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História Guarda Vidas - "...na exata altura do meu coração..."


Escrita por: ISBB5H

Capítulo 42 - "...na exata altura do meu coração..."


Fanfic / Fanfiction Guarda Vidas - "...na exata altura do meu coração..."

Twitter: ISBB5H

 

Narração: Lauren

Miami – Condomínio La Place – 802

Minha vida é como uma grande estante fixa. Sua ocupação fica à cargo das pessoas que distribuo entre as prateleiras. Não nego que algumas delas estejam empoeiradas, poucas outras vazias e tantas outras tão cheias. A definição de cada posição ocupada segue uma ordem prática e lógica de uso e desuso. Nas prateleiras mais próximas do chão estão as pessoas com as quais pouco convivo, mas que ainda sim me decidi por guardar e conforme a altura se aproxima do alcance do meu tronco, braços, peito e rosto, cresce a importância e a intensidade do convívio que tenho com aqueles que por ali ajeitei.

Contudo, há ainda aquelas prateleiras que nem a maior das escadas me permite alcançar. Para algumas a morte ou mesmo o afastamento concreto me obrigaram a somente admirá-las de longe, lá em cima, lá no alto.

A cada novo encontro, conversa ou abraço, me vejo diante dessa mesma estante e me coloco, como em tantas outras vezes, a reorganizar os mesmos espaços.

É como nos mantemos saudáveis. É como me mantenho saudável. Organizando minhas prateleiras.

 

Miami – Condomínio La Place – 802 – 09:45

Ouvi o latido estridente e em poucos segundos minha porta da frente ser arranhada. Fechei os olhos sentindo minha paz escapar para um lugar cada vez mais distante de mim e tão logo o homem já havia entrado, fechado a porta e trazido Bart para perto de mim.

O cão descansou em meus pés, exausto. As orelhas grandes e peludas repousando no piso gelado, a língua para fora e os olhos já fechados.

– Seu cachorro é igual à você. – Bart foi erguido do chão e trazido para o colo de Chris que agora estava sentado ao meu lado no sofá. – Preguiçoso, teimoso. – Emitiu um som longo e baixo, algo parecido com um uivo, embora sonolento demais para ser assim definido. – E mimado. Onde já se viu? Cachorros deveriam gostar de passear, você não acha?! Deveriam gostar de praticar exercícios. De gastar um pouco de energia!

– E ele gosta. – Rebati.

– Não, ele definitivamente não gosta, maninha. Não pude completar nem mesmo a metade do percurso habitual porque ele logo se recusou a me acompanhar. Deitou-se no calçadão e assim ficou mesmo que eu tenha insistido com a coleira. Nem na areia pude levá-lo. É um preguiçoso. – Meu irmão voltou a resmungar.

– Não ele não é. – Aproveitei a posição para acariciar seu focinho pontudo. – Ele gosta de se exercitar. Gosta da praia, da areia, do movimento das ondas e também das pessoas.

Ouvi o bufar de deboche. – E qual seria o segredo para fazê-lo cooperar? Eu ainda não descobri.

– Camila. – Respondi com um sorriso de lado. – Camila é o segredo. Ela conseguia levá-lo a praia sem grandes problemas. A coleira era inclusive dispensável. Eles brincavam, corriam, nadavam e logo depois ela o recompensava deixando que descansasse em sua barriga. – Me inundei das várias cenas que guardava dos dois em minha memória.

Meu irmão não respondeu de imediato. Talvez tenha se assustado, pois a freqüência com que discutíamos sobre a latina havia diminuído consideravelmente nas últimas semanas. Chris era esperto e percebera a mudança na natureza e na dinâmica de nossa relação assim como percebera a mudança radical no tratamento de nossa mãe com Camila, muito embora ele não perguntasse. Em nenhuma situação. Jamais. E eu apreciava a gentileza do gesto. – É como ela fazia com você? – Zombou nos fazendo gargalhar. – Te levava para passear e depois permitia que descansasse em cima da barriga?

Pensei em lhe bater, mas o esforço seria demais para o momento. – Você está na minha casa, idiota. Precisa me respeitar. – Não segurei o espirro ao terminar de falar.

– E você precisa conseguir aquela mulher de volta.

– Eu… – Fiquei surpresa com sua fala.

– Não, você tem que consegui-la de volta. – Sua voz era firme, mas sem perder a doçura. – Ou eu farei isso por nós dois. Camila é uma mulher em milhão, Laur. Você apenas… Precisa consegui-la de volta.

– E eu vou. – Lhe sorri em resposta. – Ainda vou me casar com ela. – Mas perdi o sorriso para uma nova série de espirros.

