela. Enquanto eu via medo nos demais, algo me atraía para ela. Talvez fosse meu instinto de lobo, talvez fosse minha curiosidade, talvez fosse apenas ela. Seus olhos azuis me faziam lembrar de locais os quais eu sempre sonhei em conhecer enquanto era apenas “Ruby - a garçonete” lugares como Bora-Bora, com águas tão cristalinas onde eu não me importaria de me afogar. E assim era quando eu olhava em seus olhos. Algo me atraía irremediavelmente para ela.”

 

This time, I wonder what it feels like

(Desta vez, eu me pergunto como deve ser)

To find the one in this life,

(Encontrar a pessoa para esta vida)

The one we all dream of, but dreams just aren’t enough

(A pessoa que todos nós sonhamos, mas apenas sonhos não são suficientes)

So I’ll be waiting for the real life thing

(Então eu estarei esperando por algo real)

 

Quando eu a vi pela primeira vez, há alguns anos, lembro-me de ter pensado: essa bruxa vai virar nossas vidas de cabeça para baixo. Bem, parece que eu não estava errada afinal. Eu passei tantos anos observando Regina, eu a conhecia tão bem, que quando vi Zelena eu reconheci a mesma dor em seus olhos. Embora elas fossem muito diferentes em diversos aspectos eu podia ver que no fundo aquela ruiva não era má sem um propósito. Talvez os fatos a tivessem forçado a isso, assim como fizeram com Regina e quanto mais ela se esforçava para parecer má mais eu via sua alma através daqueles olhos tão azuis.

Quando estávamos sob a maldição eu pude aprender algumas coisas e uma delas foi que os olhos são a janela da alma. Aprendi também que nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo que cultivamos. Depois que Emma quebrou a maldição, eu me aproximei muito de Belle e graças a ela pude conhecer mais sobre mim, sobre meus instintos e também algumas coisas sobre os lobos no mundo mágico por assim dizer. Lembro-me de ter lido certa vez que os lobos se ligavam as bruxas de um modo único, como se fosse um chamado da alma, algo que eles não poderiam evitar e disse a Belle que isso não aconteceria comigo pois minha alma nunca chamaria por uma bruxa ou um bruxo. Eu só não esperava cruzar com aqueles olhos. Ela parecia dizer olhe em meus olhos, é onde meus demônios se escondem. E então eu olhei.

Foi como se eu saltasse da prancha de um navio diretamente no centro de um redemoinho daqueles que se formam nos oceanos.

Enquanto Snow, Regina e os outros tentavam encontrar um meio de para-la eu só queria estar próxima a ela. Minha alma parecia clamar pela dela e foi por isso que eu parti. Eu estava assustada demais para permanecer ali e me permitir qualquer coisa. Eu tinha medo do que os meus amigos diriam se soubessem o que estava acontecendo, como eu estava me sentindo. Eu tinha medo de Zelena não sentir o mesmo, tinha medo de me descontrolar e deixar meu lobo vir à tona e algo acontecer a ela como aconteceu ao Peter. Não, eu não podia.

Quando Zelena foi derrotada e todos comemoram eu esperei pelo anoitecer e me certifiquei de que ela estava dormindo e fui até a delegacia. Eu precisava vê-la, mesmo que ela não soubesse que eu estava ali e fiz isso durante algumas noites. Eu sabia onde Emma guardava as chaves então foi fácil entrar sem chamar a atenção. Eu entrava e me sentava diante da cela e ficava horas observando-a dormir. Seu cabelo ruivo espalhado no travesseiro fino, os cachos que se moldavam tão perfeitamente a ela, o peito subindo e descendo em um ritmo tranquilo, tudo sobre ela era hipnotizante. Enquanto a observava eu imaginava como seria se ela soubesse a maneira como eu me sentia. O que ela diria, como ela reagiria. Eu via o modo como Emma e Regina se olhavam e sabia do que sentiam, mas assim como eu, nenhuma delas tinha coragem de dizer a outra. O motivo até hoje eu não sei, mas isso me fazia pensar se aconteceria o mesmo comigo se Zelena não estivesse tão imersa em sua vingança. Alguns dias depois eu parti para a Floresta Encantada usando um feijão mágico que o Tinny me deu. Me despedi dos meus amigos, de minha avó e antes de partir eu fui até a delegacia novamente. Zelena dormindo era a última imagem que eu queria levar dali. Eu joguei o feijão mágico no chão e logo o portal se abriu. Eu a olhei uma última vez e pulei. Meu coração se apertou por estar sendo tão covarde e partindo sem lutar, mas eu não podia ficar. Eu ainda tinha muitos medos, muitos fantasmas que me assombravam.

Não demorou muito e eu caí em meio a uma floresta densa. Olhei ao redor tentando reconhecer o lugar, mas foi em vão. Eu apenas sabia que era um reino mágico e então resolvi explorar e tentar encontrar algum lugar para ficar, uma alcatéia que eu pudesse seguir e assim me conhecer melhor, qualquer coisa do tipo. Acabei encontrando o reino de Phillip e Aurora que me acolheram imediatamente e foi uma boa decisão. Viver novamente como nos tempos antes de Regina lançar a maldição que nos levou para Storybrooke me acalmou um pouco, mas nunca era suficiente. Sempre faltava algo. No início eu dizia a mim mesma que estava sentindo falta de Snow e dos outros, mas com o tempo parei de tentar me enganar. Meu coração, minha alma, cada parte de mim clamava por Zelena e eu já não tinha certeza se tinha tomado a melhor decisão.

 

I’ll know it by the feeling

(Eu saberei disso pelo sentimento)

The moment when we’re meeting

(O momento quando nos encontrarmos)

Will play out like a scene, straight off the silver screen

(Irá aparecer como uma cena, direto no telão)

So I’ll be holding my breath, right up to the end

(Então eu estarei segurando minha respiração, até o final)

Until the moment when I’ll find the one that I’ll spend my life with

(Até o momento em que eu encontrar a pessoa com quem ficarei para sempre)

 

Certa noite eu estava sentada na floresta e Aurora veio até mim. Ela me contou que há muito tempo ela tinha ficado dividida entre dois amores e o medo fez com que ela escolhesse o caminho mais fácil, o que todos julgariam certo e mesmo depois de tanto tempo ela ainda pensava na outra pessoa.

