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História Guerra é Guerra - Vida e morte


Escrita por: LisM

Notas do Autor


Muito tempo sem vir por aqui, muitos problemas pessoais, mas ai está o penúltimo capitulo pra todos que aguardaram ansiosamente este momento. Espero que gostem tanto quanto eu. Perdoem os erros, não terei tempo de corrigir. Beijos e me contem o que acharam

Capítulo 31 - Vida e morte


Existem estudos que comprovam que quando estamos perto da morte, é possivel que nosso cerebro construa um pequeno filme com inumeros fragmentos de memorias sobre a nossa vida em geral. Pesquisadores acreditam que essa é a forma inteligente do cerebro desasselerar nossos batimentos cardiacos e ajudar na produção de uma morte mais tranquila.

Baseada nessa teoria, quero acreditar que todos os momentos entre mim e Thiago que rondam a minha memoria a inumeros meses, são apenas a forma inteligente do meu cerebro dizer que morreu. Acabou.

Morte e fim, duas palavras acentuadas na mesma linha tenue da vida.

Segundo o Aurelio a morte é o fim da vida. E o fim da vida é não poder mais ter Thiago. Então considero-me morta. Uma agonizante e desesperadora morte.

E ai está a diferença de FIM e MORTE.

A morte te leva embora, você só agoniza por alguns momentos, talvez horas. O fim, o maldito fim, te tortura sem tempo determinado bem vagarosamente.

Estou sem Thiago há exatos quatro meses. A única coisa que ainda liga-me a ele é o convite de casamento que seguro em uma das minhas mãos.  O papel pomposo, em um tom de rosa que me lembra o céu em um fim de tarde de verão, transmite elegancia ao convite. As letras desenhadas cuidadosamente em dourado ilustram os nomes Thiago e Natalia. Meu coração divide em pedaços extremos todas as vezes que leio os nomes.

Já passam de meia hora que permanesso na mesma posição, sentada  no chão do meu novo apartamento encarando convite. Meus olhos fixos na data. É hoje.  Um nó surge no centro da minha garganta, seguro o choro com todas as forças que ainda tenho, mas não por muito tempo. Já sinto o gosto salgado escorregando pelas maças do meu rosto.

Estendo a mão que tenho livre até a long neck de desperatos ao meu lado. Beberico um pouco do liquido gelado e refrescante e a devolvo ao lugar de origem.

Escorrego o meu corpo por todo o assoalho do apartamento até ficar totalmente deitada, encolho as pernas até a altura das minhas costelas e as abraço com força. Meu choro silencioso transfroma-se em um grunhido estridente e irritante. Não consigo conter-me.

A dor que sinto agora é tão forte que não consigo conter-me. Permito-me viver aquela dor. Estou perdendo o amor da minha vida.

 

(...)

O barulho na porta faz minha cabeça girar, vagarosamente abro meus olhos, minha cabeça dói. Ainda estou deitada no chão e não sinto vontade de continuar. O barulho continua mais forte, ergo-me aos poucos, primeiro fico de joelho, até então me por de pé. Observo minha imagem a frente do espelho e tenho vontade de quebra-lo. Meus olhos estão vermelhos e minhas olheiras criaram novas olheiras. O barulho fica um pouco mais freqüente. Contra a minha vontade deslizo minhas meias com desenho de gatinhos por todo o assoalho até a porta. Abro-a e não vejo nada além de um vulto passar por mim.

-Você ainda não está pronta?- A mulher de cabelos escuros cruza os dois braços. Ela segura com firmeza uma embalagem de roupa, acredito ser um terno. – Meu Deus, Lenora, você ainda não tirou suas coisas da caixa, há quanto tempo mora aqui, uns quatro meses? – Fernanda olha de um lado a outro com cara de reprovação. Seus cabelos estão presos em um coque formoso  que acentua o formato angular do seu rosto. Seu vestida, esvoaçante cor de azul é como um convite para o paraíso e acentuam o tom castanho de seus olhos, deixando-os mais leves e convidativos.

-Parece que sim.- Sorrio fraco, desanimada pela repreensão.

-EU sei como você se sente.- Fernanda veio ao meu encontro e envolveu seus braços magricelos por todo o meu corpo.-Eu sei como dói, Lenni... – Ela afaga meu cabelo. – Você precisa impedi-lo, você é a única que pode. Ele ama você. Você sabe que ele ama você.

