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História Green eyes - Slow dancing in a burning room


Escrita por: Serendipit29

Notas do Autor


Olha só quem conseguiu escrever um capítulo antes do ano acabar...
John Mayer, obrigada pelo título

Capítulo 49 - Slow dancing in a burning room


LAURA’S POV

Aquilo a que chamamos vida representa uma sequência de dias inteiros atravessados ou uma sucessão de momentos? Minha tendência era crer num álbum de figurinhas, com recortes de alguns dias, momentos, não necessariamente grandes, mas dotados de algum misterioso ingrediente que lhes conferissem o benefício de serem recordados facilmente.

O percurso, conforme as páginas avançavam, era peculiar. Lá pelo meio, quer dizer, aquilo que se imagina ser a metade do caminho, é como se a perspectiva se invertesse. Antes, o futuro, detentor dos sonhos e realizações, parece próximo, palpável, e excitante; até que sua suposta cota se aproxima do fim. O passado, ainda mais distante, parece inalcançável, o lar da nostalgia.

Eu sabia que o mundo estava cheio de boas perguntas e que elas ainda eram mais numerosas que as certezas. De onde viemos, para onde vamos, por que estamos aqui... Haveria, de fato, algum sentido em existir? Quais eram nossas maiores ilusões, nossas utopias? Questões demais, eu sei.

Por vezes, era como se dentro de mim, apesar da pequenez, latejasse o sentimento do mundo. Mundo grande, complexo, diverso, de beleza e também de horror. Os gentílicos nomeiam origens, mas além da distância física, o que afasta e aproxima pessoas do planeta inteiro?

Um gole de café quente interrompeu a apressada escrita. Compenetrada, não percebi os primeiros indícios da manhã. A insônia havia me retirado da cama no meio da madrugada, e, embora escrever ajudasse a desanuviar a densidade dos pensamentos, o transcorrer dos minutos me inquietava.

Hoje, uma nova rotina seria delineada, de acordo com a retomada ao trabalho. A equipe de Orange fora muito compreensiva comigo após o acidente e durante o período de recuperação, mas meu compromisso com a série era inadiável.

Apesar da participação reduzida na segunda temporada e do foco na nova dinâmica da prisão, os antecedentes da história de Alex e Piper seriam apresentados ao público, incluindo algumas passagens pela infância de cada uma. Eu teria pouco contato com o elenco de Litchfield, exceto por Taylor.           

Taylor... Um nome curto que repercutia imensamente dentro de mim. Ela era o combustível da minha inquietude. A própria volta ao trabalho, após meses afastada, era uma preocupação, no entanto, exponencialmente agravada pela presença dela. Abandonar o projeto estava fora de cogitação, mas só eu saberia o quão difícil seria manter esse compromisso.

Aquele seria o dia pelo qual havia aguardado, no entanto, a tensão também me acompanharia. Eu poderia me lembrar dos dias memoráveis relacionados à minha carreira: a primeira sessão de fotos, minha mudança para a Europa aos 15 anos, o primeiro teste para um papel na televisão, até mesmo o teste realizado para Orange como Piper Chapman. Cada data marcando o fim e o início de um novo ciclo cheio de aprendizados

Todavia, quais foram os dias memoráveis com ela, Taylor? Seria possível precisar o momento em que eu havia me apaixonado, ou quando simplesmente me dei conta disso? Como era o cotidiano ao lado dela? Vagamente, recordei-me de uma passagem escrita pelo velho Dickens, encontrada com facilidade graças à ajuda do celular:

Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável.” (1)

Empreender uma vida não é tarefa fácil, e que referências o período esquecido poderia me oferecer? O esquecimento tem uma perspectiva assustadora, vexaminosa. Ele gera desconforto, fuga... Não lembrar é também deixar de ser.

Por vezes sentia-me um grande espelho partido. A queda o havia quebrado em incontáveis cacos, de tamanhos diversos. Cada parte daquele conjunto desfeito exibia reflexos de mim, no entanto, ainda que paciente e determinada a recompô-lo, ele nunca mais voltaria à sua forma original.

Ter continuado viva, gradualmente, compreendeu o processo de trazer a tona outras “eus”, as variadas vertentes de mim. A suspeita era que eu ainda não estava inteira, porém, talvez esse fosse o mais distante que eu poderia ir.