— Então você não ama o príncipe? – Perguntei incrédula.

— Oh, é claro que eu o amo. – Ela sorri gentil. — Mas sempre haverá aquele buraco que apenas aquela pessoa poderia ter preenchido. Eu vi em seus olhos quando você chegou aqui e vejo a cada dia que passa. Você ama alguém e isso te assusta. Assustou tanto que você preferiu fugir a se deixar levar por esse sentimento. Não cometa o mesmo erro que eu cometi. Se ainda houver alguma chance, não a deixe escapar por entre seus dedos novamente.

Aurora se levantou e antes de sair plantou um beijo em meio a meus cabelos. Ela voltou para dentro do castelo e eu continuei na floresta. Não demorou muito e uma tempestade começou. Torrencial como uma tempestade de verão. Eu fechei meus olhos e levantei meu rosto deixando que as gotas viessem até mim. Logo elas se misturaram com as lágrimas que desciam silenciosas por meu rosto. As palavras da princesa me fizeram pensar em Zelena e isso fez meu coração doer. Deixei que a chuva caísse sobre mim e permaneci ali enquanto os aqueles olhos azuis tão belos pareciam impregnados em minhas pálpebras. Eu não sei por quanto tempo fiquei ali, mas continuei mesmo depois que a chuva parou. O cheiro que se instalou na floresta após a tempestade me fez lembrar dela novamente. Algo que trouxe paz ao meu coração ao mesmo tempo que era tão intenso, tão forte. Assim como Zelena.

Phillip e Aurora me ajudaram bastante, eles tinham muitos livros, pergaminhos e manuscritos que falavam sobre pessoas como eu. Eles disseram que tudo aquilo era por causa de Maleficent e todas aquelas coisas me ajudaram bastante. Aos poucos fui aprendendo mais sobre mim, sobre como controlar o meu lobo, como me transformar mesmo sem estar na lua cheia, aprendi sobre o chamado da alma e essa foi a lição mais dolorosa, pois aquela por quem minha alma chamava estava muito longe de mim e a escolha havia sido minha. Nas noites em que a observei dormir eu fiz de tudo para guardar cada detalhe dela o mais profundo que podia.

Eu decidi novamente partir. Me despedi dos dois e corri floresta adentro. Tentei encontrar minha alcateia, mas foi em vão. Não havia vestígios deles então eu fui até uma bruxa para buscar ajuda. Ainda não sabia exatamente o que iria pedir caso ela concordasse, mas não tive chance. Assim que cheguei ela jogou uma espécie de feitiço sobre mim e isso me impediu de voltar a minha forma humana. Felizmente isso não foi uma experiência completamente ruim. O tempo que passei na minha forma de lobo fez com que meus sentidos e instintos se desenvolvessem de um modo que eu jamais pensei ser capaz. Não sei quanto tempo fiquei assim, lembro-me apenas do dia em que me livrei do feitiço com a ajuda de uma guerreira que momentos mais tarde descobri que era Mulan. Ela estava tentando se redimir com uma velha amiga e sua alternativa era pedir ajuda a bruxa. Como isso não seria mais possível eu me ofereci para ajuda-las. Merida precisava recuperar o capacete mágico que a tal bruxa tinha dado a seu pai e assim poderia localizar seu assassino e fazer justiça, além de isso lhe garantir o direito de permanecer com o reino. Eu usei o meu faro e ele nos levou a uma floresta e senti meu coração parar no momento em que nos deparamos com duas pessoas lá.

Zelena estava parada ao lado do homem que havia matado o pai de Merida. Eu não sabia o que pensar, não sabia o que sentir. O que ela estava fazendo ali? Porque estava com ele? Eles estariam juntos? Escolhi focar no motivo pelo qual estávamos ali e segui com a princesa até ele. Eu tentei não olhar para ela, mas era como se aqueles olhos azuis estivessem me convidando a me afogar novamente. Assim que nos viu ela se mostrou surpresa, mas em seguida recuperou aquela pose de intocável. No entanto, havia algo diferente. Enquanto Merida e o tal homem discutiam e apontavam suas espadas um para o outro ela se afastou e logo Mulan estava diante dela a desafiando. Quando ela fez menção de usar sua magia contra a guerreira eu usei o pó de papoula para apaga-la e evitar um confronto onde uma de nós saísse ferida. Eu a levantei com a ajuda de Mulan e logo estávamos paradas diante de Merida e do tal homem, foi quando eu descobri que ela estava em Camelot. Zelena estava meio zonza por causa do pó da papoula, mas ainda assim conseguiu usar sua magia para tirá-los dali.

Quando completamos a missão e fomos nos despedir de Merida ela insistiu que Mulan ficasse com algumas moedas de ouro e perguntou o que havia acontecido para ela ter mudado tanto. Quando a ouvi dizer que o motivo tinha sido uma desilusão amorosa, que ela havia esperado demais para contar a pessoa o que ela sentia e quando resolveu fazer era tarde demais. Naquele momento eu tomei uma decisão. Eu iria até Camelot e daria um jeito de contar a Zelena o que eu sentia. Convenci Mulan a ficar no reino de Merida pois eu sabia que isso faria bem para as duas.

Quando fugi para a Floresta Encantada a alguns anos eu pensei que nunca mais fosse vê-la, mas ao chegar em Camelot tudo virou de cabeça para baixo. Não era apenas a bruxa que estava lá, mas também minha avó, Snow, Charming, Emma, Regina, Zelena e mais algumas pessoas do nosso reino e para completar minha amiga havia se tornado a nova Senhora das Trevas para salvar a vida da rainha. Curiosamente não vi Killian por ali e isso era estranho. Lembro-me dele sempre atrás de Emma tentando convencê-la a ficar com ele. Snow foi a primeira a me ver e em seu rosto um misto de surpresa e alívio se fez presente. Ela correu até mim e me envolveu em um abraço tão apertado que pensei que me partiria ao meio.

— Red, o que faz aqui? – Ela perguntou enquanto me soltava.

— Eu... – Sorri nervosa. — Eu estava ajudando duas amigas e acabei me deparando com Zelena e um homem na floresta e o meu faro acabou me guiando até aqui. O que vocês estão fazendo aqui?

— Longa história. – Charming me abraçou rapidamente. — Você ainda está nessa missão ou tem algum tempo para se juntar a nós?

