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História Guarda Vidas - "...paraíso particular..."


Escrita por: ISBB5H

Capítulo 44 - "...paraíso particular..."


Twitter: ISBB5H

 

Narração: Camila

Miami – Condomínio Solar – Apartamento 12B – 13:00

O caminho para casa pareceu mais longo do que costumava ser e ao longo de todo o trajeto as últimas palavras de Veronica me consumiam como nunca antes. A ideia de um mundo escondido em um universo paralelo onde tudo era belo e perfeito, intocado. Onde Sofia ainda vivia e dividia conosco toda a sua doçura e amor e onde seus pais, saudáveis e felizes, eram ainda e também os meus pais. O pedaço idealizado de paraíso onde os dias em Dos Cielos eram sempre dias de Sol, e onde eu guardava comigo todos os meus amigos e amores. O lugar que era tudo. Um mundo que se fazia feliz por si só.

– Camz? – Tão distraída como estive olhei alarmada para as formas e contornos que me cercavam por todos os lados e percebi que havíamos enfim alcançado o nosso destino. Lauren estava agora ajoelhada ao lado do carro, a porta do carona já aberta, e sua mão pacientemente estendida em minha direção. – Você vem? Está pronta? – Concordei em silêncio assim que a mesma mão me deixou uma carícia preguiçosa e voltou a ser estendida em minha direção na forma de um convite.

Dei-lhe a minha e a acompanhei para dentro do condomínio. Tinha cansaço em meus pés, minhas pernas, mente e coração. Subimos as escadas devagar enquanto eu aproveitava o carinho em minha pele, já visualizando o abrigo seguro no qual eu planejava me esconder muito em breve e que ficava debaixo das minhas cobertas. Ali, somente ali, eu me permitiria respirar aliviada e tomar as grandes decisões. Ali eu tentaria reunir forças para lutar mais uma difícil batalha.

Ao chegarmos em frente ao 12B, Lauren cedeu espaço para que eu pudesse abrir a porta, e nos poucos segundos que levei para completar a tola tarefa percebi que algo do lado de dentro parecia estar fora do lugar. Era o barulho intenso. As muitas vozes que se sobrepunham dentro do apartamento que deveria abrigar somente à minha amiga. As risadas, várias, fortes, fracas, graves e agudas. – Mas o que…

Quando dei o primeiro passo para dentro do ambiente Lauren me abraçou forte pela cintura e ainda atrás de mim, escondeu o rosto em meu pescoço murmurando pedidos de desculpa em meio a beijos e risadas fracas que tentava abafar dada a iniciativa entusiasmada da mãe. Da mãe que não deveria estar ali em primeiro lugar. – Vocês demoraram! O almoço estará pronto para ser servido em pouco tempo. Vamos! – Ela dizia nos fitando ainda imóveis junto à porta de entrada. – Entrem, vamos entrem!

– Claro, fique à vontade. Exatamente como se a casa fosse sua, Mila. – Ao lado de Dinah e Ally, Normani resmungou com ironia para Clara que parecia ter se esquecido que aquela casa era de fato minha e de Normani, e não a sua própria.

E do outro lado da sala era Chris que se divertia na companhia do pai, Mike. – O almoço está quase pronto? – Arqueou as grossas sobrancelhas. – Quase entregue ela quer dizer. O restaurante deve entregá-lo na portaria em breve.

Clara lançou um único olhar de desdém para o filho que parecia aos poucos arrepender-se do comentário. – Cale-se! Você vai nos colocar em problemas com esses comentários, moleque. – O pai tentou intervir me arrancando uma risada seca. Podiam aqueles dois serem mais ridículos? Ou mais adoráveis assim tão temerosos? – Ei. – Disse e pigarreou com a voz grossa nos sorrindo largo. – Lauren! – Sinalizou com uma das mãos. – Onde está o meu abraço? Você sabe como isto funciona. – Um pouco à contra gosto minha morena se afastou para cumprir a vontade do pai, mas o sorriso que ela não conteve me confessava o prazer sentido naquele que era um gesto já costumeiro entre eles. Tentei me aproveitar do momento para alcançar Mani e pedir por alguma informação que explicasse aquela invasão em minha casa, mas antes que eu pudesse avançar muito mais, Mike tornou a falar. – Mocinha. – Referiu-se à mim. – Essa sua cara de poucos amigos e de heroína solitária não me põe medo. – As garotas e Chris logo riram enquanto minha antes expressão séria foi tornando-se gradativamente uma bagunça avermelhada. – Venha logo até aqui para ganhar o seu abraço, Camila.

