História Guerra e Paz - One

―Ir embora?― Nakia me perguntou, confusa, o que era óbvio havia sido uma mudança súbita da minha parte.

―Isso mesmo ― Respondi delicadamente ― E eu gostaria que fosse o mais rápido possível, em duas horas no máximo e que ninguém soubesse para onde eu estou indo, nem mesmo T’challa.

―Eu temo que isso não seja possível.

―A viagem? ― Freya perguntou, se sentindo levemente desesperada.

―O rei não saber o que acontece dentro do seu reino, temo que seja inviável.  

―Eu tenho certeza que sim, mas o rei poderia manter o meu destino por um tempo em segredo, especialmente do soldado invernal, irão acordá-lo em poucos minutos e eu gostaria que ele não soubesse o meu destino, diga ao rei que são assuntos inacabados.

Nakia se recostou na sua cadeira, me observando na minha melhor pose de boa moça e que não vai fazer nada de mal, me senti uma crackuda tentando convencer os funcionários da reabilitação que eu não ia cheirar pedra.

―Seria isso com a Hydra?

―Hydra me quer morta, por que eu iria mexer com eles? ― Perguntei ― É algo que eu tenho que descobrir por mim mesma, é sobre mim, eu tenho que cuidar disso antes de poder seguir em frente e voltar. ― Nakia pegou um pequeno telefone preto, digitando rapidamente enquanto eu aguardava com todo o restinho de paciência que eu tinha dentro de mim.

Voltar, essa era a palavra que eu estava pensando de todo o meu discurso, eu sabia que iria voltar, mas para onde eu não tinha tanta certeza para exatamente onde eu iria voltar, ou para quem. Todo o ponto de eu estar fugindo às pressas era descobrir o que havia acontecido tantos anos atrás, eu precisava acertar isso e lembrar de tudo antes de poder seguir em frente.

Era por isso que eu não poderia ver Bucky. Eu não podia encará-lo com tantas dúvidas na minha cabeça, não podia apenas fingir que estava tudo bem quando claramente eu não estava bem, quando meus olhos estavam fundos das várias noites mal dormidas em qual eu via o sol raiar pensando em todas as coisas que eu fazia na Hydra, que eu poderia ter feito com ele, os experimentos as ordens, como eu havia o machucado.

Eu não podia encará-lo com todas essas dúvidas na minha cabeça, eu não podia seguir em frente enquanto isso me prendia no passado, quando eu finalmente podia dormir, as memórias corriam atrás de mim onde eu não podia me defender, é difícil ainda diferenciar o que é verdade do que é mentira.

O que mais me preocupava nesse momento era que aquelas coisas fossem verdade, que eu fui capaz de coisas tão cruéis e impiedosas,  mas, havia o reconforto que tudo aquilo poderiam ser memórias falsas, coisas implantadas para que eu só me “lembrasse” quando eu não fosse mais leal a eles e isso me destruísse. Bem, estava funcionando.

―T’challa liberou o seu voo, fica muito triste com a sua repentina partida, mas ele promete que guardará segredo por alguns dias até que se resolva, seu voo sai em três horas, um dos jatinhos particulares está em uso, precisamos fazer os procedimentos de segurança ― A mulher me informou depois de alguns minutos me tirando dos meus pensamentos.

―Fico grata por ouvir isso, assim como estou com toda a hospitalidade do seu povo e toda a gentileza que me trataram ― Nakia me dirigiu um sorriso contido, mas parecia orgulhoso ― Se eu não puder agradecer ao seu rei pessoalmente, poderia por favor dizer por mim que ele é um grande líder e um homem bom , estarei para sempre em dívida com ele e com toda Wakanda.

―Eu o deixarei saber disso ― com um último aceno eu saí da sala, me deparando com um corredor vazio e sem ideia de para onde ir até dar o horário do meu voo.

Meu primeiro pensamento foi para onde diabos eu iria, sendo que qualquer passo em falso eu poderia dar de cara com ele.

O meu primeiro pensamento foi a biblioteca, mas todos sabiam que eu sempre estava por lá, outra opção óbvia era um dos laboratórios onde eu seria facilmente encontrada. O refeitório era óbvio demais e eu não estava autorizada a ir sozinha a cidade, pensei em ir para a sala de fisioterapia. Mas, logo concluí que qualquer lugar que eu fosse eu seria encontrada com facilidade e eu precisava manter a calma, e fingir que estava tudo bem até a hora de ir embora.

