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História Guarda Vidas - "...harmonia..." - Parte 1


Escrita por: ISBB5H

Capítulo 47 - "...harmonia..." - Parte 1


Fanfic / Fanfiction Guarda Vidas - "...harmonia..." - Parte 1

Twitter: ISBB5H

 

Narração: Camila

Miami – South Beach – Posto da Guarda – 09:15

Deixei que meus dedos passeassem pela superfície irregular das tábuas de madeira. Pintadas de azul caribe, descascadas e cheias de pontas ásperas, mas tão familiares às minhas digitais. Encontrei a meio percurso o binóculo gasto e agarrei-o, pressionando-o contra o peito. Passei a corda pelo pescoço, sentindo seu peso em meu corpo e me assustei ao escutar a porta bater com força atrás de mim. – Hey! – Gritou uma mulher. – O que pensa que está fazendo aqui? – Seus cabelos estavam soltos, mas pareciam pesar demais para que a brisa os balançasse. Castanhos, ondulados, mais que os meus. Seus olhos também escuros e arredondados, assim como suas bochechas cheias, castigadas pelo sol forte. Vestia um short preto e uma camiseta já gasta da Guarda, mas seus traços denunciavam a pouca idade. – Perguntei o que está fazendo aqui? Vocês turistas não podem fazer o que bem entendem! – Me esforcei para encaixá-la em alguma, qualquer uma das minhas memórias, mas nada aconteceu. Eu não a conhecia e claramente nem ela a mim.

– Eu… – Tentei pensar na melhor maneira de desfazer aquele mal entendido, mas de certa forma me divertia o fato de não ser reconhecida. – O meu nome é Camila e eu…

– Você vai sair. – A novata cruzou os braços abaixo dos seios e se esforçou em sua pior careta. – Imediatamente.

Antes que eu pudesse me mover, uma voz familiar preencheu o apertado ambiente. – Está tudo bem por aqui? – Ellie perguntou ao entrar. Carregada pela surpresa da minha presença, ignorou a garota desconhecida e cortou o pouco caminho restante entre nós duas, me tomando em seus braços com urgência. – Mila, eu senti tanto a sua falta! – Girou nossos corpos alegremente em meio a risos. – E me perdoe pelo mal entendido, ela é nova aqui e ainda tem muito que aprender.

– Está tudo bem, não se preocupe. – Pisquei para a novata. – Ela estava apenas fazendo o seu trabalho. – Estiquei um braço para frente como uma oferta de paz. – Não tivemos a chance de nos conhecer ainda, mas o meu nome é Camila e eu também trabalho para a Guarda. 

A garota não ofereceu a mão. Ou seu nome. Ou mesmo um sorriso. – Trabalha mesmo? – Pediu por uma confirmação à supervisora que apenas acenou com a cabeça, encorajando-a a se desculpar. – Ok. Foi mal. Eu não poderia simplesmente adivinhar, você nem ao menos está usando um uniforme.

 – De qualquer maneira. – Elena interrompeu-a. – É muito bom te ver, Mila. Você faz uma falta enorme, sabia?

– Também senti a sua falta. – Deixei meus cabelos serem afagados vagarosamente, exatamente como a loira gostava de fazer. – Estou aqui para entregar alguns documentos. Para você.

– E o que vou encontrar dentro daquele envelope?

– O meu retorno. – Respondi animada.

O semblante de Ellie se apagou diante da notícia. – Mesmo? Isso é, isso é maravilhoso! E para que dia agendaram o seu retorno?

– Para hoje. N-não te… Avisaram?

Ela riu sem humor. – Não. Não avisaram. – A supervisora olhou para baixo, para o lado e todas as direções possíveis parecendo confusa quanto ao que fazer em seguida, até que seus olhos perdidos se prenderam na figura, ainda estranha, entre nós. – A propósito, essa é Maia. Nossa nova aprendiz.

Franzi o cenho confusa quanto ao rumo dado a conversa, mas não protestei. Imediatamente me recordei do programa em questão. Uma proposta integrada a escolas do estado para contribuir com o desenvolvimento profissional, intelectual e social de jovens economicamente vulneráveis. – Mas os aprendizes designados à Guarda não costumam ficar na Central?

– Sim. Costumam. Mas digamos que Maia é uma garota difícil de ser agradada. De qualquer forma algum progresso tem sido feito aqui na praia, embora basicamente todas as suas atribuições consistam em me seguir para cima e para baixo.

– Quantos anos ela tem? – A garota rolou os olhos aborrecida com o fato de ser mencionada como se não estivesse ali conosco.

