02 de dezembro de 2016 - Um dia para a guerra
Point View Of Lauren
Ainda não consigo acreditar que conseguimos dormir dez horas sem nem uma interrupção. De acordo com as mensagens em meu celular e com meus pais, nada estranho aconteceu. E isso é estranho. Todos os presságios chegaram pela manhã ou madrugada, quando menos esperávamos, mas agora não havia acontecido nada. Mandei uma mensagem para Camila assim que levantei da cama, mas provavelmente ela ainda está dormindo.
É estranho não tê-la comigo pela manhã já que me acostumei a dormir com ela quase todos os dias, e nos últimos não têm sido assim. Tomar café sem ela também se tornou estranho, mas suportável, apesar de eu ter checando o celular a cada cinco minutos na esperança de uma mensagem dela.
Não demorou nem dez minutos para que minha mãe me pedisse ajuda para o almoço. Ela estaria de férias até depois do natal, o que significa que meus irmãos e eu seriamos ligeiramente escravizados.
- Então, você e Camila - ela começou enquanto pego outra cenoura para descascar.
- Eu gosto dela - disse contida. - Gosto mesmo dela...
- Gosta? - Ela perguntou.
Eu a olhei, e ela havia dado uma pausa no corte das batatas para me fitar. Tinha uma sobrancelha arqueada e o lábio ligeiramente torcido, como costuma fazer quando quer uma confissão sincera minha ou dos meus irmãos - principalmente quando se trata de alguma besteira que fizemos.
- Tudo bem, mais que gostar - eu disse enquanto volto a descascar o legume em minhas mãos. - Acho que... Vou pedi-la em casamento, na verdade... Quando ela começar o terceiro ano. Foi o que pensei, mas...
- Está insegura?
- Um pouco... - Murmurei. - Ela é minha alma gêmea, mamãe... - Sorri meio boba deixando a cenoura de lado e pegando outra. - Literalmente. E não vamos casar enquanto ela ainda está cursando a escola. Sabe?
- Então quer mesmo se casar? - Ela pareceu surpresa. - Nunca pensei que você iria querer isso algum dia... Quero dizer, entre os seus irmãos, você sempre foi a mais desapegada de compromissos amorosos. Mal sei como Alexa conseguiu lhe convencer namorar.
- Simples - respondi. - Era mais fácil pra desviar dos flertes interesseiros. Mas Camila é diferente e eu não quero perder isso... Bom, vou pensar sobre! Ainda tem a minha formatura, e uma guerra.
- Amanhã - ela disse baixo.
- Eu sei... É tão estranho - sorri descrente. - Amanhã à noite teremos uma guerra na floresta, estamos esperando algo que vai marcar isso hoje e... Estamos dormindo, ou cortando vegetais para o almoço.
Senti sua mão acariciar e apertar meu ombro para então me puxar com cuidado. Deixei a faca na pia, junto da cenoura semidescascada e me virei para minha mãe. Ela está sorrindo, com segurança. Suas mãos quentes envolvem meu rosto com cuidado, e ela suspira suavemente:
- Você não sabe o quanto estamos orgulhosos de vocês - ela disse. - Em meio a tudo tomaram as rédeas e têm lutado com unhas e dentes pelo que acreditam e pelo que herdaram e por pessoas que sequer conhecem. Por humanidade provavelmente perdida por si... Vocês têm nos dado orgulho mais do que nunca. E sei que continuarão assim acima da guerra, vencendo ou perdendo. Sabemos o que pode acontecer em uma guerra, vocês sabem... Por isso, tenha isso em mente. E não permita que seus irmãos esqueçam.
Eu segurei seus pulsos com carinho e meus olhos lacrimejaram, tornando minha visão turva.
- Nós vamos ficar inteiros - sussurrei. - Preciso acreditar nisso.
Ela sorriu, carregada com carinho e compaixão.
Sei que ela não acredita que continuaremos todos vivos, e eu sei que estaremos aos pedaços ao fim disso. Talvez o natal não seja tão bom como tenhamos planejado, e talvez nossas mentes e corpos ganhem marcas eternas como lembrança da fatídica noite, como vêm ganhando nos últimos tempos.
Mordi o canto de meu lábio e tentei sorrir, mas meus lábios tremeram denunciando a angustia. Pela primeira vez me permiti assumir que tenho medo e não receio, pela primeira vez eu tive coragem de olhar para o amanhã e perceber que há possibilidade de nos perdermos, de mudarmos e nos perdermos para nunca mais encontrar o caminho de volta.
