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História Há tanta vida lá fora - O jogo virou


Escrita por: ykosik

Capítulo 6 - O jogo virou


Fanfic / Fanfiction Há tanta vida lá fora - O jogo virou

Estacionei na vaga de costume, hoje é quinta feira, o Bruno pediu pra algumas pessoas chegarem mais cedo hoje pra acertamos umas coisas pra festa.

Achei melhor deixar os livros no carro, não vou ir à biblioteca hoje, então não preciso andar com esse peso todo, me olhei pelo retrovisor, parece que está tudo ok. Peguei minha bolsa e sai.

Depois de passar um bom tempo vindo de moletom e sem mal me olhar no espelho, hoje eu tentei me arrumar um pouco, vesti um jeans preto de cintura alta, com uma regata leve preta também, passei delineador bem fininho e meu bom e velho batom vermelho. Não é muito, mas comparado a ontem...

Percebi o carro do Murilo um pouco perto do meu com os faróis acesos, será que aquele idiota esqueceu de apagar? Me aproximei pra ver se conseguia ver dentro do vidro escuro, e me arrependi assim que cheguei perto o bastante.

O Murilo estava com o rosto todo vermelho e está chorando tanto que nem me viu, o impulso tomou conta de mim, dei a volta no carro e entrei me sentando no banco de passageiro. Ele se virou devagar pra ver quem era, como se estivesse acordando, ou voltando de um mundo distante.

- Vai ficar tudo bem – disse baixinho enquanto começo um abraço.

Nunca o vi desse jeito, ele nem está falando nada, não vou perguntar o que houve, tenho a impressão de que se eu perguntar ele vai ficar pior, eu pelo menos sou assim.

- Você não pode ficar assim aqui, vou te levar pra casa – não soltei ele pra falar – Não precisa falar nada, só desce do carro e vem pra cá –.

Ele só se mexeu depois que abri a porta ao seu lado, levantou e saiu, dando a volta no carro, ele nem me olhou, em nenhum momento.

Vi o crachá de acesso pendurado no retrovisor RESIDÊNCIAL MORANA, tenho uns amigos que moram lá, fica a uns 15 minutos daqui, liguei o carro e dirigi com cautela, mas o mais rápido que pude ir.

Parei na portaria e aguardei o portão ser aberto, olhei várias vezes para o Murilo, ele permaneceu imóvel, com a cabeça baixa, as lágrimas não paravam de cair, estou preocupada, o que pode ter acontecido?

Entrei no estacionamento – Em qual vaga? – perguntei parando o carro.

Ele passou a mão no rosto, tentando se recompor, e disse com a voz pouco falha – Pode ser ali perto do elevador –.

Desliguei o carro, o clima está pesado, não gosto de ver ninguém mal assim, me virei para encará-lo, ele inspirou forte, tentando retomar a respiração.

- Obrigado – ele disse me olhando nos olhos pela primeira vez hoje.

- Não precisa agradecer, vem vamos subir – falei dando de ombros, já abrindo a porta.

Fui chamar o elevador, saindo da visão dele, mas voltei e bati no vidro, o encarando séria.

É claro que ele saiu, devagar, mas saiu.

Subimos até vigésimo andar, ele me mostrou a chave, estava junto com a do carro, abri a grande porta e entramos.

Ele se sentou no sofá, ficou com as mãos no rosto e eu, o que eu posso fazer? Fui pegar água com açúcar quando reparei em uma espécie de mini bar em uma bancada, peguei uísque, sem gelo mesmo, pros dois.

Me sentei ao seu lado, colando os copos na mesa de centro.

- Se não quiser falar nada tudo bem – falei demonstrando carinho, estranho.

Ele ergueu a cabeça e me encarou, com o olhar triste, e confuso, por que está fazendo isso? Parece querer me perguntar, mas não há ânimo pra isso.

- Meu pai faleceu –. Ele disse com um peso tão grande, me lembrei de quando ouvi essas palavras “a vovó faleceu”, meus olhos encheram de lágrimas, a dor que estava me deixando tomou conta de mim.

- Nada que eu falar ou fazer vai ajudar você a se sentir melhor – eu não posso chorar, não posso chorar, repeti secando o rosto – Mas eu sei como se sente –.

