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História Gravity - Elastic Heart


Escrita por: CoalaBeterraba

Notas do Autor


Ooooooi gente,
Desculpem a demora em atualizar essa fanfic. Eu não estava relapsa ou bloqueada: estava na semana de provas e chegava meeeeeeega cansada lkajdskajsl enfim, aproveitem a estória e até o próximo capítulo!

Capítulo 5 - Elastic Heart



Queria lutar nessa guerra sem armas
E eu queria isso, eu queria muito isso
Mas haviam tantas bandeiras vermelhas
Agora outro vai por água abaixo
[...]
Mas você não vai me ver desmoronar
Porque eu tenho um coração de elástico

"Elastic Heart" - Sia

Alguns meses depois

Estávamos em um tribunal e eu acabara de me formar na faculdade, agora eu poderia ser uma jornalista em tempo integral e tinha acabado de começar na redação de uma revista de moda alternativa. Havia vendido minha moto e ganhava um salário razoável, era o suficiente para meu irmão e eu.

Agora aqui estávamos, em uma audiência de guarda. E em uma audiência de acusação.

– E quando você viu seu papai sendo mal com a sua mamãe? – a psicóloga infantil perguntou.

– Primeiro eu não tava entendendo o que tava acontecendo – Sean contava, à sua maneira, o que havia acontecido naquela tarde. Eu recapitulava, mentalmente, aquela história. – A Dee gritou comigo, me disse para ir para o meu quarto e eu fui. Mas eu fiquei parado na porta. E eu vi tudo o que aconteceu.

– E você pode nos dizer?

– O papai tava molenga, parecia um zumbi. – ele lembrava. – A Dee, ela empurrou ele e ele bateu a cabeça no sofá.

– Mas por que ela fez isso?

– Acho que ela tava assustada. – ele batia o dedo no queixo, como se estivesse refletindo.

– Mas você também tava assustado.

– É, eu tava. – ele disse. – Mas acho que a Dee já sabia o que fazer.

– E o que a Dee fez?

– Depois que o papai caiu, ela colocou a cabeça da mamãe no colo. – ele respondeu. – Ela tava muito dodói, muito dodói mesmo.

– Você se lembra do dodói da sua mãe?

– Tava dodói e cheio de sangue. – ele respondeu. – Mas a Dee chamou o médico, só que eles disseram que a minha mamãe não ia mais voltar.

Sean começou a chorar e baixou a cabeça, para que ninguém o visse chorar. Comprimi os lábios e contive as malditas lágrimas. Eu precisava muito ser forte, mas a circunstância do momento não ajudava de forma alguma.

Fui até meu irmão e abracei-o. Sean chorava de soluçar e eu acariciava seus cabelos.

– Tá tudo bem, meu amor. – sussurrei. – Tá tudo bem.

– A parte interessada possui provas que comprovam a veracidade do depoimento? – o juiz Devenau disse.

– Temos provas mais que suficientes para indiciá-lo. – o inspetor Blackburn disse. – Tivemos acesso às evidências do caso e, meritíssimo, eis porque ele não merece esse menino.

As fotos tiradas do corpo da minha mãe pelo legista me traziam náuseas. Escondi o rosto de Sean em meu ombro e olhei em choque aquelas imagens. Os olhos roxos e inchados me faziam chorar com amargura e ódio.

– O que o senhor tem a dizer sobre isso, senhor Lennox? – o promotor perguntou. – Aparentemente seus filhos amavam muito a mãe para fazer algo assim com ela, não é verdade?

– Eu nunca bateria em Helena. – ele respondeu. – Eu a amava.

– Mentira! – protestei, um bolo de ódio se formava em minha garganta. – Ele tá mentindo!

– Senhorita! – o juiz advertiu.

– Deixe que ele deponha, senhorita Lennox. – o inspetor Blackburn sussurrou. – Esfrie a cabeça. A senhorita já foi ouvida.