Caminhei normalmente até o meu quarto, tentando a todo custo evitar Wanda ou qualquer atitude que parecesse suspeita. Ao chegar às minhas pernas tremiam de nervoso e eu mal podia ficar em pé.

Durante os últimos meses tudo q eu poderia pensar era em como eu reagiria quando eu o encontrasse. Parte de mim queria dar um soco na cara dele, a outra parte queria dar um beijo onde eu o soquei. Queria que depois do soco, nos fôssemos embora, só nós dois como costumava ser, para qualquer lugar eu não me importava onde, apenas não queria mais deixar o seu lado.

Agora as minhas pernas tremiam não porque eu estava louca para vê-lo. Mas, por que eu estava com medo da minha reação. Será que depois de tudo que eu me lembrei eu ainda poderia olhá-lo do mesmo jeito? Eu ainda poderia desejar tudo isso sabendo as coisas horríveis que eu fiz com ele?

Lentamente eu abri a porta, me deparando com um quarto vazio. Eu entrei, o procurando por todos os lugares até me contentar que ele não estava lá. Me sentei na cama me perguntando onde diabos ele estaria.

Esse pensamento significava o quanto eu ainda me importo, claro que eu me importava eu não podia simplesmente esquecer alguém tão facilmente por que eu me sentia culpada, não podia esquecer e colocar uma pedra no passado de todas as noites que passamos juntos, não podia esquecer de como ele parecia tranquilo quando dormia perto de mim, como ele era gracioso na cozinha, o jeito que ele me abraçava e como meu coração batia mais rápido quando ele fazia isso.

Desejei poder voltar no tempo e mudar tudo isso, desejei fechar os meus olhos e quando eu abrisse novamente eu tivesse amnésia e esquecer tudo isso, tornando a minha vida mais fácil. Quando foi que eu me perdi assim e deixei gostar tanto de uma pessoa que fazer o que é certo se torna difícil. Eu não queria esquecer de tudo, queria esquecer a hydra e todas as dúvidas na minha cabeça.

Me deitei na cama, pensando em tudo que eu deveria fazer e tudo que eu não deveria a escolha fácil de passar o resto da minha vida me perguntando sobre a verdade ou a escolha difícil, onde eu me lembrava de tudo e por mais doloroso que fosse tomasse a minha escolha com clareza. Eu conhecia apenas uma pessoa que pode me ajudar com isso. A uma galáxia de distância.

Fechei os meus olhos, ouvindo o som da porta se abrir e passos se aproximando de mim, o meu coração vibrou como se eu fosse um brinquedo que alguém desse corda, quando eu abri Bucky estava na minha frente.

Ele parecia cansado, alguém havia arranjado um novo braço metálico para ele, sem estrela. Eu me sentei imediatamente, ficando cara a cara sem ter a mínima noção do que fazer. Sentimentos misturados dentro de mim.

Fiquei de pé, e meu deus, ele parecia igual a última vez que eu o vi, só que ele estava mais magro, mais abatido e parecia exausto. Mas, alguma coisa nele parecia feliz, como se ele estivesse satisfeito consigo mesmo.

―Seu cabelo está mais claro ― ele disse, a sua voz como uma música em meus ouvidos eu sentia tanto a falta dele, como eu seria capaz de ir embora agora que ele tinha voltado pra mim?

―Ideia da Natasha.

E, um segundo antes de eu me derreter completamente em seus braços, cancelar a viagem e mandar Tony Stark se ferrar eu me lembrei.

Lembrei de todos os dias que eu passei sozinha mandando mensagens pra ninguém, me lembrei de como eu acordei confusa e sozinha no hospital, de todas as noites de eu estava sozinha esperando apenas uma mensagem, um sinal que estava tudo bem e que tudo ia dar certo, que eu não tinha sido deixada para trás e que eu ainda era importante para ele.

Lembrei de como eu me sentia vazia, de como eu tive medo sem ninguém para me ajudar, sem ninguém para desabafar, quando minha única companhia era um adolescente com problemas com o valentão na escola. Eu o encarei mais uma vez. A raiva preenchendo todo o meu corpo e fazendo as minhas mãos tremerem e os meus olhos lacrimejarem, eu podia sentir a minha expressão antes de alívio se tornar uma máscara de raiva e irritação. Como ele podia sumir por meses e chegar como se nada tivesse acontecido?

E, antes que eu me desse conta do que eu estava fazendo, eu dei um soco bem na cara dele.