– Dezesseis. A escola e os pais a inscreveram no programa para tentar ensiná-la algo sobre habilidades de trabalho e responsabilidade. – Se aproximou para cochichar. – A verdade, entre nós, é que eles não conseguem lidar com ela dentro de casa todo o tempo.

– Posso entender perfeitamente. – Concordamos. – Mas e quanto a mim? – Perguntei ansiosa.

– Mila.

– O que? – Meu coração acelerou.

– Sei que o seu retorno foi assinado para hoje, mas talvez seja melhor revisitarmos essa decisão.

– Do que está falando?

– A Guarda tem ainda algumas preocupações em relação a sua volta.

– Meus exames estão impecáveis! – Rebati. – Eu posso voltar.

– Sim, mas o seu acidente… – Deixou que a frase morresse ao me fitar com pesar. – Maia, você poderia nos esperar do lado de fora? Por favor? – A garota relutou, mas acabou por concordar, nos dando toda a privacidade para prosseguir. – Camila, o seu acidente foi, sabe. – Umedeceu os lábios. – Você tem sorte por estar aqui.

– Não é apenas sorte. Eu lutei para estar de volta. Tenho trabalhado duro na minha recuperação e você não pode tirar isso de mim!

– Ninguém está tentando lhe tirar isso, especialmente eu.

– Mesmo? Porque me custou quase um mês para conseguir essas malditas assinaturas. Todas as vezes em que ia até a Central um novo empecilho surgia. Vindo de lugar nenhum! E você esteve incomunicável por todo esse tempo. – Ellie levou uma das mãos até a cabeça, embrenhando os dedos entre os fios claros e respirando com dificuldade.

– Eu achei que você morreria. – Sua fala me fez arrepiar. – Quando recebi a notícia, e quando estive na sala de espera do hospital e quando a vi naquela cama pela primeira vez. E então, quando você não morreu, eu achei que não recuperaria os movimentos do corpo. Depois acreditei que a fisioterapia não seria o suficiente para ajudá-la. E a cada vez que acreditei em alguma coisa, você superou. Se reergueu e me provou errada de novo e de novo. Eu sei, agora, que você é capaz de voltar ao trabalho porque sei que é capaz de qualquer coisa se apenas quiser. A questão em jogo é: temos mesmo que nos apressar?

– Mas eu estou pronta!

– Seu corpo está, mas e quanto ao resto?

– Basicamente o que está me dizendo é que não me deixará voltar ao trabalho…

– Eu disse que não tiraria isso de você e vou manter a minha palavra. – Segurou um de meus braços com delicadeza. – Mas façamos isso devagar, tudo bem? Respeitando o seu tempo, o meu tempo e de seus colegas de trabalho. Sei que não é o que esperava ouvir hoje, mas acredite, eu guardo a mais nobre das intenções em relação a você.

– E o que você sugere?

Mordeu o lábio inferior. – Você poderia, talvez, ajudar a Maia?

E eu bufei em resposta. – Como uma babá?

– Não! Como uma… Orientadora. Orientá-la quantos as funções, as obrigações e responsabilidades de cada tarefa. Acompanhá-la na patrulha também. Veja, as praias estão cheias, estamos em menor número e incapazes de dar a Maia todo o suporte necessário para dominar o trabalho.

– Eu… – Olhei pela janela e fitei a garota que nos aguardava com impaciência. Seus braços permaneciam cruzados e seus pés batiam com força contra a rampa de madeira. – Não quero fazer isso.

[…]

Miami – South Beach – Patrulha – 10:00

Maia bocejou pela centésima vez em menos de sessenta segundos. – Entediada? – Resmunguei.

– Tente “sonolenta”. – Me respondeu caminhando de olhos fechados. – Não sei como se acostumam a acordar tão cedo. É uma droga. – Cantarolei uma concordância. Nunca tive muitos problemas para acordar cedo desde que fosse para vir ao trabalho. A praia pela manhã, antes do nascer no sol, era o melhor lugar para se estar. – Por que suas pernas são assim?

Perdi a contagem dos passos ao olhar para baixo, sentindo qualquer que fosse o conteúdo em meu estômago se revirar ali dentro. Tornei a fitar a garota que mantinha os olhos fechados, mas dessa vez envergonhada das marcas em meu corpo. – Eu sofri um acidente há alguns meses. – Respondi baixo.

– E por isso esteve afastada da função?

– Tenho certeza que não é da sua conta. – Rebati desconfortável.

– Que tipo de acidente?

– Você não acha que está fazendo perguntas demais? – Ela deu de ombros. – Além disso, me desculpe se as minhas cicatrizes são feias demais para seus olhos, não posso simplesmente fazê-las desaparecer da noite para o dia.