Assenti a contragosto enquanto segurava Sean em meus braços. Minha camiseta estava ensopada de lágrimas e eu não ligava - Sean havia me dado o status de mãe e eu estava perfeitamente confortável com isso.

Eu só queria acalentá-lo e dizer que tudo ia acabar mais que bem.

Mas eu não podia. Não por enquanto.


Após o depoimento da senhora Higgins, o juiz pediu recesso. O inspetor Blackburn disse que eu poderia ir com Sean a uma cafeteria próxima caso ele quisesse algo para comer. Fomos à uma cafeteria na esquina do tribunal e pedimos um bagel cada um. Eu pedi um café descafeinado e Sean pediu, com todo o jeitinho do mundo e derretendo a atendente do café, um chocolate quente cremoso.

– É seu filho? – a moça ruiva e cheia de sardas no rosto perguntou.

– A Dee é minha mamãe mas chamo ela de Dee porque a nossa mamãe morreu. – ele respondeu. – E agora ela é a minha mamãe porque ela cuida de mim.

A atendente nos olhou com um olhar que deveria ser penoso. Mas por que eu não via pena em seu olhar? Seu olhar podia ser um olhar de compreensão, como se ela já tivesse passado por isso ou como se passasse.

Quando fomos para a mesa, com os bagels e as bebidas, um homem me olhava. E eu reconheceria seu rosto e seus olhos de longe.

Desviei o olhar e dei um gole no café, enquanto observava Sean molhar um pedacinho do bagel no chocolate quente. Até que eu vi que ele teve a infeliz ideia de vir falar comigo e puxou uma cadeira.

– Alexander. – bufei com raiva quando vi o homem usando um terno cinza, camisa branca e gravata azul.

– Jade.

Alexander Saghian foi meu primeiro tudo: primeiro "namorado", primeiro homem, primeira vez e primeira decepção amorosa. Sua família é de origem romena, e minha mãe trabalhou um bom tempo como babá dos irmãos mais novos dele, foi quando nos conhecemos - ele só namorava comigo quando (1) os amigos babacas dele não estavam por perto e (2) quando eu ia para a mansão da família deles para ficar com a minha mãe. Meu pai era empreiteiro na época e, para que eu não ficasse sozinha, eu dormia com minha mãe.

Ou com ele.

E a Jade bobinha se sentia segura com o Alexander garanhão, especialmente porque temos quatro anos de diferença de idade - eu tinha dezesseis anos e ele, vinte.

– Como têm passado? – ele perguntou.

– Muito bem e não graças a você.

– Jade, sempre doce como um limão – ele riu e olhou para Sean. – Quem é esse?

– Minha mãe saiu do emprego porque ela estava grávida. – falei. – Sean é meu irmão.

– E aí, amigão? – Sean olhou para ele com a boca cheia de bagel.

– Qum uh uli, Tee? – ele perguntou, ainda com a boca cheia.

– Sean, engole a comida antes de falar. – sorri. Sean engoliu.

– Quem é esse moço?

– Meu nome é Alexander. – ele tratou de se apresentar. – Eu sou amigo da Dee.

– Não parece. – Sean respondeu com sinceridade. – Eu nunca te vi.

– É porque eu não estava no país. – ele respondeu. – Quantos anos você tem?

– Sete.

– E como está sua mamãe?

Eu amo Sean de forma verdadeira e pura, mas ele é o tipo de criança que tem um defeito: não sabe manter a boca fechada.

– E agora a Dee é minha mamãe, mas chamo ela de Dee porque ela ainda é a minha irmã. – ele finalizou e Alexander olhou para mim. – Porque ela que cuida de mim.

– Sinto muito, Jade.

– Não sinta. – falei olhando fundo em seus olhos. – Não quero sua pena. – olhei o horário em meu celular. Tínhamos vinte minutos. – Temos que voltar para o Tribunal, meu amor.

