História Há tanta vida lá fora - Estagnada

Uma semana antes do falecimento da minha querida avó o Leonardo terminou comigo, dizendo que não estava feliz. Eu sei que dei o máximo de mim, até hoje não entendo, tentamos continuar amigos, mas meu amor e minha boca grande estragaram tudo, e ele se afastou com a desculpa de estar ocupado demais com o tcc e por estar se sentindo sufocado.

Estou com os fones no último volume, antes de tudo isso a música alta incomodava meus ouvidos, agora, só queria aumentar mais e mais. Meus amigos passam o dia me animando, consigo segurar esse turbilhão dentro de mim numa boa, mas em casa a história é diferente.

Vou me apresentar, se é que faz alguma diferença, meu nome é Yasmin, não sou nenhum tipo extraordinário, só uma garota de 19 anos prestes a fazer 20 que não sabe se deve se referir a sí como garota ou como mulher, que saudade da época que isso era um dos meus poucos problemas. Tenho cabelos encaracolados, longos e negros, um rosto com aparência mestiça, olhos quase orientais e uma boca carnuda, como a de africanos.

Ao contrário do que dizem não me considero uma pessoa bonita, sou normal, ok não tão normal, talvez um tipo exótico, capaz de despertar o interesse das pessoas, mas nada demais.

Estou no quarto semestre de engenharia elétrica, e sinceramente, vou me afundar na matéria, pensar menos na minha avó, não procurar o Leonardo, vai ser melhor assim, ah e acima de tudo não quero conhecer mais ninguém por enquanto, tudo me lembra ele, não quero enganar ninguém.

Pov’s Murilo

To correndo feito louco pra conseguir chegar na primeira aula – Olha a seta filho da puta – um cara gritou pra mim, man, hoje não, to atrasado pra caramba.

Entrei no campus, estacionei o mais rápido que pude e corri pra sala, faltei uma semana por causa da viagem que fui obrigado a fazer para o meu pai, houve um problema na sede da empresa em Londres, e tive que ir no lugar dele.

Entrei na sala e não pude deixar de notar a Yasmin, estava com o mesmo olhar triste e distante das últimas semanas, sentada nas últimas cadeiras, logo ela que sempre esteve no meio te todo mundo, rindo de qualquer coisa boba.

- Muuu que saudade – a Juliana disse vindo me abraçar, o que serviu de incentivo pras outras garotas fazerem o mesmo, cumprimentei a todas com meu velho sorriso no rosto e fui falar com os caras.

- Olha aí, ele tá vivo – o Bruno riu, ele fala isso só porque não consegui avisar que cheguei. – Ow cuzão algum avião caiu de ontem pra hoje? – disse e fui cumprimentar os outros ouvindo ele murmurar algo, olhei pra Ya lá no fundo, como sempre ela nem me notou, ela não era assim, queria saber porque começou a me evitar, eu sei que ela não tá bem, mas precisa disso? Eu só queria ajudar ou pelo menos ter ela por perto.

- Boa noite galera – o professor de tecnologia disse – Vamos começar? O projeto para exibição no fim do semestre já deveria estar quase pronto, vamo se mexer!

Cara, minha sorte que a matéria é maneira, mal comecei meu braço robótico – a Yasmin já terminou o dela – ele chamou nossa atenção pra ele de novo, enquanto a Ya saia da sala, man, eu preciso falar com essa mulher.

Passei a aula toda com a imagem dela na cabeça, andando rápido pra fora da sala, estava com uma calça de moletom e uma regata branca, deixando clara todas as curvas do seu corpo e que não está nem aí pra se arrumar como as outras fazem, ela não precisa disso.

Vou tentar colocar a cabeça no lugar, porque eu quero tanto ela? Sempre tive todas as mulheres que eu quis, mas ela não, sempre foi simpática comigo, do mesmo jeito que sempre fora com todos aqui. Pode ser a razão de eu não parar de pensar nela, pode ser não, é a razão!

As aulas foram passando, não perdi muita coisa na semana que estive fora, mas vai levar um tempo pra organizar a matéria.

- Man, você tá ligado que a Yasmin não quer saber de você – parece que o Bruno lê meu pensamento, estamos indo pro carro, ele vai voltar comigo hoje – nem de ninguém, ela não tá legal –.

- Esse lance com ela não é de hoje, dei uma relaxada quando ela começou a namorar, mas agora é diferente, ela não pode passar o resto da vida triste e isolada – ele sabe que que estou sendo sincero.

Depois da caminhada, paramos em frente ao carro, ele me olhou sério e disse – To ligado, mas a mina tá carentona, ela não demonstra, mas qualquer um percebe isso. Não é hora pra você conquistar ela e depois não querer mais nada, a Ya só te interessa por que não liga pra você –.

- Você me conhece a minha vida toda, não é só questão de ego, ela mexe comigo desde o primeiro dia de aula – pronto era isso que ele queria ouvir, é complicado admitir, nunca senti nada além de tesão por qualquer garota, mas ela, eu sei lá...

- Olha Mu da um tempo pra ela, ou mantém só a amizade, a Yasmin é uma mina firmeza, se você gosta mesmo dela evita dar ideia agora – já esperei esse tempo todo mesmo, só queria colocar um sorriso naquele rosto, detesto ver ela assi...

O Bruno bateu no meu braço, o que me fez voltar a realidade, assim que ergui a cabeça vi ela vindo, andando depressa, sem olhar para os lados. – Vou falar com ela – falei já indo em direção à ela, sem querer saber o que o Bruno iria achar disso.