E isso por que eu nunca pensei que minha vida iria além de lutar com lobisomens descontrolados e vampiros raivosos.
- Por que não vai ver a Gigi, hm? - Ela perguntou com um sorriso suave. - Debbie me ligou hoje cedo, ela não está nada bem. Zayn sequer saiu de perto dela.
- Vou mesmo... Ele comentou que ela estava mal essa madrugada, mas não pensei que fosse nada sério - disse e olhei os legumes que ainda falta descascar. - Mas antes... - acenei com a mão e todos ficaram alinhados na pia, sem casca. - Pronto. Agora eu vou.
Mamãe riu baixo ao ver a cena e balançou a cabeça:
- Você não tem jeito, Lauren.
- Nha - respondi com uma caretinha.
Beijei sua testa e me apressei para o andar superior. Troquei o short e a blusa por uma meia calça grossa e uma calça jeans bem grossa e quente, meias coturnos a fim de barrar o frio que está lá fora. Vesti uma camisa de mangas longas e gola alta e por cima uma a jaqueta mais quente que tenho.
Mandei uma mensagem para Camila, mesmo sabendo que ela continua dormindo e então sai com meu carro depois de me despedir de minha mãe.
No caminho avisei a Zayn que estava indo, e para minha surpresa, ele estava a minha espera do lado de fora, com um cigarro e um casaco pesado apesar de usar apenas uma calça de moletom e meias nos pés. Estava lá, escorado na varanda da mansão dos Duff.
- Então? Como ela está? - Perguntei já saindo do carro.
Ele me olhou estranho. Zayn tirou o cigarro da boca e soprou a fumaça, parecendo inquieto.
- Bem - disse.
- Bem? Soube que ela passou a noite inteira - respondi me aproximando.
Ele ergueu as sobrancelhas e assentiu.
- É... Ela passou... Ahn... Vem, tá frio aqui fora.
Uni as sobrancelhas, um tanto confusa pelo jeito dele, mas o segui para dentro depois que ele jogou o cigarro fora. Estava praticamente na metade quando o fez.
- Os pais delas saíram, e a Perrie acabou indo com Harry rondar a cidade - ele disse subindo as escadas. - Gigi está lá em cima, ainda enjoada...
- O que ela tem? Por que não deram uma poção para ela? - Perguntei.
- Na verdade, nós demos... Mas não funcionou - ele disse inquieto. - Lauren, será que eu posso confiar em você? Contar uma coisa que ninguém além de nós sabe?
- Claro - respondi unindo as sobrancelhas.
- Tudo bem, ahn... Vem, vamos lá vê-la, aí eu conto - ele disse.
Point View Of Dinah
A mesa do almoço está mais silenciosa que o normal. Normalmente essa hora nós conversamos sobre o que aconteceu pela manhã, sobre novidades ou qualquer coisa, mas ao invés disso há tensão. Tia Andrea mal falou comigo ou Normani enquanto preparávamos o almoço com ela, e tio Derrick só saiu do escritório na hora de comer. Mani e eu chegamos à conclusão que tem a ver com a proximidade da guerra, mas a verdade é que nós não temos certeza.
Suspiro sutilmente e cutuco uma ervilha com o garfo antes de espetá-la e levar até a boca.
- Então - tio Derrick começou - quando iriam nos contar?
Ergui os olhos para minha tia, que passeava com os olhos entre Mani e eu. Engoli a pouca massa triturada da ervilha e olhei para meu tio, esperando que ele diga do que se refere, mas parece que ele não irá fazê-lo.
Desde que meus pais morreram, meus tios têm cuidado de mim como filha deles. Eles estão sempre comigo, apoiando e dando conselhos em tudo que lhes peço e conto... E tudo que eu tento fazer desde que cheguei é agradá-los. Treinando mais tempo, tendo melhores resultados na escola e em qualquer coisa que escolhesse fazer sem trapacear. Tudo para que eles não se arrependam da escolha de cuidar de mim. A única vez que pisei fora da linha foi quando me apaixonei por Mani, e agora, estávamos andando totalmente fora da linha, mas eles nunca souberam disso.
Ao menos eu acho que não.