O relógio me deu o ultimato: precisava me arrumar para sair. Fechei o diário e o deixei sobre o balcão da cozinha. Já no quarto, preparei a bolsa e separei o texto das gravações. Tomei um banho rápido, sem abrir mão de lavar os cabelos. Vesti uma calça jeans rasgada, blusa branca de gola “v”, um blazer preto e calcei o par de All Star branco de couro. Dispensei o uso de maquiagem, exceto pelo corretivo para disfarçar as olheiras.

Evitei o horário do rush e consegui chegar no tempo estimado ao local das gravações. Conversei rapidamente com Jenji antes de me encaminhar para a sala da caracterização. Gradualmente, Alex Vause surgia em detrimento de Laura Prepon.

Já com as tatuagens, os óculos e as mexas azuis, eu começaria gravando cenas menores, sem a presença de Taylor, com a qual só contracenaria perto da hora do almoço. O reencontro seria inescapável e as habilidades como atriz precisariam estar mais afiadas do que nunca. Ninguém precisava saber o que aconteceu entre nós e, de alguma forma, não poderíamos deixar que o desentendimento afetasse nosso rendimento no trabalho.

Diante de todos os acontecimentos ainda recentes, estar em cena com ela seria dançar lentamente num quarto em chamas, como se ignorasse o risco e nada temesse.

 

 

TAYLOR’S POV  

Rever Laura era uma certeza e por mais que eu tentasse me preparar para o pior, nada parecia eficaz nessa empreitada. Uma dose mínima de empatia alertava-me que sua raiva era compreensível. Em seu lugar, talvez eu passasse a agir da mesma maneira.

Nosso último período afastadas fomentou velhas dúvidas, embora à luz de novas questões. Sem mentiras pendentes, agiríamos sobre um tabuleiro de verdades desnudas. E apesar da eventual conotação negativa quanto a encarar os fatos como um jogo, eu e ela não escapávamos a isto: uma disputa. A competição entre passado e futuro, mentira e verdade, orgulho e perdão, cansaço e persistência.

Reconheci-me abatida pelo desânimo, aplacada pela sensação de nadar com esforços hercúleos sem um norte e com enormes chances de fracasso. Por vezes me questionei se ainda seria válido tentar quando as perspectivas só me levavam a vislumbrar mágoas e decepções. Em que ponto do caminho a persistência se cambiava em prejudicial teimosia? Quanto tempo poderia demorar até alguém perceber que soltar as amarras era mais sensato do que manter-se agarrado a elas? Quantas expectativas se quebram com a aceitação do fim?

E aqueles olhos... Os olhos que já me disseram de tudo um pouco, os mesmos que fizeram juras de amor aos meus e transmitiram tanto cuidado, carinho e familiaridade, como me encarariam agora? Com raiva, com desprezo, com indiferença, com condenação?

Não, nenhuma consequência me traria arrependimento pela escolha feita. Talvez isso pudesse irritar Laura ainda mais, no entanto, esse era o ponto em que minha opinião era inflexível.

Hoje ela voltaria ao trabalho, contracenaria comigo, e só eu sabia o quanto precisei sufocar qualquer ensaio de estímulo à ela. Até mesmo um “olá” parecia descabido entre nós. Já havia imaginado a ocasião com tanto entusiasmo, mas agora ela me assustava. Havia um temor latente de ser a causadora de mais um incômodo, mais um desconforto com o qual ela fosse obrigada a lidar.  

Para minha própria surpresa, o texto de nossa primeira cena juntas estava inteiramente decorado. Uma ansiedade atípica havia se apoderado de mim. Embora sentisse falta de gravar com Laura, meu corpo implorava para que aquele compromisso acabasse o quanto antes.

O processo de caracterização me recordou de que era preciso deixar Piper Chapman emergir e trancafiar meus próprios demônios em suas gaiolas provisórias. Gradualmente, ela foi surgindo com seus longos cabelos loiros e um ar jovial que eu parecia ter perdidos nos últimos meses.

O figurino consistia em uma calça jeans escura, uma regata de tecido leve rosa claro e sandálias de salto. Após a troca de roupas, cerca de quinze minutos transcorreram até que eu fosse chamada para gravar.

