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História Hades (Camren) - Cúmplice


Escrita por: lmfs13

Capítulo 18 - Cúmplice


As coisas mudaram para mim depois do encontro com Lauren na praia. O que havia acontecido entre nós duas era melhor do que beijá-la, melhor do que tê-la ao meu lado na cama. Eu me envolvi em seu coração pulsante, entrei em sua corrente sanguínea, senti os impulsos elétricos do seu cérebro. Sabia o que era uma ligação de verdade. E tinha que lutar por ela. Até aquele momento, eu estava bem, esperando com paciência pela chegada da minha equipe de resgate. Não acreditava ter muito a fazer. Mas, como Lauren, não podia apenas esperar. Precisava tomar as rédeas da situação. Meu desejo de reencontrá-la era forte demais. Já estava cansada de bancar a vítima. Já estava cansada de me sentir impotente. MGK me assustava, sem dúvida, mas ficar longe de Lauren para sempre me assustava ainda mais. Eu passava boa parte do dia na suíte da minha cobertura, comunicando-me apenas com Hanna e Tucker e fingindo estar doente para minimizar o contato com MGK, enquanto Lauren fazia tudo sozinha. Ela pensava e planejava sem parar, deixando todo o resto de lado enquanto eu esperava, como uma donzela indefesa. Eu era forte. Era capaz de resolver os meus problemas, e era exatamente isso o que faria. Mas não conseguiria sozinha.

— Tuck, mudança de planos — informei assim que ele entrou. — Preciso de sua ajuda.

Tucker remexeu os pés, desconfortável.

— Não estou gostando do seu tom de voz...

Eu não tinha certeza absoluta de que podia confiar nele tão cedo, mas não me restou escolha.

— Quero procurar um portal.

Tucker suspirou.

— Acho que sabia que era isso o que você ia me pedir. Mas, Mila, é quase impossível encontrar um portal. Apenas alguns demônios de primeiro escalão sabem onde eles estão localizados.

— Sou um anjo, Tuck — insisti. — Pode ser que eu tenha um detector embutido ou algo que possa nos ajudar. Nunca se sabe.

— Admiro a sua autoconfiança — disse Tucker, fazendo uma pausa antes de concluir — mas quero que saiba que já saí umas mil vezes à procura de portais e nunca encontrei nenhum.

— Talvez tenhamos sorte dessa vez. — Sorri.

— Gostaria de ajudá-la — Tucker contorceu-se. — Mas se formos pegos, não é o seu couro que eles vão arrancar.

— Então, não seremos pegos.

— Não é tão simples assim.

— É, sim — insisti. — E, se der errado, vou dizer que foi tudo ideia minha, que forcei você a me acompanhar.

Tucker suspirou.

— Acho que podemos tentar.

— Ótimo. Agora me diga onde esses demônios de primeiro escalão ficam.

— Sei que vou me ferrar caindo na sua conversa — disse Tucker. — Mas, tudo bem, vamos nessa. Só quero saber como vamos sair sem sermos vistos. O hotel inteiro está sendo vigiado, e eles estão em cima de nós como gaviões.

— Tenho uma ideia.

Deitei de bruços na cama e estiquei o braço para pegar o telefone de serviço do criado-mudo. Nunca o utilizara antes, por isso a pessoa do outro lado pareceu um pouco surpresa.

— Boa noite, senhora — disse a mulher da recepção. — Em que posso ajudá-la?

— Por favor, gostaria de ligar para o quarto do sr. Baker — pedi com educação. — Preciso conversar com ele.

Ouvi um breve farfalhar de papéis.

— Sinto muito, mas o sr. Baker está numa reunião — disse a mulher sem alterar o tom de voz. — E pediu para não ser incomodado.

— Diga a ele que é Camila Cabello na linha, por favor — disse.

— Espere um minuto, por gentileza.

O tom da atendente mudou completamente quando ela voltou. Dessa vez, ela me tratou como se eu fosse uma celebridade.