- Do que está falando, pai? - Mani perguntou parecendo ainda mais confusa que eu.
Meu tio largou o garfo serenamente e uniu as mãos acima do prato, com um cotovelo de cada lado do mesmo. Seus dedos se entrelaçaram e seu olhar atento repousou sobre ela.
- Sobre o que acha que eu estou falando, Mani? - Perguntou.
Ela se encolheu um pouco e me fitou de soslaio.
- Nós sempre estivemos cientes da bissexualidade de vocês - tia Andrea começou -, então porque nos esconderam que estão juntas como se fossemos puni-las por isso?
- Mãe eu não...
- Não negue Normani - tio Derrick mandou. - Nada de mentiras nessa casa, lembra?
A morena se recolheu e eu baixei o olhar, sentindo meu coração disparar e meus olhos arderem.
- Eu não queria decepcionar vocês - sussurrei. - Fiquei com medo que ficassem com raiva ou decepcionados se assumíssemos um relacionamento, porque somos primas - assumi de uma vez. - Eu tentei evitar, a Mani também, mas...
- Nós nunca julgaríamos vocês por se apaixonarem - tia Andrea me interrompeu. - Sei que são primas, e que é um tanto confuso, mas nunca deixaríamos de pensar na felicidade de vocês duas para pensar no que as pessoas desse lugar poderiam dizer. Vocês duas são nossos orgulhos! Têm feito tudo certo, e não erraram em se apaixonar. Essas coisas apenas acontecem.
- Não estão furiosos? - Mani murmurou.
- Mas é claro que não! - Tio Derrick respondeu. - Amanhã estaremos em uma guerra, e se algo nos acontecer, estaremos tranquilos porque sabemos que nossa menina estará em boas mãos - ele sorriu para ela e então para mim. - Dos dois lados. Nós as educamos certo, então nunca tenham medo de nós...
- Não temos - eu disse baixinho.
Eles sorriram e demos todas as mãos, formando um círculo.
- Amanha à noite, daremos o nosso melhor - ele disse. - E eu sei que esse será o melhor de todos. E se algo acontecer a mim, por favor, meninas cuidem de Andrea.
Meu estômago embrulhou.
Point View Of Liam
- Por favor, Sean, quem olha até pensa que em algum momento você parou para olhar para mim - eu disse. - Podem pensar até que eu consenti e concordei com tudo isso em livre e espontânea vontade!
A discussão havia começado assim que Sean entrou no quarto perguntando qual era meu problema com ele. O motivo de eu estar o ignorando há dias, como se ele não soubesse disso.
Escorreguei minha cadeira de volta para a escrivaninha e coloquei os fones no pescoço, voltando para meus arranjos musicais... Algo que estava fazendo antes de ele invadir meu quarto com todo o seu drama. Não tinha muito tempo para montar essa amostra, e com sorte, eu passaria para um dos melhores programas de música do país e daria adeus a todo esse drama baseado na minha secreta paixão por Melanie.
- Liam... - ele começou, mas fomos interrompidos pela porta.
- Não é possível! Vou ter que começar a trancar essa droga - resmunguei.
Olhei para a porta, e quem estava lá eram os nossos pais. Fitando-nos seriamente. Os dois entraram no quarto em silêncio, ignorando minha fala anterior e eu sabia que enfrentaríamos uma conversa de família. Elas não costumam demorar muito. Os meus pais nunca foram muito fãs de enrolar e de drama, então, diferente do meu irmão gêmeo extremamente dramático, eles vão direto ao assunto.
Os dois se sentaram em minha cama e meu suspirou pesado.
- O que está acontecendo entre vocês dois? - Perguntou.
Olhei para o meu irmão e ele me olhou de volta, como se dissesse “eu avisei” e então voltamos a olhar nossos pais.
- Tem a ver com a Del Rey? - Mamãe perguntou.
- Liam acha que eu a roubei dele - Sean disse, recebendo meu olhar furioso em troca. - Ele gosta dela. E eu sabia disso. mas pensei que fosse para ela escolher um de nós quando na verdade nossa conversa que era um trato havia sido sobre desistir dela... Eu não prestei atenção nela, para ser sincero. Ele está furioso comigo e agora pretende ir para Alberta estudar música e me deixar aqui com ela.
Meu pai estalou a língua e minha mãe me fitou séria.