No cenário do bar predominavam tons amadeirados em toda a decoração, com alguns itens que remetiam a cultura oriental. Laura e eu não ultrapassamos um desajeitado cumprimento até que o diretor passasse a dar as instruções do que faríamos em cena.

Os figurantes ajudavam a dar a impressão de que o ambiente estava cheio, embora, para Piper, Alex fosse a única pessoa a ter importância. Apesar do figurino simples – uma blusa chumbo com decote mais cavado, os óculos de secretária, as inusitadas tatuagens e os longos fios negros soltos – Vause exercia um magnetismo que a tornava inevitável para Chapman.

Posicionada no balcão, com uma intocada taça de vinho branco, por cima do ombro direito observei Laura, a qual acabara de simular a ingestão de uma bebida forte após ter perdido alguma aposta. A saída de Alex para o que seria o banheiro era a minha brecha para abordá-la.

– Oi – tentei soar casual enquanto me aproximava por trás dela.

– Oi – virou-se para mim e respondeu após uma breve pausa, sorrindo surpresa. Logo em seguida olhou ao redor como se estivesse se certificando que estávamos a “sós”. – O que está fazendo aqui?

Laura parecia plenamente confortável na pele de Alex, divertindo-se com aquele jogo feito com Chapman.

Desviei o olhar, fitando o cartaz afixado na parede e tentando disfarçar o embaraço, meu e de Piper.

– Eu só... – sorri insegura – ouvi sobre o show de burlesco – menti para não entregar de vez que estava ali por ela, Alex, como eu mesma faria por Laura. – E você?

– Minha amiga Rachel participa dele. Ela faz um número com um boneco do Ray Romano, Por incrível que pareça é sexy – tentou soar convincente, embora certo desconforto transparecesse. Ambas estávamos pisando em ovos, mas o diretor deveria estar satisfeito já que a cena não fora interrompida nenhuma vez.

Alex ajeitou alguns fios da franja e por um pequeno instante nos olhamos. Piper esboçou um sorriso ainda duvidoso e tenso, enquanto eu ansiava tocá-la. “Concentre-se, Taylor”, repeti rápida e incontáveis vezes a mim mesma, mas aquela boca... Ah aquela boca. Precisava ser tão tentadora?

– Olha – ela começou – sinto muito por aquela noite, Piper. Sou uma pessoa confiável – prosseguiu com o texto.

– Qual é? Não se preocupe com isso – apoiei as costas em uma pilastra, ficando frente a frente com ela. – Eu nunca tinha levado uma porrada antes. Deve ter sido uma experiência válida.

Uma risada rouca irrompeu.

– Falei sério quando disse que as coisas eram complicadas – moveu a boca para o lado esquerdo, como quem admite algo que não se pode mudar. – Não conheço direito esse lance de relacionamento. Eu não... não conheço as regras.

Laura poderia estar me dizendo qualquer coisa que eu mal saberia discernir. Só queria aproveitar aquela proximidade e olhar cada pedacinho do seu rosto, relembrar cada detalhe, mas havia um trabalho a ser feito e eu não poderia comprometer isso.

– O problema é esse, não é mesmo? Regras não têm graça – argumentei de acordo com o texto quando a vontade era simplesmente implorar que ela ignorasse tudo e me beijasse.

A porta do banheiro se abriu, rompendo as voluptuosas considerações das personagens e por que não dizer também minhas, Taylor? Por trás de Piper Chapman, eu revelava um nervosismo, um embaraço e um desejo que eram verdadeiramente meus.  

– Escute: eu não quero atrapalhar um amor verdadeiro – afirmei com moderada convicção quando estávamos novamente a sós. – Se ela for sua futura esposa, por favor, diga pra eu cair fora. Mas você foi atrás de mim e eu gostei. Eu... nunca senti... – a hesitação foi a brecha para um sorriso malicioso surgir nos lábios rosados de Laura Prepon. – Sabe, eu nunca me vi como uma pessoa muito sexual, mas, desde que...