— Não há nada que eu queira mais. – Sorri para ele e de soslaio percebi Snow me analisando. — E você poderá me perguntar o que desejar mais tarde.

 

‘Cause nobody wants to be last one there

(Porque ninguém quer ser o último ali)

‘Cause Everyone wants to feel like someone cares

(Porque todo mundo quer se sentir como se alguém se importasse)

Someone to love with my life in their hands

(Alguém para amar com minha vida em suas mãos)

There’s gotta be somebody for me like that

(Deve haver alguém assim para mim)

‘Cause nobody wants to go it on their own

(Porque ninguém quer continuar por si só)

Everyone wants to know they’re not alone

(Todo mundo quer saber que não está sozinho)

Somebody else that feels the same somewhere

(Alguém que sinta as mesmas coisas em algum lugar)

There’s gotta be somebody for me out there

(Deve ter alguém assim para mim lá fora)

 

Antes que ela pudesse responder minha avó abriu caminho entre eles e eu corri para seus braços. Eu sentia minhas lágrimas molhando sua roupa e seu abraço se tornando mais apertado em torno de mim. Deixei tudo sair naquele momento. Não precisava dizer nada. Ela não perguntaria pois sabia que eu diria no momento certo. Alguns minutos se passaram e a voz de Emma nos despertou daquele momento. Me soltei do aperto de minha avó e me virei para encarar minha amiga. Ela não se parecia com um Senhor das Trevas. Sua pele não estava escamosa, seu cabelo continuava bonito e loiro como sempre e seus olhos verdes e mais expressivos do que qualquer palavra que ela poderia dizer. A abracei apertado surpreendendo a todos inclusive a mim e enquanto estava abraçada a ela vi Regina nos olhar de soslaio com cara de poucos amigos. Não consegui evitar o riso, mas antes que alguém pudesse perguntar algo eu achei melhor cumprimentar os demais. Henry havia crescido tanto desde a última vez em que o vi. Estava um verdadeiro príncipe naquelas roupas. Meus olhos encontraram os de Zelena por alguns instantes e eu senti meu coração parar. Ela usava um vestido de veludo verde e sua expressão era indecifrável, embora seus olhos não abandonassem os meus.

Enquanto conversava com Charming e Snow eles fizeram um resumo do que havia acontecido após a minha partida e agora eu sabia o que tinha de diferente com a bruxa. Ela estava grávida. Grávida daquele… Daquele palerma do Robin Hood. Eu não conseguia acreditar! Minha amiga quis bancar a Salvadora e levou a mulher morta que não era a mulher morta do arqueiro de volta a vida deles. Como ele poderia ser o amor verdadeiro da Regina e deixa-la daquela maneira? Mas então outra coisa veio a minha mente. Se Emma não tivesse levado a prisioneira da Rainha Má de volta eu teria encontrado com Zelena antes? Acho que nunca saberei essa resposta e agora nem terei tempo de pensar nisso. Emma se tornou a nova Senhora das Trevas, Zelena continuava em sua jornada de vingança e dor, Killian estava morto – ferido pela Excalibur – e agora eles estavam tentando libertar a filha da escuridão.

Após conversar com Charming e Snow eu fui procurar por Belle, precisava saber como ela estava. Encontrei-a sentada na lanchonete com um livro diante de si como de costume.

— Belle? – A chamei baixo.

Ela levantou a cabeça e um sorriso iluminou seu rosto. A pequena largou o livro na mesa e correu até mim com os olhos marejados. A envolvi em um abraço apertado e novamente as lágrimas desceram silenciosas por meu rosto. Eu não sabia que havia sentido tanta falta de cada um deles até me deparar com todos ali. Belle havia sido uma boa amiga para mim, nossa conexão foi instantânea e algo que experimentei com poucas pessoas em minha vida. Ela nunca me olhou como se eu fosse um monstro, ela nunca me julgou, ela sempre esteve ao meu lado. Logo minha avó estava atrás do balcão e preparando alguns petiscos para nós. Ouvi atentamente tudo que ela me contou sobre o que acontecera entre ela e o antigo Senhor das Trevas depois que parti e por pior que possa parecer, me senti aliviada ao saber do destino que Rumple tivera. Belle estava finalmente livre daquele relacionamento que lhe trouxera tanta dor. Ela me contou que eles estavam trabalhando com Merlin para retirarem as trevas não apenas de Emma, mas do mundo e estavam apenas esperando o retorno de Lancelot para poderem concluir o ritual. Killian fora ferido a alguns dias em um confronto que o Rei Arthur armara e por isso acabou morrendo. Meus amigos estavam sendo vistos como traidores do rei e ficar escondidos na pensão até tudo terminar parecia uma excelente ideia.

Minha avó disse que meu quarto continuava do mesmo modo desde que eu partira, ela não havia mexido pois era um meio de me manter por perto. Belle e eu a ajudamos a preparar o jantar e enquanto o fazíamos o famoso mago apareceu sorridente. Ele era diferente de tudo que imaginei e sua energia era algo que acalmava instantaneamente.

Após o jantar eu aproveitei para tomar um ar e tentar ordenar meus pensamentos. Desde que eu coloquei meus pés ali não vi mais Zelena. Ela desapareceu assim que eu cheguei e não conseguia entender o porquê. Estava tão imersa em meus pensamentos que não notei a aproximação de Snow. Quando dei por mim ela já estava sentada ao meu lado e me olhando com um misto de curiosidade e compreensão.

— Vai me dizer o verdadeiro motivo de estar aqui ou eu terei que descobrir sozinha? – Sua voz era baixa e suave, mas eu a conhecia bem para saber que ela falava sério.

— Eu não sei como explicar. Mesmo depois de tanto tempo é algo que ainda me assusta demais. – Resolvi ser sincera e torci para que ela me entendesse.

— Isso não tem nada a ver com buscar outros como você, não é? – Snow sorriu e gentilmente tomou uma de minhas mãos entre as suas. — Isso tem algo a ver com uma pessoa em especial. Eu só não tenho certeza de quem.

— É complicado. – Suspirei e a encarei. — Ela é tão complicada.

— Ela? – Suas sobrancelhas estavam arqueadas e um sorriso divertido estampava seus lábios.

— Eu acho bom a senhorita começar a me contar tudo ou teremos problemas.