- Vocês sempre foram parceiros. A vida inteira. - Ela começou. - Quando um de vocês aprontava o outro nunca dedurava. Ficavam de castigo juntos se fosse necessário, mas não se traiam. Quando um ficava doente o outro ficava e quando um se machucava o outro se recusava a sair de perto...
- Éramos crianças, mãe... - murmurei.
- Não. Vocês eram irmãos. Eram parceiros - meu pai disse. - E eram sinceros um com o outro. Nós entendemos que dói Liam, e você errou em quebrar um acordo, Sean... Mas vocês são irmãos e gêmeos. Nasceram juntos e não deveriam passar por isso tudo sozinhos.
Meu peito apertou.
- Faz semanas que vocês não conversam direito... E isso tem piorado, chegou ao ponto de simplesmente não conversarem. Tem uma guerra chegando, e mesmo que não queiramos assumir isso, vocês correm o risco de ficarem sozinhos com sua mãe, e vão ter que crescer.
- Nós crescemos pai - eu disse. - Sean ficará com ela, e eu vou atrás do que quero pra minha vida... Você vai estar bem com nossa mãe quando a guerra chegar ao fim, e vamos poder nos despedir em dezembro.
- Pensei que o ano só começasse em setembro - mamãe disse.
- Ele quer ir antes - Sean esclareceu.
Meu pai me olhou fixo, mas dessa vez sem repreensão ou cobrança. Ele apenas olhou para mim.
Point View Of Justin
Não costumava vir par ao telhado durante o dia, mas hoje é um dia especial... Um único dia calmo entre tantos outros conturbados. O sol parece um pouco mais quente apesar do frio constante... Esfrego uma mão na outra e a coloco entre minhas pernas, na tentativa de aquecê-las. Sei que posso usar a magia, mas é bom me sentir normal uma única vez em tanto tempo.
- Justin? - Ouvi a voz de meu pai.
Uni as sobrancelhas, percebendo que ela parece mais perto que o comum.
- Ah, achei você! - Disse.
Olhei para trás, na direção da janela de meu quarto para então ver Desmond Styles, meu pai, saindo por ela desajeitado. Ele sorriu para mim quando conseguiu o extraordinário feito e então se aproximou andando desajeitado para se sentar ao meu lado.
- Você tá enferrujado! - Eu disse sorrindo brevemente.
Papai quem me mostrou esse lugar quando eu era mais novo. Ele sempre vinha me procurar primeiro aqui quando ninguém conseguia me achar, e com o tempo, eu passei a vir apenas à noite, para observar tudo e pensar.
- Dê créditos ao seu pai! - Ele disse sorrindo. - Eu envelheci um pouco, ora!
- Um pouco? - Ergui uma sobrancelha. - Pai, você não vem aqui há uns oito anos!
- Por aí - ele disse se ajeitando ao meu lado. - Então, por que está aqui agora? Até onde lembro você vinha quando queria ficar sozinho... Quer mesmo ficar sozinho agora?
Eu o olhei e enrijeci os maxilares sacudindo brevemente meu tronco para frente e para trás. Olhei o céu azul do início de tarde e umedeci os lábios procurando a resposta mais real. Eu queria mesmo ficar sozinho?
- Eu não sei...
- E Selena? Aposto que ela adoraria passar um tempo com você - ele disse. - Quero dizer, não andaram brigando de novo, andaram?
- Não, nós não brigamos... - Respondi. - É só que eu não acho que seja capaz de qualquer coisa. Quero dizer, até hoje eu sempre fui o melhor em cola por causa da magia, passei com isso depois que reprovei aquela vez e fui por muito tempo Styles desinteressado. Harry é um líder nato, e será um ótimo advogado quando se mudar com Perrie pra faculdade no próximo semestre. A T é ótima em poções, deixa todo mundo no chinelo com isso... O que eu vou fazer quando me formar em julho? O que eu vou ser depois dessa guerra? Ela vem se aproximando há tanto tempo e eu mal sei o que vou comer essa noite. Nem sei se vou ter peito pra enfrentar outro pecado!
Meu pai suspirou e apertou meu ombro com firmeza:
- Quando você tinha oito anos, você queria ser astronauta. Lembra? Nós te demos uma fantasia e você não a tirou por semanas. Usava magia para não ficar com mau cheiro - sorri brevemente. - E aos doze você queria ser lutador... Mas desistiu depois que Tay ganhou uma luta com você pelo controle remoto - ri baixo. - E você sempre foi ótimo em desenhos. Você sempre foi melhor que seus irmãos em encontrar uma saída e se safar de um problema, e é um dos melhores dominadores na arte de mexer com as lembranças dos outros, algo muito difícil e raro. Então, Justin, você será bem sucedido no que escolher fazer.