— Peço desculpas, srta. Cabello — disse ela de modo adulador e ofegante. — Vou transferir a ligação agora mesmo.

O telefone tocou duas vezes, e escutei a voz ronronante e sedosa de MGK.

— Olá, querida. Já está com saudade?

— Talvez — disse com bom humor. — Mas não foi por isso que liguei. Quero pedir permissão para fazer uma coisa. — Não era só MGK que sabia jogar charme.

— Está brincando, Mila? Desde quando você me pede permissão para alguma coisa? Até onde sei, você sempre faz o que quer.

Tentei fazer uma voz meiga e suplicante.

— Percebi que o clima está ruim entre nós. Não quero deixar as coisas piores.

— Sei. — MGK parecia desconfiado. — Do que você precisa?

— Estava pensando em visitar as boates — disse da maneira mais despretensiosa que consegui. — Sabe, queria conhecer os frequentadores e o local.

— Quer ir para a balada? — ele estava surpreso. Eu sabia que o pedido o pegaria desprevenido.

— Não é bem isso. Só acho que estou dentro deste quarto de hotel há muito tempo. Preciso fazer alguma coisa para não enlouquecer.

MGK ficou em silêncio enquanto analisava o meu pedido.

— Tudo bem. Mas não vá sozinha — disse ele por fim. — E estou fazendo algo importante agora. Posso passar aí daqui a algumas horas?

— Na verdade, Tucker se ofereceu para ir comigo.

— Tucker? —  riu alto. — Ele não vai ter grande serventia a você na pista de dança.

— Eu sei — respondi. — Mas ele pode ser uma companhia. — Abaixei o tom de voz, tornando-a familiar e certeira. — Só quero saber se você acha que eu... Sabe como é... Se estarei segura com ele. Não o conheço muito bem, não somos amigos. — Lancei um olhar penitente a Tucker. — Você acha que ele vai cuidar de mim? Que não vai me machucar?

MGK riu baixo, como uma ameaça. — Você não corre risco algum com Tucker. Ele não vai permitir que nada lhe aconteça, porque sabe que, se alguma coisa acontecer, acabarei com ele.

— Tudo bem — disse, tentando esconder a raiva. — Se você confia nele, então também confio.

MGK pensou um pouco.

— Espero que você não esteja pensando em fazer nada idiota.

— E, se eu estivesse, pediria permissão antes? — suspirei longamente, esperando que parecesse uma expressão de decepção. — Olha, não se preocupe com isso, vou ficar aqui. Não estou mais a fim de sair, mesmo.

— Não, você deveria ir — insistiu tentando não me irritar. — Você precisa conhecer esse lugar se um dia pretende chamá-lo de lar. Vou avisar aos seguranças que você vai sair.

— Obrigada. Não vou voltar tarde.

— Acho melhor que não demore mesmo. Nunca se sabe quem se pode encontrar.

— Vou ficar bem — disse rapidamente. — Todo mundo já sabe que sou sua.

— Que bom escutar você dizer isso, finalmente.

— Não há motivos para negar.

— Fico feliz por ver que você está cedendo. Sabia que faria isso com o tempo.

A voz dele estava baixa, e ele parecia satisfeito de verdade. Assustava a maneira como ele havia construído o nosso relacionamento em sua mente — ele criava ilusões o tempo todo. Quase tinha vontade de ajudá-lo, mas sabia que já era tarde demais.

— Não vou prometer nada, MGK. — Deixei claro. — Só vou sair um pouco.

— Entendi. Divirta-se.

— Vou tentar. Ah, e a propósito, gostaria de ir a algum lugar mais apresentável do que o da última vez. Alguma sugestão?

— Camila, você sempre me surpreende... vá à Maldição. Avisarei que está indo para lá.

Desliguei o telefone e lancei um sorriso de satisfação a Tucker. Não poderia estar mais satisfeita com meu desempenho nem se tivesse acabado de escalar o Everest.

— Ele caiu na história? — Tucker estava surpreso.

— Mordeu a isca direitinho.

