História Guerra Fria - Amigas,amigas......negócios á parte.

Pov Bárbara

Estava na garagem do prédio onde eu aluguei um apartamento,checando se tinha colocado tudo o que precisava na bolsa.Depois que voltei de viagem tentei conversar com a Ariane,mas ela não quis papo,e os dias de trabalho vieram carregados de discussões.Ela quer fazer do jeito dela,não quer ouvir minha opinião,é grossa com os funcionários,só Deus pra saber o que aconteceu com ela nesse tempo que fiquei fora.Semana passada foi a gota pra mim,e decidi alugar esse apê,da sobrinha da Maria – empregada do Bruno – pra fica longe da Ari por um tempo e ver se assim as  coisas se ajeitam.Não pedi pra que ela saísse da minha casa pra não gerar ainda mais brigas e depois eu não sair como vilã da história.
Melissa,a responsável pela matriz de São Paulo solicitou uma reunião comigo urgente,e marcamos pra hoje em um restaurante simples,mas com uma comida maravilhosa,e uma vista incrível pra praia.Enquanto eu dirigia com o rádio ligado – como sempre – pensava em alguma estratégia pra que eu e Ariane voltássemos á nos falar,afinal,ela é tudo o que eu tenho.Paro em um sinal vermelho e dou uma olhada rápida no espelho pra checar a aparência,e aí a música “Anjos Guardiões de Amor” do Sorriso começa a tocar.Eu não sei porque insisto em ligar a porra do rádio,aqui no Rio a banda está sempre tocando,toda hora,a todo momento.Aliás,acho que isso é no país todo,não só aqui.
“Mal a gente conversou 
Mal a gente se tocou
Já me fez feliz! 
Ah! Eu te quis! Ah! Eu te quis!!”
Bem apropriado mesmo,já que é pra cutucar a ferida,joga álcool.Aumento o volume no último e continuo dirigindo em direção ao restaurante onde minha amiga me espera.Sinto uma ligeira tontura enquanto dirijo e resolvo pegar leve,diminuir o ritmo e desligar o rádio,aliás,precisava mesmo remarcar minha consulta pra ver como estavam as coisas no meu útero,da última vez que demorei pra me importar ganhei um mioma.Coloco isso na minha lista mental de tarefas: “Marcar consulta atrasada pós-operatória”.
Mal entro no restaurante e já vejo a Mel sentada numa mesa afastada,com o notebook ligado e falando ao celular,suspiro profundamente desanimada,porque aquele almoço com certeza não seria agradável.
- Oi querida! – ela disse sorrindo me abraçando – meu Deus Bah,você não ta comendo?
Reviro os olhos pra ela.Eu ouço isso sempre das pessoas que me rodeiam,e eu como sim,só que ultimamente não sinto tanta fome.
- Oi Mel,você está ótima também – falo sorrindo
- Você entendeu amiga – ela disse se desculpando – tomei a liberdade de pedir camarões – ela disse empolgada.
Olhei pra porção na mesa,e meu estômago protestou na hora.Fritura? Naquele calor? Nem pensar.Assim que me sentei o garçom se aproximou,e pedi uma água gaseificada pra mim.
A conversa começou informal,ela me contou sobre o novo  paquera,sua pós-graduação,seus pais,seu irmão e demos algumas risadas juntas relembrando momentos maravilhosos em Sampa.Depois de alguns momentos em silêncio admirando a vista ela finalmente começa a falar:
- Eu não queria ser a porta voz da notícia que estou prestes a te dar,mas....
- Pode falar Mel,eu sei que tem algo muito errado acontecendo,porque você jamais deixaria o Buffet pra vir aqui conversar comigo.
- Poderia ser por chamada de vídeo,mas não acho apropriado
- Ok – eu disse respirando fundo,assumindo minha postura profissional – vamos lá.
- Bárbara,desde que você precisou se afastar,Ariane está fora de controle.Estávamos com relatórios econômicos mega importantes atrasados porque ela simplesmente decidiu que não vai mais cuidar da parte administrativa,e não delegou ninguém pra tal tarefa.Então eu decidi tomar partido e arrumar a bagunça.
- Olha Mel,eu sei que  a Ari está estranha,e deve ter um motivo pra isso...
- E tem mesmo Bah – ela me olhou séria e começou a tirar uma papelada interminável da pasta – fiz os relatórios,um por um,checando as informações mais de uma vez,e não contente,contratei um escritório especializado pra refazer tudo e os resultados foram os mesmos.