Eu o olhei e mordi meu lábio, sendo envolto pela dúvida se conseguiria ou ao realmente ser o que eu escolher.
- E quer uma dica?
Eu o olhei curioso.
- Se gosta mesmo da Selena, conte a ela. Ela vai gostar de saber, ela gosta mesmo de você - disse ele.
Baixei o olhar por um momento, digerindo o conselho.
- Ah, sua mãe terminou a torta de maçã! - disse antes de caminhar para a janela novamente.
Eu o vi entrar no meu quarto e quase cair da janela, o que me arrancou uma risada que abafei na garganta. Peguei o celular em meu bolso e procurei pelo número de Selena, para quem liguei assim que li o nome.
- Jus? - Ela atendeu sonolenta. - Aconteceu alguma coisa?
- Não, nada... - Murmurei e pensei em desligar, mas então respirei fundo. - Sel, já almoçou?
- Não... - Ela disse sonolenta.
- O que acha de irmos ao Lewis? Eu vou buscar você se quiser.
- Vai atravessar a cidade pra isso? - Ela pareceu surpresa.
- Vou sim. O que acha?
- Tudo bem - ela disse.
- Tem uma hora... Até logo - desliguei.
Point View Of Louis
Duas batidas na porta me fizeram despertar de meu torpor. Suspirei pesado e sentei na cama, preparando-me para ouvir outro pedido de meu pai para partir, como tem acontecido desde que voltei. Meu corpo ainda pesa, cansado pela madrugada que perdemos procurando os strigois por toda a cidade. E ainda mais pesado pelo tempo que gastei vigiando o cemitério para ter certeza que nem um mais surgiria quando todos foram dormir. Havia chegado a casa pela manhã, em silêncio para que ninguém soubesse que eu havia ficado por lá... Principalmente o meu pai.
- Entra - respondi alto para que ouvissem.
A porta se abriu e meu pai apareceu nela, olhando para mim de forma estranha. Joguei o cobertor para o lado.
- Eu sei que já devia ter levantado - comecei -, desculpe... Não estava me sentindo disposto. Mas já vou começar a arrumar as coisas, e depois que isso tudo acabar vou para casa, não precisará se preocupar comigo.
- Louis...
- Eu já encontrei um apartamento e já fechei negócio - continuei enquanto procuro minha camisa. - A mudança está marcada para depois de amanhã. Assim que tudo terminar eu vou tomar algo e você nunca mais terá que se preocupar em me ver.
- Louis - ele pareceu mais firme, e isso atraiu meu olhar. - Sente-se.
Obedeci, preparando-me para um sermão. Meu pai puxou a cadeira da escrivaninha e sentou a minha frente.
- Eu sei que a nossa convivência não tem sido boa, na verdade, “boa” seria um eufemismo e tanto... - Ele suspirou pesado. - Mas é hora de eu parar com isso. Você era jovem e se descontrolou um pouco, como poderia ter acontecido com qualquer um... E somos gratos por ter voltado nesse momento e por estar ao nosso lado - disse. - Eu sou grato por isso.
- Está dizendo isso porque acha que vai morrer, mas você não vai - respondi.
- Talvez eu vá, talvez não... Não sabemos, nós não podemos garantir nada agora. Mas eu não estou dizendo por isso. Você é meu filho, você errou e eu devia estar lá para lhe repreender, ao invés de estar trabalhando como sempre... E eu deveria estar do seu lado quando você voltou, devia ter acreditado quando disse que queria ajudar.
- Eu não teria acreditado - comentei.
- Pois deveria - ele disse. - Um filho é algo muito importante. Mais importante que qualquer coisa nesse mundo... Conversei com os outros conselheiros, e você é um guardião agora e se algo me acontecer, será um conselheiro.
Uni as sobrancelhas. É uma pegadinha? Alguma brincadeira de mau gosto?
- Eu sei que é difícil acreditar, mas é a verdade. Eu amo você Louis, e você tem ajudado sua irmã mais que eu e sua mãe fomos capazes de ajudar a vida dela inteira...