– Ninguém escapa desse homem. – Ouvi Normani sussurrar para Ally provavelmente muito aliviada por não ter sido exposta a tal situação. Era tudo um tanto quanto ridículo afinal de contas.

– Mike, querido. – Clara disse enquanto os braços grossos e grandes me envolviam com força. – Lembrou-se do abraço de Mariani? – E foi naquele instante em que Dinah explodiu com as gargalhadas. Clara e Normani tinham essa estranha e hilária relação de constante provocação. – A regra vale para todos. Sem exceções. – Mani foi logo puxada para dentro do mesmo aperto enquanto nossas bochechas eram prensadas uma contra a outra e nossos corpos contra o peito largo e forte do homem mais velho.

Assim como existem pessoas e pessoas, existem abraços e abraços, e isso Mani e eu não precisamos dizer em voz alta. Nossas falsas expressões de tédio tentavam disfarçar a conversa que tinham nossos olhos já derretidos, pois na maioria dos dias e por mais que tivéssemos uma a outra, nos sentíamos sós e quem diria que a cura para aquela estranha mazela seria fácil e assim tão acessível, na forma de um abraço forte, um daqueles sinceros, sem pressa e sem razão de ser.

– Alguém já disse pra vocês que esse sofá é uma merda?

– Garoto! – Clara deferiu um tapa fraco contra os lábios do filho. – Vigie o vocabulário!

[…]

De acordo com o último boletim informativo de Dinah Jane, invadir o meu apartamento foi uma decisão de comum acordo do clã Jauregui Morgado, no qual se incluíam a própria Dinah e também Ally. Todos já sabiam das novidades mais recentes embora, uma vez mais, ninguém tivesse me consultado à respeito. Era estranha a sensação de como as coisas começavam a fugir ao meu controle, mas não de maneira negativa. Não negaria que essas pequenas atitudes criavam a janela de oportunidade perfeita para que eu respirasse com alívio e pudesse enfim me concentrar apenas em mim mesma e nada mais. Dessa maneira eu não precisava explicar nada a ninguém ou repetir más notícias. Todos entendiam e respeitavam um momento que era meu.

O equilíbrio perfeito entre espaço e apoio.

A tal refeição encomendada fora entregue há poucos minutos e enquanto Clara e Allyson tentavam bolar um plano de ação e estratégia para que todos almoçássemos juntos, em cadeiras e pratos de verdade (não os de plástico que Mani e eu preferíamos usar no dia a dia), notei a falta de um alguém muito importante naquele ambiente. Caminhei discretamente pelo corredor e parei na porta do último quarto, o meu, de onde enxerguei Normani ajeitar os fios encaracolados no grande espelho. Seu cabelo estava comprido, no maior tamanho que já vira desde que nos conhecemos e sua silhueta ainda mais cheia de curvas do que alguns meses atrás. – Linda. – Eu disse com um sorriso orgulhoso. – Ô mulher para ser assim bonita. Onde é que já se viu? – Ao me encontrar ali parada, admirando-a, chamou-me usando o dedo indicador e passo após passo segui até a bela mulher, me aninhando no espaço quente e familiar entre seus braços.

– Gata, minha gata. – Recebi o carinho em minhas costas e senti os beijos que eram deixados em meus cabelos e testa.

– O que faço agora, Mani? – Choraminguei. – Qual caminho seguir?

– Eu não sei, não posso dizer. Essa decisão é apenas sua.

Fechei os olhos com força sabendo que ela tinha razão. – Mas eu não sei tomar decisões como estas!

– Se tem alguém que pode aprender tão impossível tarefa em tão pouco tempo, esse alguém é você, Camila Cabello. – Beijou-me a testa mais uma vez. – Mas uma coisa eu digo! Você não vai aceitar o acordo proposto por aquele animal.

– Mani…

– Sem mais ou nem meio Mani! – Foi severa na escolha do tom. – Não me venha com absurdos! Vamos vender tudo o que temos dentro desse apartamento, abrimos mão do apartamento e nos mudamos para o abrigo da cidade ou para debaixo de uma ponte se preciso for. Faço das minhas tripas coração para conseguir qualquer maldita quantia em dinheiro, mas aquele acordo você não aceita, gata! Não vou admitir isso. Em hipótese alguma. – A morena se afastou para colocar meu rosto em suas mãos. – Olhe bem e entenda de uma vez por todas. – Pincelou seu nariz no meu. – Eu te amo. Eu te protejo. Eu vou dar um jeito. – Tornou a se afastar e brincou com a língua entre os dentes.

– Você sempre dá. – Não segurei a risada. – Pelos céus, como eu te amo, morena! O que seria da minha vida sem você? – Beijou minhas bochechas e começou a me puxar pelas mãos para fora do quarto dividindo comigo o mesmo sorriso sincero. – Espere.

