História Guerra fria II - Morte

               Itachi

 

   Pessoas morrem com facilidade.

 

   A morte é tudo, menos fácil.

 

   Não digo morte de separação da alma e corpo, mas sim a morte associada a rejeição. Minha perda provavelmente me odeia, e chego a pensar na hipótese de não me amar mais. Agora apenas me restava que a morte se tornasse mais fácil e rápida.

 

   Queria ficar sozinho.

 

   Queria ficar sozinho com minha dor, e o primeiro lugar que encontrei para fazer isso foi a piscina interna do Hotel. Era como uma área de lazer completamente coberta, com enormes janelas de vidro deixando o local completamente iluminado pela luz do sol.

 

   Me sentei na borda da piscina com os pés na água, e sentindo uma lágrima escorrer pelo rosto. Haviam tantas coisas que gostaria de dizer ao Deidara, o quanto o amo, mais eu não tinha mais condições. Deidara nunca mais me ouvirá, nunca mais me daria outra chance.

 

   Senti meu celular vibrar no bolso, mas nem me dei ao trabalho de atende-lo. Queria refletir, pensar, me torturar... Sozinho.

 

   Era o fim!

 

   Pulei na água da piscina. Era um mergulho sem intenção de retorno, mais é um instinto natural reagir aquela forma a asfixia; Tentar respirar de alguma forma, mesmo querendo a morte.

 

     Sabia que o suicídio por afogamento não é uma forma tão simples. Escolher essa forma é um gesto de loucura, não de desespero ou depressão aguda. Mas já nem me importava. Já estava louco, de qualquer forma.

 

   A água invadiu minhas narinas, queimando tudo por onde passava, e eu não tive coragem para prosseguir. Assim que consegui emergir, me segurei na borda da piscina e as lágrimas desceram livremente, os soluços fazendo o peito tremer. Cuspi toda a água que havia engolido, pressionando os olhos.

 

                "Você é fraco."

 

-fraco... - Solucei.

 

   Me deixei boiar na água, encarando o teto do lugar.

 

   Ouvi pingos começarem a cair no chão, como se uma fina chuva estivesse começando a cair, procurei com o olhar a fonte do som. Uma cascada de parede destilava seu charme e elegância. Pequenas pedras em cascalho enfeitavam seu chão, terminando em uma de mármore bem maior no centro, deixando tudo com uma aparência mais calma e tranquila.

 

   Foi quando algo na mente se iluminou, e a morte nunca me perecerá tão simples.

 

                   Deidara

 

   Eu era o único membro do grupo sozinho no quarto, olhando para o sol se pondo. Naquele mesmo dia havia dito ao homem que amo que o odeio com toda minha força.

 

-Deidara. -Sasori entrou no quarto, ofegante. -Aconteceu...

 

-Sasori. -Sussurei. -Me mata, por favor?

 

   Sasori parou.

 

-eu não vou fazer isso. É errado.

 

   Dei de ombros.

 

-estou falando sério. Faça vudu, bata com algo na minha cabeça, sei lá.

 

-eu também estou falando sério. -Sasori bateu o pé no chão. -Aconteceu alguma coisa. Itachi simplesmente sumiu.

 

-ele deve ter ficado na gravadora. -Suspirei, jogando a cabeça para trás. -Ele não voltou com nós.

 

-eu vi ele chegando pouco tempo depois.

 

-ele deve estar por aí. Não deveria se preocupar tanto com ele.

 

   Sasori Suspirou.

 

-ele não está bem psicologicamente para sair por aí sozinho.

 

-Daqui a pouco ele aparece. -Massageei as têmporas. Estava cansado demais de tudo isso para ter que me preocupar com os problemas dos outros.

 

-vai pelo menos nos ajudar a procura-lo?

 

   Suspirei.

 

-eu vou tentar ligar pra ele. -Dei de ombros. Sasori acentiu, saindo do quarto em seguida.

 

   Eu sinceramente achava desnecessária toda aquela preocupação com Itachi, mais eu tinha que ajudar ou sairia como vilão.