- Eu não posso... Eu não consigo. - Suspiro pesado.

- Não consegue ir atrás do amor da sua vida?- Ela termina o abraço e olha-me.

- Eu já fui atrás dele, eu liguei... Eu mandei mensagem... Olha, eu tentei.

- Será que tentou o suficiente?

-Acredito ter tentado muito mais do que o suficiente. – Prendo o choro. Fernanda leva as mãos até alguns fios soltos de seu cabelo e o coloca atrás das orelhas.

-Acho pra correr atrás de quem se ama, não tem limite. – Ela sorri.

-Tem limite de sofrer. O meu acabou.- Ela gargalha.

-Você acha mesmo que acabou?- Fernanda olha-me de cima a baixo. – Você está usando calça de moletom e meias de gatinhos... E pelo cheiro de álcool... Andou bebendo... Chama isso de fim de sofrimento?

-Eu não vou a esse casamento.

-Escuta só mocinha. – Fernanda segurou em um dos meus pulsos com forças e me arrastou em direção ao banheiro. – Você vai a esse casamento querendo ou não. Eu não vou deixar você abrir mão dele assim...- Ela acende a luz do banheiro e caminha até o Box ligando o chuveiro . – Não pra ela, ok? Ele não a ama... E além disso, ela usa crocs, não gostamos de quem usa crocs. – Fernanda balança a cabeça em reprovação e empurra-me para dentro do chuveiro, com roupa e tudo. – Tem vinte minutos.

 

(...)

 

A cerimônia será realizade em Giverny. O Pequeno vilarejo é constituído de paisagens inspiradoras que nos transportam para dentro de um quadro vitoriano antigo. O entardecer está abrindo caminho para a escuridão da noite tornando o ambiente ainda mais elegante. O enorme jardim é enfeitado por velas fazem todo o caminho por cima de nossas cabeças. Inúmeras flores de cores vibrantes e alegres tomam conta do ambiente.

 O tapete vermelho está lá como de costume, as cadeiras de acolchoadas organizadas em filas tem um grande laço de seda cor de rosa preso atrás. O som que se pode ouvir é de alguns pássaros avisando a chegada da noite, pequenas algazarras de alguns convidados espalhadas, mas nada que estragasse a paz do lugar. Estava tudo perfeito, como na cena de um filme.

-Está maravilhoso.- Digo quase como um sussurro.

-Soube que Natalia quis seguir a risca tudo aquilo que estava no livro de conto de fadas dela.- Fernanda solta uma risadinha.

- Eu achei bem romântico. – David se pronuncia.

Ele usa um terno xadrez de cor escura, quase imperceptível. Blusa branca escondida atrás de uma gravata azul, no mesmo tom que o vestido de Fernanda.

- Exagerado. – Fernanda fala com a voz engasgada. – Mas é bem a cara da Natalia. – Concordamos todos.

Procuro me aconchegar em uma das cadeiras, a calda do meu vestido prende-se a um dos laços cor de rosa. Puxo com força até que consigo soltar fazendo um barulho exagerado. Todos os que já se acomodaram olham para mim com um olhar abismado.

-Lenni, ainda não chegou a hora de chamar a atenção – Fernanda ri.- Você já viu o Thiago? – Nego com a cabeça.

-Ele só vai chegar na hora que a noiva estiver pronta, em que mundo vocês vivem?- David declara enquanto se aconchega bem ao lado de Fernanda.

-Eu nunca fui a um casamento.- Digo envergonhada.

-Não está perdendo nada... Só as madrinhas gostosas e carentes... – David ri e é acertado por uma cotovelada de Fernanda.- Digo, você não está perdendo nada, nada mesmo... Nem madrinhas... Nada.

Nossos risos são abafados pela voz no microfone que anuncia o inicio da cerimônia. O instrumental ao fundo é apenas vindo de um violino e começa a ganhar peso com a entrada de outros instrumentos.Todos se colocam de pé e meus olhos perpassam rápidos ao encontro dele...

Ele está ali.

Seu cabelo partido de lado e alinhado com gel realça seu rosto que está sorridente. Meu coração bate descompassado. Usa um terno de um tom de nude que realça o tom mulato de sua pele. Ele sorri enquanto passa ao ritmo da musica por cada uma das fileiras sorrindo para cada um. Aquele sorriso convidativo, o sorriso que você gostaria de receber depois de chegar cansada de um dia de trabalho em casa, o tipo de sorriso que você quer guardar em um potinho e manter pra sempre no seu coração. O tipo de sorriso que te faz perder a fala e até a linha de raciocínio. O tipo de sorriso que eu preciso para me manter aqui.

