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História Gravity - Another You


Escrita por: CoalaBeterraba

Notas do Autor


Sim, eu demorei dessa vez, essa semana foi super corrida, desculpem :/
Mas Gravity está aqui! <3
Capítulo inspirado pela música "Another You" do Of Mice and Men.

Capítulo 4 - Another You



E como os retratos na casa (não posso evitar em pensar)
Eu queria que você estivesse olhando para mim (mas você se foi)
[...]
Então, eu vou levar você comigo (você vai estar sempre comigo) , nos meus sonhos, minha memória
Então eu vou levar você comigo, você sempre será minha memória.

"Another You" - Of Mice and Men

– Orfanato? – perguntei. – Sean não é órfão. Ele tem a mim...

– Você está desempregada.  — ela falou como se fosse óbvio.

– Eu sou autônoma. – falei.

– Autônoma?

– Eu trabalho como freelancer.

– Freelancer? – ela perguntou com alguma incredulidade. – Você acha, de fato, que eu vou acreditar?

– E se eu tiver como provar?

– Aí as coisas mudam. – ela respondeu. – Mas, até então, Sean ficará sob proteção do Estado em um orfanato.

– E se eu te disser que posso te provar ainda hoje?

A mulher olhou para mim e é bem provável que ela tenha visto que eu não desistiria tão fácil.

Ou que eu não desistiria.

– Você tem até às seis da tarde para me provar isso. – ela disse depois de um suspiro.


– Nós vamos pra casa, Dee?

– Ainda não. – respondi e abaixei para encará-lo. – A Dee vai cuidar de algumas coisas e você vai ficar aqui.

Havíamos entrado em uma sala, onde um juiz e a assistente social estavam. Minha cabeça estava pulsando e meu coração pesava só de pensar em Sean vivendo em um abrigo por causa de uma batalha judicial.

– Mas você vai voltar?

– O mais rápido que eu puder, meu amor. – sorri para ele. Ganhei um abraço de seus bracinhos magros e pequenos.

– Senhorita Lennox? – vi o inspetor Blackburn.

– Sim?

– Preciso de sua permissão para uma conversa com Sean.

– Você a tem. – falei.

– Seu pai assinou um documento. – ele comentou. – Embora que de forma hesitante.

– Eu vou assinar.

Fui até a sala de depoimento, onde a psicóloga e meu pai estavam, em dois extremos diferentes. Sean segurava a minha mão e fomos até a mesa para que eu assinasse o tal documento.

– Volta logo, Dee. – Sean abraçou minhas pernas e eu afaguei seus cachinhos.

– Eu vou voltar, meu amor.

– Ela não vai voltar, ela é uma mentirosa assim como sua... – meu pai começou e eu cortei-o.

– Não desonre a memória da minha mãe, seu... – rosnei e suspirei. Eu não ia cair na provocação dele, por mais tentador que fosse. Eu não podia.

Saí da sala do inspetor Blackburn, que observava a situação de forma tensa, pronto para algemar a mim ou a meu pai caso algo acontecesse.

– O que vão perguntar para ele? – perguntei.

– Apenas com quem ele quer ficar e porquê. – ele respondeu. – As perguntas sobre o dia da morte da sua mãe não caberão a mim. Além do mais, acho que já sabemos a resposta.

Assenti, suspirei, fui até minha moto e ensinei-a a voar pelas ruas de Nova York, até meu apartamento.

Passei pela porta como um furacão e passei a procurar os documentos e contratos que eu tinha como freelancer. Eu estava vivendo apenas do meu trabalho como freelancer e era provável que os gastos se dobrassem, pois eu ainda tinha a faculdade.

No fim, encontrei três dos sete contratos que eu tinha. Não era muita coisa, mas já era alguma coisa. Coloquei tudo em uma pasta, que coloquei dentro da mochila que eu carregava.

Cheguei por volta das quatro horas no juizado e entreguei os documentos à assistente social, que contatava as empresas e fazia anotações. Ela olhava para mim e tudo parecia uma eternidade.