– Ei, você não parece muito bem.

– É apenas um resfriado. – Tratei de despreocupá-lo.

– Por que não toma um remédio?

– Farei isso. Assim que eu conseguir me levantar desse sofá. Eu prometo.

Ele riu. – Bom, já pratiquei minha boa ação do dia. – Referiu-se a passear com Bart. – E agora é chegada a hora mais triste de todas. A hora da minha partida.

– Convencido. – O assisti levantar-se do sofá deixando Bart a cochilar no lugar que antes ocupava e meu coração apertou diante da sombra de uma dúvida crescente. – Ei, moleque. – Me olhou por cima dos ombros com o mesmo sorriso travesso de sempre. O garoto era um palhaço. Uma lembrança colorida e alegre da minha infância. Uma memória agradável, daquelas com cheiro e textura, da minha adolescência. Figura fácil. Amorosa. Lugar garantido entre as minhas prateleiras mais queridas e disputadas. – Obrigada por vir. – Mordi o lábio e pisquei para ele, deixando-me distrair pelo carinho em minha rápida reflexão.

– Você não merece. – Brincou como de costume. – Mas eu sempre virei, Laur. Conte com isso. Não pode se livrar de mim. – Piscou de volta. – Isso é tudo?

– Sim. É tudo.

– Mentirosa. – Sorriu terno. – Ela está bem, se é o que quer saber. – Respondeu-me sem que eu precisasse dizer uma única palavra. – Tem o hábito de me sondar para ter algumas informações sobre você. – Suspirou entediado para minha falsa indiferença. – Às vezes eu não sei dizer quem é a mais teimosa da família. Você ou Taylor. – Deixou-me um beijo longo na testa. – Procure-a, Lauren. Tay também sente a sua falta. – Se despediu e deixou o apartamento.

 

Miami – Condomínio La Place – 802 – 16:30

– Acordo?! Que acordo? Não existirá acordo algum! – Enquanto gritava meus braços automaticamente circularam meu tronco em uma espécie de abraço solitário e esquisito que me impedia de ceder aos movimentos truculentos causados pelas longas sessões de tosse.  

– Michelle, abaixe seu tom de voz enquanto estiver conversando comigo. – Ela avisou com os olhos cinzentos e pesados sobre mim. – Não sou mais uma das suas amigas!

Neguei veemente. – Como você pode sequer sugerir…

– Eu não fiz sugestão alguma! – Inevitavelmente o seu tom de voz também se elevou. – A oferta partiu do advogado de Luke. Nos foi feita uma proposta e é minha obrigação apresentá-la à Camila. Lauren, ela é a minha cliente. Não você. Por acaso esqueceu-se disso?

– Não, mãe. – Desviei meus olhos da mulher e sentei-me ao sofá. Meus músculos doíam, reclamando mesmo pelo menor dos esforços e minha cabeça pesava. Apoiei os dois braços nos joelhos e usei as mãos para descansar minha testa tentando absorver todas essas recém chegadas informações. – Eu não me esqueci. Camila é a sua cliente. Camila sofreu aquele acidente terrível. É Camila quem tem contas a acertar com Luke, eu não me esqueci disso. Mas também não me esqueci de como eu quase a perdi para a ignorância e brutalidade daquele homem e não posso obrigar minha mente e coração a aceitarem essa ou qualquer outra proposta absurda de acordo! Dinheiro algum, no mundo, repararia o que aconteceu naquele dia.

– Minha querida…

– E eu sei que Camila concorda comigo. – Interrompi-a convicta do que dizia. – Ela não precisa do dinheiro. Camz nunca ligou para dinheiro e sei que não é dessa vez que ela o fará. É por justiça que ela luta. Para manter Luke atrás das grades e longe das pessoas que ele pode um dia vir ou voltar a prejudicar. – Eu conhecia a pequena latina melhor do que ninguém. Sua personalidade forte e justa eram atributos que eu muito admirava. – Ela não aceitará esse acordo e você sabe disso tanto quanto eu.

Clara não aliviou sua expressão. Contrariando-me ainda mais, devo dizer inclusive que sua feição tornou-se ainda mais endurecida. Preocupada. – Lauren. – Havia algo mais. Algo que eu ainda não sabia. Lê-la às vezes era fácil demais.

– O que você não está me contando?

Me sorriu fraco. Quase sem vontade. – Como esconder algo de você, minha filha? Foi sempre tão difícil.

– Diga de uma vez. Sem rodeios! – Urgi impaciente.