Ela riu. – Oh, elas não são feias. São legais para caralho! – Encarei-a com espanto. – Foi mal pelo caralho. Pelo palavrão, eu digo. Mas é, elas são legais. As suas cicatrizes.  

Olhei para minhas pernas mais uma vez e neguei em confusão. – Por quê seriam legais? – As marcas surgiam principalmente abaixo do joelho. Não eram muitas, mas fortes como arranhões em alto relevo. Passavam facilmente despercebidas por outros olhos, mas não pelos mais atentos ou pelos meus. Nunca pelos meus.

– Porque elas provam que você é um pouco durona, sabe? Que as pessoas não deveriam se meter com você. E te deixam misteriosa também, então se alguém lhe perguntar como as conseguiu você não precisa choramingar sobre o seu acidente, mas inventar alguma história incrível sobre uma briga de rua, ou um ataque de… Um urso!

– Um ataque de urso? Em Miami?

– A história é sua. Se vire com ela.

Não evitei o sorriso. – Hey! Eu não choraminguei, ok?

Ela gargalhou. – Desculpe. Não estava tentando te irritar.

– É, você estava sim. – Neguei com outro sorriso. – E então, agora é a minha vez de perguntar. Vai me dizer por que está aqui? Ou qualquer coisa sobre você.

– O que quer saber? Me obrigam a vir todos os dias e é isso.

– Não gosta?

– A Guarda é melhor do que o último emprego em que me colocaram. Eu só trabalho meio turno, logo não é muito de qualquer maneira. Minha única reclamação é o horário. Inferno, é apenas cedo demais.

– Porque te obrigam?

– Meus pais são uma droga. – Ela murmurou baixo.

– É. Acho que os meus também. – Confessei achando seu comentário mais do que pertinente.

– Mesmo? Eles… Também não dão a mínima para você?

– Acho que posso dizer que sim. – Pensei no único tópico com o qual vinha me obcecando nos últimos dias. – E estou prestes a reencontrá-los em alguns dias.

– Bom, meus pais são uma droga e eu tenho que vê-los todos os dias, então não venha choramingar mais uma vez. – Sua fala se encarregou de varrer o clima ruim para debaixo da areia e voltamos a patrulhar. – Que se dane. – Ela disse de repente. – Todos eles. No dia em que eu completar dezoito anos sairei de casa.

– Oh, é mesmo? E para onde você vai?

– Qualquer lugar!

– E com que dinheiro pretende se manter?

– Vou conseguir algum trabalho.

– E que tal esse? – Maia me encarou como se eu tivesse dito algum absurdo. – Olha, a Guarda não tem que ser exclusivamente uma punição ou obrigação imposta pelos seus pais e pela escola. Se você se esforçar e se dedicar ao serviço, tenho certeza que isso pode virar mais do que um punhado de horas em seu currículo. Nós precisamos de ajuda aqui. De mais funcionários que se importam. Se esforce e esse pode ser o seu bilhete para fora de casa, se essa ainda for a sua vontade quando a hora chegar.

– Você acha mesmo? Que iriam me querer aqui?

– Por quê não?

– Porque eu sou a garota problema. De todos os lugares. Sempre.

Que coincidência, não? Não era eu a garota problema até pouco tempo? Olhei para as orbes castanhas, um pouco mais claras do que as minhas e para seu rosto juvenil e emburrado que tentava em vão, esconder toda a inocência e vulnerabilidade. – Acredite… Você encontrou o lugar certo para estar.

[…]

Miami – South Beach – Patrulha – 15:40

– Tubarão! – Maia gritou. Levei as duas mãos ao peito para me recuperar do susto repentino e tentei reordenar meus pensamentos, mas assistindo minha persistente confusão ela logo tratou de esclarecer. – Você pode dizer que conseguiu as cicatrizes após um ataque de tubarão. Que tal? Soa incrível para mim. – Dei a ela o meu mais tedioso olhar, fazendo-a bufar. – Por quê acha que te colocaram como minha babá? O que será que você fez de tão errado?

– Nada. Ellie só quer que eu pegue leve por algum tempo.

– E realmente vai, porque não estou sequer autorizada a entrar nessa droga de água.

– Bom, eu sinto falta da ação.

– Aposto que sente.

– E quanto a Normani, o que acha dela? – Tive que perguntar. Era improvável que não tivessem se conhecido.

– Ela é um pouco estranha, sinceramente.

– Um pouco ou completamente? – Rimos juntas.

– Completamente, veja como ela está atormentando aquela pobre mulher. – Maia apontou em uma direção e apertei meus olhos para melhor analisar a cena. Sorri ao perceber que Mani estava tentando derrubar alguém na areia, mas não um alguém qualquer.