Eu respirei fundo e comecei a contar a ela tudo que estava guardado. Desde quando voltamos para a Floresta Encantada por causa da maldição de Peter Pan e a primeira vez em que coloquei meus olhos em Zelena. Snow me ouviu atentamente e embora parecesse um pouco chocada não havia reprovação em seus olhos. Ela me puxou para um abraço desajeitado e disse que eu poderia contar com sua ajuda se assim desejasse, mas a questão era que eu não tinha a menor ideia de como chegar até Zelena.

 

(...)

 

Tonight, out on the street, out in the moonlight

(Esta noite, lá fora na rua, na luz do luar)

And dammit this feels too right

(E maldição, isso parece tão certo)

It’s just like dejà vu, me stand here with you

(É apenas como dejà vu, eu parado aqui com você)

So I’ll be holding my breath

(Então eu segurarei minha respiração)

Could this be the end?

(Poderia esse ser o fim?)

Is it that moment when I find the one that I’ll spend forever with?

(É este o momento quando eu encontro a pessoa com quem viverei para sempre?)

 

Eu não podia acreditar no que estava vendo. O que aquela loba estava fazendo ali? Com aquele maldito sorriso e aqueles olhos grandes e verdes. Ela não deveria estar ali. Depois de tanto tempo…

Soltei um riso baixo e balancei a cabeça negativamente. Não tenho ideia do porquê, mas nesse momento lembrei-me do conto que li quando fui para o outro reino. Aquele para o qual minha querida irmã levou todos quando lançou suas maldições. Aparentemente todos nós tínhamos nossas histórias contadas lá para o entretenimento alheio e certa vez enquanto estava em NY com Robin e o filho bancando a esposa morta eu li para o garoto o conto da Chapeuzinho Vermelho e o lobo mau. Idiotas. Não sabem nada sobre nós. Não sabem que a chapeuzinho é também o lobo mau. Não sabem o quão linda ela é e o sorriso que ela tem. Eu tentava focar meus olhos em qualquer ponto que não fosse ela, mas isso era impossível. Aquele sorriso me hipnotizava e era inútil tentar lutar contra. Lembrei-me de uma parte do conto em que a chapeuzinho diz algo como que boca grande você tem para o lobo e ele responde algo como é para engolir você melhor. Porque raios eu estava pensando nisso em um momento como esse? A minha expressão deve ter sido algo bem transparente pois Regina me olhou com espanto.

— O que foi? – Perguntei irritada.

— Você está com cara de quem queria ser o lobo mau para poder devorar alguém. – Ela respondeu com a sobrancelha arqueada.

— Felizmente a única que pode devorar alguém aqui é amiga de vocês e sendo assim creio que isso não aconteceria. – Virei-me para o outro lado na tentativa de dispersar aqueles pensamentos.

— Se você não estivesse carregando um bebê eu ficaria muito tentada a pedir para Ruby quebrar a sua dieta. – Regina retrucou.

Arregalei meus olhos incrédula diante do que havia acabado de ouvir. Preferi ignorar o que Regina disse e afastei-me indo em direção a mata. Mesmo depois de tudo que fiz desde que viemos para Camelot para que eles pudessem ajudar a salvadora minha querida irmã insistia em me manter por perto. Ela dizia que era por causa do bebê que eu estava carregando, mas por muitas vezes eu me perguntei se era por isso mesmo. Caminhei para dentro da floresta e sentei-me ao pé de uma árvore recostando-me em seu tronco. Fechei os olhos e tentei pensar em outra coisa, mas imediatamente aquele sorriso apareceu como se estivesse pintado em minhas pálpebras. Aquela loba fazia com que eu me questionasse frequentemente e isso me irritava. Eu sentia que ela era uma das únicas coisas que poderiam me desviar de minha vingança. Ela e o bebê que eu estava esperando.

Lembrei-me de quando a vi pela primeira vez. Ela usava aquela capa vermelha, seu cabelo solto, cacheado e com uma trança lateral discreta. Ela estava séria ao lado de Regina e seus amigos enquanto eles tentavam descobrir quem estava em seu castelo e ainda assim era a mais bela entre eles. Parecia que algo em mim havia acordado, algo que eu não possuía controle e isso me assustou de tal maneira que me fechei ainda mais em meus planos de vingança. Quando Regina lançou a maldição para que eles voltassem para aquele outro reino e eu acabei indo junto fiz com que se esquecessem de mim pois assim poderia tentar me aproximar dela sem que soubessem quem eu era e assim eu poderia tirar aqueles sentimentos de mim e voltar para a minha vingança, mas a salvadora tinha que aparecer, não é? Aquele pirata de uma mão só tinha que ir atrás dela e trazê-la de volta para a minha amada irmã...

Elas eram ainda mais covardes do que eu. Passaram tantas coisas juntas, o que sentiam uma pela outra era mais do que nítido e ainda assim estavam com aqueles inúteis. Enquanto estava lá e eles não sabiam quem eu era aproveitei para observa-la sempre que podia. Toda vez que ela sorria era como se algo se agitasse em meu peito. Era sempre tão belo, tão encantador, tão magnífico. Seu sorriso aquecia até o mais poderoso dia de inverno. Era como se tudo ao meu redor tivesse vida novamente. Seu sorriso era como um dia de verão no reino mais belo. Mas ela nunca olharia para mim. Ou pelo menos era o que eu gostava de pensar para continuar com meus planos. Quando Emma e Regina me derrotaram e quebraram a maldição eu pensei que seria o meu fim, mas minha irmã apenas mandou que me prendessem e colocou um bracelete mágico em mim além de retirar meu colar. As horas dentro daquela cela naquela delegacia vazia eram entediantes e eu fazia a única coisa que me restava; dormir e foi aí que a surpresa veio. Eu estava dormindo quando senti uma presença e de algum modo eu sabia que era ela. Não tive coragem de me virar e encara-la então apenas continuei fingindo que dormia para ver o que ela pretendia. Contrariando todas as minhas expectativas ela apenas sentou-se em silêncio e ficou ali me observando. Eu podia sentir seus olhos sobre mim e não entendia o porquê. Quando ela fez isso nas noites seguintes minha curiosidade aumentou, mas eu ainda não tinha coragem de perguntar o motivo disso e então ela veio uma noite e pela primeira vez disse algo. Sua voz era baixa e suave, entrecortada por causa do choro e isso dificultou um pouco para que eu compreendesse o que ela dizia. Apenas quando senti a magia do portal eu me dei conta do que ela estava falando. Ela estava se despedindo. Quando finalmente tive coragem de me levantar já era tarde. Red - como Snow e os outros a chamavam - pulou no portal e tudo que eu podia fazer era observá-lo se fechar diante de mim. Encostei na parede gelada e fechei os olhos deixando que as lágrimas viessem. Elas desciam sem controle e eu não ousava me mover. Ela sentia algo, mas minha sede de vingança a impediu de se aproximar e agora lá estávamos nós, presas com aqueles idiotas nesse reino e eu estou novamente sem saber o que fazer.