Seus olhos cruzam-se com os meus em um fleche de segundos seu sorriso se desfaz, seu rosto fica pálido e sem vida, mas ele segue o caminho e logo volta a sorrir. Sinto vontade de chorar. Respiro fundo e viro-me para me retirar dessa sessão de tortura.

Fernanda percebe minha inquietude e segura o meu pulso. Seus olhos passam-me conforto e piedade. Ela sorri.

- Você não se arrumou assim para nada, não deixarei que vá...

Reconheço nos primeiros segundos a mudança da musica. O olhar de todos volta-se para o inicio do tapete vermelho.  Sinto a primeira lágrima escorrer ao olha-la.

Linda e transmitindo poder pelo vestido escolhido. Um modelo sereia que desenha suas curvas e acentua sua barriga já bem a mostra. O seu véu é exageradamente grande. Seus cabelos caem por entre seus ombros em ondas grandes e volumosas. Seu olhar iluminado não cruza com o meu. Há muitas pessoas que ela reconhece e acena.

O meu mundo se fecha em um clipe de inúmeras cenas da minha vida. Thiago está em todas elas. É uma amostra grátis do fim, da morte. Uma amostra gratuita daquilo que me assombra desde que fui deixada naquele hospital. Posso ver nossas brigas, nossos beijos e até nossas noites de amor. Revivo cada um daqueles momentos. Não prendo mais nenhuma lágrima. Permito-me viver a minha pré morte até o fim. Decido que será a ultima vez.

Não sei ao certo o que me impulsionou a estar em pé agora que todos tomaram seus assentos. A coragem que antes tomara conta de mim, se esvaiu. O olhar de todos vão ao meu encontro, alguns cochicham, outros apenas matem-se perplexos ao encarar-me.  Não sei o que fazer. Quero correr, fugir para o mais distante possível.

Thiago e Natalia encaram-me. Natalia está de boca aberta, parecia só ter notado minha presença agora.

- O que disse?- O ministrante da cerimônia encara-me encerrando meus pensamentos.

- Nada, ela não disse nada... Nada mesmo. – Natalia declara afobada.- Vamos logo com isso, eu aceito, vamos. Nós aceitamos amor, não é mesmo. – Ela olha desolada para Thiago que tem total atenção em mim. Seus olhos imploram-me para ficar e me dão coragem para continuar.

- Na verdade eu disse sim.

Respiro fundo. Minhas mãos soam. Apesar do calor, sinto minhas pernas tremerem. A um nó que aperta meu estomago. Neste momento, tento concentrar para não engasgar em lágrimas. Olho para Fernanda, a mesma acente com a cabeça para que eu continue. Respiro fundo mais uma vez.

- Eu te amo... Eu te amo, Thiago... E mesmo que depois que eu termine de dizer isso você ainda queira casar com ela, eu não vou cansar de dizer que te amo. Eu te amo. Não existe a menor possibilidade de eu não te amar, não existe a menor possibilidade de eu não te fazer feliz. Porque eu nasci pra te amar. Você é tudo que estava faltando na minha vida, e eu espero sinceramente poder ser o mesmo pra você... Muito obrigado, Pela vida que eu nunca imaginei que ia ter um dia, pelo amor que eu nunca achei que seria capaz de sentir. Nos somos muito diferentes, diferentes de um jeito que eu acho incrível porque eu completo você e você me completa. E mesmo que você venha ter um filho com ela, eu sei que ela não é a mulher que você ama. E se mesmo assim você ainda decidir ficar com ela. Eu apenas agradeço, agradeço por todos os momentos em que você me fez sentir única. E acredito que o amor que eu sinto por você nunca vai acabar. Você foi a a minha vida e agora está sendo a minha morte. E essas duas coisas só vem uma vez...

Respiro fundo e dou de costas para todos,  guiada pelo caminho de velas sigo para longe dali. Engasgo um pouco com as lágrimas. Levo as duas mãos ao rosto e sinto meu corpo ser abraçado.

- Eu também amo você.

Seus lábios tocam por fim os meus. E é como se ali sempre fosse o lugar deles



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