Ele me olhou por uns instantes e me abraçou forte.

Ficamos assim por um bom tempo, até que o celular dele começou a tocar, ele nem se moveu – Pode ser importante, eu atendo – falei baixinho.

É claro que pegou o celular e nem viu quem era, me entregou e colocou as mãos no rosto novamente.

Chamada de Bruno. Li já atendendo.

- Murilo? Cara cadê você? – ele disse de imediato.

- Oi Bruno, é a Yasmin – eu nem sei o que falar, parece que estou de volta a dois meses atrás.

- Ele já sabe né? – falou num tom baixo.

- Sim, estou com ele – mal terminei de falar e o Murilo levantou o olhar pra mim.

- Não quero ele aqui, mais uma pessoa com pena de mim vai ser ridículo – ele disse com amargura, se levantou e saiu da sala.

- Ya? O que o Murilo tá falando? – o Bruno está preocupado, é claro que ele vai querer vir.

- Eu dei um remédio pra ele dormir, não precisa vir, eu fico aqui com ele –.

- Não, é claro que eu vou – ai meu deus.

- Vem mais tarde, vai por mim, ele quer ficar sozinho – eu sei bem como é isso.

- Tudo bem – ele disse suspirando, demonstrando tristeza.

Desliguei o celular, e o joguei no sofá.

Fui em direção ao quarto que o Murilo entrou, ele estava deitado de bruços na cama.

- Murilo, olha aqui! – falei num tom alto.

Ele nem se moveu.

- Que papo foi aquele de pena? Você acha que eu estou com pena de você? – não é bem assim que as coisas funcionam.

- Eu sei exatamente como está se sentindo, é por isso que estou aqui – ele se virou pra mim e sentou na cama, com o rosto todo vermelho – Pena! Eu nunca fui com a sua cara, acha mesmo que um sentimento tão bosta me traria aqui? – sei que não é hora pra ficar bravinha, mas ele não pode ficar achando que estou com pena, isso é horrível.

- Me desculpa, eu não sei nem no que pensar, como pensar – ele disse com o olhar distante – Só fica mais um pouco, eu não quero ficar sozinho – me sentei ao seu lado, e comecei a fazer carinho no cabelo dele.

- Você mora sozinho? – perguntei depois de alguns minutos, ele só afirmou com a cabeça – É um apartamento muito grande não acha? – me virei para encará-lo, tentando deixar o clima mais leve.

- Era a opção mais próxima à faculdade, meu pai quis assim – eu não devia ter falado.

- Você quer dormir um pouco? Posso ir comprar remédio se não tiver – foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça.

- São 18hr Ya, vou ficar pior se eu ficar dormindo – ele tem razão.

- Tudo bem, você quer ficar quietinho ou quer conversar? –.

- Eu não quero que perca aula por minha causa, eu devia ter pensado nisso antes de pedir pra ficar – eu abri um sorriso.

- Hoje temos aula de pneumática? – ele balançou a cabeça confirmando – eu odeio essa matéria, estou te usando pra poder faltar – dei um tapinha no braço dele e me joguei de costas na cama.

Ele respirou fundo se virou pra mim e sorriu, não foi o melhor dos sorrisos, mas ele se esforçou.

- Vou ir tomar um banho, está com fome? – eu estranhei, será que ele quer ficar sozinho? Trancado no banheiro pra mim não ver ele chorando?

- Vai tentar se matar? – perguntei sem brincar, é uma possibilidade.

- Não Ya, só preciso de um banho frio – ele deu um beijo na minha testa – Não se preocupa – desnecessário isso, pensei enquanto ele entrou no banheiro.

Tirei meu tênis e fui até a sala, deixei o quarto livre pra ele se vestir depois.

Por que essas coisas acontecem? Nunca me canso de fazer essa pergunta, eu sei que é natural da vida, mas é injusto.

Vi as doses de uísque e nesse caso sim fiquei com pena, de desperdiçar, fiquei feliz comigo mesma por não ter colocado gelo.

Peguei um copo e virei a bebida no outro dose dupla porque eu mereço, procurei gelo, tudo sem pressa, não sei quanto tempo o Murilo vai demorar.



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