— Tenho que admitir: você mente melhor do que pensei.

— Eu me saí bem, né? — Levantei da cama e fui direto para a porta, louca para sair daquela suíte sufocante.

— Hum... Mila... — Tucker me deteve e analisou as minhas roupas. — É melhor você não ir a uma boate vestida desse jeito.

Olhei para o meu vestido de flores e suspirei. Tucker tinha razão. Precisava vestir algo adequado. Procurei entre os outros itens do meu guarda-roupa. Não havia nada que chegasse perto do que precisava. Estava começando a me sentir frustrada quando alguém bateu à porta. Tucker a abriu, e ali estava Asia segurando um cabide com uma roupa e um kit de maquiagem. Ela entrou no quarto, sorrindo de orelha a orelha e não procurou disfarçar o fato de estar sendo coagida. Trajava um minivestido de couro com um corpete de renda e botas vermelhas até a coxa. Sua pele tinha cor de café com leite, e ela usava uma camada de maquiagem que a tornava brilhante.

— MGK me mandou vir — informou ela com a voz rouca. — Ele achou que você precisaria de ajuda para se aprontar. Acho que estava certo. — Ela jogou a roupa em cima da cadeira mais próxima. — Isto deve ser do seu tamanho. Vista, e daremos um jeito no resto. — Ela olhou para mim como se eu fosse um caso perdido. Antes de eu conseguir dizer alguma coisa, Asia já estava me levando ao banheiro. De costas para ela, rapidamente vesti o vestido-bandagem preto e branco que ela me entregou e calcei os saltos com pedrinhas de cristal e laços na parte de trás. Franzi o cenho quando Asia enfileirou os pós compactos e as escovas gigantes em cima do balcão de mármore. Sabia que ela não perderia seu tempo comigo se MGK não tivesse dado ordens expressas.

— Oh, querida — gemeu ela. — Se quer ir às boates, precisa se vestir direito. Não pode aparecer lá como uma escoteira.

— Vamos acabar logo com isso — resmunguei.

— Por mim, tudo bem — Asia sorriu e apontou um curvex para mim como se fosse uma arma letal.

Quando saí do banheiro, estava irreconhecível. Meus cabelos estavam cacheados, minha boca ostentava um batom cor de cereja e as pálpebras estavam cobertas por sombra azul-cintilante. O pó cor de bronze cobria a minha face, dando à pele uma aparência bronzeada. Nas orelhas, usava brincos em formato de leques gigantes, e os cílios postiços que Asia havia colado sobre os meus faziam cócegas quando eu fechava os olhos. Ela até mesmo maquiou as minhas pernas com um bronzeador instantâneo, e fiquei com o cheiro de um coco gigante. Minha transformação deixou Tucker sem fala.

— Mila, é você aí embaixo? — perguntou ele. — Você está... Hum... Muito...

— Pare de babar, caipira — repreendeu Asia. — Vamos.

— Você vai? — perguntou ele.

— Claro. Por que não? Algum problema para você? — Os olhos de Asia se estreitaram com suspeita.

— Problema algum — disse Tucker. Ele olhou para mim como se quisesse dizer que aquela só podia ser ideia de MGK para se garantir.

Quando nós três saímos da suíte da cobertura e descemos ao lobby, todos pararam para nos observar. Minha roupa nova podia não ser adequada para um anjo, mas fez com que me sentisse mais bem-preparada para lidar com os perigos que podiam estar me esperando nos túneis escuros de Hades. Estava ansiosa para chegar logo e começar a busca por portais obscuros. Conhecia os riscos, mas não estava com medo. Parecia que ficara no escuro, literal e metaforicamente, durante semanas. Ignorei os sorrisos de aprovação dos funcionários do hotel quando saímos pela porta giratória. Estava aprendendo com rapidez que bons modos e simpatia não eram o caminho a seguir se quisesse ganhar respeito em Hades. Do lado de fora, um porteiro uniformizado tirou o chapéu e fez sinal para uma limusine preta e comprida que chegou silenciosamente para nos pegar.