– Preciso que compreenda que essa conversa, essa entre nós duas, nunca aconteceu. Não pode em hipótese alguma deixar essas quatro paredes, tudo bem? Sou sua mãe, isso é óbvio, mas nunca em todos os meus anos de trabalho deixei-me levar por isso. Procuro manter os dois mundos, o profissional e o pessoal devidamente separados, mas o caso de Camila é diferente…

A ansiedade começava a consumir o melhor de mim. – Diga logo!

– Eu sei que Camila não pensaria duas vezes antes de negar um acordo como este. Sei que ela não se importa com dinheiro, qualquer que seja a quantia oferecida. Contudo, só garanto que não o faria em condições normais.

Franzi o cenho. – Condições normais? O que quer dizer com isso?

– Quero dizer que andei ultrapassando alguns limites nas últimas semanas. O fiz consciente do erro que cometia, mas a história de vida daquela garota me toca de maneira imprevista. Quero dizer que… – Engoli seco. – Andei buscando informações sobre o passado de Camila. – Meu coração palpitou mais ligeiro ao som da confissão. – Sobre os pais dela. Sobre Alejandro e Sinuhe Cabello.

Quando ouvi que Taylor buscara informações sobre Camz não evitei me sentir pessoalmente ofendida pelo feito. Quase atacada. Desconhecia a natureza de suas intenções, mas sabia não serem nobres, o que tornava essa vez, essa de agora, com Clara, tão diferente da primeira. Eu sabia do carinho que minha mãe passara a cultivar pela latina e sabia também que Clara jamais revelaria seu deslize a não ser que a situação a obrigasse. – Sobre os pais dela? – E era isso que me preocupava. – O que… O que descobriu? V-você descobriu alguma coisa? Descobriu, não foi?

Minha mãe continuou de pé e preparou-se para continuar a confissão. – Aparentemente eles não estão passando por um momento muito bom, Lauren. Financeiramente inclusive. Precisam de dinheiro. – Suspirou ao dizer. – Muito. Todos os meses.

– Camila não tem que ajudá-los. Não… – Sacudi a cabeça. – Não é sua obrigação. Eles nunca ligaram para ela.

Clara avançou dois passos em minha direção. – Isso não é verdade. Nós não sabemos disso, minha filha.

– Sabemos que já há muito não se importam!

– Lauren…

– Ela não precisa saber disso. – Respondi bobamente. – Não precisa dessas informações. Não precisa dizer à ela. – Meus lábios respondiam o que minha mente sabia ser uma grande mentira.

– Sinuhe está doente. – Alguns males vêm em ondas. É um processo sucessivo, como agora. – E é grave. – A segunda onda chegando mais forte que a primeira. – Vêm acontecendo há algum tempo segundo as minhas fontes. – Assim como a terceira onda. – E os Cabello precisam do dinheiro para continuar o tratamento. – Assim como a quarta. – Eles recebem uma ajuda mensal de vizinhos, amigos e de uma garota que descobri viver aqui em Miami, acredito que o nome seja Veronica. Mas o dinheiro não tem bastado para custear os remédios e as várias idas aos médicos. – E assim sucessivamente. – E Camila sequer sabe. Não ainda. – Porque alguns males, eles vêm em ondas.

 

Miami – Condomínio La Place – 802 – 19:00

Me levantei devagar e segui em passos lentos até a porta da frente. Bart se embaralhou em minhas pernas, lembrando-me somente do quanto elas doíam, assim como meus pés, e meus braços, e minhas costas e também o restante do corpo. Já era noite e meu resfriado havia piorado criticamente.

Mesmo ao som insistente da campainha acabei me entretendo pelo reflexo do espelho próximo a entrada. Minhas bochechas estavam rosadas, quentes pela alta temperatura do corpo. Meus olhos em um tom de verde apagado e envoltos por uma camada vermelha cuja ardência me fazia querê-los fechados. Meu cabelo bagunçado contido apenas pelo coque frouxo e mal feito no topo da cabeça.

Respirei fundo sentindo o peito inchado vibrar e expulsar imediatamente todo o ar coletado ao som uma tosse sofrida, e tossindo abri a porta da frente pronta para qualquer que fosse a invasão prestes a acontecer. – Um passarinho loiro, muito alto e barulhento me contou que você não estava tendo o mais agradável dos dias. – E pela primeira vez desde que acordei um sorriso largo e fácil me foi roubado. Eu simplesmente adorava essa voz. – Dinah me enviou uma mensagem sobre isso mais cedo, e fico feliz que eu tenha me decidido por vir. – Era baixa, melódica e um pouco rouca. Doce. – Você aparenta estar tão mal, Lolo. – Às vezes eu sonhava que Camila cantava para mim. Cantava e encantava os meus sonhos, embalando-me em um sono gostoso e seguro.