– Temos mesmo? – ele perguntou.

– Sim, para podermos voltar pra casa.

– Então tudo bem. – ele disse. Já tinha terminado seu lanche e meu café ainda estava intocado, provavelmente frio. – Foi legal te conhecer, senhor Alexander.

– Também gostei muito de você, Sean. – Alexander sorriu e seu sorriso, por mais que eu sentisse nojo dele, ainda me trazia lembranças, das quais eu nunca esqueci. – Nos vemos por aí.

– Nos vemos. – respondi. Nem fodendo, respondi em meus pensamentos.


Quando Sean e eu voltamos para o Tribunal, vimos a hora passar como um borrão e, de repente, já era a hora do veredito do Juiz, uma hora necessária e que me fazia roer as paredes da bochecha com a ansiedade.

– Diante de todas as provas reunidas aqui – começou. – Considero o senhor Marshall Lennox culpado pelo assassinato de sua esposa Helena Lennox, por agressão física e uso de drogas ilícitas. Com isso, o senhor perde a guarda do menor Sean Lennox, que passa ser total e permanente da atual responsável provisória, Jade Lennox.

– O quê?! – Marshall gritou. – Meu filho não pode ficar com essa, essa...

– Mais uma palavra e agressão verbal também estará inclusa no processo. – o Juíz disse. – Levem-no daqui.

Marshall teve de ser levado arrastado enquanto gritava, até que um dos policiais, irritado com a gritaria, sacou um cacetete elétrico e acertou as costas de Marshall, que quase desmaiou, mas que aquietou-se.

– Agora nós vamos pra casa, Dee? – Sean respondeu.

– Nós vamos pra casa, meu amor. – sorri e abracei-o.

– Agora a paz vai reinar outra vez para vocês. – o inspetor Blackburn disse.

– Assim espero. – suspirei.

– O que vão fazer agora?

– Sair da cidade. – respondi e as feições do inspetor Blackburn transformaram-se em uma enorme interrogação. – Recebi uma proposta de emprego em Los Angeles. Vou conseguir sustentar a mim e meu irmão.

– Vocês já têm lugar pra ficar?

– Tenho uma semana de hotel pago. – respondi. – Mas antes, vou vender a casa do meu pai.

– Por quê?

– Ele têm algumas dívidas. – respondi. – Luz, água, prestações atrasadas. O restante vai para a educação de Sean.

– Muito bem. – ele disse. – Isso quer dizer que não vamos nos ver tão cedo.

– Talvez nunca mais. – respondi e suspirei. – Preciso ir para o Brooklyn agora, o comprador da casa vai lá hoje.

– Já?

– Ele pediu urgência. – respondi. – Tirei o último mês para limpeza, consertos e remoções. Gastei uma boa grana com isso.

– Então tudo bem. – ele disse. – Espero que fiquem bem.

– Mande lembranças à sua esposa e às crianças, inspetor. – falei. – Talvez elas me vejam nos livros.

– Boa sorte. – ele disse depois de rir.

Sean e eu fomos em direção ao Brooklyn, para encontrar o comprador do apartamento: um dos donos de muitas das casas do meu bairro, Rickard Seamus.

– Senhor Seamus.

– Senhorita Lennox. – o senhor com cerca de 60 anos me cumprimentou com um aperto de mão. Esfregou os cabelos de Sean. – Como vai, Sean?

– Bem.

– Quanto o senhor pode pagar pelo apartamento?

– De quanto a senhorita precisa?

– Quero saber quanto o senhor pode me dar no apartamento – falei, insistente. – Preciso do dinheiro.

– 70 mil dólares. – ele respondeu depois de um momento de reflexão.

– É bastante coisa. – refleti.

– Eu poderia pagar mais – ele começou. – Mas eu posso te fazer um cheque de 70 mil agora e você deposita na sua conta. Sei que vocês estão saindo da cidade e sei que seu pai não sai da cadeia vivo.