— O Sr. Baker mandou que um carro viesse buscar vocês — anunciou o porteiro.

— Muito delicado da parte dele — comentei, com má vontade, ao me acomodar no banco de trás com Tucker. 

Mesmo quando não estava presente, MGK gostava de manter o controle da situação. Asia sentou-se na frente. Aparentemente, ela e o motorista se conheciam e conversaram brevemente sobre conhecidos em comum. Por trás da separação de vidro fumê, Tucker e eu escutamos partes abafadas da conversa. 

— Fique por perto na Maldição — aconselhou Tucker. — Soube que os frequentadores do local são bem interessantes. — Não pedi a ele que definisse interessante. Descobriria sozinha. 

O bairro das boates de Hades era bem diferente de onde o hotel Ambrosia estava localizado. O hotel parecia estar numa área mais distante, e o bairro das boates era um labirinto de túneis com portas de metal em paredes de concreto. Os leões de chácara pareciam clones uns dos outros, com o corte de cabelo estilo militar e rostos sem expressão. A maneira como a música se espalhava com seu ritmo marcado dava a sensação de que o lugar tinha batimentos cardíacos. O efeito era claustrofóbico. A boate Maldição ficava a certa distância das outras, acessível por meio de um túnel separado. Quando Asia mostrou o ingresso, percebi que a entrada era apenas para convidados. Lá dentro, entendi o motivo. A primeira coisa que notei foi o cheiro de cigarro caro no ar. A Maldição estava mais para uma casa de jogos do que para uma boate, onde a elite de Hades podia gastar seu tempo. Os principais clientes eram demônios de primeiro escalão de ambos os sexos.

Todos se moviam com a agilidade de panteras e pareciam se preocupar com coisas fúteis, o que ficava evidenciado pelas roupas glamorosas. Nem todos eram demônios. Pude ver que alguns eram seres humanos — não almas, mas de carne e osso, como Hanna e Tucker. Compreendi, sem ter que perguntar, que eles estavam ali pelo simples propósito de agradar a seus mestres. A decoração da boate, com um toque barroco, era drástica e sugeria a opulência de uma era havia muito terminada: estátuas clássicas, pilares de mármore, cadeiras muito bem revestidas com veludo preto, cortinas de seda e espelhos entalhados e decorados em todas as paredes. Reconheci a música que tocava nos alto-falantes do teto. Já a havia escutado no carro de Lauren, apesar de parecer bem mais adequada na boate: I see the bad moon arising/ I see trouble on the way/ I see earthquakes and lightnin'/ I see bad times today. Alguns convidados se sentaram em pequenas mesas com abajures com franja, bebericando coquetéis e assistindo a dançarinas de pole dance vestindo o que pareciam peças de lingerie com contas. Na mesa do centro, os mais abastados entretinham-se com diversos jogos. Reconheci os jogos mais famosos, como pôquer e roleta, mas outro, chamado de Roda da Sorte, me deixou curiosa, a princípio. Cerca de meia dúzia de jogadores estava sentada ao redor de uma mesa olhando para pequenas telas de computadores. As telas mostravam muitas pessoas numa pista de dança. Cada dançarina parecia estar representada por um ícone diferente na roda. O funcionário girava a roleta, e o jogador ganhava se ela parasse no ícone escolhido. Aquilo teria passado despercebido se eu não tivesse visto a tortura que aguardava as dançarinas no salão. Não havia nada de secreto nem clandestino a respeito dos clientes da Maldição. Comportamentos que poderiam ser considerados questionáveis na Terra eram abertamente ostentados ali. Casais exibiam-se no que poderia ser descrito como preliminares e despudoradamente aspiravam carreiras de pó branco sobre balcões e tomavam pílulas como se fossem balas. Alguns demônios eram grosseiros ao lidar com os humanos, e o assustador era que as pessoas pareciam gostar de ser maltratadas. A ausência total de parâmetros morais era de dar nojo. Comecei a me questionar se deveria ficar ali ou se deveria procurar informações a respeito dos portais. A autoconfiança do começo estava desaparecendo.