– O que foi?

– Tem algo. – Suspirei pesado mantendo-a no lugar. – Ainda tem algo que você precisa fazer. Por mim.

– Bunduda. – Resmungou balançando a cabeça em negação.

– Você sabe o que é. – Fiz um carinho em seu rosto. – Eu amo o nosso jeito único e meio maluco de conversar sem precisar de palavras e é por isso que sei que você sabe exatamente do que estou falando agora. Resolva isso, Mani. Resolva de uma vez por todas. Por mim.

– Mas eu não…

– Resolva isso! – Insisti. – Se resolva com Lauren! Chega, já chega disso, gata. Chega desse clima, de se ignorarem e de me magoarem quando fazem isso. Eu não sei se posso passar por tudo isso sem vocês duas e por essa razão preciso que se resolvam, entendeu? – Logo em seguida deixei o quarto para que Normani tivesse algum tempo e espaço para refletir sobre o meu pedido e me juntei à turma em minha sala.

Os outros começavam a se servir e a discutir sobre manter ligada ou não a televisão improvisada na tela do celular de Mike. Tendo sido ela a primeira faminta da fila, poupei um lugar escolhendo me sentar no colo de Lauren que me recebeu de bom grado, e apesar dos protestos de Clara e dos deboches de Dinah e Chris, comemos no mesmo prato. – Como você está? – Perguntou baixo em meu ouvido.

– Bem.

– Não está bem. – Rebateu.

Dei uma boa golada no copo de suco de maracujá antes de me virar para deixar um beijo rápido em seu rosto. – Agora eu estou. Aqui eu estou.

– Não está com calor? – Senti suas mãos macias viajarem para as minhas pernas, esfregando-as de leve sobre o tecido grosso da calça e me causando arrepios gostosos por todo o corpo.

– Estou.

– E por que não coloca um short? Está em casa. Entre amigos. Fique à vontade, pequena.

– Você sabe que não posso.

– Bobagem. – Continuou a esticar suas mãos em mim vagarosamente, enquanto eu equilibrava o prato, os talheres e o copo sozinha. – Você é linda. Suas pernas são lindas.

– E cheias de cicatrizes.

– Você nunca ligou para isso. Camz? Eu posso… – Pareceu um pouco indecisa.– O que?

– Podemos dormir juntas de novo? Esta noite? – Apertou minhas coxas me fazendo remexer desconfortável em seu colo. – Pode ser aqui ou em meu apartamento, eu não ligo realmente. Tudo o que quero é estar com você. Dormir e acordar com você.

Franzi o cenho deixando-a momentaneamente confusa. Era ainda tão fácil mexer com Lauren. – Estranho. Muito estranho. – A fiz pensar que havia dito algo errado.

– O-o que?

– Estranho que eu queira exatamente a mesma coisa. – Biquei-lhe os lábios uma e duas vezes. – Pelo resto da minha vida. – E enquanto a conversa ao nosso redor acontecia animada, com piadas, risadas e provocações em clima de pura descontração, aproveitei o instante para prestar atenção em cada um dos rostos que preenchia a minha sala e que passou também, pouco a pouco, a preencher e colorir minha vida. Rostos, jeitos e gestos tão distintos e cada um a sua maneira. Chris com sua personalidade ensolarada e suas aparições imprevistas. Michael e toda a força e tamanho convertidos em pura bondade e carinho. Clara e suas várias garras protetoras, a guerreira poderosa no disfarce de mãe linha dura. Ally e toda a sua inteligência envolvida em generosidade. A pequena garota de cabelos dourados que tinha o coração do tamanho de um mundo. Dinah e todo o seu amor que era capaz de contagiar até mesmo a própria alegria. Lauren e Mani, meus grandes, gigantes e imensos amores. Esses poucos que já me ensinaram tanto. Esses que me davam a força necessária para colocar em prática o que meu coração já havia decidido. – Eu vou ajudá-los. – Toda a conversa cessou de repente. No mesmo segundo em que tais palavras deixaram a minha boca, embora eu as tivesse dito em um tom incrivelmente baixo. – Alejandro e Sinuhe. Eu vou ajudá-los.

– Então esse o plano. – Disse Ally pousando os talheres sobre a mesa de madeira.

– Esperávamos por isso. – Dinah completou replicando o gesto da amiga menor. – É por isso que estamos aqui, Mila. Para saber qual plano seguir. – Disse como se fosse óbvio, deixando-me não apenas confusa, mas sem palavras. – Porque se é isso que você quer fazer, é isso que todos nós faremos daqui em diante. Vamos ajudá-los.