Meu coração pulou uma batida quando escutei isso e meus olhos se arregalaram. Essa possibilidade me fazia tremer – Marshall, querendo ou não, ainda é meu pai.

– Não se assuste, criança. – ele disse. – Seu pai, ele é agressor de mulheres e deve dinheiro a traficantes. Ele sai do presídio para o necrotério, sem dúvidas.

– Como o senhor...

– Sempre que compro um imóvel – ele começou. – eu faço uma pesquisa sobre o histórico dele. Vocês não tinham contas à pagar, seu pai é um drogado que pagava as contas religiosamente. Você iria pagar as contas dele com os traficantes. – ele não esperou que eu falasse para continuar. – Quer um conselho? Não pague essa conta dele, você fez mais que o suficiente para puxá-lo desse buraco, vejo isso desde quando conheço a família de vocês. Ele tirou a vida da sua mãe e esse é o motivo mais que suficiente para que você e seu irmão saiam daqui de consciência mais que limpa.

Era tudo o que eu precisava ouvir – meu pai havia tirado a vida da minha mãe. Eu já não devia mais nada a ele, pois ele era o responsável pela morte de minha mãe e de ter cavado sua própria cova.

Ele já era grandinho o suficiente para ser dono das próprias escolhas.

Sem dizer nada e com a ausência de peso em meus ombros, entreguei a escritura, as chaves e toda a documentação que estava dentro de minha bolsa. O senhor Seamus me entregou o cheque e desejou boa viagem para nós dois. Fomos embora de táxi daquele lugar, deixando as lembranças ruins que ele trazia para trás.


 

Alguns dias depois

Sean e eu estávamos indo para Los Angeles de avião – uma insistência de Sean, que nunca havia viajado de avião antes. Sean dormiu na metade do vôo mas, quando a aeromoça trouxe a comida, ele fez questão de me acordar com as próprias mãos,e chacoalhando.

Chegamos à Los Angeles no final da tarde e, esgotados pela viagem, fomos para o hotel simples que eu havia escolhido – por ter viajado muito pela Culture Actually, uma boa parte dos funcionários do hotel já me conhecia e já sabia que quando eu me hospedava por lá, era a trabalho.

 

Quando abri a porta do quarto, a primeira reação de Sean foi correr até a cama enorme e começar a pular. Coloquei nossas malas no canto do quarto e convenci Sean a parar um pouco, para tomar um banho. Quando já havia colocado seu pijama, fui tomar um banho. Quando terminei o banho, que durou uns 20 minutos, coloquei o roupão e fui até o quarto – me deparei com o serviço de quarto trazendo dois lanches caprichados com batatas fritas, dois copos enormes de milk shake de morango e uma banana split de sobremesa.

– Coloco na mesa, senhorita? – o atendente perguntou.

– Claro. – respondi, sem reação alguma.

– Obrigado, moço. – Sean disse e deu duas notas de um dólar para o funcionário do hotel. O homem sorriu e foi embora do quarto, levando o carrinho consigo e fechando a porta em seguida.

– Sean! – chamei-lhe a atenção.

– Eu tava com fome! – ele protestou.

– Quero só ver se você vai comer tudo isso. – comecei a procurar meu pijama e me vesti no banheiro. Eu usava uma calça de flanela e uma camiseta regata. Sean usava um pijama do Capitão América.

– Mas tem pra você também, Dee. – ele disse quando sentou-se na cadeira. Sorri e beijei seus cabelos.

– Oh, meu amorzinho. – falei. – Obrigado por pensar na Dee, viu?

Começamos a comer e conversávamos sobre super heróis. Enquanto Sean falava sobre seus heróis favoritos, eu pensava no meu luxo de recomeçar. E, depois de tudo, eu, com certeza, tinha esse privilégio.


Notas Finais


Até o próximo!


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