— Agora já não sei se foi uma boa ideia — comentei, tremendo. Tucker respondeu algo que não consegui escutar com o som da música. 

Todos se viraram para mim quando entrei, apesar da tentativa de passar despercebida e ser discreta. Alguns demônios chegaram até a farejar o ar, como se conseguissem sentir que eu não pertencia àquele local. Os que estavam mais próximos se aproximaram ainda mais, com os olhos de predadores brilhando. Tucker passou o braço pelos meus ombros e me guiou na direção do bar, onde me sentei num banquinho, agradecida pela presença protetora dele.

Asia pediu doses de vodca. Ela bebeu a dela num instante e bateu o copo no balcão enquanto eu tomava pequenos goles da minha bebida. 

— Isso não é muito educado, amiga — disse ela. — Está tentando chamar atenção ou o quê?

Lancei a ela um olhar desafiador e joguei a cabeça para trás, engolindo de uma vez só o líquido do copo. A vodca não tinha gosto, mas passou pela garganta como fogo líquido. Segui o exemplo dela e bati o copo vazio de modo triunfante, percebendo então que aquilo era um sinal para que o barman voltasse a enchê-lo. Não toquei no segundo copo. Já estava alterada, e Tucker olhava fixamente para mim. E então Asia, do nada, disse algo que nos pegou de surpresa.

— Acho que posso ajudá-los a encontrar o que procuram.

— Estamos aqui apenas para nos divertirmos — disse Tucker quando se recuperou.

— Claro que sim. Dá para ver na cara de vocês — Asia riu. — Corta essa, Tucker, você está falando comigo. Sei o que querem e talvez tenha um contato que possa dar alguns conselhos a vocês.

— Você está nos ajudando? — perguntei com sinceridade. — Por quê?

O tom de Asia na resposta foi condescendente.

— Bem, preferiria não ajudar vocês, mas Sua Majestade parece estar apaixonado como um menininho, o que alguns considerariam uma vergonha total. Acredito que é minha tarefa, como leal súdita, fazer o que puder para ajudá-lo a se recuperar. E acho que a melhor maneira de fazer isso...

— É tirar Mila daqui de uma vez — Tucker terminou a frase para ela, como se fizesse perfeito sentido.

— Exatamente. — Asia se voltou para mim — Pode acreditar: nunca faço nada que não me beneficie e, neste momento, adoraria ver você bem longe. De preferência, antes que um dano de verdade seja causado ao Terceiro Círculo.

Eu lembrei que Hanna havia mencionado o Terceiro Círculo quando cheguei, mas não entendi por que ele corria riscos.

— Do que você está falando? — perguntei.

— Asia está se referindo à facção rebelde que quer derrubar MGK — explicou Tucker. — Eles acreditam que ele está negligenciando suas tarefas, ultimamente.

— Não acredito — comentei. — Como uma facção de demônios pode armar contra seu líder?

Asia revirou os olhos.

— MGK não é apenas um demônio, ele é um anjo caído. É um dos Originais, aqueles que caíram com o Grande Pai desde o começo. Há oito deles, os Oito Príncipes dos Oito Círculos. E, claro, o próprio Lúcifer preside o nono... O círculo mais quente do Inferno.

— Então, só existiam oito demônios originais — concluí lentamente — e todos os outros devem ter sido criados por eles.

— Uau! — disse Asia, com ironia. — Você não é só um rostinho bonito, afinal. Sim, os Originais são os donos do espetáculo. Os outros demônios não têm controle de fato, são dispensáveis, nada além de abelhas operárias. Os preferidos são escalados para as câmaras de tortura ou são convidados para dormirem com os detentores do poder. Às vezes eles se unem para tentar destronar um dos Originais. É claro que sempre fracassam.

— E se eles fossem descobertos? — perguntei.

— MGK mataria todos eles.

— Não há nada que os Originais não fariam para protegerem a si mesmos — completou Tucker. — MGK, principalmente.