- Isso tem a ver com a troca de lado da Demi? - Perguntei desviando o olhar.
- Não posso mentir que foi doloroso saber que minha primogênita deu as costas para tudo e trocou de lado... Mas isso me ajudou a pensar e ver por outro lado. Você errou, cometeu um deslize acidental e fugiu. Ela simplesmente deu as costas e está do outro lado, enquanto você voltou para lutar. Está arriscando sua vida por nós e eu não sei o que dizer, mas sei também que desculpas não são o bastante.
Respirei fundo, digerindo tudo aquilo. Umedeci meus lábios e engoli em seco:
- O meu retorno não foi bem como eu pensava... Eu não esperava abraços e carinhos, mas também não esperava ser tão detestado. Eu sei que errei, e tive que provar que voltei a ser o que era antes de... - Engoli em seco. - você sabe. E fico feliz que apesar de ter demorado, você tenha visto que eu realmente precisava me redimir...
Disse com um sorriso suave.
- É bom ter meu filho de volta! - Ele respondeu me puxando para um forte abraço.
Point View Of Niall
Meus dedos passeiam pelas costas do meu violão e meus olhos oscilam a atenção entre as mesmas e o papel amassado, com minha letra rabiscada em estrofes cheias de palavras riscadas e entre parênteses enquanto canto baixo ao ritmo da melodia. Estava trabalhando nessa letra há semanas, e agora ela parece finalmente completa.
- And I want to tell you everything the words I never got to say the first time around and I remember everything...
Duas batidas na porta tiram minha atenção. Ergo os olhos na direção da mesma e encontro minha mãe com um suave sorriso.
- É uma linda letra - ela disse serena enquanto se aproxima.
As grandes unhas deslizam entre os fios rubros de seu cabelo, jogando-os para cima de um de seus ombros.
Ver meus pais juntos chega a ser engraçado. Isso porque minha mãe é simplesmente linda. Ela havia sido modelo antes de Melanie nascer, e depois que ela nasceu, minha mãe passou a trabalhar na gravadora com meu pai, Axl, um ex-cantor de rock. O tempo havia acabado com ele, e mesmo assim os dois continuavam juntos e cada vez mais apaixonados.
Minha mãe se sentou na beira de minha cama e me fitou cautelosamente, analisando-me em silêncio. Baixei os olhos para a letra e então sorri suavemente deixando o violão de lado.
- Não direito de onde a tirei... Acho que me coloquei em uma situação fictícia - disse baixo.
- Sabe que não vim falar sobre sua bela letra - ela disse serena. - Quando tudo isso acabar, você poderia muito bem gravar um disco com seu pai. Ele morre de orgulho quando você e Melanie apresentam uma composição nova, e vocês estão mesmo se encontrando na música.
- Está no nosso sangue - eu disse com um suave sorriso. - Sobre o que veio falar, mãe?
- Mel comentou que você anda estranho desde antes da doença... Ela disse que você fala como se não fosse sobreviver à guerra... O que está havendo, Niall?
Seu tom, carregado de preocupação, veio acompanhado de seu olhar carinhoso e maternal. Senti-me aquecido apenas por estar sob ele. Baixei os olhos e umedeci os lábios mordendo meu lábio inferior com certa força.
Como explicar algo que você mesmo não entende?
Faz tempo que tenho medo de morrer nessa guerra, mas meu problema não é morrer em si e sim morrer sem ter vivido. Sem um amor. Toda a minha vida eu estive focado nos estudos e em salvar a cidade, eu nunca sai para correr fora dela e nunca corri. Eu nunca fui pras festas e boates com os outros, porque tinha medo de perder o dia seguinte... Todo o tempo que eu tinha era gasto compondo, ou na gravadora dos meus pais brincando com alguns arranjos por cima de musicas que eu gravava em uma das salas vagas.
Eu não havia me apaixonado, não havia vivido o desespero de amar alguém e nem a tristeza de um término ou de uma briga. A verdade é que eu simplesmente não vivi.
- Já se sentiu vazia? - Perguntei olhando minha palheta. - Ou melhor, inexperiente? Como se todo o tempo que você teve foi gasto com tudo, menos com coisas que deveriam fazer você aproveitar? Se sentir viva?
Ela me olhou ainda mais atenta quando ergui os olhos. Dei de ombros.