 

‘Cause nobody wants to be last one there

(Porque ninguém quer ser o último ali)

‘Cause Everyone wants to feel like someone cares

(Porque todo mundo quer se sentir como se alguém se importasse)

Someone to love with my life in their hands

(Alguém para amar com minha vida em suas mãos)

There’s gotta be somebody for me like that

(Deve haver alguém assim para mim)

‘Cause nobody wants to go it on their own

(Porque ninguém quer continuar por si só)

Everyone wants to know they’re not alone

(Todo mundo quer saber que não está sozinho)

Somebody else that feels the same somewhere

(Alguém que sinta as mesmas coisas em algum lugar)

There’s gotta be somebody for me out there

(Deve ter alguém assim para mim lá fora)

 

Barulhos na mata ao redor me despertaram desses pensamentos e para minha surpresa ao abrir meus olhos deparei-me com Robin Hood e o filho. O garoto estava no colo dele e me olhava curioso e eu me esforcei para sorrir em resposta. O arqueiro se aproximou com cautela e colocou o pequeno no chão. Surpreendendo a nós dois ele correu até mim e deu um beijo em minha bochecha.

— Aonde pensa que vai? – Sentei-me ereta e o encarei.

— Estou partindo, não ficou claro? – Seu tom era cansado e eu arriscaria dizer um pouco triste.

— Partindo porquê? – Não entendi exatamente o motivo da minha curiosidade, mas a pergunta já estava lá.

— Oras, Zelena, acho que nós dois sabemos exatamente o motivo. – Robin deu um passo em minha direção e se ajoelhou. — Regina e eu acreditamos em uma história que já está findada a muito tempo, quisemos acreditar em algo apenas para tentar aplacar nossos verdadeiros sentimentos e nenhum dos dois estava realmente feliz.

— Está dizendo que não a ama? – Eu sabia que Regina não o amava de verdade, mas pensei que ele sentisse algo por ela.

— Não é exatamente isso. Eu a amo, mas não como deveria. Regina é uma mulher incrível, mas ela merece mais. – Robin parecia tranquilo e certo do que estava falando. — Ela merece alguém que a ame sem restrições, que possa se dar a ela por inteiro, não alguém que a coloca em segundo plano. Eu não sou idiota. Sei que ela não me ama também. Nosso tempo já passou. Quando ela deixou de entrar naquela taverna nossa história findou. A vida é feita de escolhas e naquela noite ela fez a dela. Os anos passaram e então ela conheceu alguém. Alguém que está sempre ao lado dela, alguém que se sacrificou por ela tantas vezes que eu nem consigo mais contar.

— Você está falando da... – Eu não sabia porque estava prosseguindo com aquela conversa. Sentia meu coração bater desenfreado no peito, as palavras dele estavam tendo um efeito devastador em mim.

— Emma Swan. – O arqueiro sorriu fraco e se ajeitou sobre seus joelhos. — No começo eu quis acreditar que não, mas bastou que eu as observasse algumas vezes. Qualquer um pode ver o que elas sentem uma pela outra e agora que Killian se foi, não é justo que eu fique no caminho da felicidade de Regina.

— Ela sabe que você está partindo? Você vai para onde? E o seu bando? – Por algum motivo ainda desconhecido me preocupei com Regina e o futuro dele e de Roland e as palavras se atropelaram para fora de minha boca antes que eu pudesse evitar.

— Sabe. – Robin se levantou e buscou Roland com os olhos. — Eu conversei bastante com ela e espero que ela cumpra sua promessa e seja feliz. Apesar de tudo que aconteceu, Zelena, eu desejo que você também seja feliz. Quanto a mim, conversei com Belle e ela concordou que eu volte para o antigo castelo do Rumplestiltskin, que era onde eu vivia. Merlin disse que há um meio de trazer os meus homens para cá e mandar vocês de volta para Storybrooke, então...

— Mas e quanto ao nosso bebê? – Não que eu quisesse ficar com ele, mas eu sabia o quanto Robin amava Roland e sabia que ele queria aquele filho também. — Você vai simplesmente esquece-lo?

— Eu jamais esquecerei, Zelena. – Ele parecia sincero em suas palavras e aquilo fez com que eu o olhasse com as sobrancelhas arqueadas. — Mesmo com todos os erros que você cometeu, todos merecem uma nova chance. Quando abrimos o portal para vir para cá você disse que desejava ir para Oz para poder ficar com o bebê em paz. Eu acredito que um filho muda uma pessoa. Veja o que fez com Regina. Eu sei que pode fazer com você também. Algo me diz que você será uma boa mãe.

Antes que eu pudesse dizer algo ele se levantou e chamou por Roland. O garoto correu até ele e se jogou em seus braços, rindo alto enquanto ele o erguia e o beijava. Me surpreendendo mais uma vez ele sorriu e se despediu de mim desaparecendo floresta adentro.

 

(...)

 

Depois da minha conversa com Snow nós voltamos para dentro do Granny’s e eu fui direto para o meu quarto. O dia havia sido longo e minhas energias estavam praticamente esgotadas e no dia seguinte todos teríamos de levantar cedo pois Merlin iria fazer o ritual para retirar as trevas de Emma. Notei que ela e Regina conversavam com o mago com um misto de preocupação e excitação em seus olhares, talvez por estarem prestes a se livrar de um grande mal, talvez por estarmos prestes a voltar para Storybrooke, não tenho certeza e naquele momento não queria pensar em mais nada.