— Então, como essa facção rebelde planeja destituí-lo? — perguntei.

— Eles não fazem muita coisa — Asia deu de ombros. — São idiotas, em grande parte, esperando uma chance de prejudicar o poder dele.

— Pensei que você fosse a maior incentivadora de MGK — comentei, tentando manter o tom de voz normal. Talvez pudéssemos negociar com Asia, afinal. — Por que não contou a ele sobre isso?

— É sempre bom omitir certas coisas.

— Os rebeldes estão irritados com ele por minha causa? — perguntei.

— Sim. — Asia levantou as mãos. — Eles expressaram preocupação, mas MGK não quer escutar. — Ela sorriu para mim. — Acho que gosto não se discute.

— Você não está correndo perigo tentando nos ajudar?

— Nunca ouviu falar que "nem o Diabo aguenta uma mulher rejeitada"? Digamos que meu ego esteja ferido.

— Pode nos contar o que sabe sobre os portais? — perguntou Tucker.

— Não disse que sabia alguma coisa. Mas há alguém que pode saber. O nome dele é Asher.

Uma cortina pesada numa parede dos fundos levava a um caminho onde um demônio trajando um terno italiano esperava por nós. Asher tinha trinta e poucos anos. Era alto, tinha cabelos pretos bem curtos e o rosto de um imperador romano. Tinha um redemoinho que fazia uma mecha cair-lhe sobre a testa e havia marcas nas bochechas. Mastigava um palito de dente, sem saber que parecia um gângster de filmes do gênero. Seu nariz era levemente curvo e tinha os mesmos olhos de predador que o identificava como um demônio. Estava recostado na parede, mas deu um passo para a frente quando nos viu. Olhou para mim de cima a baixo, com a curiosidade logo substituída pela reprovação.

— Essa roupa não engana ninguém, querida — disse ele. — Você não é daqui.

— Bem, pelo menos concordamos em algo — respondi. — Você está com os rebeldes?

— Pode apostar que sim — disse Asher. — E tenho exatos dois minutos para escutar vocês. O que você procura não vai encontrar neste bairro. Os portais assumem muitas formas, mas aquela sobre a qual mais escuto falarem fica nas Terras Miseráveis, do outro lado dos túneis.

— Não sabia que havia algo além dos túneis.

— É claro que há — continuou Asher. — Nada vivo, é claro. Apenas almas perdidas vagando até os perseguidores as arrastarem de volta.

— Como vamos reconhecê-lo?

— O portal? Procure pelo tufo de galhos e folhas secas que balança de um lado para o outro pelas Terras Miseráveis. Ao saírem daqui, sigam na direção sul e continuem. Saberão quando encontrarem... Se chegarem até lá.

— Como poderemos saber se você é confiável? — perguntei.

— Quero ver MGK ferrado assim como vocês. Ele nos trata como lixo, e estamos cansados disso. Se ele perder sua conquista logo, seus poderes serão desafiados, e talvez tenhamos uma chance de destituí-lo.

Vi Asia revirar os olhos atrás de Asher e tentei imaginar se o plano funcionaria. Não parecia que a autoridade de MGK seria questionada logo. Tucker assentiu em agradecimento e segurou o meu braço, guiando-me de volta pela boate. Acreditei que ele sabia como encontrar as Terras Miseráveis e o segui obediente. Antes de sairmos da Maldição, avistei Asher de novo. Ele estava no bar conversando com Asia e inclinando-se para a frente. Vi quando ele passou a língua na orelha dela e a mão na sua coxa e entendi como ela havia conseguido a informação. Percebi a falta de confiança ou lealdade daquele lugar. Tudo era construído em cima de mentiras e decepção. Era impossível saber quem trabalhava com quem, dormia com quem ou manipulava quem. Naquele momento, concluí que, mesmo que vivesse uma vida de luxo como rainha de MGK, nunca sobreviveria ali.


Notas Finais


Começar a procurar portais... Isso vai dar certo?!


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