– Oi Camz. – Suas mãos fizeram o caminho até minhas bochechas e as afagaram devagar. Tinha o semblante um pouco mais sério do que há segundos atrás.

– Céus, e você está tão quente. – Disse preocupada. – Deixe-me cuidar de você.

– É a febre. – Declarei baixo. – Mas não se preocupe. Tenho me cuidado. Eu acabei de tomar o remédio.

Ela sorriu tão bonito. Como posso não me apaixonar por esse sorriso todos os dias? – E o que isso quer dizer? Que meus cuidados estão dispensados?

– É claro que não. Vem para cá. – A puxei pela cintura trazendo seu corpo, ainda na porta da frente, para junto do meu e a abracei apertado. Minha pequena morena. Seu corpo não estava tão quente quanto o meu, mas ainda sim guardava uma temperatura gostosa. A textura de sua pele como sempre tão macia me fez suspirar. Enterrei minha cabeça em seu pescoço e aspirei daquele cheiro delicioso e sem resistir deixei um beijo suave na região.

Suas mãos acariciaram minhas costas vagarosamente enquanto a sentia me empurrando para trás apenas para conseguir fechar a porta. – Venha. Vamos levá-la para a cama garota manhosa. – Nos separamos para seguir de mãos dadas até o quarto e por fim até a grande cama em meu quarto. A pequena foi a primeira a tomar lugar sobre o colchão e sentou-se com as pernas esticadas convidando-me a me aconchegar apenas com os olhos, aqueles castanhos que me levavam para uma galáxia distante. Corri para junto dela e me lancei entre suas pernas. Deixei que minha cabeça repousasse em seu colo, em um confortável espaço próximo de sua cintura e encolhi o resto do corpo de forma a manter o máximo de mim em contato com o máximo dela. Suas mãos logo começaram um carinho em meu cabelo, massageando o couro cabeludo e penteando meus fios de cabelo.

– Cortou o cabelo mais uma vez?

– As pontas.

– Eu gosto.

O quarto estava escuro, somente a grande televisão o iluminava. As cobertas foram postas em cima de nós duas e a pequena beijou-me a testa. – Obrigada por vir, Camzi.

– Eu senti a sua falta. – Riu. – Confesso que viria de qualquer maneira. Nossos finais de semana me fazem falta.

A confissão encheu-me de um sentimento bom. – E posso saber como a senhorita chegou até aqui?

– Uber.

– Normani? – Fui breve na pergunta. A última coisa que queria era trazer a morena para a conversa.

– Não controla os meus passos e vontades.

Fechei os olhos quando os carinhos aumentaram. – Camz, você parece estar tão melhor, sabia? – Tossi um pouco antes de prosseguir. – Já parou de mancar. Seus hematomas desapareceram completamente e as cicatrizes estão quase imperceptíveis. E aquela careta que fazia a cada vez que andava também desapareceu.

– Eu já comecei a fisioterapia, Lolo. Logo, logo estarei de volta ao trabalho, você verá.

Não pude deixar de rir de sua empolgação. Era bom vê-la tão bem humorada depois de um longo período de tristeza. – E como anda… – Perguntar sobre o andamento da terapia era sempre mais delicado.

– Bem. Bem, eu acho… – Respondeu-me mais envergonhada dessa vez. – É um processo lento, como você sabe.

– É tão lento quanto precisa ser, babe.

– Eu sei. – Tossi novamente, mas desta vez com o adicional de uma série de espirros como as que estive tendo ao longo de todo o dia.

– Eu sinto muito por isso. Vou acabar te deixando resfriada também, Camz.

– Não me importo com isso, Lo. – Procurei fitá-la um pouco mais acima de mim. – Eu só quero poder cuidar de você. Como sempre faz comigo.

– Você não me deve nada, pequena. – Os carinhos começaram a me deixar sonolenta.

– Não é sobre dever ou obrigação, bobinha. É sobre amor. Sobre as coisas que fazemos por quem amamos sem esperar nada em troca. – Meu coração doeu com a lembrança da última conversa com minha mãe. – É sobre cuidar de quem amamos, porque de certa forma, é como cuidar de uma parte de nós mesmos.

Não parecia certo. – Mesmo quando as pessoas não merecem nossos cuidados?

Camila franziu o cenho confusa e ainda tão alheia às minhas verdadeiras intenções com aquela pergunta. – Ora, se estamos falando de quem amamos, por quê é que não mereceriam nossos cuidados?