– É a minha namorada. – Sorri largo. – A “pobre mulher”.

A garota abriu bem olhos analisando, há distância, o contorno de Lauren que estava ainda de costas por não ter nos visto. – Espera, você tem uma namorada?

– Sim. Uma namorada. – Zombei de sua incredulidade. – Algum problema?

– Bom não, não sou eu quem a beija. – Empurrei-a pelos ombros como costumava fazer quando Normani dizia alguma besteira para me divertir. Apertei os passos e quando próxima de minha vítima, vendei seus olhos com as minhas mãos.

– Essa é a brincadeira mais estúpida do mundo, Camila. – Normani disse enquanto admirava as próprias unhas. – Até parece que Lauren não te reconheceria.

– Gata! Que estraga prazeres! – Biquei os lábios de Lauren assim que suas mãos me puxaram para frente, colando nossos corpos. – Oi amor. – Olhei para trás a procura da novata, mas não a vi em lugar algum. – Onde…

– Maia? Deve ter fugido enquanto você não olhava. Ela é sempre a primeira a ir embora.

– Quem é Maia?

Normani abriu seu sorriso mais maléfico e o dirigiu a Lolo. Pobre Lolo. – Não é ninguém importante. – Minha namorada assentiu com inocência. – Somente uma novata que será acompanhada por Camila nas próximas semanas. – Suas mãos apertaram minha cintura. – Uma garota linda, um pouco mais jovem que Camila e eu. – Tente “muito mais jovem”. Uma adolescente. – E tão, tão bonita. E talentosa também. – Seus lindos olhos verdes se alternavam entre a morena e eu. – Tenho certeza que Mila e Maia se divertirão muito nos próximos dias. Oh, vejam só, os nomes até mesmo combinam.

– Ok, você já se divertiu bastante por aqui. – Afastei minha amiga com pressa. – Por que não vai procurar por outra pessoa para atormentar? Que tal Ally? Ou Dinah? Elas estão bem ali. – Sinalizei para a garota mais alta sentada na areia e com um olhar distante e para a baixinha que conversava alegremente no telefone.

– Dinah está no mundo da lua hoje, mas atormentar Ally me parece uma boa ideia.

Assim que Lauren e eu fomos deixadas, suas mãos apressadas e seus lábios atrevidos não tardaram a buscar pela minha carne e pelo meu pescoço. – Isso faz cócegas. – Ri e reclamei ao mesmo tempo.

– Não me importo. Senti a sua falta. – Respondeu-me com extrema mansidão. – E também estava animada para saber como foi o seu primeiro dia de volta ao trabalho. – Desviei nossos olhares e ela logo compreendeu que algo estava fora do lugar. – O que foi? O que aconteceu?

– Ellie acha que eu ainda preciso de algum tempo até retomar as minhas funções. – Sua expressão permaneceu impassível. – E você concorda. Excelente!

– Camz…

– Tudo bem, Lauren. – Me afastei da maior. – Aparentemente eu não tenho nenhum controle sobre a situação.

– Gosto da ideia de você pegando leve nos primeiros dias, mas não gosto de saber que te colocaram com uma nova parceira.

Ergui uma mão para cobrir seu rosto. – Antes que continue, deveria saber que está com ciúmes de uma adolescente de dezesseis anos.

– Ei, Normani não me contou essa parte!

– Claro que não sua tonta. Ela queria te provocar. – Cruzei os braços.

– Camzi… – Lauren se arrastou pela areia e insistiu até me ter de volta em seus braços. – Não fique tão aborrecida. Tenho certeza que Ellie apenas quer o seu bem, então aproveite a oportunidade para trabalhar seu caminho de volta até o topo, tudo bem? – Concordei em silêncio e com um bico desfeito a beijos longos e deliciosos. – Que tal seria se saíssemos para comer alguma coisa? As meninas vieram comigo e podemos comemorar sua volta ao trabalho.

– Claro. – Topei sentindo meu estômago roncar em concordância.

– Além disso, Dinah está estranha hoje… Acho que precisa de alguma animação.

– O que ela tem?

– Não sei ao certo, ela não diz. Está pensativa. Calada demais e diferente de como costuma estar, mas acredite, não deve ser nada importante. Podemos ir? – Assenti. Chegamos ao estacionamento de onde Lauren chamou todas as outras garotas.

Olhei para trás ao ouvir a voz de minha amiga, mas logo percebi que não era comigo que ela falava. – Ei… – Vi Normani se afastar, atravessando o estacionamento enquanto chamava por Dinah, que permanecia distante. Àquela altura já não conseguia ouvi-las e tudo o que restou foi esperar que qualquer que fosse a questão com a mais alta, Normani lidaria da melhor maneira para que enfim tudo voltasse a sua mais perfeita, imperfeita, ordem.