- Eu não me sinto vivo, mãe. Eu não fiz nada realmente interessante a minha vida inteira, e eu estou com medo de morrer assim... Sem ter feito nada realmente útil com ela. Sem ter aproveitado meu tempo como deveria.
- Ni... Você é um garoto extraordinário, e confesso que deixou de aproveitar muitas coisas até aqui, mas você ainda tem muito pela frente. Você vai viver momentos que vão fazer parte das coisas que você escreve... Não tenha medo do amanhã. Não tenha medo de amanhã.
Eu engoli em seco e ela me ofereceu um sorriso, acariciando meu rosto com delicadeza.
- Você nos dá orgulho, e sei que terá orgulho de si também - ela disse serena e beijou minha testa. - Confie em si mesmo, meu querido.
Eu sorri para ela:
- Amo você, mãe.
- E eu amo você, meu filho.
Point View Of Gigi
Bati na porta de Perrie com hesitação, mas assim que ela respondeu lá de dentro, eu soube que não poderia voltar atrás. Abri a porta e tentei sorrir, vendo o quanto ela estava surpresa com minha visita ao seu quarto.
Há algum tempo eu mal lhe olhava em casa, ignorava todas as suas tentativas de aproximação porque pensava que ela era a culpada por Zayn não me amar, mas a verdade é que a única culpada era eu. Passei tanto tempo a detestando e a culpando por ter o coração dele, que esqueci completamente que poderia conquistá-lo como tem acontecido nos últimos tempos. Tudo está finalmente se ajeitando, e mesmo que haja uma bomba prestes a explodir, eu prefiro que tudo esteja resolvido quando isso terminar.
Ela se levantou nervosa.
- Gigi? Você está bem? Não saia do quarto desde ontem, e...
- Estou melhor - disse a interrompendo. - Um pouco enjoada, mas nada demais. Na verdade eu só queria conversar com você...
- Você não conversa comigo há anos - ela disse meio baixo.
- Eu sei, e fui bem infantil por anos - eu disse com um sorriso tímido.
A loira se sentou na cama de novo e apontou ao lado para eu me sentar. Aproximei-me e sentei ao lado dela, umedecendo meus lábios para então suspirar.
- Eu nunca devia ter te culpado por as coisas darem meio errado pra mim, e a verdade é que esses últimos tempos eu andei pensando muito - disse baixo. - Eu parei de culpar você e passei a tentar conquistar ele de verdade e agora ele realmente me ama e isso é ótimo. Então eu tenho que me desculpar com você. É minha irmã, e eu nunca devia ter deixado que algo tão besta como ciúmes nos separasse.
Meus olhos estavam marejados, e os dela também. A garota sorriu e seus lábios tremeram antes de ela se inclinar e me envolver em um forte abraço que retribui com carinho e alívio pela aceitação.
- Eu amo você, Gigi - disse baixo.
- E eu amo você, Perrie - respondi.
Nunca pensei que voltaríamos a nos dar bem.
- Você vai mesmo ficar na cidade? - Ela perguntou. - Quero dizer, caso queiram ir para outra cidade, eu posso ficar...
- Não, eu vou ficar - respondi. - Zayn e eu vamos morar juntos.
Seu queixo caiu e ela sorriu largamente para mim voltando a me abraçar, agora ainda mais forte.
- Parabéns!
Ela disse mais animada que eu quando ele o propôs. Dei uma risada baixa e a abracei forte escondendo o rosto em seu pescoço,
Point View Of Shawn
Suspirei pesado quando passei pelos portões do cemitério, mesmo lugar onde estivesse essa madrugada. Enfiei minhas mãos nos bolsos do casaco, tentando aquecê-las enquanto caminho para o mesmo lugar que tenho vindo há dias, todos os dias. Geralmente, quando venho até o túmulo do meu irmão, eu fico em silêncio e às vezes derramo um pouco de vodca na terra em homenagem a ele, mas agora não tenho nada comigo além de um maço de cigarros no bolso de trás da minha calça.
Eu queria poder conversar com ele de novo, pelo menos uma vez. Entre todas as pessoas que conheço, Austin era o único que conhecia meu outro, e mais secreto, lado. Ele era a única pessoa que via que eu podia ser mais que um moleque brigão e mimado, pronto para encher a paciência de qualquer um que aparecesse na minha frente... Ele era a única pessoa em quem eu confiava.