Todos os olhos foram postos em mim, a babaca cujas palavras faltavam à mente. Meu pobre coração começando a acelerar sem controle. – Eu… – Sacudi a cabeça em negação. – Vocês não precisam…

– Laur, pode me passar o sal? – Chris interrompeu como se a discussão tivesse acabado.

Me movi desconfortável sobre o colo de Lauren para retomar a fala. – E… Sobre o dinheiro… – Tentei recomeçar estranhando a naturalidade estampada em todos os rostos presentes. – O acordo.

– Já foi recusado. – Clara informou simplesmente.

– O que?! Mas eu não autorizei nada. – Retruquei um pouco mais alto do que devia. Os dedos de Lauren se firmaram em minha cintura, segurando-me no lugar. – Co-como? Recusado? Por quem?!

– Por mim. – Todos, absolutamente todos disseram em uma só voz, bem como se a cena tivesse sido ensaiada com antecedência.  – Algumas decisões devem ser tomadas em família, Camila. – A mulher mais velha completou em seguida.

– Mas eu ainda não conversei com Alejan…

– Não aquela família. – Corrigiu-me sem muito se estender no ato.

Lauren beijou-me o ombro para pedir por um pouco da minha atenção. – Camz, preocupe-se com o que fazer em relação aos seus pais, somente. Procure-os, se informe da situação da situação financeira dos Cabello e da saúde de Sinuhe, e quanto ao dinheiro deixe conosco.

– Lauren, não! – Inaceitável. Nunca precisei do dinheiro de ninguém e não é agora que eu começaria a aceitar esmolas e favores de tamanha proporção.

– Aceite como um empréstimo. – Tentou argumentar esboçando calma invejável. – Muito em breve ganharemos o processo contra Luke e você poderá usar o dinheiro da indenização para…

– Para nada! – Rebati. – Quantos advogados temos nesta mesa? Você, eu e todos aqui bem sabem que qualquer quantia de indenização que eu possa vir a receber não chegará nem perto do valor proposto naquele acordo!

– E sabemos que o valor proposto naquele acordo não repara nem 1% do dano causado. – Os lábios que eu amava beijar decretaram. – Camila esqueça aquela proposta.

– Mas… – O início da minha fala deu início a uma longa e barulhenta discussão, onde todos falavam, argumentavam paralelamente e ninguém se ouvia ou compreendia com clareza, até que o som um baque forte contra a mesa nos fez calar em imediato. As palmas da mão espalmadas contra a madeira e uma expressão furiosa.

– Chega! – Clara imperou aborrecida e mesmo Normani e eu não ousamos contrariá-la. – Eu não admito discussões ou bagunça durante as refeições. – Ajeitou a blusa no corpo e em seguida os cabelos, mesmo estando estes ainda impecáveis.

– Essa descompensada pensa mesmo que a casa é dela? – Mani se esticou para me sussurrar.

– Chega, eu já disse! Quero todos comendo, em silêncio e com sorrisos no rosto, porque o horário do almoço é um horário sagrado! Camila aceitará o dinheiro, o acordo foi negado, a discussão sobre o acordo está encerrada e o próximo que ousar trazê-lo à tona uma próxima vez se arrependerá amargamente, ouviram bem? Fui clara? – As cabeças simplesmente assentiram, inclusive a minha. – Alguma dúvida? – O som das gargantas engolindo em seco foi o único som escutado. Que droga de mulher era essa? E por que até eu temia enfrentá-la? – Pois bem. Vamos aproveitar o restante da refeição.

– É assim que fazem os Jauregui. – Lauren soprou em meu ouvido. – Bem vinda à família.

E então me lembrei outra vez do paraíso descrito por Veronica mais cedo naquele mesmo dia e me pus a pensar que apesar de todas as aparentes maravilhas aquela soava muito mais como a descrição de um passado feliz do que como um paraíso particular. A verdade é que o meu mundo ideal não seria em nada perfeito e meus dias não seriam inteiramente de Sol se não tivesse ao meu lado a minha família. A minha nova família. Minha Lauren, minha Normani, minha Dinah e minha Ally. Sorri fitando as garotas espalhadas pelo sofá conversando junto aos demais e meu coração começou a bateu mais forte e tão mais pesado dentro do peito. Minha Clara. Meu Mike e meu Chris.

Foi este o dado momento em que percebi que o tudo, aquele suposto “tudo” perfeito, nada significava se não os tivesse comigo. Os que chamei de meus. E de repente cuidar de dois antigos já não parecia uma tarefa tão árdua ou assustadora agora que sabia que eu também teria quem cuidasse de mim. 



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