Rolei na cama e puxei a coberta sobre meu rosto para fugir dos raios de sol que entravam pela janela mesmo sabendo que seria inútil tentar permanecer na cama. Se eu demorasse, logo Snow ou Belle entrariam no quarto e me arrancariam da cama então me levantei e logo estava reunida com todos na lanchonete. Diferente da noite anterior, os olhares de Emma e Regina agora eram apreensivos. A energia que emanava do mago era algo muito mais forte do que qualquer outra que eu já havia sentido. Ao contrário do que eu pensava o processo para tirar as trevas de Emma foi rápido embora tenha esgotado as energias dele e as dela também. Quando ela quase foi ao chão no final, Regina a amparou eu vi os olhos de Snow e Charming brilharem enquanto as duas estavam imersas em sua bolha particular.

— Regina, – Merlin sorriu para as duas e olhou para nós em seguida. — Vocês já conversaram com os demais sobre a proposta que fiz a vocês?

— Que proposta? – Meu olhar alternou entre elas e o mago.

— Merlin disse que pode nos levar de volta para Storybrooke sem precisar lançar uma nova maldição. – Regina sorria nervosa. Eu sabia que tinha algo a mais ali.

— Mas? – A voz de Zelena enviou calafrios por todo o meu corpo fazendo com que Snow sorrisse discretamente diante da minha reação e Regina me olhasse confusa.

— Nós também temos a opção de ficar na Floresta Encantada. Se optarmos por isso, ele pode trazer os demais habitantes de Storybrooke de volta para cá. – Regina alternou seu olhar sobre cada um de nós.

— Isso seria... – Snow trocou um rápido olhar com Charming e se voltou para as duas. — Seria melhor voltarmos. Emma e Henry cresceram naquele mundo, estão acostumados a ele, não seria justo.

— Não, vovó! – Henry se aproximou dela com um sorriso radiante. — Eu sempre quis vir para cá, sempre quis conhecer o mundo de vocês e sei que sentem falta daqui. Dos bailes, de andar a cavalo, do ar puro...

— Ele está certo. – Emma se aproximou de Snow e Charming com um Regina ao seu lado. Céus, quando aquelas duas iriam ficar juntas de uma vez? — Quando caí no portal da Zelena e quase estraguei tudo, ainda assim eu tive uma das melhores experiências da minha vida. Sem falar quando viemos para cá através daquele portal quando estávamos tentando salvar Regina do sugador de almas. Ou mesmo quando o Autor nos mandou para cá naquela realidade paralela. Eu adoraria viver aqui.

— Emma, você não precisa... – Snow alternou seu olhar entre todos nós e se voltou para a loira.

Enquanto eles conversavam sobre o que fazer meus olhos acabaram cruzando com os de Zelena e eu senti um frio na espinha. Cada vez que olhava para ela era como mergulhar em águas cristalinas, mas infestadas de perigos e aventuras. Eu sentia como se tivessem borboletas em meu estômago, milhares delas voando enlouquecidamente dentro de mim. Não sei porque, mas não consegui evitar sorrir para ela e sua expressão se tornou indecifrável. Ao contrário do que imaginei, ela não recuou, não desviou seu olhar do meu. Estávamos presas em uma bolha só nossa. Isso nunca havia acontecido entre nós antes. Eu podia ouvir as vozes de todos ao longe, como se eu estivesse submersa e eles estivessem falando comigo da superfície. Apenas quando Belle tocou meu ombro é que consegui desviar meu olhar do de Zelena e nesse momento eu preferia ter como desaparecer dali. Regina e Emma me olhavam com as sobrancelhas arqueadas e Snow sorria balançando negativamente a cabeça. Com algum esforço consegui recuperar minha postura e então Henry me perguntou se eu gostaria de voltar para Storybrooke ou permanecer na Floresta Encantada. Seus olhos pidões e seu sorriso travesso se pareciam muito com Emma quando ela queria algo e ao pensar nisso um riso baixo escapou de meus lábios.

— Vou para onde vocês forem. Acho que já passei tempo demais longe da minha família. – Respondi alternando meu olhar entre minha avó – que sorriu aliviada – e os demais.

— Claro. – Regina sorriu de canto. — Isso tem apenas a ver com querer estar perto da família. Apenas isso.

Emma se virou para ela com uma expressão confusa e eu me virei para Snow pedindo ajuda silenciosamente. Antes que Regina pudesse dizer mais alguma coisa ou que minha avó pudesse perguntar algo, Charming tomou a frente.

— Bem, acho que está decidido então. Vamos voltar para o nosso castelo.  

— Ninguém me perguntou para onde eu quero ir. – Zelena encarava Regina, mas ela não parecia querer desafia-la de verdade.

— Isso, sis, é porque você não vai a lugar algum. – Regina deu um passo em direção a ela e eu me movi automaticamente, como se meu corpo não respondesse mais a mim.

As duas me olhavam confusas e logo Emma estava ao lado da rainha segurando gentilmente em seu braço. Ela me lançou um olhar confuso, mas não me questionou.

— E para onde você gostaria de ir, Zelena? – Emma perguntou tranquilamente.

Zelena estalou a língua e olhou ao redor, parando seu olhar em mim por alguns segundos antes de voltar para a irmã a sua frente. Provavelmente ela não esperava esse tipo de atitude vindo de Emma e pela primeira vez a vi sem uma resposta pronta. Ela pareceu considerar algumas opções antes de finalmente concordar em permanecer com eles. Meu sorriso se alargou involuntariamente e mais uma vez fui alvo de olhares confusos e divertidos.

 

You can’t give up when your looking for that diamond in the rough

(Você não pode desistir quando você está olhando para aquele diamante bruto)

Because you never know when it shows up

(Porque você nunca vai saber quando isso aparece)

Make sure your holding on ‘cause it could be the one

(Tenha certeza de estar segurando bem porque este pode ser único)

The one your waiting on

(O único que você está esperando)

 