Eu tremia do primeiro fio de cabelo ao dedo do pé e com razão - qualquer deslize faria com que eu perdesse a guarda de meu irmão e eu não podia me dar a esse luxo.

– Me parece tudo muito verídico. – ela disse por fim. – Você trabalha só com essas empresas ou com outras?

– Trabalho com mais quatro, senhora...

– Higgins. – ela respondeu. – Quanto você ganha, em média, para cada trabalho?

– Consigo ganhar cerca de 50 a 100 dólares por texto ou trabalho. – respondi. – Me pagam por mês quando é mais extenso.

– Quanto?

– 500 à 750 dólares. – respondi. – Eu estava estagiando, mas houve um corte de gastos e, infelizmente, acabei sendo cortada.

– Você vai conseguir cuidar do seu irmão e estar na faculdade ao mesmo tempo, senhorita Lennox?

– Eu vou me formar no próximo verão. – respondi. – Eu posso conseguir. Faço de tudo por ele.

– Tudo bem. – ela meneou a cabeça. – A guarda provisória é sua. Com uma condição.

– Qualquer coisa.

– Farei visitas mensais, para ver se tudo está correndo bem.

– Sem problemas. – sorri.

– Vou redigir o documento e pegar a assinatura com o juiz. – ela disse.

A senhora Higgins e eu fomos até a sala onde Sean conversava com a psicóloga do juizado. Segui a assistente social até uma mesa e ela me pediu meus documentos e os documentos de Sean. Apresentei os documentos necessários e ela começou a fazer as mudanças no modelo de documento que ela tinha.

 

O documento foi impresso e assinado por mim. Quando a mulher entregou o documento para Marshall e o disse onde assinar, ele, de forma indiferente, assinou.


– Dee.  — Sean veio até mim e me deu um abraço.

– Meu pequeno. – sorri e afaguei seus cabelos que eu amava afagar. Meu pai se levantou. E eu coloquei Sean atrás de mim. – Não chega perto dele.

– Ele é meu filho. – ele respondeu com um sorriso porco. – O que me impede de chegar perto dele?

– Você sabe muito bem o que impede, Marshall. – sibilei. – Preciso desenhar?

– Se quiser, sou todo olhos. – ele disse. Eu estava preparada para responder quando uma ideia veio à minha mente.

– Inspetor Blackburn – comecei. – Quero solicitar uma medida protetiva para Sean e eu. Trezentos metros de distância, no mínimo.

– Isso é ridículo, inspetor. – ele começou. – Eles são meus filhos e eu sou um ótimo pai.

– Depois de tudo o que vimos aqui – o promotor começou. – Eu acho que não. Vou acatar o pedido da senhorita Lennox. Não se aproximará dela até a sua audiência.

– Minha audiência? – Marshall perguntou confuso.

– Acabei de receber um mandato de prisão pra você, Lennox. – ele respondeu lendo uma folha impressa em um fax. – Porte ilegal de arma e consumo de cocaína ainda são crimes em Nova York. – ele pegou um par de algemas. – Vire-se, o senhor está preso.

Eu deveria estar triste por ver a cena de meu pai sendo algemado. Mas uma sensação bastante estranha de alívio pairava sobre minha cabeça, como se minhas noites fossem ser melhor dormidas daqui pra frente.

– Você, Jade, ainda não se livrou de mim. – ele gritou enquanto os policiais o arrastavam porta afora da sala do juizado. – Bombas explodem, Jade. Elas explodem!

– Agora tá tudo bem, meu amor. – falei para Sean, que tinha um olhar assustado. – Vai ficar tudo bem.

– Agora vamos poder ver a mamãe?

– Agora sim. – sorri.


Depois que os documentos saíram e foram assinados e entregues a mim, Sean e eu fomos ao nosso destino - a praia de Fort Tilden, onde íamos todo mês para olhar o mar. Eu colocava um cobertor na areia e ali ficávamos, até que o mar fosse engolido pela noite.