Aquele era o momento programado para uma aproximação mais apelativa, de acordo com a orientação do próprio diretor. Piper deveria instigar Alex até que não houvesse resistência alguma a tê-la novamente, ali. No entanto, seria ingenuidade não me aproveitar da situação quando ela seria forçada a sentir o meu cheiro, o calor da minha respiração perto do seu pescoço. Eu queria testar seu corpo, provocar seu desejo da forma mais natural e espontânea.

– Eu quero saborear o seu gosto – sussurrei o mais próximo possível de seu ouvido, bagunçando sua franja durante minha aproximação e retornei à espera do que Alex faria. Uma frase curta, tão direta e verdadeira que coube bem ao modo confessional.

Sem demora, o beijo aconteceu, como estava programado. Eu estava ansiosa por aquele contato e acredito ter demonstrado um pouco mais de entusiasmo do que Laura durante a cena. O profissionalismo dela chegou a ser frustrante, sem que me desse a mínima chance de oferecer uma provinha real de como eram nossos beijos. 

Laura se afastou e abriu a porta do banheiro, levando-me pela mão para o lado de dentro. Logo em seguida ouvimos “corta” e de acordo com o diretor não haveria necessidade de repetir a sequência, o que nos rendeu alguns elogios.

Ela não demorou a bater em retirada. Não ousei seguí-la. Tudo o que acontecera parecia muito a ser ponderado, tal como o que não foi. Aproveitei o pequeno intervalo entre a próxima gravação e, com uma garrafa de água em mão, fugi para as dependências externas de Lietchfield, sentando-me em uma das mesas frequentemente usada pelas detentas.

– Inspira. Expira – disse a mim mesma. – Você poderia ter feito melhor, garota – proferi com notável desapontamento.

Mas o que exatamente eu estava esperando? Uma reconciliação ainda era impraticável, e, honestamente, a cada dia ela parecia mais remota. Laura parecia ter se blindado contra mim, mas, afinal, era uma atitude previsível. O problema era uma incontida fagulha de esperança dentro de mim. Eu simplesmente não conseguia aceitar que acabaríamos daquele jeito, pior que duas estranhas.

– Eu enlouqueci – deixei escapar, assumidamente cansada, com o rosto cabisbaixo, apoiado sobre as mãos.

– É provável – Laura retrucou, surpreendendo-me.

Ela estava com o mesmo figurino, com exceção dos óculos, parada do outro lado da mesa, em pé.  

– Eu pensei que você tivesse parado de fumar – foi a única frase que consegui arriscar.

Laura tragou como se me provocasse.

– Infelizmente disso eu não me esqueci – enfatizou com tom cáustico.

– É uma pena – devolvi tentando conter o jeito de resposta a uma provocação. Brigar com ela era a última coisa que eu queria.

– Como você está? – questionou mais por educação do que como quem realmente se importa.

– Já estive melhor – fui sincera. – E você?

– Idem – tragou novamente. – Parece que teremos muitas cenas juntas pela frente...

– Isso é um problema para você?

– O nome disse é trabalho, Taylor. Eu só quero realizá-lo com  profissionalismo.

– Você não precisa agir como se contracenar comigo não fosse um incômodo.

– Se você está dizendo – fez-se de desentendida, para a agonia dos meus nervos.

– Quer parar?

– Com o que exatamente? O cigarro ainda está na metade.

– De fingir que não se importa, que está tudo bem – esbravejei.

– E o que você sugere, Taylor? Que eu grite, que eu acuse você por ter mentido? Aqui não é ambiente para isso – falou sem deboche.

– Tem razão – contive as lágrimas que quase escorreram.

– E não tente inverter as coisas, a vítima aqui sou eu.

– Então tudo se resume a isto: você é a pobre coitada e eu sou uma vadia traidora?

– Acho que você sabe muito bem qual é a sua carapuça.

– Vai pro inferno! – amassei a garrafa d’água com as mãos, furiosa, e saí andando sem olhar para trás.

– Vai você, sua mentirosa irritante! Eu não sei como pude amar você.

Parei imediatamente. Aquilo foi a gota d’água. Agora ela ia me ouvir. Dei meia volta e caminhei em sua direção.

– Escute aqui – peguei-a pelo braço.

– Você está me machucando – ela disse, mas eu ignorei.