- E quais são esses resultados? – eu disse pegando um amontoado de papel na mesa
- Superfaturamentos.Negócios que foram fechados,com um orçamento de mão de obra altíssimo.
Eu analisava os dados e meu coração perdia o compasso a cada linha.
- Ela não seria capaz....- eu disse assustada.
- O pior Bah – ela disse me entregando um papel – Ariane foi ao banco solicitar um saque imenso do capital da empresa.
- O que? Mas a conta é conjunta,ela não conseguiria sem a minha autorização.
Olho pro papel em minhas mãos e minha assinatura está lá,mas não fui eu quem assinou.
- Eu não....
- Eu sei que não foi você Bah.Ariane está roubando a própria empresa.E falsificando sua assinatura sempre que necessário.
Meus olhos se enchem de lágrimas.Por que? Ela poderia pedir emprestado,ou sei lá,explicar o que está acontecendo,agora roubar a nossa empresa? Na minha cara? Debaixo do meu nariz,se aproveitando de um momento como esse?
- O que faremos? – Melissa indagou
- Eu....preciso pensar. – consigo dizer
- Ligue pro banco,e peça pra que o gerente ligue pra você caso ela vá fazer um saque,assim você fica sabendo na hora,e tem como impedi-la.Claro,peça pra que ele dê um jeito dela não ficar sabendo disso.
Assenti com a cabeça.
- Bah,se levarmos isso á polícia...
- Não! Por enquanto não.Vou pensar em algo e entro em contato com você!
- Tudo bem...eu volto hoje pra São Paulo,mas me liga.Vou enviar a cópia desses relatórios pra você.
Fiquei ali por mais um tempo analisando todos os relatórios,enquanto Mel resolvia os negócios em São Paulo pelo telefone.Eu não consegui mais conversar.Pedi desculpas á Mel,ajudei a arrumar a papelada e entrei no carro já em prantos.Parecia que Deus resolveu me punir,não tinha outra explicação pra tanta coisa ruim acontecendo.Eu saio perdida,dirigindo pelas ruas da cidade maravilhosa sem rumo...até que me vejo estacionando em frente ao prédio do Bruno.Fico mais uns cinco minutos chorando dentro do carro.Se a Paula sonhar que eu estou aqui....mas...eu preciso dele,só um abraço,só um afago.Sentir que tenho ele ainda,e que tenho que superar isso por nós.Ele vai ter algo a me dizer,com certeza.
Saio do carro e vou em direção ao interfone no portão,mas ele destrava antes que eu o toque.Da janela do porteiro,Carlos acena pra mim:
- Tá sumida dona Bárbara! Pode subir!
Aceno rapidamente pra ele com o coração acelerado,como se estivesse cometendo um crime.Eu deveria subir sem ser anunciada?Entro no elevador e parece que uma eternidade se passou até a cobertura.Varias pessoas entrando e saindo a cada maldito andar.Quando chego,pra minha surpresa Maria estava fechando a porta,e parou com ela entreaberta quando percebeu minha presença ali.Arregalou os olhos e abriu os braços.E eu me deixei levar,abracei-a e chorei,ali mesmo,na porta de entrada.Ela parecia assustada demais.Pediu que eu esperasse na sala,que ela chamaria o Bruno,mas assim que ela sumiu escada acima,eu resolvi segui-la.Precisava encará-lo logo de uma vez.
Eu sentia tanto frio na barriga que comecei a ficar enjoada.E quando a porta do quarto dele abriu devagar eu vi a última cena que esperava ver aquele dia:Bruno e Anitta,juntos,aos beijos,ali....no quarto onde eu tive os dias mais incríveis da minha vida.Aquilo não podia estar acontecendo.Não comigo.Não aquele dia.Quando percebe minha presença,ela a joga pra longe e dá um passo em minha direção,e eu recuo.
- Eu deveria ter avisado – falei mais baixo do que gostaria – me desculpem,não queria atrapalhar.
Ele começou a tentar se explicar,enquanto Anitta permanecia imóvel,e com um sorriso vitorioso nos lábios.
“Foi você quem mandou ele seguir em frente.Você não pediu que ele te esperasse”
Esse pensamento foi o suficiente pra me fazer recuar.Não é mais da minha conta.Era o fim,ele reatou com ela,esta seguindo em frente,sem mim.Não existe mais nós.
- Eu deveria ter ligado – disse por fim levantando as mãos num gesto claro de que não queria que ele se aproximasse mais.Dei as costas e desci correndo em direção a porta.E era isso.Agora era eu,e eu! Agora sim,eu poderia dizer que não tenho mais ninguém.Entro no carro e dou partida rumo ao meu apê.