– Dee?

– Oi, Seano?

– Podemos molhar o pé na água? – perguntou.

– Nesse frio, Sean? – respondi. – Estamos no outono, meu amor.

– Mas você disse que a mamãe ouve a gente e olha pra gente. – ele olhou para mim, o azul dos seus olhos brilhava. – Se a gente molhar o pé, ela vai tocar na gente, não vai?

Arqueei minhas sobrancelhas com alguma surpresa. Comecei a pensar em respostas para a pergunta dele.

– Não sei. – respondi. – Por que a gente não tenta?

Sean sorriu e começou a tirar os sapatos. Tirei minhas botas e o vi correr para a água. Fui até ele e, nesse momento, a água foi contra meus pés. A água gelada me trazia uma sensasão inexplicável de paz e conforto e o vento que ajudava a trazer essa água refrescava meu rosto e minha mente, que acabou por se tornar uma mistura de quietude e caos desde o falecimento de minha mãe.

Sean veio para perto e pegou a minha mão direita. O dia estava virando noite e o horizonte nos mostrava isso.

– A mamãe tá me abraçando, Dee. – Sean disse.

– Tá?

– Aham. – ele sorriu. Seus olhinhos azuis brilhavam. De repente, senti um formigamento bastante incomum em volta do meu corpo e minhas lágrimas começaram a descer.

A presença que eu sentia naquele momento era inexplicável — meu corpo formigava e eu conseguia apenas chorar e sorrir. Aparentemente, era o que me restava naquele momento e minha mãe era em quem eu mais pensava.

Enxuguei minhas lágrimas com o braço esquerdo, assim que o formigamento foi embora. Senti o abraço de Sean em minha barriga e voltamos ao cobertor em silêncio. Arrumamos tudo e fomos para casa.


Enquanto Sean assistia desenho e eu tomava banho, eu pensava em todas as circunstâncias que me levaram até ali. Listava todos os prós e contras mentalmente enquanto a água quente tirava a angústia de meu corpo. A tensão parecia diminuir a cada gota de água que meu corpo sentia.

Depois que tomei banho, foi a vez de Sean e eu pedi uma pizza. O engraçado é que ele ignorou os pepperonis da pizza e comeu todos. Ele nunca fazia isso.

Ajudei-o com um trabalho da escola e não tive capacidade alguma de trabalhar em nada naquele dia — eu queria aproveitar tudo de Sean. Então assistimos desenho, comemos alguns doces e, quando fomos para a cama, Sean quis iniciar uma conversa.

– Dee?

– Hm? – respondi.

– Se a gente não tem mais mamãe e nosso pai tá preso – ele começou. – Isso quer dizer que estamos sem família?

– Claro que não, Seano. – respondi. – Nós somos nossa própria família.

– Mas família não tem que ser de pai e mãe pra ser família?

– Não. – respondi me perguntando onde ele queria chegar com essas perguntas. – Por que tá perguntando isso?

– Nada não. – ele respondeu. E o silencio se fez presente. Por um curto período de tempo. – Dee?

– Oi, Sean.

– Então quer dizer que agora você é minha mamãe?

Todo o sono que caía em mim foi embora com aquela pergunta. Meu coração bateu mais forte e eu não sabia muito bem o que dizer.

– Você quer que a Dee seja sua mamãe? – perguntei.

– Uhum. – ele respondeu depois de bocejar.

– Então a Dee vai ser sua mamãe.

– Só não vou te chamar de mamãe porque você é a Dee. – ele murmurou e caiu no sono.

Tudo da vida de Sean passou em minha mente como um filme - nascimento, primeiras palavras, primeiros passos, machucados, brincadeiras, tudo. E, de repente, eu era uma figura materna, coisa que eu nunca pensei que eu seria.

E isso fazia de mim a pessoa mais feliz do mundo.


Notas Finais


Até o próximo!


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