 

                     (***)

 

   No inicio, eu havia concordado em procurar Itachi, mais depois de um tempo eu realmente comecei a me preocupar. Nós não o achávamos em lugar nenhum.

 

-alguma pista? -Tobi era meu parceiro na busca. Estava tremendo tanto que eu jurava que cairia desmaiado a qualquer momento.

 

-não. - Neguei com a cabeça. -Já olhamos em todos os cantos desse prédio. Ele deve ter saído para a rua. Talvez ainda esteja na gravadora.

 

-duvido. -Tobi Suspirou preocupado. -Ele ficou um tempo em silêncio, até estalar os dedos como se tivesse resolvido o problema. -Podemos procurar na piscina coberta. Não olhamos lá.

 

   Dei de ombros, assentindo.

 

   A área de lazer estava completamente escura e vazia, deixando o local completamente assustador.

 

-Itachi. Sabemos que está aí! Abre a porta. -Gritei, sem sucesso.

 

   Tobi tentou arrombar a porta várias vezes, mais parecia completamente impossível.

 

-Vamos tentar juntos. -Sugeri. Tobi acentiu. Até porque não tínhamos nenhum outro plano.

 

   Fomos com toda a nossa força até a porta fazendo a tranca se arrebentar e a porta abrir em um estrondo.

 

-Consegue ver Itachi?

 

-não. -Tobi gemeu. -Acho que desloquei o ombro.

 

   Comecei a andar por todo local com Tobi reclamando de dor, desde a área de esportes até a piscina. Ainda sim, nem sinal do líder.

 

-droga. -Murmurei para mim mesmo, olhando para todos os lados. Eu realmente estava começando a ficar preocupado.

 

-o que é aquilo...? -A voz de Tobi começou forte, mais falhou no final. Um corpo flutuava na piscina. A roupa preta completamente colada no corpo deixando a mostra uma grossa corda amassada na cintura. Eu reconheceria aqueles longos cabelos em qualquer lugar... Itachi!

 

-não. -Gritei. Não podia ser...

 

   Fechei meus olhos várias vezes para me convencer que aquilo era real. Era Itachi.

 

   Sentia como se tivesse recebido uma série de facadas.

 

   A passos largos, quase correndo, retirei minha blusa o mais rápido que pude e pulei na piscina.

 

-Itachi-Kun. -Tobi começou a chorar alto. -Dei-Kun, faz alguma coisa. 

 

   Inalei o máximo de oxigênio que podia e mergulhei, foi quando percebi que algo estava amarrado a outra ponta da corda; um bloco de mármore. 

 

   Tentei ergue-lo, mais a pressão da água e o peso do mármore me impossibilitaram e tive que voltar a superfície, tornando a para assim mergulhar de novo. 

 

   A última idéia que passou pela mente foi desamarrar o nó que o prendia, o que demorou mais do que eu esperava. 

 

   Foi quando, em fim, o nó finalmente foi desfeito e com a força que ainda me sobrava o empurrei para a superfície. Nadei com meu próprio esforço o puxando comigo até a borda, onde Tobi o puxou para o chão o deitando. 

 

-Ita-Kun. -O chamei. Sem resposta. Senti meus pais merejarem. -Ita... Não me abandona. De novo. 

 

-não... -Tobi ajoelhou-se ao meu lado. Coloquei a mão na frente da boca de Itachi para sentir sua respiração, mais não senti nada. Toquei em seu pulso.

 

-por que você não me respira? -Sussurei, tocando de leve em seu coração. -Por que? 

 

     Lágrimas começaram a cair. O segurei pelos ombros o sacudindo, na esperança dele reagir, mais nada aconteceu. 

 

-Hidan, Sasori. -Gritei com a pouca força que me restava. 

 

   Não iria adiantar gritar, não teria como Hidan, Sasori ou qualquer outra pessoa ouvir. Mesmo assim eu queria tentar. Eu precisava salvar Itachi. 

 

   Precisava salvar meu amor.