E agora estava morto.
Várias vezes, eu pensei em trazê-lo de volta. E todas essas vezes eu soube que ele ficaria bravo, afinal, para trazê-lo eu precisaria matar alguém. Alguém inocente. Ele jamais aceitaria algo assim. Ele nunca me perdoaria por matar uma pessoa, nem um deles me perdoaria.
Austin J. Malik
04 de abril de 2000 - 14 de novembro de 2016
Amado filho, irmão e amigo.
São escrituras que estão gravadas em minha mente, dia após dia, eu as relembro quando abro os olhos pela primeira vez no dia, e quando fecho. Lembro-me que poderia ter evitado, se tivesse prestado mais atenção.
Puxo as pernas da minha calça e me agacho fazendo as flores do tumulo voltarem ao seu estado inicial, majestosas rosas brancas que havia trazido no dia anterior. Respiro fundo.
- As coisas andam tensas por aqui, A - digo baixo. - Eu sei que você pode me ouvir de onde está, e provavelmente viu todas as vezes que eu lhe ofereci um pouco de vodca. Era o que você mais gostava de beber, lembra? Enchia a cara e nós carregávamos você para casa. Ela está bem, conseguiu se resolver com Tay e elas estão felizes. Namorando. Às vezes elas brigam, mas não é nada que demore muito para se resolver...
Dou de ombros olhando a lápide fria.
- A guerra é amanhã e você tem sorte de não ter que viver isso tem sido uma bagunça. Presságios e tudo mais... E eu nem sei qual é o de hoje, ele ainda não deu notícias. A verdade é que eu estou com medo, mano. Eu to com medo de morrer e ir pra um lugar diferente do seu, porque cara, eu sinto sua falta. Todos os dias... Todos nós sentimos. Tentamos evitar esse fato, fingimos que está tudo bem, mas a verdade é que quase tudo tem estado uma merda.
Meus olhos lacrimejaram e minha visão se tornou turva.
- Eu não sei se consigo continuar sem você cara, então eu adoraria te ver. Se eu morrer, por favor, me encontra do outro lado... Beleza? Não tem um só dia que eu não pense em coisas que eu poderia ter feito para salvar você, ou pelo menos pra evitar isso. Ou que eu não pense que deveria ter sido eu e não você. Eu errei feio cara, e me desculpe por isso... Mas eu amo você. Todos nós amamos.
Point View Of Camila
Girei meu corpo para o outro lado da cama e gemi baixo, ainda extremamente sonolenta. Havia demorado a dormir depois que cheguei, era muito esquisito não ter Lauren para abraçar na cama e isso é um tanto ruim. O hábito de tê-la comigo ao despertar já é tão presente, que quase posso sentir seu corpo ao meu lado afundando suavemente uma pequena parte do colchão.
Talvez ainda esteja sonhando.
Bocejo e coço o rosto, abrindo lentamente os olhos. A visão turva denúncia alguém ao meu lado na cama, e aos poucos, eu consigo ver os belos e atraentes olhos verdes da minha namorada... Seus lábios estão curvados em um sorriso largo, que me mostra seus dentes brancos.
- Olá dorminhoca - ela sussurrou.
- Amor? Você... Dormiu aqui?
- Não, amor - ela disse baixo. - Sua mãe me deixou entrar faz meia hora.
Ela sorriu marota e tomou minha mão, depositando nela um suave beijo. Eu acariciei os seus dedos, ainda muito sonolenta.
- Algum vestígio do presságio? - Perguntei baixo.
- Redenção - ela disse no mesmo tom. - Esse é o presságio.
Mais desperta, uni as sobrancelhas sem entender suas palavras.
- Eu tive a mesma reação quando cheguei a essa conclusão, mas é a verdade. Todos falaram como seus dias foram estranhos, como houveram esclarecimentos e desesperados pedidos de desculpas... Talvez nem todos os presságios sejam tão ruins - ela disse baixo.
- Espero... Amanhã já será ruim o bastante - disse em um sussurro.
A morena assentiu lentamente e então entrelaçou nossos dedos.
- Que tal vermos uns filmes hoje? - Perguntou. - Amanhã durante o dia faremos o resto dos preparativos... Mas hoje todos nós merecemos um descanso, porque algo me diz que não vai ser nada fácil.
- E provavelmente não será mesmo - murmurei bem baixinho.
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