Depois que tudo estava acertado, vi entrar pela porta do Granny’s, Lancelot e uma mulher que eu não conhecia, mas que possuía uma magia ainda mais intensa do que a de Merlin. Regina e Zelena arregalaram os olhos e a reverenciaram. Minha confusão não durou muito mais. Aquela só podia ser Morgana. Claro! A mãe de Lancelot! Mas... porque ela estava ali? Sua voz era forte e melodiosa e ela nos explicou que um portal do tipo que seria aberto, sem uso de magia negra requeria muita magia de luz e por isso Merlin não poderia fazê-lo sozinho. Ela estava ali para abrir o portal com ele e trazer de volta os demais habitantes da Floresta Encantada, fazendo com que Storybrooke desaparecesse logo em seguida. Uma onda de magia muito mais intensa do que já vimos se espalhou pela floresta de Camelot e dentro de pouco tempo estava feito. Storybrooke não existia mais e todos os habitantes do reino estavam de volta. Morgana contou que levaria a Excalibur para um local seguro. Emma, Regina, Belle, Henry e até mesmo Zelena mal conseguiram conter sua excitação diante da grande dama, enchendo-a de perguntas e imersos em suas palavras a cada resposta. Aproveitando a distração deles eu caminhei para fora do Granny’s e sentei-me em um tronco caído que havia ali na clareira deixando minha mente vagar sobre os últimos acontecimentos. Não demorou muito e Snow estava ao meu lado novamente e conversamos animadas sobre nossa volta para a Floresta Encantada. Como era de se esperar ela já estava planejando um grande baile para anunciar a todos os reinos que estávamos de volta e poder assim apresentar Emma e Henry adequadamente aos seus súditos.

Ao final da manhã Merlin e Morgana nos mandaram de volta para nosso antigo lar. Desta vez estávamos todos juntos, como deveria ter sido desde o início. Lembrei-me da maldição de Pan e de quando conhecemos Zelena. Era impossível não recordar. Vi Snow e Charming tomarem a dianteira e caminharem abraçados pela estrada que nos levava até o castelo. Atrás deles, Emma, Regina e Henry conversavam animados sobre o que viria a seguir. Zelena caminhava logo atrás deles, aparentemente imersa em pensamentos e atrás dela estávamos Belle, minha avó e eu e por fim os anões.

Nos instalamos no castelo e mesmo cansado, nenhum de nós conseguia ficar parado ou isolado por muito tempo. Uma felicidade que a muito não sentíamos tomou conta de todos e eu sorria sozinha enquanto observava Snow rodeando Regina e Emma e tagarelando sobre o baile que fariam para anunciar nossa volta, Henry com Charming explorando alguns pontos do castelo para lá e para cá, os anões ajudando a organizar as coisas que estavam em desordem, minha avó dando ordens aos empregados da cozinha e então uma cena em especial chamou minha atenção; Zelena estava com o pequeno Neal em seu colo e sorria para ele parecendo não se importar com a presença dos demais. Snow parecia confortável com isso e apenas Regina lançava olhares em direção a eles de vez em quando.

— Você acredita que ela possa mudar, assim como Regina mudou? – Belle perguntou sentando-se ao meu lado.

— Eu... eu espero que sim. – Respondi sinceramente sem desviar meus olhos da cena adiante. — Regina mudou por causa de Henry, sim, mas também por causa de Emma e Snow. Por mais que elas tenham tentado se matar algumas vezes, as duas sempre acreditaram nela e acima de todas as pessoas, Snow jamais duvidou que Regina pudesse mudar e ser feliz novamente. Ter ficado aqui é uma segunda chance para todos nós.

— Vejo que não foi apenas Regina que mudou nos últimos anos. – Ela sorriu travessa. — Vai me contar o que aconteceu com você ou agora guarda segredos de mim?

— É complicado, mas prometo contar quando estiver pronta. – Segurei sua mão entre as minhas e permanecemos em silêncio.

Os dias foram passando e com isso o baile se aproximava cada vez mais. A cada dia eu notava pequenas mudanças no comportamento de Zelena, mudanças as quais ela tentava esconder de todos, mas que para Regina e eu eram impossíveis não serem notadas. Henry e Emma estavam se adaptando bem a nova vida e pareciam não sentir falta das facilidades que tinham em Storybrooke como internet e celulares.

Charming passava boa parte da manhã com Emma a ajudando a melhorar sua técnica com as espadas e quando Regina não estava por perto Henry corria até ele e pedia para ensina-lo também, mas eles sempre eram pegos em flagrante e eu não me cansava de ver as caras que eles faziam para que Regina não passasse o resto do dia enfezada com os três. Às vezes eu ia para a biblioteca com Belle e ficávamos lendo por algumas horas, as vezes simplesmente saía com ela para andar por aí e aos poucos me senti segura para contar sobre Zelena e como eu me sentia.

Finalmente o tão aguardado baile havia chegado e como sempre acontecia quando Snow e Regina organizavam uma festa, o castelo estava lotado. Representantes de todos os reinos estavam presentes. Meu sorriso se alargou quando Phillip e Aurora entraram no salão e logo estávamos conversando sobre os últimos acontecimentos. Evitei mencionar o nome de Mulan embora ainda não soubesse se ela viria para o baile ou não. A última vez que a vi eu a havia convencido a ficar nas Terras Altas da Escócia com Mérida e sua família e sabia que eles foram convidados, no entanto, não sabia qual fora sua resposta.

Regina e Emma estavam presas em sua bolha particular como sempre, mas pareciam nervosas com alguma coisa. Snow e Charming se dividiam entre danças e a recepção dos convidados, Henry dançava com Belle e vez ou outra com algumas garotas vindas de outros reinos. Elas pareciam bastante interessadas nas histórias que ele tinha para contar sobre o reino do qual viera e isso acabava fazendo com que Regina lançasse alguns olhares nada amigáveis vez ou outra.

— Você não vai dançar com a sua rainha? – Perguntei sorrindo divertida ao ver Emma praticamente pular de susto ao meu lado.

— Eu não sei do que você está falando. – Ela respondeu-me voltando seu olhar para o salão.

— Então não vai se importar de vê-la dançar com aquele rapaz, não é mesmo? – Apontei em direção a um homem que claramente estava tentando tirar Regina para dançar.

Sem me responder, Emma se levantou e caminhou até eles pisando duro e tenho certeza de que sua expressão não era das mais amigáveis, pois o rapaz afastou-se de Regina imediatamente e finalmente minha amiga a conduziu para o meio do salão.