– É só com isso que você se importa, não é mesmo? Com a sua maldita dor, como se ninguém mais se machucasse. Eu não conheço essa Laura egoísta, rancorosa. Olha pra mim! – ordenei quando ela tentou desviar seus olhos do meu. – Você sabe exatamente quem eu sou, mas não vou rastejar aos seus pés e nem implorar seu perdão. Simplesmente porque eu não me arrependo de nada. A propósito, pode ficar tranquila porque eu serei estritamente profissional com você.

Exalávamos raiva, instinto de guerra. De repente, foi como se pudéssemos encontrar alguma estranha satisfação nos recíprocos ataques. A ira trouxe consigo uma torrente de desejo. Quis feri-la com verdades ditas sem delicadeza, com meu desespero, meu cansaço, mas também desejei tomá-la, como se me reapropriasse dela.

Na ofegante briga de olhares, ainda sem vencedores, aproveitei a proximidade dos rostos e a ataquei de surpresa com a boca, alcançando diretamente a sua. Ultrapassei sua resistência inicial com rispidez, suplantando minha vontade à dela.

Permaneci envolvendo-a com firmeza e Laura foi se rendendo como quem sucumbe a um tentador pecado. Sua pele ardia com um gradual e primitivo desejo. O ar se fez rarefeito. De minha parte, era um beijo totalmente incontido: na raiva, na saudade, na vontade, no instinto de provocação, no desespero para que ela se lembrasse de alguma coisa.

Nosso velho encaixe estava intacto, tal como o prazer do toque. A contra gosto, cada parte do corpo dela parecia reavivada, afirmando que ainda sabia como era me amar. 

Num rompante, retomando a consciência que fazia daquela proximidade errada, proibida, e que a mágoa imperava sobre qualquer sentimento bom que ainda pudesse existir, Laura me empurrou.

Antes que eu pudesse recuperar o ar, senti minha face arder. O tapa foi sua maneira de reagir, como se o desenlace dos lábios tivesse aumentado exponencialmente sua raiva.

– Você não tinha o direito de fazer isso – falou como se estivesse atordoada, fora de si, com as mãos nos cabelos.

– Não vai acontecer de novo – afastei-me um pouco. – Espero que consiga se lembrar bem de como eram nossos beijos fora de cena.

Voltei a caminhar, mas não havia sentimento de vitória. A cada passo tentei me convencer um pouco mais que aquele beijo seria nossa última recordação juntas, sem perdão, sem retorno do que a perda de memória lhe privou. Tampouco soube o que tinha dado em mim, nela, nem o que ainda poderia estar por vir.

Minha única convicção era que faria cada palavra dita a ela ser levada adiante. Ainda que o amor seja, em partes, uma escolha, ainda que se ame também com a mente, a razão, e por mais que estivesse convencida sobre o que o corpo dela me revelou, não imploraria por perdão, nem correria atrás dela.

Agora, deixando que as lágrimas se libertasse, talvez o fim deixasse de ser uma hipótese para se tornar uma constatação.  

 

 

 

 

(1) Charles Dickens. Grandes esperanças


Notas Finais


Não me matem, ok?

Aproveitando que a maioria deve estar de férias, vou colocar umas indicações básicas de textos e um documentário tá? Os textos falam sobre Alzheimer que, embora não seja algo mencionado na história, me ajudou a embasar essa questão de memória e sua importância.

http://obviousmag.org/heteronimia/2016/03/quem-nos-leva-a-serio-quando-estamos-tao-diferentes-do-que-eramos.html (Em diálogo com "Para sempre Alice")

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/27/opinion/1430135661_736719.html


Para quem tiver interesse (e tempo/paciência): "Humano - Uma viagem pela vida", trabalho lindo do Yann Arthus-Bertrand, investigando a diversidade humana e o que pode vir a nos unir. Inspirador <3


Agora deixa eu desejar um Feliz Ano pra vcs de forma um pouquinho mais prolixa kkk
Que 2017 seja lindo, repleto de realizações e projetos inspiradores.
Obrigada pela companhia constante, paciência e ao pessoal que comentou no avisinho de "Boas Festas" (deixei pra dar resposta coletiva por aqui mesmo, tá corrido, pessoal).
Os próximos - e últimos capítulos -, possivelmente serão mais 4, ficarão pro ano que vem mesmo.
Assim que der eu volto.
Um beijo!


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