– Porque não merecem o nosso amor em primeiro lugar.

A latina remexeu suas pernas que abrigavam meu corpo e me mudou de posição. Trouxe meu rosto para mais perto do seu e mantendo uma das mãos ainda em meu cabelo, usou a outra para contornar meus olhos, sobrancelhas, nariz e por último, lábios. – A cada nova vez que penso no amor, menos o percebo submisso ao mérito. Não amamos por merecimento, porque o amor não é um prêmio. Não é recompensa. Na maioria das vezes apenas amamos por mistério, por coisas, memórias, gestos e situações que não se explicam pela lógica. – Minhas piscadas foram se tornando mais lentas e longas.

– Mas Camz… – Bocejei sentindo o sono chegar mais forte.

– Veja, por exemplo, por que acha que amamos aqueles que já se foram? Qual a utilidade nisso? Não há. É um mistério e apenas o fazemos. – Suspirou. – Eu faço o tempo todo. – Sua voz revelava a melancolia.

Olhei fundo em seus olhos. – O seu amor é precioso demais para ser dado sem justa retribuição. – Corou imediatamente. Vê-la dessa forma e tão próxima à mim causou-se dano irreparável. Camila é e sempre será aquela que mais me afeta.

– Você retribui. – Foi uma afirmação.

– Sim. O tempo todo. Até quando estou dormindo. – Zombei e pisquei para diluir um pouco do peso do ar, mas percebi como meus olhos demoraram um pouco mais para tornarem a se abrir. – Ainda que eu não falasse, meu silêncio declararia esse amor. Porém, eu já disse e repito… É fácil, para mim, te amar.

Camila voltou a corar com o comentário. – É bom que seja assim. Somos amigas, afinal de contas, certo? – Provocou.

– Sim. Somos. Muito embora eu não me apaixone por todas as minhas amigas… – Respondi sentindo que o jogo contra o sono era uma batalha perdida para mim. – E é por isso que nós somos muito mais do que apenas isso. Porque eu não durmo com todas as minhas amigas. Porque eu não me permito ser cuidada por todas as minhas amigas. Porque eu não quero… – Bocejei. – Beijar todas as minhas amigas. Porque isso acontece só… – Eu estava adormecendo nos braços do meu amor e não havia sensação mais prazerosa. – Só por uma. Só por você. Camz… Eu me apaixonei por você mais uma vez.

– E eu acho que me apaixonei por você mais uma vez… – Sussurrou de volta e me fez sorrir de olhos fechados. – Mas tudo bem, comigo acontece todos os dias.

– Camz?

– Durma, Lolo. Eu estarei aqui quando você acordar.

– Amanhã pode não ser um bom dia. – Lembrei-me das notícias que a latina receberia em breve.

– E eu ainda estarei aqui.

– Promete? Promete não fugir mais? Não de mim.

– Eu prometo.

– Camz, eu quero você de volta.

Ouvi o riso baixo. – Durma, minha Lolo.

 – Posso sonhar com o nosso casamento?

– Pode sonhar. – Respondeu-me envergonhada.

– Camz… – Chamei mais arrastado dessa vez. – Você tem uma prateleira exclusiva na minha estante.

– Que estante? – Perguntou-me com curiosidade.

– Na minha estante. – Respondi simplesmente. – E a sua prateleira está na exata altura do meu coração.

 

Miami – Condomínio La Place – 802 – 08:05

Tinha Bart em meu colo e Clara logo à minha frente. Trocávamos olhares longos, mas sem nunca dizer uma única palavra.

Lá fora o Sol brilhava forte, perfeito para uma manhã de domingo. Era cedo, mas não cedo demais e pelos barulhos que ecoavam pelo corredor me diziam que Camila já havia acordado. Respirei profundamente me preparando para um momento que eu daria tudo para adiar, não por mim, mas pela mulher que eu tanto amava. – Lolo? Lo, onde você… – Sua voz perdeu potência quando a figura pequena se apresentou na extremidade oposta da sala de visitas. Usava uma das minhas camisas sociais e tinha as mangas dobradas. Para esconder as pernas, sua nova e infundada vergonha, uma calça larga de moletom. Os cabelos longos estavam soltos, bagunçados de maneira sexy e tinha a cara de sono mais adorável de todo o mundo. Camila olhou para mim e em seguida para minha mãe.

– Bom dia, Camila.

– O que… Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou muito tímida para a mulher mais velha. Me adiantei até sua posição e segurei suas mãos com cuidado tentando mantê-la calma para o que viria. Sua reação e resposta era ainda uma grande interrogação em minha cabeça.

– Camz, nós precisamos conversar. 



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