[...]

Miami – South Beach – Patrulha – 16:05

Narração especial: Dinah Jane

O que une as pessoas? Que força, acaso ou cola é capaz de transformar completos estranhos, ou mesmo um bando de pessoas próximas em um verdadeiro grupo?

As histórias são diferentes. Eu as vejo em meu trabalho, em minha família e entre meus amigos. Sujeitos se unindo a outros sujeitos, tornando-se grupos, famílias e constelações inteiras, gigantescas e complexas. Verdadeiras coleções de estrelas que, veja só, se agruparam simplesmente para protestar contra a escuridão da noite.  

Aconteceu no dia em que conheci Ally, a menor estrela em meu conjunto e também a de brilho mais intenso. A alegria e o otimismo em forma de pessoa, ou melhor, de estrela. A empatia foi imediata. Nos vimos e nos gostamos. Conversamos e nos apegamos. Convivemos e nos amamos. Para sempre.

Aconteceu também quando conheci Lauren. Céus, Lauren. Minha estrela mais redonda e preciosa. A fonte de uma luz que guia, protege e traduz o fio de fragilidade que tudo aquilo que é belo secreta. 

E então surgiu Normani. Que cintila e ofusca, mesmo quando não tem a intenção. Acontece que ela é simplesmente bela demais. Se sobressai aonde quer que esteja. Um astro, daqueles.

Por fim… Camila, e há quem diga que desde o princípio sua passagem se planejara como a de uma estrela cadente. Rápida. Bela e… Fujona. Mas adivinhe só? Eu a peguei. E não importa o que digam, sim, eu a peguei e pretendo mantê-la sempre próxima a mim. Onde verdadeiramente importa. A verdade seja dita, todas nós nascemos para brilhar. Juntas. E juntas brilhamos.

E ainda sim eu me pergunto… Qual o nome dessa força que une as pessoas?

– Ei… – Percebi Normani se aproximar. – O que está fazendo? As garotas estão nos esperando para comer, vamos logo! – Permaneci em minha posição reflexiva, admirando o céu se colorindo com os mais diversos tons de laranja. A morena reclamou uma, duas e três vezes, mas por fim se decidiu por sentar-se na areia ao meu lado. – Okay. Você tem toda a minha atenção. Pode me dizer o que está acontecendo? Você esteve assim, calada, durante todo o dia e essa certamente não é a Dinah que eu conheço e am… – Calou-se de repente me fazendo rir discretamente.

– Como ia dizendo?

– Nada. Eu não ia dizer nada. Não seja uma idiota gigante.

Arqueei as sobrancelhas. – Tem certeza? Parece que ia dizer algo sobre me amar.

– Você se enganou. Obviamente. Eu não diria isso nem em um milhão de anos. – Enterrou os pés na areia.

– Como queira mulher.

– E quanto a você?

– Eu o que?

– Você diria algo assim?

Pigarreei. – Não. – Respondi depressa. – Nem em um milhão de anos. – Olhei para Normani e esperei até que ela me encarasse de volta, e quando o fez, entrelaçamos nossas mãos e sorrimos cúmplices.

– Vai me dizer o por quê de todo esse silêncio?

– Não tem uma razão, mas estou bem, não se preocupe.

– Certeza? – Assenti. – Podemos ir embora? As garotas estão nos esperando. – Concordei e segui a morena em direção ao estacionamento. Ao chegarmos, observei Normani se afastar e correr até as garotas que gargalhavam alto. Ally murmurava uma canção qualquer e rebolava desengonçada, enquanto Camila questionava a razão de tão estranho som. – Uh, eu conheço essa música! Fancy, Fancy!

– Acertou Mani! – Ally exclamou. – Agora outra… – Recomeçou com seus ruídos desconexos.

– Que merda? – Mila resmungou até o instante em que uma ideia lhe invadiu forte. – Drunk in Love, Drunk in Love! – Ergueu os braços para gritar.

Assistindo-as brincar, me comovi. Havia beleza naquela união. Havia proporção em cada ato, gesto e sorriso. Havia ordem na maneira como cada uma delas se colocava diante da outra. Havia união em primeiro lugar. Havia uma porção de outras coisas que podem passar despercebidas por todas as outras pessoas, mas não pelas cinco de nós.

Bom, eu não sei quanto ao resto do mundo, mas me arrisco a dizer que em nosso caso, aquela tal força é nada mais, nada menos, que pura harmonia



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