 

‘Cause nobody wants to be last one there

(Porque ninguém quer ser o último ali)

‘Cause Everyone wants to feel like someone cares

(Porque todo mundo quer se sentir como se alguém se importasse)

Someone to love with my life in their hands

(Alguém para amar com minha vida em suas mãos)

There’s gotta be somebody for me like that

(Deve haver alguém assim para mim)

‘Cause nobody wants to go it on their own

(Porque ninguém quer continuar por si só)

Everyone wants to know they’re not alone

(Todo mundo quer saber que não está sozinho)

Somebody else that feels the same somewhere

(Alguém que sinta as mesmas coisas em algum lugar)

There’s gotta be somebody for me out there

(Deve ter alguém assim para mim lá fora)

 

Meus olhos percorreram o lugar mais uma vez a procura de Zelena e a encontrei parada próxima a mesa de comidas e bebidas. Eu tentei ignorar aquele rapaz se aproximando dela e a tirando para dançar, afinal, eu não podia simplesmente ir até ela como Emma fez com Regina e botar o cara para correr. Ao invés disso concentrei-me em observar minha amiga dançando com a rainha e sorri satisfeita com o resultado do meu empurrãozinho. Meu sorriso se alargou quando vi Regina envolver o pescoço de Emma com seus braços e seus lábios se tocarem timidamente enquanto dançavam. Sorri quando vi minha amiga apertar seus braços ao redor da cintura de Regina e o beijo entre elas se tornar voraz, ignorando os demais que tentavam disfarçar seus olhares curiosos em direção as duas. Enquanto eu sorria feliz por vê-las finalmente se entregando ao que sentiam, Zelena e o tal rapaz entraram em meu campo de visão e senti meu corpo todo se tencionar. Mesmo não sendo noite de lua cheia, eu estava sem minha capa e sabia que as vezes as minhas emoções dominavam o meu lobo e eu acabava me transformando. Eu não podia correr esse risco com o castelo lotado. Eu não iria estragar o baile. Meu olhar cruzou com o de Zelena e ela tentou afastar o rapaz gentilmente, mas ele pareceu ignorar isso, o que me enfureceu ainda mais. Senti meus músculos se tencionarem e eu sabia que só tinha duas opções: sair dali imediatamente ou ir até eles e tirá-lo de perto dela. Optei pela segunda e comecei a caminhar até eles abrindo espaço em meio aos que dançavam no salão. De soslaio vi Snow e Charming, Belle e Henry e Emma e Regina interromperem suas danças para me observarem, mas nem mesmo isso fez com que eu parasse.

— Acho que a moça não deseja continuar com essa dança. – Toquei o ombro do rapaz e sorri cinicamente quando ele se virou para mim.

Eu sabia que meus olhos brilhavam em um tom amarelo pois ele imediatamente largou Zelena e se afastou. Sem esperar por uma resposta dela tomei o lugar dele e passei um braço em torno de sua cintura sem desviar meus olhos dos dela. Quando ela colocou uma das mãos em meus ombros e a outra segurou a minha, senti meu corpo começar a relaxar e comecei a me mover lentamente com ela pelo salão, conduzindo-a no ritmo da nova música que começara. Novamente me senti presa em uma bolha particular com ela, como no dia em que voltamos para cá. Ela não disse nada e eu também não ousei, no entanto, não havia mais volta, agora ela sabia. Vi em seu olhar que ela sabia. Aos poucos fomos relaxando e nos entregando a melodia que ecoava pelo enorme salão e de soslaio eu via meus amigos lançando olhares curiosos e cheios de expectativas sobre nós. Eu podia sentir a barriga de Zelena contra a minha e vez ou outra o bebê se mexia parecendo gostar da dança.

— É uma menina. – Sorri quando ela me olhou com os olhos arregalados e um sorriso discreto.

— E como você pode saber isso, loba? – Sua voz saiu baixa e percebi que ela tentava não sorrir mais.

— É um lance de lobos. – Dei de ombros e a segurei com mais firmeza contra mim.

— E você botar aquele pobre rapaz para correr também tem a ver com esse lance de lobo? – Precisei de todo meu autocontrole quando senti suas unhas arranjarem levemente meu ombro e sua mão trilhar um caminho lento até a minha nuca.

— Talvez. – Fechei meus olhos por um segundo e respirei fundo ao senti-la arranhando minha nuca suavemente. — Existem muitas coisas sobre lobos…

— Deixe-me adivinhar, – Zelena aproximou seu rosto do meu enviando arrepios por todo meu corpo. — Você adoraria me mostrar, não é?

Eu a olhei incrédula, jamais pensei que ela reagisse assim, mas então lembrei-me de quando li sobre as bruxas e os lobos e o tipo de conexão que acontece em algumas ocasiões. Será que ela sentia o mesmo? Se sim, desde quando? Centenas de perguntas explodiram em minha mente enquanto eu parecia mergulhar mais e mais em seus olhos, naquele oceano infestado de perigos no qual eu adoraria me afogar. Ela sorriu para mim de um modo que eu jamais vira antes e foi como se algo novo nascesse naquele instante. Eu sabia o que estava prestes a acontecer e ao mesmo tempo em que eu estava apavorada, eu não queria mais evitar. Senti a ponta de seu dedo deslizando sobre minha bochecha como se fizesse desenhos imaginários na minha pele e logo senti seus lábios roçarem nos meus. Um toque gentil e intenso, tímido e voraz ao mesmo tempo. Eu estava completamente entregue, não poderia resistir nem se eu quisesse. Quando ela aprofundou o beijo eu pude apenas deixar meus instintos e ela me guiarem. Suas mãos se emaranharam em meu cabelo, sua língua dançava em sincronia com a minha, eu podia sentir cada parte de seu corpo contra o meu, eu sentia como se estivéssemos sido transportadas para uma outra dimensão ou até mesmo que eu estava dentro de um dos meus sonhos. Eu sabia que teríamos um longo caminho pela frente e não tinha ideia do que viria depois, mas eu já não podia mais recuar. Zelena era como um diamante bruto que aos poucos seria lapidado, ela era o próprio oceano no qual eu estava nesse momento irremediavelmente mergulhada.  

 

‘Cause nobody wants to go it on their own

(Porque ninguém quer continuar por si só)

Everyone wants to know they’re not alone

(Todo mundo quer saber que não está sozinho)

Somebody else that feels the same somewhere

(Alguém que sinta as mesmas coisas em algum lugar)

There’s gotta be somebody for me out there

(Deve ter alguém assim para mim lá fora)


Notas Finais


Bem, é isso. >.<

Espero que tenha gostado, Miss.

Espero que todos vocês tenham apreciado tanto quanto eu adorei escrevê-la. <3


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